segunda-feira, 22 de junho de 2015
Como sair desse buraco
O que assusta mais é a desproporção entre a quantidade e a qualidade do alarme e o tamanho do desastre. A unanimidade dessa alienação é inquietante. A fronteira hoje é o mundo e já passamos longe o limite a partir do qual não se cabe mais no mercado global. Os tempos dos verbos em uso em Brasília estão defasados. Não é que a conta vai estourar. A conta já estourou. A indústria nacional já está cataléptica. Ninguém – fora os barões do BNDES – consegue andar com as próprias pernas. Os empregos estão sumindo em velocidade vertiginosa. A inflação que se vê é só a primeira onda do tsunami que vem vindo.
O estado tende geneticamente ao absolutismo e democracia é a única barreira capaz de impedi-lo de ocupar todos os espaços. Nos períodos de imunodepressão institucional — quando a “razão de estado” impõe-se sobre os direitos individuais e os demais poderes são avassalados pelo Executivo – o estado incha, a segurança jurídica acaba, a produção e o emprego minguam e a inflação dispara.
Já vimos esse filme. O estado brasileiro saiu do regime militar maior que nunca e, como consequência, a desorganização da economia foi ao paroxismo, passando dos 80% de inflação ao mês. Mas havia, então – ao menos na imprensa – a consciência de que era disso que se tratava e nenhuma barreira auto-imposta à crítica do regime. Graças a isso, apesar da feroz oposição do PT à desmontagem da obra econômica da ditadura com as 540 estatais que o partido tratava de colonizar, foi possível fazer a estatização recuar até o ponto a que a trouxe o governo FHC.
Trinta anos de progressiva ocupação do sistema educacional e dos “meios de difusão ideológica da burguesia” por um discurso único eficiente o bastante para, na contramão do mundo, “criar mercado” para 30 e tantos partidos políticos, todos “de esquerda”, e ao fim de outros 12 de ódio ao mérito, truculência regulatória, agressões à aritmética e aparelhamento do estado e até da economia “privada” para “um projeto de poder hegemônico“, o fosso que se havia estreitado ganha as proporções de uma falha tectônica.
O efeito prático é essa combinação aberrante: apesar da renda per capita de Brasília, onde nada é produzido, ter passado a ser o dobro da do Brasil e 1/3 maior que a de São Paulo, síntese precisa do sistema de castas em que nos transformamos, os temas do tamanho do estado, da privatização, do privilégio e da desigualdade perante a lei estão quase completamente ausentes do debate; tudo que se discute é como o “ajuste” vai tomar mais do país para dar mais ao estado.
Para que a trajetória volte a ser ascendente é o contrário que tem de acontecer. Será preciso recuar até o ponto anterior àquele em que a economia parasitária passou a consumir mais do que a economia produtiva é capaz de repor. A questão é que o PT não é hoje muito mais que a representação política dos “servidores” do estado de modo que reduzir o tamanho do estado significa reduzir o tamanho do PT (e de todos os “caronas” que, até segunda ordem, ele admite carregar na boléia da “governabilidade”). O tema oficial do 5º Congresso Nacional do PT – “Um partido para tempos de guerra” – nos dizia do grau de mobilização dessa casta na defesa dos seus privilégios. O tom só abrandou porque ninguém está desafiando o status quo. Mas a impossibilidade matemática de mantê-lo e ao mesmo tempo evitar o desastre econômico e a conflagração social que vem com ele não é um bom presságio para a democracia no Brasil.
Mesmo assim, nem imprensa, nem “oposição” parecem se dar conta disso.
Nas votações da única parte do “ajuste” em que as propostas reuniam o legalmente possível ao justo e ao desejável, com ligeiro constrangimento do desperdício no setor público, o PSDB, fiel depositário de metade das esperanças da nação, simplesmente oficializou a sua condição de não existência. Renegou bandeiras históricas para assumir-se como nada mais que a imagem invertida do PT. Tudo que tem a propor como alternativa ao que está aí é que seja ele a presidir a festa.
A reforma política, sem a qual não há esperança de romper a blindagem que veda qualquer forma de redução do peso do estado, é outro atoleiro. Sempre que pressionados os políticos sentem-se confortáveis para jogar na arena as surradas “propostas do costume” pela simples razão de que nem os mais agressivos “cães bravios” do nosso “jornalismo watchdog” resistem a esses “biscoitinhos”. “Fim da reeleição” em pleno início de um quarto mandato por interposte pessoa? “Financiamento de campanha” em face de uma economia nacional inteira destruída para comprar votos? Mais leis anti-corrupção no país dos foros especiais? Enquanto os eruditos da irrelevância se distraem debatendo infindavelmente o que quer que se lhes atire, os “jabutis” que aumentam o tamanho do problema passam ao largo gargalhando.
Ao fim de cinco séculos levando com a porta das reformas na cara sem conseguir iniciar uma que fosse, já era tempo de aprendermos que pouco importam as firulas e as beiradinhas conceituais desses preciosismos em que adoramos nos dividir e nos perder, o que é imprescindível é abrir finalmente essa porta e mantê-la aberta daí por diante.
É do mais elementar bom senso e da experiência pessoal de todos nós a noção de que, em qualquer estrutura hierárquica, manda quem tem o poder de contratar e demitir; manda quem tem a prerrogativa da última palavra nas discussões.
