quinta-feira, 7 de julho de 2016

Autoritarismo: STF que processar quem fez bonecos de Lewandowski e Janot

Vai mal um Poder, ou franjas dele, que não consegue distinguir da difamação o direito de crítica e a liberdade de expressão. E olhem que quem está escrevendo é um sujeito que não acredita em direitos absolutos, como sabe, por exemplo, o deputado Jair Bolsonaro (PSC-RJ). Por que digo isso?

O grupo “NasRuas” levou para a Avenida Paulista dois bonecos infláveis, ao estilo Pixuleco: um de Ricardo Lewandowski e outro de Rodrigo Janot. Ambos aparecem caracterizados como petistas. A caricatura do presidente do STF é chamada de “Pertralowski” — que funde o nome do ministro com a palavra “petralha” (que eu inventei, diga-se), e a de Janot, de “Enganô”. O grupo, como se vê, é crítico da atuação das duas autoridades e considera que elas, vamos dizer, amaciam as coisas para os petistas.

O “NasRuas” tem o direito de pensar isso? Tem, sim. Não estão acusando as digníssimas autoridades de crime nenhum. Desde que as charges passaram a ser publicadas pela imprensa, a abordagem é mesmo crítica. E, como diz uma das representantes do grupo, bonecos como Pixuleco, Pewtralowski e Enganô são charges em três dimensões.

Mas, para isso, é preciso que se respeitem os valores constitucionais, não é? Parece que, em certos nichos do Supremo, as coisas não caminham por aí. Eis que o senhor Murilo Herz, secretário de Segurança do Supremo, viu nas representações uma “grave ameaça à ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade” do Judiciário, que ultrapassariam os limites da liberdade de expressão.


E, como consequência, o STF enviou à Polícia Federal, calculem, um pedido de investigação. Carla Zambelli, do movimento Nas Ruas, é apontada como uma das responsáveis pelo boneco. Diz o ofício: “Tais condutas, no entender desta secretaria, que atua no estrito exercício de suas atribuições funcionais, representaram grave ameaça à ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade de uma das principais instituições que dão suporte ao Estado Democrático de Direito, qual seja, o Poder Judiciário, com o potencial de colocar em risco –sobretudo se foram reiteradas– o seu regular funcionamento”.

Eu desafio o sr. Herz, e publicarei a sua resposta se houver, a me dizer como um boneco ameaça o “regular funcionamento do Judiciário”. Trata-se de uma piada de mau gosto.

Ele foi mais longe: “Configuram, ademais, intolerável atentado à honra do Chefe desse Poder e, em consequência, à própria dignidade da Justiça Brasileira, extrapolando, em muito, a liberdade de expressão que o texto constitucional garante a todos os cidadãos, quando mais não seja, por consubstanciarem em tese, incitação à prática de crimes e à insubordinação em face de duas das mais altas autoridades do país.”

Mais um desafio: onde está a incitação ao crime? Qual crime, doutor? A “subordinação” a “duas das mais altas autoridades do país” supõe concordar com suas opiniões? Alguém precisa dizer a este zeloso funcionário que decisão da Justiça, a gente tem de acatar, sim. Mas só a ditaduras proíbem que sejam discutidas. Ou estaremos criando duas castas de autoridades que estão acima da crítica: juízes e membros do Ministério Público.

Alguém precisa dizer a este senhor que, desde que as pessoas não pratiquem ou incitem a prática de crimes, têm o direito de pensar o que lhes der na telha. Quem ameaça a democracia é a opinião do senhor Herz. Na prática, o que ele está defendendo é a censura.

E, para escrever o que escrevo, não preciso concordar com quem se manifesta. Carla, por exemplo, foi ouvida e afirmou o seguinte:
“Grande ameaça são as decisões do Supremo e desembargadores amigos de preso, que vêm tentando desconstruir a Lava-Jato, como a soltura do ex-ministro Paulo Bernardo [que foi preso na Operação Custo Brasil], e a contrariedade ao entendimento da segunda instância fixado pelo próprio Supremo”.

Acho que Carla está errada nos dois casos. Penso que Toffoli agiu de acordo com o Artigo 312 do Código de Processo Penal quando mandou soltar Paulo Bernardo e que a decisão de Celso de Mello, que deu liminar contra a prisão de alguém condenado em segunda instância, encontra abrigo na Constituição, embora eu possa não gostar disso. Também não acho que a Lava-Jato esteja correndo qualquer risco.

Vale dizer: nessas questões, discordo de Carla e de seu movimento. E daí? Para que as pessoas tenham o direito de se manifestar, não preciso concordar com elas.

O troço é um despropósito absoluto. Vai mal um país quando juízes decidem recorrer à Justiça para impedir que blogs publiquem textos que consideram errados, como aconteceu no Paraná, ou quando, por intermédio de um funcionário graduado, o próprio Supremo tenta instaurar a censura. E estamos falando daquele tribunal que pôs fim à Lei de Imprensa.

Pegue de volta essa porcaria desse ofício, ministro Lewandowski. Evite que a Justiça brasileira se torne motivo de chacota entre os que conhecem os valores da democracia.

Escola com partido ou sem partido?

Em Zero Hora do último dia 5 de julho, um estudante entrou na esteira aberta pelo jornalista Paulo Germano que escreveu coluna criticando o projeto Escola Sem Partido. A carta desse leitor soma-se a incontáveis relatos que pessoalmente recebi sobre a militância política, ideológica e partidária que usa a sala de aula como concessão para fazer cabeças. O projeto foi apresentado na Assembléia Legislativa gaúcha pelo deputado Marcel Van Hatten e na Câmara de Vereadores da Capital pelo vereador Valter Nagelstein.

