sábado, 4 de agosto de 2018

Nunca antes, na História deste país, houve sucessão tão esculhambada...

O criador deste bem bolado bordão promocional é o primeiro a esculhambar a eleição, ao insistir na farsa de que está sendo vítima de perseguição política e teve sua defesa cerceada nas instâncias iniciais da Justiça. Se esta alegação fosse verdadeira, Lula da Silva faz tempo estaria solto, porque seus recursos já circularam repetidas vezes pelos tribunais superiores e já passaram até pela famosa Segunda Turma do Supremo, que, em matéria de soltar criminoso, tem hímen complacente e furor uterino, digamos assim.

Embora esteja na cadeia há vários meses, Lula se autoproclama candidato e mergulha o PT na mais grave crise desde a sua criação, em 1980. E sua insistência em disputar a eleição pode fazer o Tribunal Superior Eleitoral simplesmente cassar o tempo do PT no horário gratuito.


Os advogados eleitorais do PT, chefiados pelo ex-ministro Eugênio Aragão, que tem experiência no TSE, estão acompanhando a situação, por saberem que o PT já está preparando os filmetes da candidatura de Lula, para serem exibidos no horário eleitoral e nas inserções durante a programação das emissoras.

Caso o TSE reaja e tire do ar a campanha do PT, os advogados já estão com a defesa esboçada, separam citação de diversos casos de candidato sub judice que tiveram permissão para fazer campanha.

Acontece que os ministros do TSE já ressalvaram que essas jurisprudências não se enquadram à situação processual de Lula, cuja inelegibilidade na Lei da Ficha Limpa é muito clara e só poderá ser anulada por decisão do Superior Tribunal de Justiça ou do Supremo.

É absurda e totalmente antidemocrática a disparidade entre os tempos da campanha de Alckmin e de outros candidatos, como Jair Bolsonaro, Marina Silva, Alvaro Dias, Ciro Gomes e outros, O tucano terá cerca de cinco minuto e meio em cada bloco diário de 12 minutos, além de 12 inserções durante a programação.

O PT de Lula tem direito a um minuto e 57 segundos, e o MDB de Meirelles, um pouco menos, um minuto e 52 segundo. Bolsonaro só tem sete segundos e Marina ficou com 12 segundos e meio, devido à aliança com o PV. Ciro e Álvaro têm 35 segundos, cada. E todos eles terão poucas inserções na programação normal das TVs. Outros candidatos terão cinco segundos de cada intervalo de dois dias ou de três dias.

Fica claro que a lei eleitoral foi feita para beneficiar os grandes partidos. Isso não é democracia nem aqui nem lá na China, como se dizia antigamente.

Pensamento do Dia


Um dia virão para nos comer

Uma atleta de origem nigeriana, Daisy Osakue, grande esperança do atletismo italiano, foi atacada na pequena cidade piemontesa de Moncalieri por um grupo de racistas. Como Daisy é uma figura conhecida em Itália, o ataque desencadeou um debate, expondo um cenário horroroso de agressões racistas.

Segundo dados divulgados pela agência das Nações Unidas para as Migrações, a Itália vive um pesadelo, com dezenas de ataques de todo o tipo a africanos e ciganos. O crime mais grave desta onda de ódio racista ocorreu a 2 de junho, em Calogero, na Calábria, quando um jovem sindicalista negro, Soumaila Sacko, foi assassinado com um tiro na cabeça.

Matteo Salvini, o lamentável ministro do Interior italiano, líder do partido de extrema direita Liga (ex-Liga Norte), desvalorizou as tragédias, que atribuiu à “imigração em massa permitida pela esquerda nestes últimos anos.”


Nunca deixo de me espantar com o apoio de muitos portugueses e brasileiros às medidas anti-imigração, abertamente racistas, de governos como o italiano, o húngaro ou o austríaco. O meu espanto é o mesmo com que olharia um porco que fizesse o elogio dos lobos. Imagino o dito porco refestelado na lama da sua pocilga enquanto escuta o aflito alarido de outros suínos, sendo atacados por lobos, na floresta ao lado: “Os lobos estão certíssimos.” — Comentará o porco. — “Afinal de contas os lobos precisam de comer. E o que eles comem? Porcos.”

“Acontece que você é um porco!” — Lembrará o cachorro velho.

“Não sou um porco como esses! Sou um porco limpo, sou um porco de boas famílias. Vivo numa pocilga.”

“A carne de um porco de boas famílias sabe tão bem quanto a de um porco selvagem.” — Lembrará o cachorro velho, já de saco cheio do porco burguês. — “Um dia eles virão para te comer.”

