terça-feira, 15 de dezembro de 2015
A melancolia e o luto
A melancolia se instala quando há uma grande perda, seja de uma pessoa, de bens e até de um país. É diferente do luto, diz Freud, que provoca um grande desinteresse pela realidade, a não ser sobre o objeto perdido. Já na melancolia, com a perda, o mal do mundo cai sobre a própria pessoa, ou seja, quem não vale nada é o “eu”.
No luto, é o mundo que fica pobre e vazio; na melancolia, é o próprio sujeito. O luto, aos poucos, termina, tudo volta ao normal. Mas na melancolia nunca se acaba a dor. No melancólico se apresenta uma coisa que não aparece no luto: a perda da autoestima, um enorme empobrecimento de si mesmo.
O Brasil é uma região interna de nós mesmos, o país está dentro de nossas cabeças.
E na história sempre perdemos algo, sempre estivemos aquém de nosso orgulho, de uma satisfação profunda com a nacionalidade, apesar dos discursos patrióticos dos donos do poder há cinco séculos.
O Brasil sempre foi um país melancólico, pois nunca alcançou o que cantam os hinos: “várzeas de flores”, “liberdade” e “pátria amada”.
Perdemos o Brasil há muito tempo. De certo modo, já nascemos perdidos. Os séculos de patrimonialismo que nos legou Portugal, tirando da sociedade a autonomia sobre si mesma, transformou-a em uma população de impotentes e criou uma massa amorfa e sem ânimo – melancólica.
Não falo do sentimento de tristeza de três raças, como no esquematismo de Paulo Prado em “Retrato do Brasil”, mas ele está certo quando afirma que esse era um ambiente perfeito para se desenvolver um mal degenerativo: o romantismo.
Surgiu a mãe-pátria. O país nascia sob a invocação de belas palavras apaixonadas e irracionais. O romantismo no Brasil “tudo avassalou: política, literatura, artes, viver cotidiano, modos de sentir, afeições”.
Das raízes do patrimonialismo, no qual o Estado é o “patrimônio” de poderes privados, vieram nossos vícios, nossa personalidade. Sempre houve um sentimento de falta na vida brasileira, sempre uma depressão básica no fundo da garrafa. Sempre houve uma luta surda entre atraso e modernização. E o atraso sempre venceu: a endêmica corrupção, o clientelismo permanente, a burocracia, o desprezo pela educação, o salvacionismo pelas ditaduras e pelas oligarquias, o aventureirismo em vez do trabalho, como coisa menor para negros.
Outro vício famoso é a “fracassomania”. Como uma compensação para a impotência, passamos a valorizar o fracasso como uma qualidade nobre. Os bons fracassam, e os maus vencem. O fracasso passou a ser nosso mantra, puxando lamentos como “a vaca foi para o brejo” ou “estamos à beira do abismo”. Sempre estivemos à beira do abismo. Sempre sofremos do complexo de vira-latas. Sempre. E nossa melancolia é secular. O país se voltou contra nossas cabeças, e viramos um povo de deprimidos e insatisfeitos. Nunca fomos o paraíso anunciado e nos enganamos com nossas palmeiras e nossos Carnavais – (apud C. Diegues).
E a modernização? O visgo do atraso puxou para baixo qualquer tentativa de avanços democráticos que ameaçam os privilégios dos donos do poder. Nosso atraso não foi um acidente – o atraso é um desejo. É muito mais fácil lidar com um Estado dominado do que com a sociedade autodeterminada.
O progresso sempre veio, ou por acaso, ou por causas externas.
Agora, com a globalização do capitalismo e a espantosa revolução digital, estamos sendo forçados a uma recalcitrante modernização. Tudo continua uma merda, mas somos agora “bárbaros tecnizados” (Oswald).
Contudo, estamos mais “alertas” e estamos vivendo um salto qualitativo em nossa mediocridade política e institucional. Mais do que crise, talvez seja uma “mutação”.