Senhores absoluto de tempo e conteúdo, das respostas certas e das notas, os pseudoeducadores militantes têm seu trabalho facilitado pelo material didático igualmente político, ideológico e partidário que o MEC lhes proporciona. Em sua carta à redação de ZH, o estudante mencionado no início deste texto informa que a UFRGS, onde cursa História, "foi tomada por essa ideologia de esquerda. Aulas são canceladas para que os alunos assistam 'aulas democráticas', 'palestras sobre democracia', que sempre começam e terminam com odes ao PT". O acadêmico também poderia ter dito PSol, PSTU, PCdoB.

É fato sabido que a história das ideias inspiradoras de todos esses partidos não registra a construção de uma única democracia. Igualmente documentado que o PT no poder fez vários ensaios para controlar os meios de comunicação e se valeu de métodos escusos para iludir a população durante os processos eleitorais. O discurso da democracia, portanto, deve ser entendido como outra impostura para perverter a democracia. Não há democracia possível com o polinômio que orienta esses partidos: luta de classes, relativização do direito à propriedade privada, incentivo à violência, construção de hegemonia em bases gramscistas, combate aos valores da civilização ocidental, entre os quais a própria democracia liberal, representativa.

Se você, leitor, for chefe de família e puder optar, na escolha do colégio de seus filhos, entre uma escola com partido e uma sem partido, qual das duas teria sua preferência? Desnecessário dizer o que acontece na primeira: é isso que está aí, com alunos cantando revolução e louvando Marighella e Che Guevara. Na outra, indiscutivelmente, maior foco no ensino e na aprendizagem. Na primeira, o preparo de militantes. Na segunda, o preparo para a vida. Na primeira, o incentivo à desordenada rebeldia. Na segunda, a criatividade positivamente estimulada. Na primeira, as artimanhas do combate político. Na segunda, o desenvolvimento das habilidades e competências para uma vida produtiva. Na primeira, a renitente interpretação marxista dos fatos sociais, políticos e econômicos. Na segunda, o incentivo ao estudo e ao trabalho.

Não devemos esquecer que os pais são os primeiros e mais legítimos responsáveis pela educação dos filhos. Com esta premissa, não creio que muitos desejem para eles uma escola com partido, ainda que seja isso que o poder público lhes proporciona e seja por aí que se tem desviado, também, o ensino particular, vitimado pela mesma contaminação ideológica. Todo apoio, portanto, ao projeto Escola Sem Partido.

Percival Puggina

O interino e o titular

Michel Temer quer ter legitimidade como presidente. Parece que só pensa nisso. Age como titular, mas sofre como interino. Pois assim é tratado pelos pares daqui e de acolá. A formalidade, que tanto preza, obriga o silêncio diplomático. Como resultado, é formalmente ignorado. Não visita nem recebe chefes de Estado no palácio. Nem sequer tem conversações formais com presidentes, pelo menos que possam ser divulgadas (e é isso que interessa).

Resta-lhe sonhar com seu début internacional, com sua primavera presidencial. Quando setembro chegar, pretende ir à China – e lá fazer negócios proverbiais: vender bifes e aviões. Quem sabe o que mais? Passear por palácios milenares? Passar tropas em revista? Jantar pato laqueado? Posar para câmeras internacionais apertando a mão do governante de uma potência mundial como se fossem iguais? Quimeras, fantasias. Até lá, a realidade é dura.


Enquanto setembro não chega, Temer tem que receber pessoalmente Eduardo Cunha e achar bacana. Tem que esperar ministro pego com a boca na botija pedir demissão porque não tem autonomia nem para demiti-lo. Tem que nomear quem lhe encomendam sem reclamar – e não nomear substitutos para os ex-ministros porque eles ainda acalentam a esperança de voltar. E dar aumentos, e liberar verbas, e bajular senadores e adular governadores. Às pencas.

Tudo isso tem um preço, imediato e futuro. Este ano, o buraco é de R$ 170 bilhões (em grande profundidade, reconheça-se, cavado por Dilma Rousseff). No ano que vem, outro tanto – e aí cavoucado por sua própria caneta. Ajuste fiscal? Equilíbrio orçamentário? Medidas impopulares? Um dia, talvez, quem sabe? O calendário incerto de Temer explica o discurso evasivo. Subjaz a questão: como exigir de mim, um interino, a força de um titular?

Daí se empenhar tanto pela condenação e o impedimento de Dilma pelo Senado. A partir de então, Temer crê que se livrará não só do epíteto de vice como poderá usufruir de toda pompa e circunstância que a interinidade lhe nega. Um futuro em que passará a conviver diariamente com as emas do suntuoso Palácio do Alvorada e deixará para trás as memórias de Jaburu.

Enquanto setembro não chega, as políticas públicas têm seu destino ditado por balões que voam, ascendem e caem segundo os ventos da opinião pública, do Congresso e, principalmente, dos lobbies privados. Hoje tem volta da CPMF, amanhã nem pensar. Hoje tem retorno da Cide, amanhã não é bem assim. Entre acender a mecha do balão e sua boca arrebentar, muita gente ganha e perde dinheiro. É combustível para a especulação.

