quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Paisagem brasileira


Agradeça a Lula

Não importa quem vá para o segundo turno. Não importa quem ganhe a eleição no fim do mês. O vitorioso terá de agradecer ao ex-presidente Lula pelos eu sucesso. Se Fernando Haddad se credenciara gora elevar o pleito do dia 28, o poste terá vencido graças à genialidade do seu criador e mentor. Se Bolsonaro ganhar, aproveitando a onda antipetista que varre o país, será graças à política insistente do “nós contra eles” de Luiz Inácio.


Esse discurso começou no já remoto mensalão. Primeiro, quando o furúnculo explodiu mostrando o carnegão do esquema de compra de partidos em troca de apoio político, Lula disse que não sabia de nada, que foi traído e mandou alguns dos seus velhos companheiros para a guilhotina, como Genoino, Gushiken, Dirceu, Delúbio e João Paulo. Depois, quando percebeu que podia ir mais longe, passou anegara existência do esquema que resultou na condenação e prisão de 24 pessoas, seis delas do PT.

Lula começou então a nomear o “culpado” pelo mensalão. Foram “eles”, na palavra do líder que cumpre pena em Curitiba. Foram “eles” que inventaram a história para impedir que o brasileiro continuasse a comer três vezes por dia e a andar de avião, repetia. No princípio, nem os próprios companheiros de Lula acreditavam naquela bobagem. Mas ela foi se consolidando entre políticos e militantes que se recusavam a enxergara verdade e precisavam de uma saída honrosa.

Nenhum pedido de desculpas jamais foi feito por este ou pelo outro grande escândalo da era petista, o petrolão. Afinal, eles não existiram mesmo, afirmava o líder de todos. A culpa era “deles”, que queriam acabar com as conquistas do povo obtidas durante o governo do PT. É incrível como tanta gente de esquerda, honesta e inteligente, se agarrou àquela explicação patética como se fosse verdade. Muitos nunca acreditaram na lorota, e alguns deixaram o partido envergonhados, é bom que se diga.

Lula não inventou a luta de classes, ao contrário, fez um documento em que pregou paz na política nacional, onde caberiam todos, e jurou aplicaras regras do mercado na economia. Mas ele inventou a guerra do “nós e eles”. O “nós” era Lula e todos os seus companheiros de PT e de partidos aliados, os que lutavam por um Brasil mais justo. Por um bom tempo, o “nós” abrigava também o PMDB de Temer, Jucá, Cunha e Renan. E o “eles” eram os demais, os inimigos do povo.

Como diz o ex-deputado petista Eduardo Jorge (PV), candidato a vice de Marina Silva, “o ódio foi plantado há muitos anos, não nasceu como um cogumelo, da noite para o dia”. Ele se refere a Lula e ao seu discurso diuturno contra os que pensam de modo diferente ou encontram soluções alternativas às do PT para o Brasil. Discurso amplificado após o impeachment de Dilma e que ganhou o após todo golpe”.

Essa retórica de Lula, que ainda aglutina quem acredita na inocência petista e que agora dá a Haddad mais de 20% do eleitorado, está da mesma forma transferindo muitos votos para o outro lado, o oposto do PT, o antipetismo absoluto. Por isso, Lula será responsável por qualquer resultado na eleição presidencial. Se Haddad é o poste de Lula, Bolsonaro é o resultado da sua obra, é a sua criação.

É verdade que Lula teve uma mãozinha do seu velho inimigo, o hoje quase irrelevante PSDB. O partido, que fez o Real e governou o país por dois mandatos, colocou as mãos na mesma massa suja em que o PT enfiara as suas. Sem um líder carismático como Lula, um mártir, um “inocente” preso, o PSDB naufragou com um discurso antiquado e um candidato água morna.

Ninguém tem bola de cristal, nem Lula. Mas se ele tivesse se dado conta há um ano da tormenta que agora se avizinha, certamente teria trabalhado para que o PSDB fosse o adversário no segundo turno. Ou teria proposto uma aliança em torno de outro partido e com outro candidato, Ciro Gomes, por exemplo.