O Brasil terá de se reconstruir de alto a baixo para voltar a caber na arena global. E não há “pacote” de reformas que possa incluir tudo que é necessário para tanto. As mudanças terão de se dar num processo, ou seja, num movimento que começa e não se detém mais.
É exatamente isso que proporciona o sistema de voto distrital com recall, a reforma em que são os eleitores que mandam, que começa e não acaba nunca e que, sendo assim, inclui todas as outras.
O estado tende geneticamente ao absolutismo e democracia é a única barreira capaz de impedi-lo de ocupar todos os espaços. Nos períodos de imunodepressão institucional — quando a “razão de estado” impõe-se sobre os direitos individuais e os demais poderes são avassalados pelo Executivo – o estado incha, a segurança jurídica acaba, a produção e o emprego minguam e a inflação dispara.
Já vimos esse filme. O estado brasileiro saiu do regime militar maior que nunca e, como consequência, a desorganização da economia foi ao paroxismo, passando dos 80% de inflação ao mês. Mas havia, então – ao menos na imprensa – a consciência de que era disso que se tratava e nenhuma barreira auto-imposta à crítica do regime. Graças a isso, apesar da feroz oposição do PT à desmontagem da obra econômica da ditadura com as 540 estatais que o partido tratava de colonizar, foi possível fazer a estatização recuar até o ponto a que a trouxe o governo FHC.
Trinta anos de progressiva ocupação do sistema educacional e dos “meios de difusão ideológica da burguesia” por um discurso único eficiente o bastante para, na contramão do mundo, “criar mercado” para 30 e tantos partidos políticos, todos “de esquerda”, e ao fim de outros 12 de ódio ao mérito, truculência regulatória, agressões à aritmética e aparelhamento do estado e até da economia “privada” para “um projeto de poder hegemônico“, o fosso que se havia estreitado ganha as proporções de uma falha tectônica.
O efeito prático é essa combinação aberrante: apesar da renda per capita de Brasília, onde nada é produzido, ter passado a ser o dobro da do Brasil e 1/3 maior que a de São Paulo, síntese precisa do sistema de castas em que nos transformamos, os temas do tamanho do estado, da privatização, do privilégio e da desigualdade perante a lei estão quase completamente ausentes do debate; tudo que se discute é como o “ajuste” vai tomar mais do país para dar mais ao estado.
Para que a trajetória volte a ser ascendente é o contrário que tem de acontecer. Será preciso recuar até o ponto anterior àquele em que a economia parasitária passou a consumir mais do que a economia produtiva é capaz de repor. A questão é que o PT não é hoje muito mais que a representação política dos “servidores” do estado de modo que reduzir o tamanho do estado significa reduzir o tamanho do PT (e de todos os “caronas” que, até segunda ordem, ele admite carregar na boléia da “governabilidade”). O tema oficial do 5º Congresso Nacional do PT – “Um partido para tempos de guerra” – nos dizia do grau de mobilização dessa casta na defesa dos seus privilégios. O tom só abrandou porque ninguém está desafiando o status quo. Mas a impossibilidade matemática de mantê-lo e ao mesmo tempo evitar o desastre econômico e a conflagração social que vem com ele não é um bom presságio para a democracia no Brasil.
Mesmo assim, nem imprensa, nem “oposição” parecem se dar conta disso.
Nas votações da única parte do “ajuste” em que as propostas reuniam o legalmente possível ao justo e ao desejável, com ligeiro constrangimento do desperdício no setor público, o PSDB, fiel depositário de metade das esperanças da nação, simplesmente oficializou a sua condição de não existência. Renegou bandeiras históricas para assumir-se como nada mais que a imagem invertida do PT. Tudo que tem a propor como alternativa ao que está aí é que seja ele a presidir a festa.
A reforma política, sem a qual não há esperança de romper a blindagem que veda qualquer forma de redução do peso do estado, é outro atoleiro. Sempre que pressionados os políticos sentem-se confortáveis para jogar na arena as surradas “propostas do costume” pela simples razão de que nem os mais agressivos “cães bravios” do nosso “jornalismo watchdog” resistem a esses “biscoitinhos”. “Fim da reeleição” em pleno início de um quarto mandato por interposte pessoa? “Financiamento de campanha” em face de uma economia nacional inteira destruída para comprar votos? Mais leis anti-corrupção no país dos foros especiais? Enquanto os eruditos da irrelevância se distraem debatendo infindavelmente o que quer que se lhes atire, os “jabutis” que aumentam o tamanho do problema passam ao largo gargalhando.
Ao fim de cinco séculos levando com a porta das reformas na cara sem conseguir iniciar uma que fosse, já era tempo de aprendermos que pouco importam as firulas e as beiradinhas conceituais desses preciosismos em que adoramos nos dividir e nos perder, o que é imprescindível é abrir finalmente essa porta e mantê-la aberta daí por diante.
É do mais elementar bom senso e da experiência pessoal de todos nós a noção de que, em qualquer estrutura hierárquica, manda quem tem o poder de contratar e demitir; manda quem tem a prerrogativa da última palavra nas discussões.