Ontem, quarta-feira, diante dos boatos de volta da taxação da gasolina (Cide), disparou a demanda por álcool nas usinas – porque os distribuidores previram que seu preço iria aumentar. Alguém sabia algo que outros não sabiam, ou fez crer que sabia.

Enquanto setembro não chega, Temer vê seus ministros agirem como titulares, sem as amarras da interinidade que o tolhem. Henrique Meirelles, o donatário da Fazenda, se antecipará ao chefe na China em quase dois meses. Vai para lá em julho, representar o Brasil na reunião do G-20 e discutir o banco dos emergentes. José Serra faz e acontece nas negociações sobre o comando do Mercosul e ainda leva Fernando Henrique Cardoso a tiracolo.

Enquanto setembro não chega, Temer terá um momento de titular, porém. Será às 20h do dia 5 de agosto, no estádio do Maracanã. Dividirá a tribuna presidencial com as autoridades do Comitê Olímpico Internacional durante a abertura dos Jogos. Ao seu lado, além de toda a entourage do Executivo, Legislativo e Judiciário, o governo espera reunir até 60 chefes de Estado. Abaixo dele, na tribuna de honra, Dilma deve marcar presença.

Será a maior exposição internacional de Temer – e seu maior teste de popularidade ao vivo. Nem sempre é bom ser titular.

Lutemos permanentemente para que os bons jamais se cansem

Volto aos dias que passei na Cidade Maravilhosa para falar do encontro com José Mariano Beltrame, secretário de Segurança do Estado do Rio de Janeiro. Beltrame pertence aos quadros da Polícia Federal. Dedica-se, há nove anos, à tarefa de pacificar as favelas cariocas. Cedido ao governo na gestão de Sérgio Cabral, foi mantido pelo governador Luiz Fernando Pezão, licenciado por motivo de saúde.

Não sei, com certeza, o que esse gaúcho de Santa Maria obteve de positivo, até este instante, em seu duro trabalho. Sei que tem trabalhado muito. Para se ter uma ideia, de acordo com o último Censo, de 2010 (o Censo só se faz de dez em dez anos), são 1.393.314 pessoas, distribuídas em 763 favelas. Reside, nessas comunidades, 22% da população. Esse percentual, claro, cresceu de 2010 para cá.

Quando degustávamos o café da manhã, numa das conhecidas padarias do Leblon, por volta das 8h, minha mulher me chamou a atenção para a chegada ao local desse homem de bem. Como o tenho acompanhado pela imprensa escrita, falada e televisada, não resisti ao impulso, e fomos – os dois – a seu encontro. Ao nos aproximarmos de sua mesa (estava ao lado da mulher), vimos a expressão de alguém fatigado e abatido. O abatimento, especialmente naquele dia, se devia ao triste episódio ocorrido na véspera, no Hospital Souza Aguiar, quando o traficante Fat Family foi resgatado por 23 de seus muitos comparsas.

Feitas as respectivas apresentações, disse-lhe que eu e minha mulher estávamos ali porque o reconhecimento anônimo pelos serviços prestados é, sem dúvida, o melhor pagamento que deve esperar um servidor público que cumpre seu dever. E ele é um deles. Beltrame agradeceu os elogios, mas nos disse, em seguida, que se sente sozinho na tarefa hercúlea que assumiu. E, simultaneamente, sinalizando com uma das mãos, deu-nos a entender que estava prestes “a dar o fora”. A imprensa, depois, confirmou que ele ficará até o fim das Olimpíadas.

Beltrame me fez lembrar o alerta que contém a frase “o cansaço dos bons”, usada por muita gente importante. Uma delas: Martin Luther King, que dizia que o que mais o incomodava era o “silêncio dos bons”. Mais recentemente, o psiquiatra argentino Roberto Almada adotou-a como título de um de seus livros, que trata do desgaste profissional e emocional do ser humano. Segundo ele, para o bem da humanidade, o grande desafio é impedir que os bons se cansem.

Estamos outra vez, hoje, diante desse desafio, quando o noticiário sobre o envolvimento de agentes públicos e empresários na corrupção conseguiu superar aquele que trata da violência no trânsito ou no tráfico. Só no Rio, por exemplo, um motorista é roubado a cada três minutos. Sobre o que ocorre no tráfico, o jornalista inglês Misha Glenny, que residiu na favela da Rocinha por três meses, retirou de lá elementos para escrever o livro “O Dono do Morro”, sobre o traficante Nem. Misha afirma que viu o mesmo acontecer no Leste Europeu, quando da queda do comunismo: “Quando o Estado é fraco, o crime organizado avança”.

O prefeito Eduardo Paes, mais boquirroto que gestor, em sua diatribe contra o governo que ajudou a eleger, concordou com Misha Glenny quando este, em entrevista a Mário Sérgio Conti, disse que não teme atentados nas Olimpíadas. Os chefes do tráfico contarão com um bom mercado… O problema é o “após” (expressão do inglês Misha), quando a crise política e econômica mostrar, enfim, sua cara. Será terrível!

Supremo erra ao pedir que protestos contra Lewandowski sejam proibidos

O repórter André Richter, da Agência Brasil, revela que a Secretaria de Segurança do Supremo Tribunal Federal (STF) pediu nesta quarta-feira que a Polícia Federal investigue os responsáveis pela confecção de um boneco inflável que satirizou a imagem do presidente da corte, Ricardo Lewandowski, em manifestação favorável ao impeachment, realizada no mês passado na Avenida Paulista, em São Paulo. A justificativa do ofício, encaminhado à PF pela Secretaria de Segurança, que é subordinada diretamente à presidência do STF, chega a ser patética, ao informar que o ministro e o procurador-geral Rodrigo Janot, que também foi alvo das manifestações, foram identificados “pejorativamente como petralhas”.