O fato é que, se vencer no dia 28 de outubro, além dos inegáveis méritos próprios, sobretudo ode saber surfara onda na hora certa e ode usar de maneira eficiente as redes sociais( com mentira semeias verdades ), Bolsonaro terá de agradecera Lula pela alavancagem que lhe garantiu um tsunami de votos que nem o mais fiel seguidor do capitão poderia imaginar.

No reto final

Eu, Agamenon Mendes Pedreira, o maior jornalista morto-vivo do Brasil, já fui testemunha pessoal de muitos acontecimentos da nossa história. Vi com meus próprios olhos o assassinato do Titanic, o naufrágio de Kennedy e o autossuicídio de Getúlio Vargas. Mas nunca presenciei uma eleição tão conturbada como a que estamos vivendo desde o fim da ditadura, quer dizer, do Movimento de 64, como afirmou com descortino o presidente do Supremo Tribunal de Frango, José Dias PToffoli.

Estamos entre o SUS e a caldeirinha! Eu sei que esse trocadilho é péssimo, mas os candidatos que estão na frente das pesquisas são muito piores. Aliás, agora vai sair pesquisa todo dia. O cidadão brasileiro, que já não estava conseguindo dormir, agora também não consegue ficar acordado vendo a GloboNews. Essas pesquisas são que nem cocô: se faz todo dia e sempre tem que dar uma olhada pra ver a cara do “serviço”, mas o resultado é um só: é sempre uma merda. O Ibofe e o DataFoda-se transformaram a eleição num imenso Fla x Flu onde você torce pro seu time fanaticamente mesmo que ele seja uma bosta, o técnico seja horrível e o presidente do clube, um ladrão.

Escolher entre Jair Bolsonazi e Ferrando Retarddad é uma verdadeira escolha de Sofria. Eu sei que esse trocadilho é péssimo, mas já disse e reafirmo: os candidatos que estão na frente das pesquisas são muito piores. Pra deixar o país ainda mais inflamado, os ministros do STF estão brigando pra ver quem vai soltar primeiro o ex-presidente e atual presidiário Luísque Inácio Lula da Silva.

Estão tacando lenha na fogueira, e o Ibama não faz nada diante dessa devastação eleitoral-ecológica. E agora surgiram trechos da delação premiada de Antônio Palocci, que está preso há mais de dois anos. Em seu depoimento à Polícia Federal, Palocci revelou que tem o rabo preso e a língua também, mesmo porque no PT (Partido dos Trambiqueros) quem não tem a língua presa não sobe de vida no partido e, mesmo condenado, tem direito à cela especial em Curitiba. Isso é a maior carceragem! Eu sei que esse trocadilho é péssimo, já disse isso, mas vou repetir: os candidatos que estão na frente das pesquisas são muito piores.

Agamenon Mendes Pedreira é jornalista marrom, da cor dos candidatos que estão na frente das pesquisas

O sonho mirabolante

São espetaculares os termos da delação do ex-ministro Antonio Palocci cujo sigilo foi levantado pelo juiz Sérgio Moro. Não chegam a ser exatamente “revelações”, mas comprovam de maneira assombrosamente clara como foi produzido o desastre no qual se enfiou o Brasil. Catástrofe na qual o PT e seu chefão, Lula, tiveram papel de liderança e conduta, mas que envolveu amplos círculos do mundo da política, dos negócios, da economia e setores importantes da sociedade civil.

Não, não é a parte que fala de propina, ilicitudes, grana correndo por dentro e por fora e os mais variados crimes de corrupção. É a parte, no anexo 1 da delação, na qual Palocci relata como a descoberta do pré-sal levou Lula, em 2007, a ter “sonhos mirabolantes”. E como o governo vislumbrava um país riquíssimo, e, para isso, se determinava a construção de 40 navios sondas – e a consequente “fundação” de uma indústria naval completa – para a nacionalização e desenvolvimento do projeto do pré-sal, pelo seu interesse social e pela possibilidade de alavancar a indústria nacional.



