A afirmação feita à rádio CBN, nesta terça-feira, de que há excesso de afastamentos por questões médicas omite o fato de que a maioria desses afastamentos foi determinada por médicos da própria empresa. E, mais grave, de que decorre de traumas sofridos por trabalhadores em exercício da função, vítimas de assaltos frequentes e sobrecarga de jornada.
No Rio de Janeiro, por exemplo, a média é de seis assaltos por dia, conforme dados divulgados pela diretoria da ECT em audiência pública na ALERJ, no dia 2 de maio deste ano. Há casos de trabalhadores que foram vítimas de mais de 50 assaltos, com óbvia repercussão para a saúde física e mental da categoria.
As declarações dadas à rádio são inaceitáveis. Uma tentativa de criminalizar os trabalhadores e colocar os mesmos contra a população, a quem o servidor tem o compromisso de atender. Todavia, o presidente esconde a verdadeira situação econômica e trabalhista dos Correios.
O presidente deixou também de citar a situação econômica negativa da ECT que teve como protagonista as gestões corruptas que administraram a empresa ao longo dos anos. O que contabilizou um rombo de R$7 bilhões nos fundos de pensão (Postalis), por exemplo.
Ao questionar se “os Correios fazem mal à saúde”, o presidente deveria reconhecer a existência de problemas sérios nas condições de trabalho oferecidas pela empresa, em vez de caluniar o conjunto da categoria, sugerindo hipóteses falsas de forma leviana, sem apresentar dados e sem respaldo técnico da área médica.
O servidor que está diariamente na rua à mercê da violência, sob o risco de ter uma arma apontada para a sua cabeça, não pode ser culpado pelo prejuízo de bilhões resultado de corrupção e erros administrativos de quem tem o poder de decisão dos rumos dos Correios.
Se efetivamente estivesse disposto a resolver os problemas da empresa, ao analisar o prejuízo de R$ 900 milhões (até maio deste ano), o presidente da ECT deveria se perguntar, antes, por que a empresa dispôs de recursos para patrocinar os Jogos Olímpicos 2016 — um total de R$350 milhões –, e não para investir em segurança eficaz, de modo a garantir integridade física do trabalhador responsável pelas entregas das correspondências, ou em novas contratações para atender à demanda da população.
Os Correios deixaram há muito tempo de ser uma empresa somente postal, para se tornar uma transportadora de valores. Essa mudança exige estratégias e planejamento de segurança compatíveis com a realidade e os riscos envolvidos na atividade.
Se a presidência da ECT “espera empenho e mudança de atitude dos funcionários que não acordaram para a gravidade do momento”, como declarou à rádio, os trabalhadores gostariam de dizer ao presidente que esperam ansiosos por mudanças de atitude por parte dos gestores da empresa. Principalmente em questões relacionadas à segurança e ao atendimento médico de qualidade – em especial considerando a crise aguda vivida no Postal Saúde, que atende à categoria.
Esperamos por mudanças e por investimentos consistentes na área de segurança, para que o trabalhador, ao sair de casa, tenha a certeza de que irá voltar vivo para sua família.
Aproveitamos a oportunidade para pedir à diretoria da ECT que divulgue para a categoria as estatísticas de ocorrências médicas e afastamentos para que a questão dos riscos e da insalubridade seja enfrentada de forma responsável.
O trabalhador dos Correios merece respeito. É uma desumanidade e uma covardia.
Carta aberta do Sindicato dos Trabalhadores da Empresa Brasileira de Correios Telégrafos e Similares do Rio de Janeiro (SINTECT-RJ)
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