O pior é que, segundo o Supremo, a conduta representou “grave ameaça à ordem pública e inaceitável atentado à credibilidade” do tribunal, vejam a que ponto chegamos.

“Configuram, ademais, intolerável atentado à honra do chefe desse poder e, em consequência, à própria dignidade da Justiça brasileira, extrapolando, em muito, a liberdade de expressão que o texto constitucional garante a todos os cidadãos, quando mais não seja, por consubstanciarem, em tese, incitação à prática de crimes e à insubordinação em face de duas das mais altas autoridades do país”, acrescentou o ensandecido ofício, que parece ter sido elaborado por algum adepto de regime ditatorial.

O excelente repórter André Ritcher, que já teve dezenas de matérias transcritas aqui na Tribuna da Internet, revela que a Secretaria de Segurança também pede ao diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, que a corporação tome medidas para evitar novos constrangimentos ao presidente do Supremo:

“Em face do exposto, solicito sejam tomadas, em caráter de urgência, as medidas pertinentes para que os responsáveis por tais atos sejam chamados à responsabilidade, pedindo que se envidem todos os esforços da corporação no sentido de interromper a nefasta campanha difamatória contra o chefe do Poder Judiciário, de maneira a que esses constrangimentos não mais se repitam. Solicito ainda a atuação da PF no âmbito das redes sociais, em que o endereço residencial do senhor presidente do STF foi amplamente divulgado”, conclui o texto.
A solicitação do Supremo é ditatorial e, portanto, pouco republicana. Lula e Dilma viraram bonecos infláveis e jamais protestaram contra isso. Além do mais, já existe jurisprudência em tribunais superiores quanto à privacidade dos homens públicos.

Esta jurisprudência foi firmada em processo movido contra o jornalista Helio Fernandes pelo então ministro Ademar Gishi, do Tribunal de Contas da União. Em memorável defesa, o jurista Fernando Orotavo Neto mostrou que a privacidade de homens públicos é relativa, pelo simples fato de terem carreira pública, portanto, sujeita a críticas da sociedade.

No caso de Lewandowski, o fato concreto, que obrigatoriamente tem de ser considerado, é que a Justiça brasileira está deixando a desejar. Neste contexto, como Lewandowski é hoje a maior autoridade judicial do país, torna-se natural que sua imagem seja usada pela opinião pública para protestar contra o desempenho do Poder Judiciário. Afinal,se o Justiça funcionasse a contento, certamente não haveria críticas.

Macarrão instantâneo e doutrinação marxista

O lugar em que menos tive aulas de História durante um ano letivo foi na faculdade de História… Era doutrinação pura. Muitos ouvem falar do aparelhamento esquerdista na área de Humanas, mas poucos sabem o tamanho do precipício intelectual que está sendo cavado por dentro da chamada “academia”. A extrema-esquerda, daquele tipo que ainda considera o PT moderado demais em sua implantação do bolivarianismo, está roendo as cordas de sustentação do pensamento no Brasil.

A doutrinação é rápida. Vi acontecer. Comparo ao macarrão instantâneo. Um discurso de três minutos de esquerdices ferve a cabeça do sujeito e, pronto, ele está no ponto para ser consumido. Um psolista já surge com garfo e faca na mão e o consome. Volte três anos depois e verá o quanto de asneira estará sendo declamada pelo(a) futuro(a) professor(a).

A formação de professores está consumida pelo “marxismozinho” de segunda classe, imposto de cima para baixo. O marxismo parte de quem ensina, orienta e dá as notas. O plano é perfeito e poucos escapam. A maioria chega com uma formação básica deficitária, com valores e posicionamentos ainda imberbes, inaptos a subsistir à pressão.

Embora intelectualmente desonestos, essa raça consegue captar, como se tivessem um radar dos infernos, quais são os cooptáveis. E nestes infunde o discurso. Como estamos falando da maioria, o que temos nas universidades brasileiras são esquerdistas “saindo pelo ladrão” (sem trocadilhos) e entrando nas salas de aulas de crianças de onze a dezessete anos. Em um período crucial de formação estes “professores” incitam seu alunado a transformar-se, também, em mini revolucionários de botequim.


Logo, em nossas escolas não há mais período de formação, mas sim período deformação. Assim, o ciclo se consolida. Mesmo em colégios particulares a lobotomia segue incólume. “Limpa a alma” dos burguesezinhos com os progressismos paridos no pós-68, redimidos por infundirem nos filhos a famigerada “consciência social”.

Por outro lado, pais que pagam caro para dar aos filhos a melhor educação, acabam descobrindo que os seus filhos se transformaram em “gremlins” anarcossocialistas que compartilharão vídeos da Marilena Chauí e, na universidade, serão os primeiros a aplaudir qualquer pretenso intelectual que cite de cor os frankfurtianos. Tudo em razão de incitações ebulientes de militantes de meia pataca travestidos de educadores.

O que sei de história pesquisei por conta. A graduação que empunho, por si só, não me creditaria a ser qualquer coisa além de sindicalista, militante sem-terra com I-phone ou papagaio psolista. As licenciaturas e cursos de pedagogia, desprezadas no ambiente universitário, graduam professores ruins e como o nível de corte é baixo, todo mundo acaba aprovado e entra no mercado de trabalho que, para a área, é abundante. Como caíram no conto do vigário, se tornam replicadores do canto lamuriento.