Estão aí os elementos centrais (políticos, sociais e econômicos) do “nacional-desenvolvimentismo”, que é, talvez, o pior conjunto de ideias capaz de explicar a baixa produtividade, a baixa competitividade, o atraso relativo e a distância que o Brasil vê aumentar em relação às economias avançadas, tanto pelo ponto de vista das nossas relações de trabalho e sociais quanto à nossa capacidade de participar da era da geração do conhecimento.

O “nacional-desenvolvimentismo” dos militares ainda tinha um componente focado em infraestrutura e ocupação de território, enquanto o “nacional-desenvolvimentismo” do lulopetismo desandou para a “nova matriz econômica” dos subsídios, proteções, controle de preços (mais prejudicial à Petrobrás que a totalidade da grana desviada pelos companheiros do PT, PMDB e PP) e anabolizantes de consumo via crédito.


Impossível dizer que os “sonhos mirabolantes” do então presidente fossem delírios saídos de uma só cabeça. O “nacional-desenvolvimentismo” do PT vem de uma longa tradição que capturou também cabeças pensantes do mundo empresarial, acadêmico e político. É parte de um ideário nacional quase, infelizmente, “atávico” e com raízes já anteriores ao varguismo. E seu retrato 3 x 4 moderno só poderia ser o de Dilma Rousseff – para ser colocado na parede com a legenda: “esta é a cara do nacional-desenvolvimentismo”.

Nestas eleições, nas quais a corrupção (com razão) e a insegurança pública (com razão) ocupam um espaço tão importante na maneira como os eleitores encaram os candidatos, ficou em plano muito inferior qualquer debate sobre o conjunto de ideias, sobre o “sonho mirabolante” transformado em pesadelo – e nem estamos falando de seus aspectos éticos e morais. Por mais paradoxal que pareça, dadas a profundidade e a abrangência do fracasso econômico, uma relativamente gigantesca fatia da sociedade é sensível às mesmas promessas e aos mesmos postulados ligados ao atraso, à ineficácia, à estagnação.

Para muita gente, muita mesmo, é mais fácil encarar as mazelas do momento como o resultado da ação de políticos incompetentes, perdulários, corruptos e que agem apenas em benefício do próprio bolso ou de seus grupos. E que uma vez lavado tudo isso a jato, as coisas voltam a funcionar e o País a crescer e a gerar prosperidade. É um grave engano, mas quem disse que elites inteiras não se enganam?

Pensamento do Dia


Balzaquiana

Há poucas semanas, o general Hamilton Mourão, vice de Bolsonaro, defendeu a elaboração de uma nova Constituição “sem os eleitos pelo povo” pois, afinal, “já tivemos vários tipos de Constituição sem ter passado pelo Congresso”. Nos últimos dias, o adversário de Bolsonaro e candidato do PT Fernando Haddad disse que alteraria a Constituição “se o Congresso assim entender”.

Embora a declaração do petista se enquadre nos moldes da democracia brasileira, ao contrário da declaração do general, é curioso que as campanhas dos dois candidatos favoritos a disputar o segundo turno neste momento tenham se referido à necessidade de mudar a Carta Magna do País justo quando ela completa 30 anos. A Constituição brasileira foi aprovada pela Assembleia Nacional Constituinte em 22 de setembro de 1988 e promulgada em 5 de outubro do mesmo ano.

Trata-se, portanto, de uma balzaquiana. Mulher experiente e emocionalmente amadurecida, ainda que possa ter lá seus defeitos como qualquer outra balzaquiana.


