terça-feira, 5 de fevereiro de 2019
Lucros e bônus envenenados na mineração
No Brasil cortou custos, aumentou produção (25%) e lucros. Ano passado, o chefe da Kinross embolsou R$ 29 milhões em salário e bônus.
A mina de ouro brasileira está dentro de Paracatu (MG), oito mil quilômetros ao sul de Toronto. Ali, dinamitam-se rochas. O ouro é extraído a céu aberto. Por cada grama, libera-se em média 2,8 quilos de arsênio. É um ambiente tóxico, onde vivem 80 mil pessoas, com prevalência de múltiplas doenças. A Kinross represa 60 mil toneladas de puro veneno a 500 metros dos bairros mais pobres.
O medo avança na esteira da lama química, política e corporativa que já devastou Mariana e Brumadinho. Empresas como Vale, BHP Billiton, Norsk Hydro, CSN, Anglo American, Aterpa, Ashanti e outras 360 precisam se reinventar com urgência.
Acionistas e executivos têm um histórico de governança cataclísmica. Se enlaçaram na própria negligência e na leniência dos amigos no poder. Elevaram o perigo de catástrofes nas comunidades onde extraem valiosos lucros e bônus anuais.
À margem de exuberantes códigos de ética, são responsáveis por inovações no dolo corporativo. Mesmo sem intenção, socializam perdas exponenciais na economia.
Entre sequelas está o aumento do custo do dinheiro nas operações de crédito para todas as empresas e o setor público brasileiro.
Com Mariana e Brumadinho, em apenas 38 meses, a Vale viu seus papéis rebaixados a “lixo” por agências como a Fitch (S&P e Moody’s indicam a mesma trilha). Ela era um dos sete casos de sobrevivência, com certificado global para investimento, em meio à aguda recessão e crise política. Sua lama química, política e corporativa agora respinga em outros setores. A sociedade, que subsidia as mineradoras, vai pagar mais enquanto resgata corpos soterrados.
Tentáculos invisíveis
Não são os políticos os que governam o mundo. Os lugares de poder, alem de serem supranacionais, multinacionais, são invisíveisJosé Saramago
Estará o Brasil desafiando em Brumadinho àqueles que tentam roubar os seus sonhos?
Em uma de suas sentidas reportagens daquele vale de dor, minha colega Marina Rossi nos informou sobre o desafio feito por algumas pessoas enlutadas às empresas responsáveis pelo crime, aos gritos de “não queremos dinheiro”. O desafio ecoa como um mantra ameaçador. Eles estão lutando para defender o valor da vida que não tem preço. Precisam ser ressarcidos de seus danos, mas querem deixar claro que nenhum dinheiro compensará a perda criminosa das vidas sacrificadas.
A História antiga e recente nos ensina que das grandes tragédias, das guerras e genocídios costumam surgir novos espaços de civilização e liberdade. De seus escombros nasceram uma nova consciência social e uma maior valorização da vida. Foi depois do nazismo, e dos grandes conflitos mundiais, que acabaram por dar vida, por exemplo, à Europa unida. Uma Europa, surgida nova da guerra, que desfruta pela primeira vez de meio século de paz.
Aqui no Brasil, num momento em que parecia que o país se resignava a ser vítima passiva dos crimes da corrupção e da violência, surge da pequena e martirizada localidade mineira de Brumadinho um grito de resistência contra o dinheiro do pecado e contra a injustiça que os golpeou.
Esse desafio de dignidade e indignação de gente que grita “não queremos dinheiro” aparece, no momento que o país vive, como um duro julgamento da classe política. Esta —que quase sem distinção quer, sim, dinheiro— se ajoelha perante esses empresários corruptos aos quais, para retribuir seus presentes, facilita leis que lhes permitem cometer, impunemente, crimes como os de Mariana e Brumadinho.