Há muitos anos, quando vivia em Lisboa, estudando silvicultura, decidi aproveitar alguns dias de férias para conhecer Paris. Não tinha dinheiro para avião e fui de ônibus, uma viagem longa e dura. Não havia entre os meus companheiros de viagem um único turista. Todos eram emigrantes portugueses, regressando aos respectivos postos de trabalho, em terras de França. Conversavam entre si num português torto, carregado de palavras e expressões que um dia haviam sido francesas, sobre a difícil experiência de viver e trabalhar num país estranho. Queixavam-se do desprezo e da arrogância com que eram tratados pelos franceses. Sentia-me solidário com eles. Até que, a certo momento, alguém começou a falar dos imigrantes árabes em França. A conversa mudou imediatamente de rumo, sucedendo-se as piadas racistas contra árabes e muçulmanos em geral.

Esforcei-me, sem o menor sucesso, por lembrar que eles estavam no mesmo barco dos árabes, eram todos imigrantes: um racista francês não separa as pedras, as mais brandas para os portugueses ou brasileiros, as mais duras para os árabes, quando sai de noite para caçar imigrantes.

O medo do outro é parte da natureza humana. Nunca alimentei ilusões em relação a isso. O problema é a exploração política de tais medos e rancores. Quando dirigentes políticos diminuem ou ignoram incidentes racistas, estão a legitimá-los. É contra essa legitimação do mal que temos de lutar.

Perdido

Em algum momento na nossa rota, nós brasileiros perdemos (se é que uma vez tivemos) a noção de critérios morais mais abrangentes, substituídos até aqui nesta corrida eleitoral pela doutrina do saco cheio, do vamos acabar com tudo, do não me importam as consequências (vide greve dos caminhoneiros)

Terra à vista

Estamos chegando depois de tormentosa viagem em mares bravios. Saídos de um continente velho de ideias cediças que nos fazia prisioneiros de um passado exausto que não mais nos permitia as ambições de conviver numa sociedade justa e igual, somos pioneiros em terra nova. Trazemos conosco os ideais anunciados no manifesto “Por uma sociedade democrática e reformista” e a vontade de propagá-lo por toda parte. Não vai ser nada fácil, como atesta a história de todos aqueles que assumiram este papel de desbravar terreno inóspito, a começar pelas próximas eleições. A seu favor, contudo, conspiram os novos ventos que têm varrido nossa sociedade e que assinalam o fim de um longo ciclo de modernização autoritária, que se inicia com Vargas, passa por JK, pelo regime militar e por Lula, e deságua no desastre que foi o governo de Dilma, que pôs a nu o anacronismo deste velho modelo que não é mais capaz de reiterar suas realizações no passado.


O melhor indicador desta mutação foi o massivo movimento da juventude nas jornadas de junho de 2013 – embora inconsciente dos efeitos de sua obra –, que se manifestou contra tudo o que está aí, o nosso Estado inclusive, em nome dos ideais de auto-organização e da participação social. Aquelas jornadas ficaram sem herdeiros que lhes dessem continuidade, mas deixaram no ar em disponibilidade seu significado de fundo para quem souber interpretá-las, tarefa que cabe, nesta hora difícil, às forças democráticas e progressistas.

O espírito do tempo mudou, como diagnostica Habermas com a precisão de sempre, tanto nos países que lideram a marcha da história pelos seus sucessos culturais e técnico-científicos quanto nas mais remotas periferias, como ilustra a saga dos garotos tailandeses que se perderam numa caverna cujos heróis são os jogadores de futebol dos grandes clubes europeus. Inexoravelmente, dia após dia, somos arrastados pelos fatos à globalização, que corroem os fundamentos do repertório keynesiano-westfaliano que suportaram o Estado-nação – na expressão da cientista política Nancy Fraser – que predominou no Ocidente até os anos 1970.

No nosso pequeno mundo ainda vicejam em círculos minoritários os ideais autárquicos, nostálgicos do nacional- desenvolvimentismo e de um capitalismo de Estado, que forças políticas, convictas ou não a eles, procuram animar em busca de votos, como se verifica no atual processo eleitoral. Tais círculos que se autodeclaram de esquerda se apresentam como herdeiros do nosso processo de modernização autoritária, que louvam esquecidos de que ele somente foi possível pela repressão exercida sobre os setores subalternos nos centros urbanos, cassando pela lei sua autonomia, e no mundo agrário com a coerção violenta dos movimentos do campesinato e dos seus trabalhadores assalariados. Sobretudo, esquecem que a modernização da economia, na forma por ele realizada, importou no fato de ser o Brasil um dos países mais desiguais do planeta.