O Brasil terá de se reconstruir de alto a baixo para voltar a caber na arena global. E não há “pacote” de reformas que possa incluir tudo que é necessário para tanto. As mudanças terão de se dar num processo, ou seja, num movimento que começa e não se detém mais.
É exatamente isso que proporciona o sistema de voto distrital com recall, a reforma em que são os eleitores que mandam, que começa e não acaba nunca e que, sendo assim, inclui todas as outras.
Uber ódio
Jô Soares entrevistou a presidente. “Morra, Jô Soares”, pichou um anônimo em frente à casa do apresentador, materializando no asfalto o ódio que já derramavam virtualmente as redes sociais. Uber faz sucesso no Brasil. “Vai ter morte”, disse representante de taxistas – com a mesma cortesia usada no trânsito – a deputados que querem regular o serviço de transporte particular.
Menina de 11 anos caminhava por avenida em trajes de Candomblé. Desmaiou ao ser atingida na cabeça por pedra atirada por homens que gritavam: “Sai demônio, vão queimar no inferno, macumbeiros”. As três cenas ocorreram na mesma semana, em locais tão distintos quanto o centro rico de São Paulo, o Congresso Nacional em Brasília e a periferia pobre do Rio de Janeiro. Ilustram como a intolerância crescente no Brasil não é só política, mas econômica e – novidade – religiosa. Chocam tanto pela contundência quanto pela banalização e ubiquidade do ódio.
Qualquer estatística sobre mortos no trânsito, pela polícia, por criminosos e mesmo por companheiros de bar ou de lar desconstrói o mito de que o brasileiro é cordial. Só neste século, quase 700 mil habitantes do Patropi abençoado por Deus foram assassinados por conterrâneos. Meio milhão foi transportado involuntariamente ao cemitério por carros, motos, caminhões e ônibus. E, embora o Brasil não tenha declarado guerra oficialmente, 7 mil morreram em intervenções legais e operações bélicas (leia-se, pela PM).
Enquanto cultiva a autoimagem de nação sorridente e solidária, o Brasil é sinônimo de lugar violento na imprensa estrangeira. Após o assassinato de nove negros que rezavam em uma igreja nos EUA, um dublê de jornalista e estatístico gringo planilhou os dados de homicídios. Para provar que os afro-americanos vivem em constante perigo e enfatizar o tamanho do risco, tuitou que eles são vítimas de assassinato em taxa comparável à do Brasil.
Não é de hoje. A violência interpessoal antecedeu o desembarque dos portugueses. Canibalismo e guerras tribais foram erradicados porque os novos moradores dizimaram quem os praticava. Seguiram-se três séculos de escravidão oficial, quando açoitar, espancar ou mesmo matar alguém era prerrogativa do seu proprietário.
A violência foi e tem sido instrumento crucial para consolidar a regra do manda quem pode e obedece quem tem juízo. Da tortura de Estado disseminada na ditadura militar à lei do mais forte imposta pelo crime organizado nos presídios e comunidades pobres das metrópoles, a coerção e a intimidação são assíduos protagonistas da cultura de poder no Brasil. Por que, então, o choque com uma pichação, uma ameaça verbal ou mesmo uma pedrada?
Talvez porque os alvos desse uber ódio sejam tão inofensivos quanto um humorista, um aplicativo de celular ou uma criança. Se até eles ficaram à mercê dessa força irracional e imprevisível, ninguém mais está a salvo de ameaça ou de ter sua integridade física violada por motivos tão banais quanto a cor da sua roupa. A ubiquidade do ódio tomou o discurso político, fez de adversários inimigos e transformou sede de justiça em desejo de vingança. No caminho, desfez qualquer fio de cordialidade que ainda pudesse disfarçar a violência das relações sociais no Brasil. Fim da hipocrisia, saudarão alguns. A que preço?
Os EUA nem tinham velado os nove mortos na igreja de Charleston quando Barack Obama foi à TV dizer que algo precisava ser feito, que esse fenômeno não se repete tanto em outros países. Desde os 21 alvejados por um atirador dentro de um McDonald’s em San Isidro em 1984, passando pelos 13 estudantes abatidos a tiros por dois colegas em uma escola de Columbine em 1999, foram 40 assassinatos em massa em 30 anos. Deixaram 362 vítimas fatais Obama tem motivos para se preocupar com tanto ódio racial, religioso ou genericamente social. O Brasil também.
Confissão ou testamento de Lula
Lobistas de Brasília fazem a previsão do fim do mundo: o juiz Sérgio Moro não vai chamar Lula para prestar depoimento. Vai mandar prendê-lo. Neste caso, ou tem confissão de verdade, ou o testamento político de Lula vai acabar no lixo da História. Lula ainda poderá escolher. A não ser que prefira dar uma de Getúlio Vargas... Mas isto é improvável, pois depende de muita honra e coragem...
Morto politicamente Lula já está... Financeiramente, mais vivo que nunca... O problema é que dinheiro e diamantes africanos não resolvem tudo na hora do verdadeiro juízo final - que não é o do judiciário do Brasil da impunidade ampla, geral e irrestrita. O acerto de contas de Lula pode ser impagável. A tendência é que ele somatize o momento crítico, com alto risco para a saúde - que a marketagem afirma estar maravilhosa e perfeita para disputar a sucessão de 2018... Até lá, pau na Dilma!