Logo, esses finados espíritos livres estarão dentro de salas de aula como autoridades. Serão matriarcas e patriarcas, formando em casa o que Pondé chama de “revolucionários que não arrumam nem o próprio quarto”. Além, é claro, de infestarem o serviço público, sendo agentes de formação de analfabetos funcionais condicionados a depender de benesses estatais.

Um dia, quando seu filho chegar em casa dizendo que em Cuba tudo funciona às mil maravilhas e que o atraso do Brasil é essa “burguesia”, essa classe média mesquinha que respalda o retrocesso, você ficará se perguntando onde foi que errou.

Renan Alves da Cruz

Brasil, Mongólia ou Venezuela?

Há histórias tão verdadeiras que, às vezes, parecem inventadas. A frase, de Manoel de Barros, parece ter sido especialmente desenhada para o Brasil de hoje. Na Sucupira real, as notícias se superam, e a última é sempre mais inacreditável que a anterior. A sucessão de escândalos políticos nos governos PT e PMDB, a queda da ciclovia no Rio, o estupro coletivo, o japonês da Federal e tantas outras histórias nas páginas deste jornal soam absurdas, inacreditáveis. Já entre os acontecimentos que não nos surpreendem, destacam-se os negativos, como a recente divulgação do Ranking de Competitividade Global da escola de negócios suíça IMD, que revelou o Brasil como o quinto pior país do mundo nessa medição.

Diante do quadro de corrupção e da falta de credibilidade no governo por parte do empresariado, não foi zebra a queda de posição (pelo sexto ano) no ranking do qual fazem parte 61 economias. O IMD leva em conta cerca de 300 critérios para a classificação, com foco em desempenho econômico, eficiência governamental, eficiência empresarial e infraestrutura. Estamos no 57ª lugar, à frente apenas de Croácia, Ucrânia, Mongólia e Venezuela.

Uma dose de curiosidade resultou na breve análise dessas nações que nos rodeiam no ranking, vizinhas na arte da corrupção, do descontrole e da ineficiência. Infelizmente, algumas informações nos levam a crer que, em 2017, o buraco do Brasil pode ser mais embaixo.

Vamos à Croácia. O país, que se tornou independente da URSS em 1991, foi pego de jeito pela crise financeira que atingiu a Europa. De 2008 a 2014, os croatas enfrentaram alta das taxas de desemprego e pobreza. Mas, como novata da União Europeia, a Croácia nutre expectativas de reformas (já anunciadas) e acesso a fundos. Segundo o FMI, desde o fim de 2014, o país se recupera da recessão, sobretudo com aumento das exportações. O turismo, fortemente incentivado, já representa parcela significativa do PIB.

Entre a influência russa e a europeia, a Ucrânia tem sua história recente marcada por guerras e rebeliões, tendo o país se transformado em palco de corrupção e espionagem. Em 2015, apesar da queda de quase 10% no PIB, houve progresso em direção à estabilidade, de acordo com relatório do FMI. A liberação de ajuda bilionária do Fundo tem como contrapartida esforços do governo contra a corrupção, além da implementação de reformas de gestão. O país é peça importante na geopolítica do petróleo.

Se há esperança ocidental em relação à Croácia e à Ucrânia, não se pode afirmar o mesmo de Mongólia e Venezuela, que parecem ter menos chances de ultrapassar o Brasil no curto prazo. A Mongólia, também ex-comunista, está na zona de influência da China, principal importador de sua produção agropastoril e mineral. Grande parte da população vive em extrema pobreza, e a infraestrutura é defasada. Com a desaceleração da economia chinesa, as perspectivas não são positivas.

Por fim, a Venezuela, bolivariana, em estado de emergência, até faz com que o Brasil pareça promissor. Com a economia dependente do petróleo, o país sofre os efeitos drásticos da queda do preço do barril. A miséria avança. A indústria inexistente e a redução de importações geraram uma escassez sem precedentes. A população convive com racionamento, previsão de inflação anual na casa de 700%, crise política, medidas autoritárias e ameaças de confisco.

Nossa história e o desenvolvimento socioeconômico brasileiro dos últimos anos estão bem distantes do ocorrido em cada um dos países citados. Para que a imagem do Brasil não se confunda com realidades tão duras quanto às vividas por Mongólia e Venezuela, por exemplo, o país precisa pavimentar seu próprio caminho priorizando combate à corrupção, reforma política e controle das contas públicas. Só assim poderá reconstruir as condições para a eficiência, investir em infraestrutura e, consequentemente, escapar de uma inacreditável 61ª posição do ranking da IMD.

Luciana Brafman

É preciso reagir!

Cada vez que se desqualifica um mandato está se desqualificando o próprio povo. E o povo tem que reagir duramente
Miro Teixeira

A culpa não é do trabalhador

O SINCTECT-RJ repudia com veemência a tentativa covarde de atribuir aos trabalhadores a responsabilidade pelos prejuízos registrados pela empresa, que decorrem exclusivamente de falhas graves de gestão.

A afirmação feita à rádio CBN, nesta terça-feira, de que há excesso de afastamentos por questões médicas omite o fato de que a maioria desses afastamentos foi determinada por médicos da própria empresa. E, mais grave, de que decorre de traumas sofridos por trabalhadores em exercício da função, vítimas de assaltos frequentes e sobrecarga de jornada.