Mulheres têm sido protagonistas nessas eleições tão estranhas. A elas fazem questão de se referir os candidatos nos debates na TV. Foram elas que organizaram o movimento #EleNão, que ganhou não apenas as ruas do País, mas também as páginas da imprensa internacional e a adesão de celebridades globais. A divisão dramática do País ficou evidente quando, um dia após os protestos contra Bolsonaro, houve manifestações apoiando o candidato da direita extrema em algumas cidades brasileiras. As pesquisas de opinião continuam a mostrar que, apesar do peso das eleitoras, o candidato rejeitado por grande contingente das mulheres brasileiras ganha novos adeptos e adeptas, todos aqueles eleitores que nele votarão para evitar o retorno do PT.

Que fique claro: o pior cenário eleitoral se consolida rapidamente. Essa eleição não deveria ter se transformado em referendo sobre a democracia versus referendo sobre a corrupção, mas essa é a escolha com a qual se defrontará a população, por mais que o instinto de negação queira demonizar o outro lado para evitar a dor dessa realidade. Realidade que é fruto de circunstâncias que escaparam do nosso controle.

Há os que querem se referir a Bolsonaro como “um fenômeno eleitoral”. Marketings e ingenuidades à parte, o candidato não é nada disso. Ao contrário, Bolsonaro é fruto do total desmantelamento institucional que o País vem atravessando nos últimos cinco anos. Começou com os protestos de 2013 que não tiveram resposta política para os anseios difusos da população que foi às ruas. Se intensificou com a má gestão econômica do governo de Dilma Rousseff e com a explosão da Lava Jato e suas revelações avassaladoras. Ganhou ainda mais impulso quando o PSDB decidiu se juntar ao abjeto PMDB para pedir o impeachment de Dilma, o impeachment de coalizão que tentou abortar uma crise econômica anunciada e desacelerar a Lava Jato, simultaneamente.

Dilma manteve seus direitos políticos, ao contrário do que manda nossa balzaquiana Constituição, e deve se eleger senadora por Minas Gerais. Se isso não desmascara a farsa que nos trouxe à convulsão institucional em sua plenitude, difícil é saber o que o faria.

Por fim, a candidatura de Bolsonaro, do homem que defende a tortura, a morte, e que acha a democracia espécie de brincadeira de mau gosto, foi selada pela ânsia de Lula e do PT. A ânsia de voltar ao poder como espécie de revanche, de vingança histórica. Não tivesse o PSDB participado do impeachment e do desde sempre moribundo governo Temer, hoje teria chances de eleger um candidato. Não tivesse o PT lançado uma candidatura nessas eleições, não haveria Bolsonaro.

Bolsonaro é o sintoma da indignação profunda, da raiva, da traição do PT que, prometera entregar prosperidade, mas se rendeu com facilidade às engrenagens da corrupção brasileira, assim alcançando patamares jamais vistos. Haddad até seria um bom candidato, não estivesse ele concorrendo pelo PT. Mas está. E, desse modo, viabilizou Bolsonaro.

Em meio ao abismo que se anuncia, ninguém haverá de comemorar a conquista de 30 anos de Constituição. Afinal, quem se importa ante a cegueira que acometeu o País?

O assalto ao Palácio do Planalto

A tomada do poder é um conceito do marxismo clássico associado a um ato por meio do qual uma força política destrói o velho Estado burguês e constrói um novo. Exemplos disso foram o assalto ao Palácio de Inverno da Revolução Russa, a tomada do poder por Mao Tsé-Tung na China e por Fidel Castro em Cuba. A ideia do “Assalto ao Palácio de Inverno”, sempre habitou a cabeça de nossa esquerda. Em 1935, pregava “Todo Poder a ANL (Aliança Nacional Libertadora)” e, nas vésperas de 1964, Luiz Carlos Prestes alardeava que não estava no governo, mas estava no poder. Uma bazófia, claro, mas os soviéticos acreditaram.