Véspera de desgraça, para um sujeito hiper-muito-informadíssimo como Luiz Inácio Lula da Silva, parece ser um momento premonitório. Quinta-feira passada, com a voz mais rouca que nunca, como sequela do câncer de laringe que milagrosamente curou, o mito Lula cometeu uma confissão ou proferiu seu testamento em uma histórica reunião com uns 30 dirigentes de entidades religiosas. Deus que os perdoe... E nos livre e guarde...
Foram apóstolos das confissões de Lula: seu fiel Gilberto Carvalho, o bispo dom Pedro Luiz Stringhini, o padre Julio Lancelotti, e tantos outros dirigentes de pastorais católicas e um pastor evangélico. Abram-se aspas para $talinácio, em ritmo de velório e detonação da companheira Dilma Rousseff (agora com 10% apenas de aprovação e 65% de reprovação, segundo o Datafolha). Lula também a reprova:
"Dilma está no volume morto, o PT está abaixo do volume morto, e eu estou no volume morto. Todos estão numa situação muito ruim. E olha que o PT ainda é o melhor partido. Estamos perdendo para nós mesmos".
"O momento não está bom; o momento é difícil. Acabamos de fazer uma pesquisa em Santo André e São Bernardo, e a nossa rejeição chega a 75%. Entreguei a pesquisa para Dilma, em que nós só temos 7% de bom e ótimo".
“Isso não é para você desanimar, não. Isso é para você saber que a gente tem de mudar, que a gente pode se recuperar. E entre o PT, entre eu e você, quem tem mais capacidade de se recuperar é o governo, porque tem iniciativa, tem recurso, tem uma máquina poderosa para poder falar, executar, inaugurar”.
"Os ministros têm de falar. Parece um governo de mudos. Os ministros que viajam são os que não são do PT. Kassab já visitou 23 estados, não sei quem já visitou 40 estados. Aí não dá. Kassab já tá criando outro partido e a gente não tá defendendo nem o da gente!"
"O governo parece um governo de mudos... Falar é uma arma sagrada. Estamos há seis meses discutindo ajuste. Ajuste não é programa de governo. Em vez de falar de ajuste... Depois de ajuste vem o quê? É preciso fazer as pessoas acreditarem que o que vem pela frente é muito bom. Agora parece que acabou o (assunto) do ajuste”.
"Gilberto sabe do sacrifício que é a gente pedir para a companheira Dilma viajar e falar. Porque na hora que a gente abraça, pega na mão, é outra coisa. Política é isso, o olhar no olho, o passar a mão na cabeça, o beijo".
"Nós tivemos as eleições no dia 26 de outubro. De lá pra cá, Gilberto, nós temos que dizer para vocês, porque vocês são companheiros, depois de nossa vitória, qual é a noticia boa que nós demos para este país? Essa pergunta eu fiz para a companheira Dilma no dia 16 de março, na casa dela".
"Eu fiz essa pergunta para Dilma. Companheira, você lembra qual foi a última notícia boa que demos ao Brasil? E ela não lembrava. Como nenhum ministro lembrava. Como eu tinha estado com seis senadores, e eles não lembravam. Como eu tinha estado com 16 deputados federais, e eles não lembravam. Como eu estive com a CUT, e ninguém lembrava".
"Primeiro: inflação. Segundo: aumento da conta de água, que dobrou. Terceiro: aumento da conta de luz, que para algumas pessoas triplicou. Quarto: aumento da gasolina, do diesel, aumento do dólar, aumento das denúncias de corrupção da Lava-Jato, aquela confusão desgraçada que nós fizemos com o Fies (Financiamento Estudantil), que era uma coisa tranquila e que foram mexer e virou uma desgraceira que não tem precedente. E o anúncio do que ia mexer na pensão, na aposentadoria dos trabalhadores".
"Tem uma frase da companheira Dilma que é sagrada: Eu não mexo no direito dos trabalhadores nem que a vaca tussa”. E mexeu. Tem outra frase, Gilberto, que é marcante, que é a frase que diz o seguinte: Eu não vou fazer ajuste, ajuste é coisa de tucano. E fez. E os tucanos sabiamente colocaram Dilma falando isso (no programa de TV do partido) e dizendo que ela mente. Era uma coisa muito forte. E fiquei muito preocupado".
"Não acredito que tenha havido mensalão. Não acredito. Pode ter havido qualquer outra coisa, mas eu duvido que tenha havido compra de voto — disse ele, mencionando que o ex-deputado Luizinho, do PT de Santo André, não poderia ter voto comprado no mensalão porque era, na época do escândalo, em 2005, líder do governo".
"Nós começamos a quebrar a cara ao tratar do mensalão juridicamente. Então, cada um contratou um advogado. Advogado muito sabido, esperto, famoso, desfilando por aí, falando que a gente ia ganhar na Justiça. E a imprensa condenando. Todo dia tinha uma sentença. Quando chegou o dia do julgamento, o pessoal já estava condenado".
"Jamais vi o ódio que está na sociedade. Família brigando dentro de família, companheiro do PT que não pode entrar em restaurante".