No Rio de Janeiro, por exemplo, a média é de seis assaltos por dia, conforme dados divulgados pela diretoria da ECT em audiência pública na ALERJ, no dia 2 de maio deste ano. Há casos de trabalhadores que foram vítimas de mais de 50 assaltos, com óbvia repercussão para a saúde física e mental da categoria.

As declarações dadas à rádio são inaceitáveis. Uma tentativa de criminalizar os trabalhadores e colocar os mesmos contra a população, a quem o servidor tem o compromisso de atender. Todavia, o presidente esconde a verdadeira situação econômica e trabalhista dos Correios.



Atualmente a empresa é constituída por um exército de reabilitados em razão de terem adquiridos doenças em exercício da função desencadeadas por sobrecarga de trabalho, falta de política de saúde para a categoria e déficit de pessoal. Há duas décadas que a empresa não aumenta o efetivo de trabalhadores contraditório ao crescimento das cidades, aumento populacional e consequentemente, das demandas postais.

O presidente deixou também de citar a situação econômica negativa da ECT que teve como protagonista as gestões corruptas que administraram a empresa ao longo dos anos. O que contabilizou um rombo de R$7 bilhões nos fundos de pensão (Postalis), por exemplo.

Ao questionar se “os Correios fazem mal à saúde”, o presidente deveria reconhecer a existência de problemas sérios nas condições de trabalho oferecidas pela empresa, em vez de caluniar o conjunto da categoria, sugerindo hipóteses falsas de forma leviana, sem apresentar dados e sem respaldo técnico da área médica.

O servidor que está diariamente na rua à mercê da violência, sob o risco de ter uma arma apontada para a sua cabeça, não pode ser culpado pelo prejuízo de bilhões resultado de corrupção e erros administrativos de quem tem o poder de decisão dos rumos dos Correios.

Se efetivamente estivesse disposto a resolver os problemas da empresa, ao analisar o prejuízo de R$ 900 milhões (até maio deste ano), o presidente da ECT deveria se perguntar, antes, por que a empresa dispôs de recursos para patrocinar os Jogos Olímpicos 2016 — um total de R$350 milhões –, e não para investir em segurança eficaz, de modo a garantir integridade física do trabalhador responsável pelas entregas das correspondências, ou em novas contratações para atender à demanda da população.

Os Correios deixaram há muito tempo de ser uma empresa somente postal, para se tornar uma transportadora de valores. Essa mudança exige estratégias e planejamento de segurança compatíveis com a realidade e os riscos envolvidos na atividade.

Se a presidência da ECT “espera empenho e mudança de atitude dos funcionários que não acordaram para a gravidade do momento”, como declarou à rádio, os trabalhadores gostariam de dizer ao presidente que esperam ansiosos por mudanças de atitude por parte dos gestores da empresa. Principalmente em questões relacionadas à segurança e ao atendimento médico de qualidade – em especial considerando a crise aguda vivida no Postal Saúde, que atende à categoria.

Esperamos por mudanças e por investimentos consistentes na área de segurança, para que o trabalhador, ao sair de casa, tenha a certeza de que irá voltar vivo para sua família.

Aproveitamos a oportunidade para pedir à diretoria da ECT que divulgue para a categoria as estatísticas de ocorrências médicas e afastamentos para que a questão dos riscos e da insalubridade seja enfrentada de forma responsável.

O trabalhador dos Correios merece respeito. É uma desumanidade e uma covardia.

Carta aberta do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares do Rio de Janeiro (SINTECT-RJ)

Temer segue no trilho do populismo petista

Eu não sei se é apenas impressão minha mas acho que o Brasil está mais calmo, sem aquela histeria coletiva de fim de mundo do período pré-impeachment. Se não fosse o burburinho da operação Lava Jato – que já ameaça afetar o brilho dos Jogos Olímpicos no noticiário diário e a banalização da violência no país – poderíamos até afirmar que estamos saindo da tormenta e navegando em mar de pouca turbulência.

As ideias turvas e delirantes da Dilma dissiparam-se em pouco tempo. As passeatas de ruas diminuíram, os movimentos sociais, sem o patrocínio do governo, hibernaram na expectativa do que vai acontecer daqui pra frente, e a economia já mostra nítidos sinais de recuperação. Não é exagero dizer que existe um presidente (interino) que transmite o que pensa sem arranhar a gramática e o cérebro. Ali ou acolá, alguns insatisfeitos ainda fazem coro com a Dilma para quem o impeachment foi um golpe. É bom que seja assim, pois vivemos em um país que procura preservar e garantir a liberdade de expressão e de pensamento diante das crises, como prova de amadurecimento de suas instituições.

A unanimidade, como disse, magistralmente, Nelson Rodrigues, é burra”.

Aposentado quem vai pagar pelos aumentos de 125 de temer bolsa familia judiciario reforma da previdencia

Mesmo nesse clima de paz, com o governo peemedebista tentando se esforçar para acertar, ele ainda guarda algumas semelhanças retrógadas com o do PT. As principais delas são a demagogia e o populismo. Vejamos: quando Temer aumenta o Bolsa Família em 12% para ajudar as 13,9 milhões de famílias que vivem penduradas no programa, diz que faz isso para melhorar a vida dos excluídos, tirando-os da miséria. Ele está, na verdade, usando o mesmo discurso fisiológico dos petistas para quem o dinheiro público servia para comprar consciências (votos) e anestesiar os cérebros deformados pela fome.