O PT, por exemplo, desde a primeira eleição de Lula, aderiu, primeiramente de modo fraco e a partir do seu segundo mandato abertamente, à nossa tradição conservadora – a que o governo Dilma levou ao paroxismo –, embora jamais suas lideranças tenham justificado a metamorfose de um partido que nasce, como o PT, comprometido com a ruptura das tradições conservadoras para se mover no sentido de se tornar um dos seus esteios. Intelectuais e artistas, alguns deles campeões, nos anos 1960, da crítica ao governo Jango por seu nacional-estatismo, principalmente nas universidades paulistas, agora referendam acriticamente tais posicionamentos, pelo culto esquisito que dedicam a Lula, mesmo que desconheçam suas concepções sobre o estado de coisas no mundo, salvo a de que ele não é esquerda, como sempre declara.

O culto a Lula entre os intelectuais e artistas é uma patologia a ser estudada, sintoma que manifesta o algo de podre nesta nossa Dinamarca, em que o governo do PT trouxe para o interior do Estado tudo o que era vivo na sociedade, sindicatos, movimentos sociais, inclusive os identitários, submetendo-os a seus fins políticos. Quanto aos intelectuais, a política de contemplá-los com generosos financiamentos, especialmente algumas personalidades relevantes – vide a política cultural da Petrobrás –, teve um dos seus mais amargos frutos no rebaixamento da sua capacidade crítica e na autodestituição das suas responsabilidades em relação a seu país e seu povo, fermento que nos anos 1950 nos fez conhecer os Círculos Populares de Cultura, o gênio de Vianinha e de Guarnieri, a Bossa Nova e o Cinema Novo, entre tantos criadores e iniciativas de ideias novas que vieram animar a obra civilizatória dos brasileiros. E, mais tarde, sob o regime militar, as obras fundamentais de Florestan Fernandes, Fernando Henrique Cardoso, Raimundo Faoro e José Murilo de Carvalho, para citar alguns, que desvendaram as raízes ocultas do autoritarismo brasileiro.

A crise que aí está é, a um tempo, de natureza estrutural – a fraqueza da nossa economia –, ética, moral e intelectual. Não há como dar solução a qualquer delas em separado, mas a hora presente indica que se deve começar pela dimensão ideal, pelas concepções do mundo, pela história do País, por que delas é que se principia, como sustenta reiteradamente Fernando Henrique Cardoso, a busca de novos rumos para o País.

Tal como em Habermas no primeiro ensaio de Diagnósticos do tempo, que deve servir para nós como um sistema de orientação, o Estado social ainda é o horizonte possível do centro e da periferia do mundo, e as tensões entre mercado e política próprias a ele podem ser equilibradas pela dimensão da solidariedade social, que, no nosso caso, impõe como começo de conversa a luta sem quartel contra a nossa indecente desigualdade, um dos frutos da modernização autoritária com que agora devemos romper.

A moral deles e a nossa

Nunca percas uma boa oportunidade de roubar um título a Trotsky, li um dia e fixei. Esta semana, foi irresistível, quando a matéria em causa é Ricardo Robles e o grande tiro no pé do Bloco de Esquerda (BE). À velocidade da internet, o assunto parece velho. Mas o papel serve exatamente para registar e refletir sobre acontecimentos relevantes que vão para lá da espuma dos dias. Esta foi a semana horribilis do BE, depois da qual haverá sempre um antes e um depois. Robles, de quem quiseram fazer um autarca-modelo, ficará para a história, não por causa dos feitos ou dons de oratória (ou dos bonitos olhos azuis que maçadoramente lhe apontam), mas por ter sido protagonista do grande momento de desengano do Bloco.

Nunca é demais repetir que Robles, pelo que se sabe ao dia hoje, não fez nada de mal. Não cometeu qualquer ilegalidade. Tem, como todos os outros cidadãos, o direito à propriedade e ao livre comércio. O único problema é que fez, em grande estilo, exatamente aquilo que passou, ele e o seu partido, uma campanha inteira a diabolizar.


O que nos leva à moral deles e à nossa que, bem notou Trotsky, pode assumir contornos diferentes daquela que advogamos para os outros. A presunção e o moralismo são vícios tentadores, mas terrivelmente perigosos. Na vida pública e na política, fazer um percurso a atirar pedras aos telhados dos outros dá soundbite, protagonismo e muitos votos, mas tem um pequeno problema: os nossos telhados têm de ser à prova de pedra também. Basta um estilhaço e lá se vai a cobertura 
e a compostura.