Formado na velha escola do stalinismo, José Dirceu ressuscitou a tese em entrevista ao jornal espanhol El País. Disse o comissário: “dentro do Brasil é uma questão de tempo para a gente tomar o poder, que é diferente de ganhar eleição”. E realmente é. Quem ganha eleição mas não se apossa do Estado, submete-se ao jogo democrático, respeita o pluralismo e a sagrada alternância do poder. Já quem toma o poder muda a ordem constitucional e procura se perpetuar.

Estaria o petista fazendo uma ameaça tipo a de Prestes? Difícil de crer. O PT sempre teve um projeto de poder, utilizando-se de expedientes como o Mensalão e o Petrolão para impô-lo ao país. Se não avançou mais o sinal e respeitou a alternância do poder foi porque a correlação de forças não permitia.

Mas quem disse que cometerá o mesmo erro novamente se voltar ao Palácio do Planalto legitimado pelo voto?


O próprio Zé Dirceu já disse em outras ocasiões que o PT não voltaria a cometê-los. Há um precedente preocupante. Os sandinistas submeteram-se à alternância do poder quando perderam a eleição para Violeta Chamorro. Aprenderam a lição. Quando voltaram respaldados pelas urnas, Daniel Ortega se perpetuou no poder, rivalizando com Nicolás Maduro em matéria de ditadura sanguinária em nosso continente.

O comissário não é uma voz isolada no PT. Resoluções do PT estão cheias de passagens sobre o controle social da mídia. Em outra delas, sua executiva lamentou por não ter promovido nas forças armadas oficiais com “compromissos democráticos e nacionalistas”. Acometido de sincericídio, o senador Lindemberg Farias alardeou o bordão “Haddad no governo, Lula no poder”. E seu presidenciável fala na convocação de uma Constituinte exclusiva.

Como a era das revoluções ficou para trás, o “Assalto ao Palácio do Planalto” não poderá se dar pela via leninista da insurreição das massas. Essa via está esgotada, mas há outra.

Em seu livro “Como as democracias morrem”, os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt, mostram que ditadores de esquerda e da direita usam a democracia para implodi-la por dentro. A tomada do poder não acontece mais por meio de insurreição das massas ou de golpes militares, mas sim pela via eleitoral. Por meio de mecanismos democráticos foram instaladas a ditadura de Erdogan na Turquia, Chàves/Maduro na Venezuela, Duterte na Filipinas, Ortega na Nicarágua.

Neste modelo, a democracia deixa de ser um valor universal para ser um expediente tático. O objetivo estratégico do PT é a tomada do poder, como confessa José Dirceu. A eleição é apenas a maneira para chegar lá.
Hubert Alquéres

Em risco constante

O jornalismo tropeça em armadilhas. Nossa profissão enfrenta desafios, dificuldades e riscos sem fim. E é aí que mora o desafio
Carlos Alberto Di Franco

Números do desastre petista

A trágica herança deixada pelos últimos anos da era lulopetista na economia fica evidente também nos dados sobre a demografia das empresas que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) acaba de divulgar. Em 2016, último ano da desastrosa passagem de Dilma Rousseff pela Presidência da República, o Brasil perdeu 70,8 mil empresas, o que resultou na demissão de 1,6 milhão de trabalhadores. É o que mostra o estudo Demografia das Empresas e Estatísticas de Empreendedorismo 2016 divulgado pelo IBGE.


O fato de esse ter sido o terceiro ano consecutivo em que o saldo total de empresas em operação no País foi negativo comprova, com estatísticas expressivas sobre a deterioração do ambiente empresarial, o que outros indicadores já mostravam. A crise que afetou duramente o País começara efetivamente em 2014. Foi o ano em que, escondendo dados sobre a realidade da economia e das finanças públicas e fazendo promessas que jamais poderia cumprir, Dilma iludiu boa parte do eleitorado e conseguiu sua reeleição.