A depressão econômica criou a depressão interna. Vemos que uma perene alegria pode ser uma forma de paralisia. Estamos pela primeira vez tendo de lidar com nossa vil tristeza.
O Brasil evolui pelo que perde, e não pelo que ganha. Sempre houve no país uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Este é nosso torto processo: com as ilusões perdidas, com a história em marcha à ré, estranhamente, andamos para a frente. O Brasil se descobre por subtração, não por soma.
Mas talvez esse passo atrás nos ajude a seguir em frente. A bruta desgraça está ficando visível, e talvez a melancolia esteja dando lugar a uma indignação, nova em nossa consciência.
Mas a indignação não pode ser genérica, abstrata, “contra tudo isso que está aí”.
A sociedade tem de agir concretamente, a sociedade tem de virar um grande partido político de todos, porque estamos muito mal representados pelos remanescentes da tradição medieval que nos criou.
Por exemplo, a carta da Procuradoria Geral da República (nosso único motivo de orgulho) quer colher um 1,5 milhão de assinaturas na sociedade, que é chamada a conclamar o Congresso a promover as alterações estruturais e sistêmicas necessárias para reprimir a corrupção fortemente. Isso é concreto, isso é lutar contra o totalitarismo da mentira e da incompetência programada pelos donos do poder. O atual lulo-bolivarianismo quer nos proibir a depressão, quer nos programar para uma alegria tosca, com benesses populistas que arrasaram o país. Está ficando impossível deter a marcha do óbvio. Principalmente agora, que a barra está pesando. Estamos vivendo uma “nova matriz psicológica”. Barbárie tecnizada.
Mas pode ser que a depressão tenha grande importância para a sabedoria; sem desencanto com a vida, sem um ceticismo crítico, ninguém chega a uma reflexão decente. Estamos bem menos “alienados”. E, por mais que se destruam as instituições, as conquistas da democracia não vão sumir, por conta da maior complexidade da economia e da política que a abertura permitiu. Estamos mais desiludidos, porém mais sábios.
A melancolia, mesmo sendo uma doença, é um convite auspicioso para transcender a banalidade cotidiana e imaginar inéditas possibilidades de existência. Com essa crise esclarecedora, talvez possamos sair da melancolia e finalmente fazer um luto. E o Brasil melhorar.
No luto, é o mundo que fica pobre e vazio; na melancolia, é o próprio sujeito. O luto, aos poucos, termina, tudo volta ao normal. Mas na melancolia nunca se acaba a dor. No melancólico se apresenta uma coisa que não aparece no luto: a perda da autoestima, um enorme empobrecimento de si mesmo.
O Brasil é uma região interna de nós mesmos, o país está dentro de nossas cabeças.
E na história sempre perdemos algo, sempre estivemos aquém de nosso orgulho, de uma satisfação profunda com a nacionalidade, apesar dos discursos patrióticos dos donos do poder há cinco séculos.
O Brasil sempre foi um país melancólico, pois nunca alcançou o que cantam os hinos: “várzeas de flores”, “liberdade” e “pátria amada”.
Perdemos o Brasil há muito tempo. De certo modo, já nascemos perdidos. Os séculos de patrimonialismo que nos legou Portugal, tirando da sociedade a autonomia sobre si mesma, transformou-a em uma população de impotentes e criou uma massa amorfa e sem ânimo – melancólica.
Não falo do sentimento de tristeza de três raças, como no esquematismo de Paulo Prado em “Retrato do Brasil”, mas ele está certo quando afirma que esse era um ambiente perfeito para se desenvolver um mal degenerativo: o romantismo.
Surgiu a mãe-pátria. O país nascia sob a invocação de belas palavras apaixonadas e irracionais. O romantismo no Brasil “tudo avassalou: política, literatura, artes, viver cotidiano, modos de sentir, afeições”.
