quinta-feira, 6 de novembro de 2014
Temos 'primeiro-ministro'
Dilma ainda não anunciou um nome sequer para o ministério
que será de um “governo novo”. Mas o brasileiro descobre que Lula já está
atuando na surdina como “primeiro-ministro”, a sombra soturna de um governo.
Esta semana, na escondida Granja do Torto, longe da bisbilhotice da imprensa e
raramente utilizada, o ministro sem pasta se reuniu com a presidente, o chefe
da Casa Civil, Aloizio Mercadante, e o presidente do PT, Rui Falcão, numa
verdadeira confabulação do submundo da política.
O encontro é a confirmação de que o primeiro-ministro estará
por trás da presidente durante os próximos quatro anos. Será o conselheiro para
garantir que não mais em 2018 se passe novamente pelo sufoco de perder a
eleição, uma vez que naquele ano tentará a volta ao Planalto. E vai lutar estes
anos todos, como tem feito, debaixo dos panos, para que o PT não perca o
domínio do Brasil. E neste vale fazer o diabo, os destinos de um país são
definidos inclusive por um presidente de partido, um aloprado, um
ex-presidente, na mais clara ditadura partidária.
PT terá que aprender a conviver com a nova oposição
A rua não tem dono nem ideologia. Todos têm direito de ocupá-la democraticamenteO Partido dos Trabalhadores (PT) que acaba de ganhar as eleições com sua candidata Dilma Rousseff deverá aprender desta vez a conviver com a oposição, algo que não estava acostumado. O Brasil viveu sem ela nos últimos 12 anos de Governo petista. O carisma de Lula e suas conquistas econômicas e sociais, principalmente em seu primeiro mandato, tinham emudecido a oposição.
Se a ausência de um partido opositor – como existe em todas as democracias maduras dos países desenvolvidos – trouxe vantagens aos três mandatos do PT, é possível que a história descubra que também pode ter tido seu lado negativo.
Nem as melhores democracias sobrevivem imunes à corrupção e às tentações autoritárias sem uma oposição democrática, real, concreta, capaz de exigir que o Governo exerça a função concedida pelos eleitores. Nem mais, nem menos.
Como em uma família cujos filhos acabariam perdendo a identidade sem uma ação vigilante dos pais, também os governos podem se esquecer de sua função se não possuem o ferrão de uma oposição que os faça lembrar do que prometeram ao se eleger e os estimule ao cumprimento. E que os façam prestar contas.
O Partido dos Trabalhadores foi mestre na arte da oposição antes que o sindicalista Luiz Inácio Lula da Silva o levasse ao poder. Sabiam como ninguém ocupar as ruas e exigir. Fizeram oposição até ao texto da Constituição. Ninguém melhor do que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, que sabe por experiência o que foi ter o PT como oposição, que gritava nas ruas e praças “Fora FHC!”. Aquela que, embora às vezes dura ao extremo, serviu de antídoto aos governos e até derrubou um deles do pedestal.
Ao chegar ao poder, o PT, que tinha até então vocação de dissidente e não de Governo federal, teve sorte não apenas de poder governar sem oposição, mas também de contar com um líder com grande força de atração nacional e internacional.
Nem sequer no momento crucial do escândalo de corrupção do mensalão, que foi o único momento dramático para Lula, a oposição quis endurecer e nunca pediu sua saída do Governo.
Agora, pela primeira vez, o PT pode começar a experimentar na própria carne o que significa uma oposição de verdade, que o novo líder Aécio Neves, forte com seus mais de 50 milhões de votos, afirmou que fará “sem adjetivos”, mas também com “total espírito democrático”.
Leia mais o artigo de Juan Arias
Miseráveis aumentam no Brasil
Após 10 anos de queda, número de miseráveis volta a subir no
Brasil. Aumento de 3,7% é o primeiro desde 2003, quando miséria
começou a cair. Em 2013, país passou a ter 10,45 milhões na extrema pobreza, mostra Ipea.
Após uma década de queda na miséria, o número de brasileiros
em condição de extrema pobreza voltou a subir em 2013. O país tinha 10,08
milhões de miseráveis em 2012, contra 10,45 milhões um ano depois, segundo
dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), que escondeu os números, a pedido do TSE, que seriam liberados durante a campanha eleitoral.
Dilma passou a campanha toda se aproveitando de ser a
Redentora da Miséria, um posto de mérito para Nobel, mas que agora se revela ter
sido mais uma das grandes mentiras petistas. Em seu governo, aumentou o número
de miseráveis no país em que o petismo deu fim à miséria. Dá pena que uma
presidente chegue ao cúmulo de se aproveitar dos miseráveis apenas por mero
interesse em continuísmo governamental.