Fecha aspas... Parece que a comilança está acabando... Tudo verdade, $talinácio... O líder do DEM, senador José Agripino Maia, interpretou o discurso de Lula aos religiosos com pura e mortal ironia: "A fala dele, com a respeitabilidade que ele tem no PT, significa a decretação da falência do partido e do governo. É um atestado de óbito. Ele mesmo disse que a Dilma não recebe ninguém, não recebe os pobres. Ele qualificou Dilma como elitista, que se aproveita do poder. Na hora em que diz isso, reconhece a falência do projeto do PT e das principais figuras do partido que estão no governo".
Por tudo isso que esbravejou Lula em seu confessionário ou testemunho de despedida, sendo devidamente sacaneado pela "oposição", é preciso perguntar, novamente, sem a menor maldade: Como o Instituto Lula vai conseguir custear sua despesa média mensal elevadíssima sem a ajuda dos grandes doadores - agora presos e cada vez mais enrolados nos processos da Lava Jato?
Antes de ser preso, Marcelo Odebrecht teria feito uma ligação e dito: "É pra resolver essa lambança ou não haverá República na segunda-feira"... Por isso, outra perguntinha, agora bem idiota: Será que o mundo acaba assim que o domingão encerrar? Erga Omnes!
Fecha aspas... Parece que a comilança está acabando... Tudo verdade, $talinácio... O líder do DEM, senador José Agripino Maia, interpretou o discurso de Lula aos religiosos com pura e mortal ironia: "A fala dele, com a respeitabilidade que ele tem no PT, significa a decretação da falência do partido e do governo. É um atestado de óbito. Ele mesmo disse que a Dilma não recebe ninguém, não recebe os pobres. Ele qualificou Dilma como elitista, que se aproveita do poder. Na hora em que diz isso, reconhece a falência do projeto do PT e das principais figuras do partido que estão no governo".
Por tudo isso que esbravejou Lula em seu confessionário ou testemunho de despedida, sendo devidamente sacaneado pela "oposição", é preciso perguntar, novamente, sem a menor maldade: Como o Instituto Lula vai conseguir custear sua despesa média mensal elevadíssima sem a ajuda dos grandes doadores - agora presos e cada vez mais enrolados nos processos da Lava Jato?
Antes de ser preso, Marcelo Odebrecht teria feito uma ligação e dito: "É pra resolver essa lambança ou não haverá República na segunda-feira"... Por isso, outra perguntinha, agora bem idiota: Será que o mundo acaba assim que o domingão encerrar? Erga Omnes!
Em vez do ajuste fiscal, um ajuste social
Divulgada ontem, mais uma pesquisa do Datafolha surgiu desastrosa para o governo, o PT, Dilma e Lula. Eles perderam a credibilidade, depois de terem perdido a popularidade. Em termos da próxima sucessão presidencial, o Lula perde para Aécio Neves por 10 pontos, um alento para o tucano que vinha sofrendo erosão no ninho, por conta dos paulistas empenhados em Geraldo Alckmin.
Junte-se aos números o recente desabafo do primeiro companheiro a um grupo de religiosos e se terá a receita do naufrágio dos detentores do poder. Será o fim, caso não consigam dar a volta por cima, recuperando-se e fornecendo as boas notícias que Madame não conseguiu dar desde que reeleita, conforme diagnóstico do Lula.
Qual poderia ser essa boa notícia entre as dez más, elencadas pelo ex-presidente? Seria possível estancar a inflação, reverter o aumento do desemprego, das tarifas de luz, água, do preço dos combustíveis, dos alimentos e dos impostos? Pelo menos a atualização dos salários, bem como a preservação do seguro desemprego, do abono salarial e das pensões das viúvas. Que tal o reconhecimento de que é possível sair da recessão crescendo, jamais impondo mais sacrifícios ao trabalhador e às categorias menos favorecidas?
Só que não será, nunca, com Joaquim Levy e sua turma. Nem com o PT esquecido de sua pregação inicial, dos tempos da fundação, hoje empenhado no futuro financeiro de seus líderes. Boa notícia realmente seria o segundo governo Dilma começar a reconhecer que vai mal, que não se apresenta à opinião pública nem dialoga com o trabalhador. Madame precisaria aposentar a bicicleta, por alguns meses, dedicando-se a viajar pelo país e sentir, ao vivo, as causas do fracasso de seu governo.
Em suma, a pergunta que não quer calar limita-se a saber por quanto tempo mais a presidente da República se manterá sem discurso e sem iniciativas sociais, fechada em torno das propostas de uma equipe econômica retrógrada e aferrada aos postulados do neoliberalismo. Essa fórmula é letal para países como o nosso. Em vez de ajuste fiscal, por que não ajuste social?
O festival de roubalheira que assola o poder público e as elites financeiras oferece a cada dia um novo episódio mostrando como faz falta o retorno do PT às suas origens. Ou, pelo menos, um novo ministro da Fazenda…
Chega ao fim o período do PT no poder
Começar por onde? Pelo aumento do desemprego? Ou da rejeição à Dilma, agora na casa dos 65%?
Pela decisão do Tribunal de Contas da União de pedir explicações ao governo sobre manobras fiscais? A decisão pode dar vez a um processo de impeachment contra Dilma.