É como se dissessem a esses políticos e governantes: nós queremos só dignidade e trabalho seguro. Queremos hospitais onde nos devolvam a saúde. Queremos escolas nas que se infunda aos nossos filhos a paixão pela liberdade e o amor pela justiça. Queremos cidades onde possamos sair com a família para jantar sem medo de que nos coloquem uma pistola na cabeça para nos roubar o celular. Queremos trabalhar sem o pânico de sermos devorados pelos escombros. É como se dissessem: não queremos seu dinheiro de pecado. Só exigimos de vocês que defendam e respeitem nossa vida.
Na Bíblia, no livro dos Apóstolos, narra-se a simbólica cena em que um aleijado de nascimento, prostrado no chão à porta do Templo, pede uma esmola ao apóstolo Pedro. O pescador pobre da Galileia lhe diz: “Não tenho prata nem ouro, mas o que tenho te dou: levanta e anda”. Pegou-o pela mão e o fez caminhar. Aquele “não tenho prata nem ouro” de Pedro, que por outro lado foi capaz de devolver a vida às suas pernas mortas, é uma condenação aos poderes religiosos e políticos de hoje. A eles o que não falta é prata e ouro, tantas vezes arrancados da boa-fé da gente singela que procura redenção. O que não sabem é ressuscitar seus sonhos de justiça.
Esse grito de resistência do simbólico e provocador escutado em Brumadinho —“não queremos dinheiro”, e sim vida e respeito, segurança e dignidade— deveria hoje estar escrito na porta de todos os templos. Nos gabinetes de todos os governantes. Nos muros das empresas corruptas e coniventes com os políticos. Deveria ser a pichação que recorde o clamor da sociedade por um país menos apadrinhado com os poderes que matam.
Brumadinho deu o primeiro passo. Todos, desde crianças, começamos a andar quando perdemos o medo de ficarmos de pé e, embora cambaleando, iniciamos o caminho para a aventura da vida. Estará o Brasil começando a desafiar quem tenta anestesiá-lo? O Brasil que, com orgulho, não se contenta só com esmola e rejeita o dinheiro dos corruptos já é um país melhor que o que vende seu voto por um prato de feijão.
A 'velha' esquerda e a 'nova' direita
Pela primeira vez, em muitos anos, está exposta uma polarização entre conceitos científico-políticos ultrapassados na história mas que no Brasil de hoje têm grande atualidade.
Aliás, a mídia e até alguns setores da academia têm insistido nesse falso dilema: o confronto entre “esquerda” e “direita” mundo afora.
O capitalismo globalizado de blocos econômicos e as perplexidades ambientais decisivas de sobrevivência da espécie e da biosfera não comportam mais esse tipo de dicotomia jurássica e já tornaram esses conceitos totalmente ultrapassados e sem qualquer sentido científico.
Principalmente com o fim da Guerra Fria no apagar das luzes do século passado e a entrada da China no ranking dos players mais agressivos da nova economia globalizada de mercado.
Portanto, falar em venezuelização ou cubanização do Brasil é totalmente descabido.
O Brasil esteve dividido intrinsecamente nesse segundo turno eleitoral, mas por motivos completamente diversos: um Estado gigantesco, continental, tributária e federativamente inadministrável, que tem resultado numa péssima distribuição de renda e serviços essenciais à população e na rapinagem que tomou conta desse verdadeiro butim gigante, saqueado
Ledo e perigoso equívoco de quem desavisadamente envereda por essas sendas dúbias de “esquerda” e “direita”.
Muitos “progressistas” votaram no candidato soi-disant de “direita”. Basta verificar como seu índice de rejeição despencou na reta final.
Quem venceu estas eleições plebiscitárias, especialmente para o Executivo central do país, não foi a “direita” ou a “esquerda”, mas o voto de protesto de uma população exausta de tanta ignomínia na política.
O voto indignado a exigir mudanças estruturais profundas. O candidato vencedor representa predominantemente esse voto, em que pese o decisivo apoio dos “anticomunistas”.