Foi esta a história do Bloco de Esquerda praticamente desde a sua fundação: escolher causas fraturantes e lutar por elas, ao mesmo tempo que aponta o dedo aos vícios, aos poderosos e aos pecadores. Tudo isto assente em figuras carismáticas que, supostamente, simbolizam tudo o que o partido quer ser: inteligente, alternativo e inatacável. Só que não, como se diz agora. A parte do inatacável é complexa, bem sabemos, sobretudo quando um partido se consolida, cresce e se instala. São dores de crescimento, dirão alguns. Acontece aos melhores, dirão outros. Então e os outros todos?, atiram do lado de lá os defensores do Bloco. Outro tiro no pé. Deixar que a argumentação entre no nível do “whataboutism”, ou naquela forma de debater em que não se discutem os erros próprios mas em que se apontam os vícios alheios idênticos ou piores, é uma estratégia típica do statu quo.


A partir de agora, o Bloco perdeu a face no debate da moralidade. Saiu do campeonato dos impolutos. Desgastou a retórica que o trouxe até aqui. E é todo um caminho novo que vai ter de aprender a trilhar.

Habituado a atacar e não a ser atacado, o partido provou agora a sua própria receita. Implacáveis, as redes sociais não perdoaram. Num ápice, encheram-se de críticas, hashtags e memes, Robles e o Bloco marcaram a tendência e fizeram alertas sucessivos de quem vê no episódio um filão perfeito para explorar.

E o partido, em choque e visivelmente desorientado, engasgou-se com o sabor a fel. Em vez de assumir as responsabilidades, tentou desviar as atenções e desculpabilizar o indefensável. Pior a emenda do que o soneto: é tal qual como fazem os outros, os que eles sempre criticaram. Os bloquistas votaram em maioria pela permanência de Robles, mas ele saiu na mesma, fazendo a única coisa que era possível fazer para limpar a face, enquanto os dirigentes do PS e, sobretudo, do PCP assistem na bancada à escorregadela do BE. Parece que os estou a ver ir à estante buscar A Revolução Traída, de Trotsky, e recordar, divertidos, os vícios da Nomenklatura...

Mafalada Anjos - Editorial da VISÃO 

Brasil de eleições


Campanha eleitoral leva a Lava Jato para o forno

Ficha-suja, Lula desafia a lei com uma candidatura fictícia. Reformador, Ciro acena com a devolução de procuradores e juízes para suas ''caixinhas''. Abraçado ao centrão, Alckmin adere à pregação segundo a qual a ''criminalização da política'' afasta da vida pública muita gente boa. Ministro de Temer, Marun sugere que o programa de Meirelles inclua uma ''anistia'' para a delinquência do caixa dois. A campanha de 2018 exala um cheiro de orégano.

Desmoralizados, os grandes partidos apostam na confusão. Impossível distinguir a olho nu direitistas de esquerdistas. Jogados num tanque de lama, personagens como Aécio, agora candidato à Câmara, e Lula, autoconvertido em plataforma de lançamento de postes, deslocam suas massas na mistura viscosa entoando o mesmo lero-lero da ''perseguição''. Esperneiam de maneira idêntica.

Beneficiados por regras viciadas que eles mesmos aprovaram, sujos e mal lavados se equipam para transformar a próxima legislatura num espetáculo de mais do mesmo, seja quem for o presidente da República. Políticos de todos os grandes partidos ensaiam um coro contra a prisão de larápios condenados em segunda instância. Ninguém disse ainda, talvez por medo, mas há uma pizza no forno. Está cada vez mais difícil evitar que assem a Lava Jato.

E no meio da guerra...

A ação política é cruel; baseia-se numa competição animal, é preciso derrotar, esmagar, matar, aniquilar o inimigo
Otto Lara Resende

Humanos colocam em perigo um terço das reservas naturais da Terra

Há 146 anos o Parque Nacional de Yellowstone, no noroeste dos Estados Unidos, transformou-se na primeira área protegida do mundo. Desde então, países de todo o planeta criaram mais de 200.000 reservas naturais. Juntas, somam mais de 20 milhões de quilômetros quadrados, quase 15% da superfície terrestre. Uma área maior do que a América do Sul.

Os governos criaram as áreas protegidas para que animais e plantas possam viver sem que a ação humana os afete, já que, de outra maneira, acabariam extintos. São lugares especiais, presentes às gerações futuras e para todas as formas de vida não humanas no planeta.

Destruição de um garimpo ilegal de ouro na Amazônia peruana

Mas de acordo com um estudo publicado na revista Science, quase um terço dessas áreas protegidas (seis milhões de quilômetros quadrados) sofre a pressão do ser humano. Estradas, minas, explorações industriais, fazendas, municípios e cidades: tudo isso ameaça as supostas áreas protegidas.