As mentiras com que Dilma e sua companheirada animaram a campanha eleitoral tinham pernas curtas, a recessão se instalou, as pedaladas fiscais com que o governo petista tentou esconder a gravidade da crise das contas públicas se evidenciaram e a presidente, afinal, foi definitivamente afastada do cargo no dia 31 de agosto de 2016. Os efeitos de sua danosa gestão, porém, persistiram por vários meses após seu impeachment. Desse modo, comprometeram o início do governo de seu sucessor legítimo, Michel Temer, a despeito do esforço deste para iniciar um severo controle das contas públicas destroçadas nos anos anteriores.

Em 2016, havia 4,5 milhões de empresas ativas, que ocupavam 38,5 milhões de pessoas, das quais 32,0 milhões eram assalariadas e 6,5 milhões, sócias ou proprietárias. Em relação ao ano anterior, o saldo total de empresas caiu 1,6% e o total de pessoal assalariado, 4,8%.

A taxa de entrada das empresas no mercado, que mede a proporção de empreendimentos iniciados no ano em relação ao universo total das empresas, por sua vez, caiu pelo sétimo ano consecutivo. Essa taxa fixou em 14,5% em 2016, o menor valor da série iniciada em 2008. Isso sugere que, no Brasil, os efeitos da crise financeira mundial de 2008 - que afetaram a disposição de empreender em todo mundo durante algum tempo - se estenderam por um período mais longo em razão das imensas dificuldades que a equivocada política econômica do governo Dilma impôs à atividade empresarial.

O impacto negativo dessa política econômica foi particularmente notável nas estatísticas sobre as empresas consideradas de alto crescimento. São as empresas que desempenham um papel socioeconômico mais relevante, pois estão nessa classificação aquelas que aumentaram o número de empregados em pelo menos 20% ao ano, em média, por três anos consecutivos e tinham 10 ou mais pessoas ocupadas assalariadas no ano inicial da classificação. Entre 2015 e 2016, o número dessas empresas diminuiu 18,6% e seu pessoal assalariado caiu 23,5%. Mesmo assim, embora representassem apenas 0,9% do total do universo das empresas, elas ocupavam o equivalente a 8,3% de todo o pessoal assalariado.

O forte impacto social negativo dos últimos anos do governo de Dilma é nítido também nas taxas de desocupação aferidas regularmente pela Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) Contínua, também do IBGE. Essa taxa é a média do trimestre móvel encerrado no mês de referência. Ela começa a subir no trimestre encerrado em janeiro de 2015, primeiro mês do segundo mandato de Dilma, quando ficou em 6,8%. Um ano depois, já estava em 9,5%. A deterioração do mercado de trabalho em consequência da recessão provocada pelos equívocos da política econômica petista se acentuou nos meses seguintes, até alcançar seu ponto máximo em março de 2017, quando chegou a 13,7%.

São números que o eleitor deveria levar em conta quando for depositar seu voto domingo.

Vaquinha Brasil


Já passou da hora de se pensar no dia seguinte ao das eleições

No município de Petrópolis, em Pedro do Rio, onde estou desde sábado passado, não há quase nenhum sinal que lembre as eleições do próximo domingo, embora a disputa entre os candidatos aos governos estaduais e a presidente da República chegue a ser quase histérica.

São raros os cartazes afixados em automóveis. Um ou outro carrega cartaz de deputado estadual ou federal. Sobre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, silêncio absoluto. A sensação que se tem é a de que as eleições serão entre petismo e antipetismo. O voto está sendo guardado a sete chaves pelo eleitor. O resultado só virá no domingo e, com ele (qualquer que seja ele), o que preocupa é o dia seguinte.


Já passou da hora de os responsáveis diretos pelos destinos de nosso país refletirem com seriedade sobre o dia seguinte ao das eleições. Essa preocupação deveria ter sido despertada quando o então vice-presidente Michel Temer, logo após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, assumiu a Presidência da República. Aliás, essa preocupação deveria ter sido despertada desde a fundação da República, se os políticos deixassem.