Ou começar pelo desabafo de Lula detonando Dilma, o PT e ele próprio? Ou ainda pela prisão surpreendente dos dois maiores empreiteiros do país?
A prisão dos empreiteiros remete à Queda da Bastilha. Só havia por lá sete presos quando o povo de Paris tomou-a de assalto. Os presos foram libertados.
A cabeça do diretor da prisão desfilou pela cidade espetada na ponta de uma lança.
A Bastilha era um símbolo do poder absolutista dos reis. Sua queda virou um marco da Revolução de 1789 que mudou a França e repercutiu no mundo todo.
Até que a Bastilha fosse destruída, tinha-se como inconcebível que a ralé pegasse em armas para varrer o regime. Os reis eram figuras divinas.
Por aqui, parecia inconcebível que Marcelo Odebrecht, herdeiro de um império que faturou R$ 107 bilhões no ano passado, fosse parar na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, obrigado a comer quentinhas. Ele e o presidente da Andrade Gutierrez .
E não só pela fortuna que Marcelo amealhou, capaz de realizar todos os seus desejos de consumo, e também os desejos das próximas gerações dos Odebrechts.
Mas principalmente pelas conexões políticas e econômicas que Marcelo estabeleceu com políticos e governantes daqui e de uma dezena de países. Lula virou seu empregado. E, junto com Dilma, refém do que Marcelo sabe.
Se o mais poderoso empresário brasileiro decidisse colaborar com a Justiça, a República literalmente cairia.
Imagine se viessem à luz detalhes de um dos encontros de Marcelo com Dilma no ano passado, quando ele fez um circunstanciado relatório sobre os bastidores dos negócios entre as empreiteiras e a Petrobras? Por essa e outras, ele jamais imaginou que seria preso.
Em novembro último, durante encontro com os executivos do Grupo Odebrecht em Costa do Sauipe, na Bahia, Marcelo se sentia tão inatingível que os aconselhou: “Se algum de vocês for preso, conte tudo. Que eu me apresentarei e contarei tudo”.
Não se animem! O maior patrimônio de Marcelo, a essa altura, não é a Odebrecht. É sua memória. E os documentos que guarda. Não falará.
Lula está furioso com a companheira Dilma. Ele a acusa de não ter usado o poder do cargo para impedir que a Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, chegasse até onde chegou.
Mas como Dilma poderia atender à vontade de Lula se ela se reelegeu com base em mentiras, lidera um governo cada vez mais fraco, e seu desempenho só é aprovado por 10% dos brasileiros?
O fato é que Lula cobra de Dilma o que ela não pode dar. Ou talvez não queira dar.
Poucas coisas boas ficarão do período Dilma. Uma delas, a justa fama de não ter atrapalhado o combate à corrupção. Ela quer ser lembrada como a "faxineira ética".
As críticas de Lula a Dilma, compartilhadas com os religiosos que o visitaram no Instituto Lula, deixam nu um político que não entende a real dimensão da crise do PT e da esquerda.
A crise deriva dos erros cometidos por Lula e Dilma. O pai da crise é ele. A mãe, ela.
De nada adianta Lula sugerir a Dilma que vá para a rua falar com o povo. Ela não tem o que dizer. O PT, tampouco.
Envelheceram o discurso e os métodos do Sr. Brahma, como Lula foi chamado por alguns empreiteiros.
É um ciclo político que se esgotou. Apenas isso, e nada mais.
Pela decisão do Tribunal de Contas da União de pedir explicações ao governo sobre manobras fiscais? A decisão pode dar vez a um processo de impeachment contra Dilma.
Ou começar pelo desabafo de Lula detonando Dilma, o PT e ele próprio? Ou ainda pela prisão surpreendente dos dois maiores empreiteiros do país?
A prisão dos empreiteiros remete à Queda da Bastilha. Só havia por lá sete presos quando o povo de Paris tomou-a de assalto. Os presos foram libertados.
A cabeça do diretor da prisão desfilou pela cidade espetada na ponta de uma lança.
A Bastilha era um símbolo do poder absolutista dos reis. Sua queda virou um marco da Revolução de 1789 que mudou a França e repercutiu no mundo todo.
Até que a Bastilha fosse destruída, tinha-se como inconcebível que a ralé pegasse em armas para varrer o regime. Os reis eram figuras divinas.
Por aqui, parecia inconcebível que Marcelo Odebrecht, herdeiro de um império que faturou R$ 107 bilhões no ano passado, fosse parar na carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, obrigado a comer quentinhas. Ele e o presidente da Andrade Gutierrez .
E não só pela fortuna que Marcelo amealhou, capaz de realizar todos os seus desejos de consumo, e também os desejos das próximas gerações dos Odebrechts.
Mas principalmente pelas conexões políticas e econômicas que Marcelo estabeleceu com políticos e governantes daqui e de uma dezena de países. Lula virou seu empregado. E, junto com Dilma, refém do que Marcelo sabe.
Se o mais poderoso empresário brasileiro decidisse colaborar com a Justiça, a República literalmente cairia.
Imagine se viessem à luz detalhes de um dos encontros de Marcelo com Dilma no ano passado, quando ele fez um circunstanciado relatório sobre os bastidores dos negócios entre as empreiteiras e a Petrobras? Por essa e outras, ele jamais imaginou que seria preso.