Está provado que essas atividades humanas são as responsáveis pela diminuição e extinção das espécies em todo o mundo. A nova pesquisa mostra como essas atividades são frequentes dentro das áreas que foram criadas para proteger a natureza.

Foi feita uma estimativa sobre o alcance e a intensidade da pressão humana em áreas protegidas. A análise se baseou no rastro humano, uma medida que combina os dados de acordo com a construção, a agricultura intensiva, as pastagens, a densidade da população, a iluminação noturna, as estradas, as ferrovias e os canais fluviais.

Surpreendentemente, quase três quartos dos países têm, pelo menos, 50% de suas áreas protegidas submetidas a uma intensa pressão humana, ou seja, modificadas pela exploração de minérios, estradas, exploração florestal e agricultura. O problema é mais grave na Europa Ocidental e no sul da Ásia. Somente 42% das áreas protegidas estão livres da ação do homem.
Um rastro gigante

Por todo o planeta encontramos exemplos de enormes infraestruturas que os humanos construíram nos limites das áreas protegidas. Projetos tão importantes como ferrovia entre os Parques Nacionais Tsavo Oriental e Tsavo Ocidental no Quênia fizeram com que o rinoceronte negro se transformasse em uma espécie em perigo de extinção e até a famosa perda das jubas dos leões. A ideia de acrescentar uma estrada de seis pistas ao lado da ferrovia já está em andamento.

Muitas áreas protegidas da América como a Sierra Nevada de Santa Marta, na Colômbia, e o Parque Estadual Rio Negro Setor Sul, no Brasil, lutam contra a pressão das cidades próximas que estão densamente povoadas e têm muito turismo. Nos Estados Unidos, tanto o Yosemite como o Yellowstone são afetados pelas complexas infraestruturas turísticas que estão sendo construídas próximas aos seus limites.

Em países desenvolvidos como a Austrália, o panorama é desolador. Um bom exemplo disso é o Parque Nacional de Barrow Island, na Austrália Ocidental, onde mamíferos como o wallaby lebre, o rato canguru, o bandicut dourado e o wallaby das rochas de costas negras estão em perigo de extinção e, entretanto, estão sendo feitos grandes projetos relacionados ao gás e ao petróleo.

Apesar de estarem autorizados pelo Governo, os projetos financiados internacionalmente como os de Tsavo e Barrow são muito comuns. As áreas protegidas enfrentam também o impacto das atividades ilegais. No Parque Nacional de Bukit Barisan Selatan, em Sumatra, declarado patrimônio da Humanidade pela Unesco, estão em perigo de extinção o tigre de Sumatra, o orangotango e o rinoceronte. Agora, além disso, se transformou no lar de 100.000 pessoas que se instalaram lá e transformaram 15% do parque em plantações de café.

As áreas protegidas respaldam nosso esforço por conservar a natureza. Atualmente, 111 países alcançaram o objetivo global de ter 17% de áreas protegidas, estabelecido pelo Plano Estratégico para Salvaguardar a Biodiversidade das Nações Unidas. Mas, se não levarmos em consideração as supostas áreas protegidas que sofrem a atividade humana, 74 desses 111 países não alcançariam o objetivo. Além disso, a proteção de alguns tipos de habitat mais específicos, como os mangues e as florestas temperadas, se reduziria em 70% se levarmos em consideração a enorme quantidade de áreas que sofrem essa pressão.

Os governos de todo o mundo pedem que suas áreas protegidas preservem a natureza, mas ao mesmo tempo aprovam projetos dentro dos limites dessas áreas e não conseguem realizar a prevenção de danos. Esse é, provavelmente, um dos principais motivos pelos quais a biodiversidade continua diminuindo, apesar do grande aumento das áreas protegidas.

Os resultados não preveem um final feliz, mas oferecem uma visão clara sobe a situação das áreas protegidas no mundo. Se não formos capazes de aliviar a pressão nelas, o destino da natureza estará cada vez mais subordinado a condições de conservação deficientes e pouco eficazes, que estarão sujeitas a debate político e serão difíceis de se aplicar em grande escala. Não podemos nos permitir fracassar.

Sabemos com certeza que as áreas protegidas são eficientes. Bem financiadas, devidamente geridas e corretamente localizadas, são capazes de acabar com as ameaças que provocam a extinção das espécies. Chegou o momento de a população fazer com que os Governos sejam conscientes da importância da conservação global e realizar uma avaliação completa e honesta da situação real das áreas protegidas.
James Watson, James Allan, Kendall Jones, Pablo Negret, Richard Fuller, Sean Maxwell (The Conversation)