Das raízes do patrimonialismo, no qual o Estado é o “patrimônio” de poderes privados, vieram nossos vícios, nossa personalidade. Sempre houve um sentimento de falta na vida brasileira, sempre uma depressão básica no fundo da garrafa. Sempre houve uma luta surda entre atraso e modernização. E o atraso sempre venceu: a endêmica corrupção, o clientelismo permanente, a burocracia, o desprezo pela educação, o salvacionismo pelas ditaduras e pelas oligarquias, o aventureirismo em vez do trabalho, como coisa menor para negros.
Outro vício famoso é a “fracassomania”. Como uma compensação para a impotência, passamos a valorizar o fracasso como uma qualidade nobre. Os bons fracassam, e os maus vencem. O fracasso passou a ser nosso mantra, puxando lamentos como “a vaca foi para o brejo” ou “estamos à beira do abismo”. Sempre estivemos à beira do abismo. Sempre sofremos do complexo de vira-latas. Sempre. E nossa melancolia é secular. O país se voltou contra nossas cabeças, e viramos um povo de deprimidos e insatisfeitos. Nunca fomos o paraíso anunciado e nos enganamos com nossas palmeiras e nossos Carnavais – (apud C. Diegues).
E a modernização? O visgo do atraso puxou para baixo qualquer tentativa de avanços democráticos que ameaçam os privilégios dos donos do poder. Nosso atraso não foi um acidente – o atraso é um desejo. É muito mais fácil lidar com um Estado dominado do que com a sociedade autodeterminada.
O progresso sempre veio, ou por acaso, ou por causas externas.
Agora, com a globalização do capitalismo e a espantosa revolução digital, estamos sendo forçados a uma recalcitrante modernização. Tudo continua uma merda, mas somos agora “bárbaros tecnizados” (Oswald).
Contudo, estamos mais “alertas” e estamos vivendo um salto qualitativo em nossa mediocridade política e institucional. Mais do que crise, talvez seja uma “mutação”.
A depressão econômica criou a depressão interna. Vemos que uma perene alegria pode ser uma forma de paralisia. Estamos pela primeira vez tendo de lidar com nossa vil tristeza.
O Brasil evolui pelo que perde, e não pelo que ganha. Sempre houve no país uma desmontagem contínua de ilusões históricas. Este é nosso torto processo: com as ilusões perdidas, com a história em marcha à ré, estranhamente, andamos para a frente. O Brasil se descobre por subtração, não por soma.
Mas talvez esse passo atrás nos ajude a seguir em frente. A bruta desgraça está ficando visível, e talvez a melancolia esteja dando lugar a uma indignação, nova em nossa consciência.
Mas a indignação não pode ser genérica, abstrata, “contra tudo isso que está aí”.
A sociedade tem de agir concretamente, a sociedade tem de virar um grande partido político de todos, porque estamos muito mal representados pelos remanescentes da tradição medieval que nos criou.
Por exemplo, a carta da Procuradoria Geral da República (nosso único motivo de orgulho) quer colher um 1,5 milhão de assinaturas na sociedade, que é chamada a conclamar o Congresso a promover as alterações estruturais e sistêmicas necessárias para reprimir a corrupção fortemente. Isso é concreto, isso é lutar contra o totalitarismo da mentira e da incompetência programada pelos donos do poder. O atual lulo-bolivarianismo quer nos proibir a depressão, quer nos programar para uma alegria tosca, com benesses populistas que arrasaram o país. Está ficando impossível deter a marcha do óbvio. Principalmente agora, que a barra está pesando. Estamos vivendo uma “nova matriz psicológica”. Barbárie tecnizada.
Mas pode ser que a depressão tenha grande importância para a sabedoria; sem desencanto com a vida, sem um ceticismo crítico, ninguém chega a uma reflexão decente. Estamos bem menos “alienados”. E, por mais que se destruam as instituições, as conquistas da democracia não vão sumir, por conta da maior complexidade da economia e da política que a abertura permitiu. Estamos mais desiludidos, porém mais sábios.