O Lula era mestre nisso. Enganou o povo durante muito tempo com o discurso do Fome Zero. Tentava colar a oratória à sua condição de retirante nordestino para sensibilizar seus conterrâneos. Assim, com esse apelo demagógico, transformou o Bolsa Família no maior reduto eleitoral do país. Enquanto reafirmava a sua decisão de tirar o povo da miséria, permitia que seus comparsas roubassem bilhões das empresas públicas empobrecendo o Brasil.

Tanto ele como a Dilma utilizaram-se de forma irresponsável o Bolsa Família nas campanhas políticas. Chantageavam os eleitores com o fim do programa caso perdessem a eleição. O apelo deu tão certo que os petistas ficaram no poder durante doze anos com os votos das regiões mais carentes do país, onde a população sentia-se assustada com o fim do programa.

Lula, na verdade, fez o discurso do Messias: “Eu, como retirante, sou o único que pode tirar vocês da miséria porque, como vocês sabem, também vim da miséria, sou um retirante Nordestino. O resto é elite”. Colou, reelegeu-se e ainda fez o sucessor, enquanto subia os degraus da escalada social da elite surrupiando o dinheiro do povo brasileiro.

Michel Temer poderia ter sido mais discreto ao anunciar o aumento do Bolsa Família congelado desde abril para não incorrer no vício da demagogia. Afinal de contas, o programa ajuda as famílias mais pobres mas não deixa de ser um assistencialismo que desnivela mais ainda essa baixa classe social, já que seus dependentes vão continuar na miséria, sem emprego e sem esperança.

O Bolsa Família asfixia e paralisa os reféns dessa migalha porque o governo não tem projetos para reduzir o programa a curto prazo. Ou seja: não capacita seus dependentes para o mercado de trabalho, mantendo-os no ócio e na escravidão da doação. Se pensou, com o ajuste, fazer uma média com os miseráveis, Temer acertou. Atitude, porém, condenável para quem acena com a bandeira da mudança administrativa.

Acredito que muitos brasileiros até apoiam o aumento do Bolsa Família, afinal de contas é certo que o dinheiro tira alguns da miséria absoluta. Mas duvido que referendem o reajuste do servidor público, em um país com a economia fragilizada, que só faz aprofunda ainda mais o fosso social.

Ora, doutor Temer, Vossa Excelência deveria ter sido poupado de tal constrangimento por seus assessores. Anunciar que vai gastar até 2019 mais de 50 bilhões de reais com o servidor público, o senhor há de convir, não é motivo para discurso de exaltação em um país com a economia em frangalhos.

Se Vossa Excelência estivesse na iniciativa privada, saberia que não se reajusta empregado quando a empresa está quebrada. E o Brasil, como é notório, está pré-falimentar. O governo, portanto, administra o caos. No entanto, esbanja riqueza quando aumenta seus funcionários, distribui bilhões para o governo corrupto, irresponsável e perdulário do Rio de Janeiro, perdoa temporariamente as dívidas dos estados e gasta além da conta.

Doutor Temer, este foi o modelo adotado pelo PT que levou o país à bancarrota, o modelo do improviso e do populismo desavergonhado, que o Brasil conhece. O povo espera do senhor mais austeridade no comando do governo para que o país não volte à anarquia da corriola petista, de triste lembrança.

A voz rouca das ruas não está muda.

Bilhete a um candidato

“Olhe aqui, Rubem. Para ser eleito vereador, eu preciso de três mil votos. Só lá no Jockey, entre tratadores, jóqueis, empregados e sócios eu tenho, no mínimo mesmo, trezentos votos certos; vamos botar mais cem na Hípica, Bem, quatrocentos. Pessoal de meu clube, o Botafogo, calculando com o máximo de pessimismo, seiscentos. Aí já estão mil.

“Entre colegas de turma e de repartição contei, seguros, duzentos; vamos dizer, cem. Naquela fábrica da Gávea, você sabe, eu estou com tudo na mão, porque tenho apoio por baixo e por cima, inclusive dos comunas; pelo menos oitocentos votos certos, mas vamos dizer, quatrocentos. Já são mil e quinhentos.


“Em Vila Isabel minha sogra é uma potência, porque essas coisas de igreja e caridade tudo lá é com ela. Quer saber de uma coisa? Só na Vila eu já tenho a eleição garantida, mas vamos botar: quinhentos. Aí já estão, contando miseravelmente, mas mi-se-ra-vel-men-te, dois mil. Agora você calcule: Tuizinho no Méier, sabe que ele é médico dos pobres, é um sujeito que se quisesse entrar na política acabava senador só com o voto da zona norte; e é todo meu, batata, cem por cento, vai me dar pelo menos mil votos. Você veja, poxa, eu estou eleito sem contar mais nada, sem falar no pessoal do cais do porto, nem postalistas, nem professoras primárias, que só aí, só de professoras, vai ser um xuá, você sabe que minha mãe e minha tia são diretoras de grupo. Agora bote choferes, garçons, a turma do clube de xadrez e a colônia pernambucana como é que é!

“E o Centro Filatelista? Sabe quantos filatelistas tem só no Rio de Janeiro? Mais de quatro mil! E nesse setor não tem graça, o papai aqui está sozinho! É como diz o Gonçalves: sou o candidato do olho-de-boi!