PT convoca seus 'soldados'
O PT está convocando a militância virtual “às armas” para
combater as crescentes manifestações nas redes sociais pedindo o impeachment da
presidente reeleita Dilma e a intervenção militar. O partido pede que os
militantes visitem as páginas oficiais do partido e “armem-se” com argumentos
para rebater os ataques nas redes e nas ruas.
A mensagem postada com o título “Militância, às armas” no
perfil oficial do Partidos dos Trabalhadores no Facebook afirma que a vitória
da presidente Dilma Rousseff “revelou o desespero de setores que insistem em
ignorar a vontade da população". E que os "representantes do atraso"
estariam tentando manter o acirramento para desestabilizar o segundo mandato da
presidente reeleita no último dia 26 de outubro com 51,64% dos votos.
"Representantes do atraso, verdadeiros fantasmas do
passado, eles tentam criar um terceiro turno da disputa eleitoral ao suscitarem
sandices como intervenção militar e até o impeachment da
presidenta. Esqueceram que o povo não é bobo! Mantenha-se informado
em nossos canais e arme-se com argumentos para rebater a ignorância nas redes e
nas ruas."
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Um Frankenstein mulambento
A velha cantilena petista já ficou mais desgastada do que o paletó
de Frankenstein. A ditadura e golpe de direita estão mais longe do Brasil de
hoje do que Marte. A maioria dos eleitores sequer sabe o que foram os anos de
chumbo, desconfia através de relatos. Mesmo grande parte dos petistas só
conhece a história de ouvir falar.
Os sobreviventes daqueles anos sabem que não estamos mais
vivendo sob ameaças imbecis como essa, que só fazem gerar um medo sem sentido.
Nem mesmo o mundo ou a América Latina são os daquela época.
Como a reunião de quatro cavaleiros do apocalipse na calada, sob a cobertura da noite, para decidirem os destinos do país. O que não é nada democrático.
Anestesiados pela violência
Vivemos hoje uma total indiferença em relação à violência: notícias já não nos sensibilizam
Estive algumas vezes no México, sendo a mais recente em setembro, quando percorri de carro os pouco mais de 300 quilômetros que separam a Cidade do México de Xalapa, uma rodovia ampla e segura que oferece-nos uma paisagem inacreditavelmente diversificada, incluindo os espetaculares vulcões Popocatépetl e Iztaccíhuatl, um ao lado do outro, a mais de 5.400 metros de altitude. Comentava com Paco, o motorista que me acompanhava, sobre as belezas naturais, a riqueza do passado e a simpatia do povo, quando veio à tona a notícia do desaparecimento de 43 estudantes no estado de Guerrero.
O que nos parecia, em princípio, um fato revoltante, com o passar dos dias revelou-se um entrecho de terror. Os normalistas voltavam para sua cidade, após participarem de um protesto contra a forma de distribuição de vagas na universidade local, quando foram surpreendidos pela polícia, que, atacando os ônibus em que viajavam, causou a morte de seis pessoas e o sumiço de outros 43 adolescentes. Entregues, pasmem!, a um cartel de narcotraficantes, eles ainda não foram encontrados, nem vivos, nem mortos... As investigações apontam para um obsceno conluio entre autoridades governamentais e bandidos...
Apesar do absurdo da situação, esse não é um acontecimento isolado na história contemporânea do México. O país tem hoje regiões inteiras dominadas por bandoleiros, estradas proibidas para o tráfego, cidades fantasmas e campos abandonados. E uma população amedrontada e impotente, acuada pela aliança entre delinquentes e policiais, dominada por políticos corruptos, cujos interesses se confundem com os dos chefões do narcotráfico.
Mas não é do México que quero falar. É do Brasil.
Os números relacionados à violência no Brasil são estarrecedores. Segundo dados reunidos pela Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais, ligada à Unesco, tivemos 56 mil homicídios em 2012, ou 154 assassinatos por dia, o que nos coloca no vergonhoso sétimo lugar entre os países mais violentos do mundo. A morte de jovens, entre 15 e 29 anos, representa mais da metade de todos os homicídios – embora essa faixa etária corresponda a 27% do total da população. Todas as capitais apresentam níveis de violência considerados epidêmicos (mais de 10 homicídios para cada 100 mil habitantes), e as estatísticas mostram que não é muito diferente a situação nas cidades do interior.
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