A melancolia, mesmo sendo uma doença, é um convite auspicioso para transcender a banalidade cotidiana e imaginar inéditas possibilidades de existência. Com essa crise esclarecedora, talvez possamos sair da melancolia e finalmente fazer um luto. E o Brasil melhorar.
Dez mandamentos da politicalha reinante
A proximidade do Natal nos lembra que todas as religiões históricas têm regras de conduta que, na doutrina de cada uma delas, aproximariam o ser humano do divino e da sua própria dignidade. É o caso das famosas ‘Tábuas da Lei’ da tradição judaico-cristã. Ao ver o desmoronamento do nosso sistema político, constato também que muitos negam aqueles preceitos tão enraizados na nossa cultura ocidental, ainda que os proclamem nas tribunas, púlpitos e palanques. De boca pra fora...
Pratica-se, no Brasil de hoje, uma contrafação grosseira, e tragicamente real, dos ‘Dez Mandamentos’, mencionados no livro do Êxodo, 34, 28, e no Deuteronômio, 4, 13, do Antigo Testamento. Sinal desses tempos em que tudo está de cabeça para baixo... Parece que a regra da ação política predominante é:
1 - Amar as coisas, em especial o dinheiro e o poder, sobretudo o que é transcendente e imaterial;
2 - Usar o santo nome de Deus em vão, para manipular em favor de interesses mesquinhos a fé ingênua de nossa gente;
3 - Desprezar domingos e festas como momento de reflexão, pois não pode haver descanso para as maquinações e negociatas no mundo do ‘time is money’;
4 - Desonrar os valores imorredouros que nossos pais e antepassados nos deixaram, como franqueza, respeito, justiça, simplicidade e altruísmo;
5 - Matar os sonhos da nossa juventude e destruir vidas, subtraindo pela corrupção o dinheiro que iria para a saúde e a educação;
6 - Pecar contra a pureza dos que ainda têm ideal e acreditam que podem fazer deste lugar um bom país, com oportunidade para todo(a)s;
7 - Roubar sem cessar, fortalecendo a cultura do individualismo e do levar vantagem em tudo;
8 -Levantar falsos testemunhos contra aqueles que ousam resistir às chantagens e tenebrosas transações;
9 - Desejar tudo o que é do próximo, no afã de acumular, seja aqui, seja no exterior;
10 - Cobiçar as coisas alheias, degradando pelo ambição do lucro o meio ambiente, e tirando dos pequeninos o teto, a terra, o emprego e o pão de cada dia.
Como quebrar essas tábuas e essas práticas, que trazem as ‘pragas do Egito’ para a vida nacional contemporânea? A Lei Maior do país, a Constituição de 1988, aponta o caminho. Para o primeiro passo, bastaria cumprir os princípios básicos da Administração Pública, inscritos no artigo 37, pelas quais o Supremo Tribunal Federal tem de zelar. Que todo(a)s os que exercem funções públicas vivam de acordo com os preceitos da legalidade, da impessoalidade, da moralidade, da publicidade e da eficiência. Simples assim...
Os tentáculos da corrupção
Ao longo dos seus 15 anos de existência, a Academia Panamericana de Engenharia vem se dedicando à elaboração de proposições relevantes para o desenvolvimento das engenharias nas Américas, em particular na cooperação entre os países do continente, no intuito de oferecer novas soluções para o crescimento sustentável e para a erradicação da corrupção.
A discussão sobre o último tema tem adquirido expressiva importância em decorrência das graves perdas econômicas que acarreta e das frágeis condições de prevenção atualmente verificadas em muitos países da América. Sua importância cresce quando se constata que parcela significativa dos casos de corrupção detectados (fraudes, sonegações de impostos, subornos e propinas) ocorre nas obras públicas, quase sempre nos setores de engenharia civil e infraestrutura. Por isso, a Academia atua em conjunto com o Conselho Mundial de Engenhe
Os dados são impressionantes, pois a evasão de divisas em algumas grandes economias é estarrecedora.