Ora, só existe uma visão política mais atrasada do que ser “comunista” a essa altura do desaparecimento da luta de classes e da revolução proletária a nível global: é ser “anticomunista”. Como ser contra ou a favor de algo que a História Universal já enterrou de vez desde o século passado?
Com o avanço da Revolução Técnico-Científica e as ferramentas de pesquisa que a internet nos proporciona, qualquer criança hoje pode identificar na Assembleia Francesa dos jacobinos e girondinos a origem dos termos “esquerda” e “direita”, transportados para a Rússia revolucionária de 1917 dos mencheviques e bolcheviques.
Hoje, com a globalização dos mercados e a substituição das ideologias pelas hegemonias de blocos, perderam totalmente o sentido.
Até porque a China dita “comunista” já se tornou o maior capitalismo globalizado do planeta, segundo estudo sério do FMI reproduzido na revista “Exame” em 2017.
Enquanto isso, o ainda candidato, hoje eleito, fazia uma visita ao Extremo Oriente e ignorava solenemente a existência da China Continental, visitando apenas Taiwan. Um equívoco histórico certamente.
Não é muito diferente dessa “direita” a mentalidade de certa “esquerda” bolivarianista, representada pelo candidato do PT derrotado. Ainda crê em inserir o Brasil —que o mesmo estudo do FMI coloca em quinto lugar no ranking dos maiores capitalismos até meados deste século, atrás da própria China, da Índia, dos EUA e da Indonésia, nessa ordem —como líder de um suposto movimento “socialista” na América Latina.
E falam sério, em calorosos debates no Fórum de São Paulo, uma das maiores asneiras intelectuais da atualidade. Pois o candidato do lulopetismo de cooptação e favores antirrepublicanos crê piamente que o Brasil possa vir a se tornar uma grande Venezuela.
É a nova “direita” versus a velha “esquerda”. E la nave va...
Aliás, a mídia e até alguns setores da academia têm insistido nesse falso dilema: o confronto entre “esquerda” e “direita” mundo afora.
O capitalismo globalizado de blocos econômicos e as perplexidades ambientais decisivas de sobrevivência da espécie e da biosfera não comportam mais esse tipo de dicotomia jurássica e já tornaram esses conceitos totalmente ultrapassados e sem qualquer sentido científico.
Principalmente com o fim da Guerra Fria no apagar das luzes do século passado e a entrada da China no ranking dos players mais agressivos da nova economia globalizada de mercado.
Portanto, falar em venezuelização ou cubanização do Brasil é totalmente descabido.
O Brasil esteve dividido intrinsecamente nesse segundo turno eleitoral, mas por motivos completamente diversos: um Estado gigantesco, continental, tributária e federativamente inadministrável, que tem resultado numa péssima distribuição de renda e serviços essenciais à população e na rapinagem que tomou conta desse verdadeiro butim gigante, saqueado
permanentemente por uma classe política, constituída, em sua imensa maioria, de vorazes marginais despreparados e despudorados, sem qualquer compromisso ideológico, ainda que com doutrinas e lutas de séculos passados, salvo, naturalmente, as exceções de praxe.
Esse é o verdadeiro problema brasileiro. Nada tem a ver com “esquerda” e “direita”. O que houve foi a saturação com o modelo de democracia que viemos praticando desde a edição da Constituição congressual de 1988.
Ledo e perigoso equívoco de quem desavisadamente envereda por essas sendas dúbias de “esquerda” e “direita”.
Muitos “progressistas” votaram no candidato soi-disant de “direita”. Basta verificar como seu índice de rejeição despencou na reta final.
Quem venceu estas eleições plebiscitárias, especialmente para o Executivo central do país, não foi a “direita” ou a “esquerda”, mas o voto de protesto de uma população exausta de tanta ignomínia na política.
O voto indignado a exigir mudanças estruturais profundas. O candidato vencedor representa predominantemente esse voto, em que pese o decisivo apoio dos “anticomunistas”.
Ora, só existe uma visão política mais atrasada do que ser “comunista” a essa altura do desaparecimento da luta de classes e da revolução proletária a nível global: é ser “anticomunista”. Como ser contra ou a favor de algo que a História Universal já enterrou de vez desde o século passado?