Em novembro último, durante encontro com os executivos do Grupo Odebrecht em Costa do Sauipe, na Bahia, Marcelo se sentia tão inatingível que os aconselhou: “Se algum de vocês for preso, conte tudo. Que eu me apresentarei e contarei tudo”.
Não se animem! O maior patrimônio de Marcelo, a essa altura, não é a Odebrecht. É sua memória. E os documentos que guarda. Não falará.
Lula está furioso com a companheira Dilma. Ele a acusa de não ter usado o poder do cargo para impedir que a Operação Lava-Jato, comandada pelo juiz Sérgio Moro, chegasse até onde chegou.
Mas como Dilma poderia atender à vontade de Lula se ela se reelegeu com base em mentiras, lidera um governo cada vez mais fraco, e seu desempenho só é aprovado por 10% dos brasileiros?
O fato é que Lula cobra de Dilma o que ela não pode dar. Ou talvez não queira dar.
Poucas coisas boas ficarão do período Dilma. Uma delas, a justa fama de não ter atrapalhado o combate à corrupção. Ela quer ser lembrada como a "faxineira ética".
As críticas de Lula a Dilma, compartilhadas com os religiosos que o visitaram no Instituto Lula, deixam nu um político que não entende a real dimensão da crise do PT e da esquerda.
A crise deriva dos erros cometidos por Lula e Dilma. O pai da crise é ele. A mãe, ela.
De nada adianta Lula sugerir a Dilma que vá para a rua falar com o povo. Ela não tem o que dizer. O PT, tampouco.
Envelheceram o discurso e os métodos do Sr. Brahma, como Lula foi chamado por alguns empreiteiros.
É um ciclo político que se esgotou. Apenas isso, e nada mais.
Há de vir
Será que a liberdade é uma bobagem?...
Será que o direito é uma bobagem?...
A vida humana é alguma coisa a mais que ciências, artes e profissões.
E é nessa vida que a liberdade tem um sentido, e o direito dos homens.
A liberdade não é um prêmio, é uma sanção. Que há de vir .Mário de Andrade
Nem que a vaca tussa
Por incrível que pareça, a presidente Dilma Rousseff anunciou, na semana passada, um programa de concessões no valor de cerca de R$ 190 bilhões para investir em rodovias, ferrovias, portos, aeroportos e telecomunicações.
Digo que parece incrível porque toda a história do PT –e particularmente de Lula e Dilma– sempre foi a de considerar a privatização um ato de traição nacional.
Lembram-se do aranzel que o PT armou em todo o país para protestar contra a privatização da Telebrás, pelo governo Fernando Henrique Cardoso?
No Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte, no Recife, em Porto Alegre, enfim, em todas as grandes e pequenas cidades do país, os militantes petistas denunciavam a ignomínia que era entregar os serviços telefônicos do país a empresas privadas.
Naquela época, em que possuir um telefone era um privilégio, comprei um pelo equivalente a quase R$ 5.000 hoje.
Telefone era um bem tão raro e precioso que se punha na declaração do imposto de renda. Pois bem, a privatização foi feita e hoje todo o mundo tem telefone, do porteiro do meu prédio ao faxineiro que limpa a rua aqui da frente. O PT nunca mais tocou nesse assunto.
Mas continuou antiprivatista para mostrar que se mantém um partido de esquerda, mesmo quando o regime comunista já desabou no mundo inteiro. É o que eu chamo de "populismo de esquerda", que já não opõe o operariado à burguesia e, sim, o pobre contra o que Lula chama de "elite branca".
Digo que parece incrível porque toda a história do PT –e particularmente de Lula e Dilma– sempre foi a de considerar a privatização um ato de traição nacional.
Lembram-se do aranzel que o PT armou em todo o país para protestar contra a privatização da Telebrás, pelo governo Fernando Henrique Cardoso?
No Rio, em São Paulo, em Belo Horizonte, no Recife, em Porto Alegre, enfim, em todas as grandes e pequenas cidades do país, os militantes petistas denunciavam a ignomínia que era entregar os serviços telefônicos do país a empresas privadas.
Naquela época, em que possuir um telefone era um privilégio, comprei um pelo equivalente a quase R$ 5.000 hoje.
Telefone era um bem tão raro e precioso que se punha na declaração do imposto de renda. Pois bem, a privatização foi feita e hoje todo o mundo tem telefone, do porteiro do meu prédio ao faxineiro que limpa a rua aqui da frente. O PT nunca mais tocou nesse assunto.
Mas continuou antiprivatista para mostrar que se mantém um partido de esquerda, mesmo quando o regime comunista já desabou no mundo inteiro. É o que eu chamo de "populismo de esquerda", que já não opõe o operariado à burguesia e, sim, o pobre contra o que Lula chama de "elite branca".
Algumas dessas falcatruas vieram à tona agora, mas, apesar disso, Lula e Dilma continuam a posar de esquerdistas, inimigos do capitalismo e, logicamente, de contrários à privatização. Sucede que, se é fácil enganar o povão desinformado, é impossível enganar a realidade.
A situação crítica de nossos aeroportos, por exemplo, levou o governo petista a apelar para o capital privado. Como não podia usar a palavra privatização, usou concessão e, para não ser acusado de favorecer aos capitalistas, impôs tais condições às concessões que ninguém aceitou investir nos aeroportos.