“E fora disso, quanta coisa! Diretor de centro espírita, tenho dois. E o eleitorado independente? E não falei do meu bairro, poxa, não falei de Copacabana, você precisa ver como ela em casa, o telefone não pára de tocar, todo mundo pedindo cédula, cédula, até sujeitos que eu não vejo há mais de dez anos. E a turma da Equitativa? O Fernandão garante que só lá tenho pelo menos trezentos votos. E o Resseguro, e o reduto do Goulart em Maria da Graça, o pessoal do fórum… Olhe, meu filho, estou convencido de que fiz uma grande besteira: eu devia ter saído era para deputado!”

Passei uma semana sem ver meu amigo candidato; no dia 30 de setembro, três dias antes das eleições, esbarrei com ele na Avenida Nossa Senhora de Copacabana, todo vibrante, cercado de amigos; deu-me um abraço formidável e me apresentou ao pessoal: “este aqui émeu, de cabresto!”

Atulhou-me de cédulas.

Meu caro candidato:

Você deve ter notado que na 122ª seção da quinta zona, onde votei, você não teve nenhum voto. Palavra de honra que eu ia votar em você; levei uma cédula no bolso. Mas você estava tão garantido que preferi ajudar outro amigo com meu votinho. Foi o diabo. Tenho a impressão de que os outros eleitores pensaram a mesma coisa, e nessa marcha da apuração, se você chegar a trezentos votos ainda pode se consolar, que muitos outros terão muito menos do que isso. Aliás, quem também estava lá e votou logo depois de mim foi o Gonçalves dos selos.

Sabe uma coisa? Acho que esse negócio de voto secreto no fundo é uma indecência, só serve para ensinar o eleitor a mentir: a eleição é uma grande farsa, pois se o cidadão não pode assumir a responsabilidade de seu próprio voto, de sua opinião pessoal, que porcaria de República é esta?

Vou lhe dizer uma coisa com toda franqueza: foi melhor assim. Melhor para você. Essa nossa Câmara Municipal não era mesmo lugar para um sujeito decente como você. É superdesmoralizada. Pense um pouco e me dará razão. 
Seu, de cabresto, o Rubem.

O governo do PT continua

A impávida imagem da presidente licenciada Dilma Rousseff continua firmemente pregada nas paredes das repartições públicas federais, às costas das mais graduadas autoridades da República, como que para recordar a todos que ela e seu partido, o PT, podem parecer que estrebucham mas que, na verdade, estão vivinhos da silva.

O presidente Michel Temer avança com confiança e cautela. Assumiu o poder com ânimo republicano e parece decidido a mudar o País. Acredita, mesmo, que já começou a recolocar o Brasil de volta nos trilhos da racionalidade e do progresso. No mundo real, contudo, as coisas não são tão simples assim.

Na Esplanada dos Ministérios, a grande massa dos assessores ocupantes dos chamados cargos de confiança, ou é filiada ao Partido dos Trabalhadores e partidos aliados, ou deles são simpatizantes entusiasmados. Essa massa de funcionários – a maior parte dos quais com duvidosa qualificação e sem ter se submetido a concurso público – não quer largar o osso, e, portanto, não se entusiasma com Temer no poder. Muito pouca gente sente dever-lhe lealdade.

Mesmo em ministérios e repartições das chamadas carreiras de Estado, funcionários que rastejaram aos pés do PT e a ele foram vergonhosamente subservientes, em troca de migalhas, buscam apresentar-se agora como probos, sérios e isentos. Esses, não saberá talvez Temer, são os piores, pois são os que apunhalam pelas costas, traindo sem pestanejar seus chefes, desde que um outro lhes venha oferecer migalhas maiores.

O ensinamento básico de Maquiavel é que o governante que pretenda sucesso deve fazer as coisas más numa só tacada, e fazer as boas aos poucos. Manter em cargos de destaque integrantes ou simpatizantes do PT, ou seus lambe-botas, é, por exemplo, uma besteira inominável.

Também é inadequado anunciar-se que medidas duras serão tomada, ao invés de anuncia-las de imediato. Muita falação cria desnecessariamente um clima negativo quando o importante seria o restabelecimento da confiança e do otimismo.

Na esfera econômica tem-se feito alguma laudação, mas grandes incertezas pairam ainda no ar. A dificuldade para a definição da meta de resultado primário para 2017 é uma delas, e muito grave. Ter com meta para o ano que vem um déficit tão polpudo como o que será registrado em 2016 é simplesmente inaceitável.

Caso não faça alguma coisa, rápida, efetiva e vigorosa, a equipe econômica muito em breve começará a trilhar o caminho da perda de credibilidade de seus predecessores. A sociedade não compartilha com o ministro Eliseu Padilha a posição de que um déficit primário de 170 bilhões de reais em 2017 seria uma coisa ótima. Não é ótima, é péssima!

O Diário do Poder http://www.diariodopoder.com.br/coluna.php traz hoje matéria sobre o aparelhamento da Autoridade Pública Olímpica pelo PT e pelo PCdoB, recordando que o próprio presidente da APO foi escolha de Aloizio Mercadante. Não é à toa que seja forte a torcida para que as coisas dêm errado com os jogos Rio 2016.

O PT continua também a mandar na máquina de comunicação do governo federal, tendo o controle da EBC.

E assim se pode constatar em toda a Esplanada, ministério por ministério; secretaria por secretaria, onde do segundo escalão para baixo muitas vezes a torcida pelo regresso de Dilma é escancarado. Ninguém quer o fim das boquinhas...e das boconas.

Pedro Luiz Rodrigues