Com o avanço da Revolução Técnico-Científica e as ferramentas de pesquisa que a internet nos proporciona, qualquer criança hoje pode identificar na Assembleia Francesa dos jacobinos e girondinos a origem dos termos “esquerda” e “direita”, transportados para a Rússia revolucionária de 1917 dos mencheviques e bolcheviques.
Hoje, com a globalização dos mercados e a substituição das ideologias pelas hegemonias de blocos, perderam totalmente o sentido.
Até porque a China dita “comunista” já se tornou o maior capitalismo globalizado do planeta, segundo estudo sério do FMI reproduzido na revista “Exame” em 2017.
Enquanto isso, o ainda candidato, hoje eleito, fazia uma visita ao Extremo Oriente e ignorava solenemente a existência da China Continental, visitando apenas Taiwan. Um equívoco histórico certamente.
Não é muito diferente dessa “direita” a mentalidade de certa “esquerda” bolivarianista, representada pelo candidato do PT derrotado. Ainda crê em inserir o Brasil —que o mesmo estudo do FMI coloca em quinto lugar no ranking dos maiores capitalismos até meados deste século, atrás da própria China, da Índia, dos EUA e da Indonésia, nessa ordem —como líder de um suposto movimento “socialista” na América Latina.
E falam sério, em calorosos debates no Fórum de São Paulo, uma das maiores asneiras intelectuais da atualidade. Pois o candidato do lulopetismo de cooptação e favores antirrepublicanos crê piamente que o Brasil possa vir a se tornar uma grande Venezuela.
É a nova “direita” versus a velha “esquerda”. E la nave va...
A Justiça carcomida é o pior câncer de uma sociedade
O então mestre sentenciou sem titubear: a Justiça. Explicou ele em poucas palavras: A sociedade só existe e se desenvolve fundamentada em suas leis e sua igualitária execução. A Justiça é o solo onde se edifica uma nação e sua cidadania. Se pétrea, permitirá o soerguimento de grandes nações. Se pantanosa, nada de grande poderá ser construído.
Como resultado se abrirá o abismo da desigualdade. Este abismo gerará violência e tensão social. Neste ambiente de pura selvageria, os mais fortes esmagarão os mais fracos. O resultado final: o pântano se tornará praticamente inabitável. As riquezas fugirão sob as barbas gosmentas da Justiça paquiderme para outras nações. Os mais capazes renunciarão à cidadania em busca de terras onde a Justiça garanta o mínimo desejado: que a lei seja igual para todos.
Este é o fato presente e a verdade inegável do pântano chamado Brasil. Minha geração foi se esgotando na idiota discussão entre esquerda e direita. E ainda continua imbecilizada na disputa entre “nós e eles”, criada pelo inculto Lula e o séquito lulista. Não enxergaram um palmo na frente do nariz da essência da democracia. Foram comprados com pixulecos, carros, sítios e apartamentos.
Não sei quantos jovens lerão este texto e terão capacidade de interpretar e aprofundar a discussão. Aos meus quase 70 anos, faço o que está ao meu pequeno alcance.
Gabinete hospitalar de Bolsonaro faz mal à saúde
No dia 28 de janeiro, uma segunda-feira, Jair Bolsonaro arrostou uma terceira cirurgia, no hospital Albert Eisntein, dessa vez para retirar a bolsa de colostomia. Foram sete horas na mesa de operação. O operado mal fora recolhido à UTI e seu porta-voz, Otávio do Rêgo Barros, já anunciava:"O presidente vai passar 48 horas em descanso total. Então, na quarta-feira, em torno de 9h, 10h, ele retoma legalmente a função de presidente da nossa República".