Os anos se passaram, e a situação não apenas dos aeroportos, como dos portos e ferrovias, agravou-se a cada dia, sem que nenhum investimento fosse feito para resolver o problema.
Isso aumentava o custo de nossas exportações, contribuindo para o agravamento da situação econômica do país. Enquanto isso, o governo continuava investindo em programa eleitoreiros, que lhe garantiu o poder por 14 anos já.
Mas, como a realidade não se engana, a verdadeira situação econômica se impôs e obrigou a presidente Dilma a fazer o contrário de tudo o que dissera durante a última campanha eleitoral.
De fato, essa necessidade de fingir que é de esquerda foi um dos fatores decisivos –além da corrupção, é claro– para o desastre econômico a que o petismo conduziu o país. Dentro dessa mesma atitude ambígua, Lula deixou deliberadamente que se deteriorasse o intercâmbio comercial com os Estados Unidos, que sempre foram nosso maior parceiro comercial.
O resumo da ópera é que, neste ano de 2015, não dá mais para posar de inimigo do capitalismo, muito menos para insistir nas medidas populistas, porque o resultado delas foi onerar os cofres públicos e as empresas estatais.
Dilma agora teve de aumentar os preços do diesel, da gasolina, da energia elétrica e, com o ajuste fiscal, onerar a classe trabalhadora.
Mas isso ainda não basta para tapar o buraco em que o país afundou. Há que recorrer à mal afamada privatização.
Ferreira Gullar
Nunca antes neste país um presidente foi convocado a justificar contas
O Tribunal de Contas da União (TCU) deu um mês para Dilma. São 13 as irregularidades nas contas. Número de azar ou de sorte, dependendo da numeróloga que atende o Planalto. Nunca antes na História do Brasil um presidente da República foi convocado pelo Tribunal a justificar as contas. É inédito. Ficará escrito na História.
O assunto é duro, mas não estéril: produz filhotes em nosso dia a dia, no aumento do desemprego e da inflação e em todas as contas que recebemos em casa e que pagamos nos mercados, nos médicos, nos planos de saúde, nas escolas dos filhos. Pedaladas, só aceitamos, e mesmo assim com ressalvas, as de Neymar 100% Jesus. Dilma corre, portanto, um risco. Se as explicações da presidente não convencerem os ministros do Tribunal, suas contas serão rejeitadas.
Talvez tudo não passe de teatro. Dilma conta com o apoio da maioria entre os oito ministros do TCU – mas foi unânime o voto para convocar a presidente a se explicar, por escrito, em documento assinado por ela. Uma eventual rejeição das contas seria um golpe inimaginável para a presidente, que até hoje nunca soube de nada da Petrobras. “As contas são dela. Tudo foi prestado por ela. Por isso, é a presidenta (sic) que precisa ser ouvida”, afirmou o ministro do TCU Augusto Nardes, relator das contas do ano passado. Até hoje, foram aprovadas “com ressalvas” as contas mais esquisitas do primeiro governo Dilma. Percebam que o total da “manobra fiscal” investigada agora pelo TCU envolve R$ 40 bilhões entre 2009 e 2014. Segundo o Tribunal, R$ 7 bilhões só no ano passado, o Ano D, de Dilma.
Por que o governo não foi pressionado mais duramente pelo TCU antes, quando estava em marcha a construção de um país da fantasia, com refinarias-fantasmas, estatais borbulhantes, “parcerias entre Estado e empreiteiras” hoje rebatizadas como conluios? Por que o Congresso não analisa as contas do governo desde 2002, embora seja sua prerrogativa? Por que mesmo, hein, Sarney?
Não precisa ser nenhum Sherlock para adivinhar como Dilma reagirá. Ela poderá se fazer de vítima, protestando contra “a politização do TCU”, num momento em que o governo está fraco, sob pressão da dobradinha Cunha-Renan. Ela dirá que “a transparência” de seu governo permitiu, pela primeira vez na História do país, que um presidente seja encostado na parede pelo TCU. E finalmente empurrará a culpa das contas malfeitas para conselheiros e assessores, alguns já afastados. Ai, Mantega, suportarás o peso “hasta cuando”?
É inacreditável a cara de pau do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams. Ele disse que o TCU na verdade questiona o governo, e não Dilma. Caramba, então Dilma responde por que coisas da vida, exatamente? Pela decoração, pela dieta, pelo figurino, pelo blush? Em 28 de novembro de 2014, a presidente assinou um decreto, desbloqueando R$ 10,1 bilhões para os ministérios gastarem, sem autorização do Congresso. Quem acompanha lembra. Dilma mandou às favas a meta fiscal de seu governo. Ou foi o governo que mandou Dilma às favas? Quanta acrobacia mental. As dívidas do governo com bancos e fornecedores, em 2014, superam R$ 256 bilhões. Foram ocultas.
A presidente ganhou do TCU um tempo para defesa. Para, de cara limpa, explicar a matemática que assombrou o ministro Levy – nem ele esperava, ao assumir o posto, a barafunda de números que encontrou. Uma matemática que custa muito caro à população, à economia, às indústrias e à imagem do país. Dilma tem um mês para convencer.
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