quinta-feira, 4 de outubro de 2018

Já passou da hora de se pensar no dia seguinte ao das eleições

No município de Petrópolis, em Pedro do Rio, onde estou desde sábado passado, não há quase nenhum sinal que lembre as eleições do próximo domingo, embora a disputa entre os candidatos aos governos estaduais e a presidente da República chegue a ser quase histérica.

São raros os cartazes afixados em automóveis. Um ou outro carrega cartaz de deputado estadual ou federal. Sobre Jair Bolsonaro e Fernando Haddad, silêncio absoluto. A sensação que se tem é a de que as eleições serão entre petismo e antipetismo. O voto está sendo guardado a sete chaves pelo eleitor. O resultado só virá no domingo e, com ele (qualquer que seja ele), o que preocupa é o dia seguinte.


Já passou da hora de os responsáveis diretos pelos destinos de nosso país refletirem com seriedade sobre o dia seguinte ao das eleições. Essa preocupação deveria ter sido despertada quando o então vice-presidente Michel Temer, logo após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, assumiu a Presidência da República. Aliás, essa preocupação deveria ter sido despertada desde a fundação da República, se os políticos deixassem.

O governo Temer tomou providências importantes no setor econômico, mas optou por assessores que representavam o que havia de pior na política brasileira, esquecendo-se de que ela deve ser, no regime democrático, o principal condutor dos anseios da sociedade. Jogou tudo em sua propalada experiência parlamentar. Afinal, além de deputado constituinte, permaneceu na Câmara por mais de 20 anos. Lá, foi líder da maior bancada e líder do bloco da maioria, mas, sobretudo, seu presidente por três vezes. Foi vice-presidente de Dilma Rousseff por duas vezes. Isso, ao contrário, não o fez ganhar todas as batalhas. Deixará o governo com o mais baixo índice de aprovação popular.

O silêncio das eleições de domingo estimula especulações. Os mais otimistas acham que ainda poderá ocorrer alguma surpresa, que adviria da não aceitação dessa polarização, de fato, não só insensata, mas perigosa. Hoje, porém, com a pesquisa da última segunda-feira (escrevo estas linhas com dois dias de antecedência), que estaciona o candidato do PT e faz subir 4 pontos o do PSL, parece não haver dúvida de que, no segundo turno, estarão os dois que hoje lideram todas as pesquisas.

Por outro lado, o intrigante silêncio que tomou conta das eleições de domingo, aliado à divulgação, na noite da última segunda-feira, da demolidora delação do ex-ministro Antonio Palocci, sinaliza, embora ainda incerta, a possibilidade de que o próximo presidente, a partir de 2019, seja anunciado no primeiro turno, com vantagem para Jair Bolsonaro.

E para tornar mais frágil a candidatura de Fernando Haddad, que age como representante ou “pau-mandado” de um presidiário, sua vice, Manuela D’Ávila, pertencente ao PCdoB, não o ajuda em nada, antes só o prejudica.

O apelo à sensatez, feito com atraso pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, pode ser dirigido agora aos candidatos já praticamente escalados para o segundo turno. É oportuno frisar que qualquer dos dois, para alcançar êxito em sua missão – a de administrar um país extremamente diversificado e complexo –, terá que buscar apoios no Congresso Nacional, com vistas à formação de ampla maioria, capaz de levar a bom termo as reformas urgentes e indispensáveis ao país.

Como a natureza, a política não dá saltos. A democracia é só um processo. Ela requer conciliação, respeito, paciência e civilidade.
Acílio Lara Resende

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