O governo Temer tomou providências importantes no setor econômico, mas optou por assessores que representavam o que havia de pior na política brasileira, esquecendo-se de que ela deve ser, no regime democrático, o principal condutor dos anseios da sociedade. Jogou tudo em sua propalada experiência parlamentar. Afinal, além de deputado constituinte, permaneceu na Câmara por mais de 20 anos. Lá, foi líder da maior bancada e líder do bloco da maioria, mas, sobretudo, seu presidente por três vezes. Foi vice-presidente de Dilma Rousseff por duas vezes. Isso, ao contrário, não o fez ganhar todas as batalhas. Deixará o governo com o mais baixo índice de aprovação popular.

O silêncio das eleições de domingo estimula especulações. Os mais otimistas acham que ainda poderá ocorrer alguma surpresa, que adviria da não aceitação dessa polarização, de fato, não só insensata, mas perigosa. Hoje, porém, com a pesquisa da última segunda-feira (escrevo estas linhas com dois dias de antecedência), que estaciona o candidato do PT e faz subir 4 pontos o do PSL, parece não haver dúvida de que, no segundo turno, estarão os dois que hoje lideram todas as pesquisas.

Por outro lado, o intrigante silêncio que tomou conta das eleições de domingo, aliado à divulgação, na noite da última segunda-feira, da demolidora delação do ex-ministro Antonio Palocci, sinaliza, embora ainda incerta, a possibilidade de que o próximo presidente, a partir de 2019, seja anunciado no primeiro turno, com vantagem para Jair Bolsonaro.

E para tornar mais frágil a candidatura de Fernando Haddad, que age como representante ou “pau-mandado” de um presidiário, sua vice, Manuela D’Ávila, pertencente ao PCdoB, não o ajuda em nada, antes só o prejudica.

O apelo à sensatez, feito com atraso pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pode ser dirigido agora aos candidatos já praticamente escalados para o segundo turno. É oportuno frisar que qualquer dos dois, para alcançar êxito em sua missão – a de administrar um país extremamente diversificado e complexo –, terá que buscar apoios no Congresso Nacional, com vistas à formação de ampla maioria, capaz de levar a bom termo as reformas urgentes e indispensáveis ao país.

Como a natureza, a política não dá saltos. A democracia é só um processo. Ela requer conciliação, respeito, paciência e civilidade.
Acílio Lara Resende

Sociedade do desperdício

Uma tentação imediata do nosso tempo é o desperdício. Não é só resultado duma invenção constante da oferta que leva ao apetite do consumo, como é, sobretudo, uma forma de aristocracia técnica. O tecnocrata, novo aristocrata da inteligência artificial, dos números e dos computadores, propõe uma sociedade de dissipação. Propõe-na na medida em que favorece os métodos de maior rendimento e a rapina dos recursos naturais. As hormonas que fazem crescer uma vitela em três meses, as árvores que dão fruto três vezes por ano, tudo obriga a natureza a render mais. Para quê? Para que os alimentos se amontoem nas lixeiras e os desperdícios de cozinha ou de vestuário sirvam afinal para descrever o blefe da produtividade

Agustina Bessa-Luís, "Dicionário Imperfeito"

O paradoxo do progresso

Caros Brasileiros, de onde vem a polarização que todo mundo sente? Hoje, no dia da unidade alemã (03/10), descobri uma nova explicação que eu queria compartilhar com vocês nesses tempos tensos, poucos dias antes das eleições no Brasil.

A inspiração vem de um livro com o título "O paradoxo da integração". O autor, Aladin El Mafaalani, é filho de imigrantes árabes, sociólogo, economista e professor de ciências políticas. A atual polarização política na Alemanha para ele é o resultado de uma integração bem sucedida de imigrantes.

Parece bastante contraditório, mas a conclusão de Mafaalani é: mais progresso, mais polarização.

"Enquanto mulheres imigrantes faziam limpeza, ninguém ligava para o véu ou o lenço na cabeça delas", disse ele. "Mas quando elas começaram a fazer faculdade e subir na escada social, os conflitos surgiram."