Dito e feito. Menos de 48 horas depois da cirurgia, Bolsonaro deu alta ao general Hamilton Mourão, seu substituto constitucional. E "reassumiu" o posto. As palavras do porta-voz sinalizavam que a presidência hospitalar seria uma experiência sui generis: "O presidente está preservado de falar porque, ao falar, há possibilidade de que gases ..., de que ar entre na sua cavidade abdominal e isso vai provocar dores e vai dificultar a cicatrização, particularmente no que toca à cicatriz externa"
No sábado, Bolsonaro sofreu uma parada intestinal. No domingo, teve febre. Exames de imagem revelaram"um acúmulo de líquido ao lado do intestino, na região da antiga bolsa de colostomia". Em consequência, "foi submetido a punção para retirar esse líquido e permanece com dreno no local". Foi para a unidade de "cuidados semi-intensivos". E recebe dosagens regulares de antibióticos, para evitar uma infecção. São injetados junto com o soro.
A recuperação do presidente da República deveria ser levada mais a sério. Ninguém disse ainda, talvez por respeito ao drama do paciente, mas a Presidência cenográfica encenada no Albert Einstein faz mal à saúde de Bolsonaro. A primeira-dama Michelle deveria ordenar a imediata desmontagem do gabinete improvisado no hospital.
Primeiro Michelle despacharia para Brasília a parafernália eletrônica. Bolsonaro utilizou uma mísera vez o telão de vídeo. Conversou com o ministro Augusto Heleno, do Gabinete de Segurança Institucional. O resultado prático da conversa foi uma bronca dos médicos, incomodados com o descumprimento da orientação para que o paciente se mantivesse de boca fechada.
Depois de lacrar o gabinete, Michelle decretaria a dedicação "full time" do marido às atividades pós-operatórias. Pelo tempo que for necessário. A interinidade de Hamilton Mourão não fará nenhum mal irreversível à República. E o repouso fará bem ao capitão.
Na sequência, a primeira-dama devolveria ao Planalto o porta-voz Rêgo Barros. No momento, não interessa a ninguém o lero-lero bem-intencionado sobre a agenda virtual, com despachos ministeriais e reuniões de trabalho que não acontecem.
O que todos desejam e merecem ouvir é a voz dos boletins do hospital. Neles, os médicos falam sobre as condições clínicas do paciente, sem viés embromatológico.
É só largar mão de ser burro
É tudo falso menos a dor!
Não há surpresa alguma. Não há quem não estivesse esperando por mais essa. Nós somos o país das reprises. Pelo lado da responsabilidade do estado a tragédia de Brumadinho é o de sempre: o poder político sem nenhum tipo de freio. Pelo da Vale, bis: o poder econômico sem nenhum tipo de freio.
O que é esse mar de misérias num país rico como o Brasil senão os governantes e “servidores públicos” escrevendo suas próprias leis sem nenhum controle ou sanção, à salvo dos mares de lama que põem para rolar e livres para empanturrar de benesses a sua ganância? Pagamos os maiores impostos do mundo e falta tudo. Nada mata mais que tsunami de privilégios…
E o que são essas barragens da morte anunciada numa empresa com os números da Vale senão os “governantes corporativos” escrevendo suas próprias leis sem nenhum controle ou sanção, à salvo dos mares de lama que põem para rolar, livres para empanturrar de “bônus” a sua cupidez?
“Barragens de alteamento a montante” é o pior método de contenção de rejeitos, proibido em toda parte porque é certo que uma hora estoura como estourou Mariana. Quem não sabia? Mas é o que convém a quem colhe bônus “cortando custos” custe o que custar pros outros. E taí Brumadinho debaixo da lama.
Regimes de repartição na previdência combinados com privilégios ilimitados para as corporações estatais é o pior método de financiamento da previdência, proibido em toda parte porque é certo que uma hora estoura. Quem não sabia? Mas é o que convém a quem come como leão e contribui como passarinho. E taí o Brasil inteiro enterrado na lama.
Mas haverá chororô sobre tudo menos o que interessa: “É preciso políticos mais honestos”. “É preciso empresários menos gananciosos”. Mas a democracia teve de ser inventada precisamente porque não somos, deus do céu! Porque provamos e comprovamos ha milênios que não seremos nunca!
No tempo em que vivíamos dos dentes caninos que ainda temos na boca só sobrevivia quem os usasse sem qualquer hesitação. Hoje não precisamos mais disso mas o relógio de Darwin tem lá a sua velocidade. Aberto o caminho para a negociação política e para uma economia com regras, continuamos sendo capazes de resistir à nossa própria natureza se e somente se, em vez da recompensa de sempre, impusermos como certa a morte política e econômica a quem violar as novas regras pactuadas pela civilização. É preciso enganar o nosso instinto de sobrevivência programado para morder que prevalece sempre. Reprogramá-lo na infalibilidade da punição, coisa que só pode ser garantida se o gatilho que a desencadeia estiver nas mãos das vítimas e não nas dos autores de todo abuso de poder político e de todo abuso de poder econômico: sua majestade, o povo, o único lado insubornável (pelo menos não em segredo) dessas disputas entre grossos interesses escusos.
“Mas o que é o próprio governo, senão a maior das críticas à natureza humana? Se os homens fossem anjos, não seria necessário governo algum. E se os homens fossem governados por anjos, o governo não precisaria de controles externos nem internos”, grita-nos James Madison lá de 1787…
Não gosta de americano? Foi condicionado desde filhote a desligar o cérebro e ligar o fígado sempre que ouvir falar neles? Jurou aos “companheiros” não adotar nada do que venha deles exceto a penicilina e o computador?
Seus problemas acabaram!
Essa invenção não é deles. Eles copiaram dos suíços, o único povo europeu que nunca teve rei, o sistema de controle absoluto do aparato institucional de decisões pelo eleitor e não pela “otoridade” em cujas mãos tudo acaba virando comércio. E foram, por sua vez, copiados por todos os libertados da servidão e da miséria nos quatro quadrantes do planeta. O argumento indiscutível tem sido o do resultado. Funciona pra todo mundo, não importa a cultura, não importa a latitude. É só largar mão de ser burro. Tome a si mesmo como parâmetro. Você trabalha todo dia e faz aquele sacrifício todo pelo engrandecimento da sua alma imortal ou porque você tem um patrão e se não trabalhar direito e a favor da empresa vai pra rua e não come mais? Então! Político e funcionário encarregado de fiscalizar empresário é a mesma coisa. Bota patrão neles! Manda meia dúzia pra rua amanhã, sem “afastamento” nem aposentadoria antecipada, e vê lá se não muda tudo daí pra frente!
Essa nossa servidão é voluntária. 16,38% passa em três minutos. Segurança de barragem não passa nem em três anos, morra quem morrer. Mas nós insistimos. Exigimos dos marajás que nos sugam e dos juízes que não julgam, esses que vivem nos dando provas da sua “sabedoria” e da sua “ilustração”, que regulamentem e travem tudo ainda mais, que nomeiem mais fiscais achacadores, que baixem mais leis para enquadrar o povo e não para enquadrar o governo porque o “povo ignorante” é que é o perigo, não sabe nem o que é bom pra ele, foi-nos ensinado.
A impunidade é uma cadeia que começa (e só pode ser rompida) com a imputabilidade do primeiro elo. Quanto mais instável for o emprego deles todos mais estável será o país e a obra do seu povo. E vice-versa o contrário. Republica é representação. Nelas é o povo que faz a lei e os governos é que obedecem. Mas a brasileira está solta no ar. Existe só para si mesma. Não enraiza no país real. Não é o eleitor que manda nela. Todas as hierarquias estão invertidas.
Das violências impunes à roubalheira generalizada nada vai mudar enquanto o gatilho de todas as armas – as institucionais, não as que matam só uma pessoa por vez – não estiverem nas mãos do povo. Retomada de mandatos, leis de inciativa popular, veto popular às leis dos legislativos, eleição de retenção de juízes. Ponha-se o povo mandando e veremos todo mundo jogar para o time.
Fora daí é a lama.
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