As estatísticas sustentam essa tese: o nível de educação da geração jovem de imigrantes na Alemanha melhorou significativamente. Em 2005, somente 14 % desse grupo conseguiu um diploma universitário. Em 2016, a taxa subiu para 26%. No mesmo período, o desemprego entre todos imigrantes na Alemanha diminuiu: caiu de 18% para 7%.


Ao meu ver, a tese de Mafaalani serviria também para explicar a polarização da sociedade no Brasil. Pois nos últimos 25 anos, milhões de brasileiros humildes conseguiram ascender socialmente. Ao passo que o combate à pobreza no Brasil é reconhecido pela comunidade internacional, internamente a avaliação é divida. Enquanto a maioria festeja o progresso, uma parte da sociedade se sente até ameaçada.

Isso provocou uma reação contrária: contra cotas para negros nas universidades, contra a legislação do emprego doméstico, contra o PT. E inveja também. Inveja dos novos atores na sociedade, que queriam mudar a maneira tradicional de governar o país, que queriam ser ouvidos e respeitados.

Mas qual seria a resposta para esse paradoxo do progresso? Seria então melhor não lutar mais por justiça social, direitos de minorias, emancipação da mulher, integração de refugiados ou proteção ao meio ambiente?

A resposta é definitivamente não. Pois é melhor conviver com o paradoxo do progresso do que com o retrocesso. E mais importante ainda: apesar dos avanços no campo da integração e inclusão social, ainda tem muito o que melhorar.

O medo que os movimentos populistas continuem avançando é real. Na Alemanha, o partido de direita "Alternativa para a Alemanha" (AfD) alcançou 18 % nas últimas pesquisas eleitorais. No Brasil, o candidato à Presidência Jair Bolsonaro (PSL) alcançou 32% das intenções de voto.

A ideia de voltar para "os bons tempos de antigamente" parece sedutora. Na realidade, essa viagem é uma ilusão. Pois, afinal, qual passado teria sido melhor? O tempo da ditadura militar no Brasil? O "Estado Novo" de Getúlio Vargas? E na Alemanha, a extinta República Democrata Alemã? A ditadura do Nazismo?

Em vez de glorificar um passado não definido, o desafio é desenvolver e discutir ideias para o futuro. Pois a globalização não vai ficar mais humana se for combatida com populismo, protecionismo ou nacionalismo. E a criminalidade não vai se dissolver com tanques de guerra nas favelas. E a imigração para os Estados Unidos não vai parar com o muro de Trump. Muros serão derrubados, ensina a reunificação alemã.

Astrid Prange de Oliveira

Bolsonaro vira recado do eleitor: a conta chegou

Quem dissesse há um ano que Jair Bolsonaro chegaria às eleições de 2018 como um presidenciável competitivo corria o risco de ser internado como maluco. Pois aconteceu. Além de liderar as pesquisas do primeiro turno, Bolsonaro deixou de ser um azarão para o segundo turno. Até o mercado financeiro, que sonhava com alternativas mais previsíveis, já trata a eventual vitória de Bolsonaro como algo natural.


Bolsonaro chega às portas do Planalto depois de passar 27 anos na Câmara como um folclórico deputado do baixíssimo clero. O capitão formou com um general uma chapa puro-sangue militar. Cavalga um partido de fancaria, o PSL. Elegeu um deputado em 2014. Hoje, sua bancada de oito deputados cabe numa Kombi. O tempo de Bolsonaro no horário eleitoral é de 8 segundos.

Como explicar que tamanha precariedade tenha virado um sucesso? Deve-se o fenômeno à falência do sistema político. Bolsonaro é a resposta enraivecida do eleitorado aos defeitos da democracia brasileira —da blindagem de corruptos até a ineficiência de escolas e hospitais, passando pela falta de empregos. Um pedaço do eleitorado envia, por meio de Bolsonaro, um aviso aos caciques da política, entrincheirados no PT, no PSDB, no MDB e nos seus cúmplices. Eis o recado: a conta da desfaçatez chegou.