Na Rússia, por exemplo, segundo a organização Global Financial Integrity, foram perdidos cerca de 120 bilhões de dólares em 2013; na China foram mais de 200 bilhões de dólares e na Índia quase 85 bilhões. No Brasil os números aparecem todos os dias nos jornais, mas ultrapassam os 100 bilhões de reais (30 bilhões de dólares), onde certamente ainda não foi contabilizada boa parte dos bilhões de reais perdidos pela Petrobrás.
Nos países em desenvolvimento, as transações ilícitas chegam a quase um trilhão de dólares por ano, o que representa 60% do PIB do Brasil, uma das oito maiores economias do mundo.
Esse êxodo de fundos constitui "uma importante fonte de vazamento de recursos internos, que drena as reservas cambiais, reduz a arrecadação de impostos, restringe os investimentos estrangeiros e agrava a pobreza nos países mais pobres", afirma o relatório da Global Financial Integrity.
Em termos globais, nos países da África Subsaariana, metade da população vive com menos de US$ 1,25 por dia. É fácil entender como os montantes mencionados acima estariam bem servindo à humanidade, se aplicados em programas de educação, saúde, meio ambiente, transportes e habitação, dentre outros.
Outra constatação impressionante: o montante perdido nas ações fraudulentas chega a 10 vezes a quantidade de recursos aplicados nos países em desenvolvimento.
Provavelmente, as implicações políticas do bom uso dessas elevadas quantias se traduziriam na diminuição do terrorismo, do tráfico de drogas, na maior estabilidade dos regimes democráticos e na diminuição dos fluxos migratórios.
Em diversos países tem sido frequente a adoção de políticas de tolerância zero e severas punições para as práticas fraudulentas (no Brasil nem sempre é assim), e de princípios e orientações para a conduta profissional, para a melhoria da qualidade dos serviços públicos, para a desburocratização e para a aplicação de legislação moderna ao processo de contratação de serviços. Muitos ainda se preocupam em estabelecer programas de cooperação entre os governos no sentido de identificar as práticas fraudulentas num determinado país que provoquem prejuízos à outros.
Esta lamentável situação impõe que o combate à corrupção seja mais efetivo. Seguramente ele começa na educação, nas escolas e nas universidades, com matérias que permitam a formação de profissionais comprometidos com os princípios éticos que devem nortear as sociedades verdadeiramente democráticas.
A discussão sobre o último tema tem adquirido expressiva importância em decorrência das graves perdas econômicas que acarreta e das frágeis condições de prevenção atualmente verificadas em muitos países da América. Sua importância cresce quando se constata que parcela significativa dos casos de corrupção detectados (fraudes, sonegações de impostos, subornos e propinas) ocorre nas obras públicas, quase sempre nos setores de engenharia civil e infraestrutura. Por isso, a Academia atua em conjunto com o Conselho Mundial de Engenhe
Os dados são impressionantes, pois a evasão de divisas em algumas grandes economias é estarrecedora.
Nos países em desenvolvimento, as transações ilícitas chegam a quase um trilhão de dólares por ano, o que representa 60% do PIB do Brasil, uma das oito maiores economias do mundo.
Esse êxodo de fundos constitui "uma importante fonte de vazamento de recursos internos, que drena as reservas cambiais, reduz a arrecadação de impostos, restringe os investimentos estrangeiros e agrava a pobreza nos países mais pobres", afirma o relatório da Global Financial Integrity.
Em termos globais, nos países da África Subsaariana, metade da população vive com menos de US$ 1,25 por dia. É fácil entender como os montantes mencionados acima estariam bem servindo à humanidade, se aplicados em programas de educação, saúde, meio ambiente, transportes e habitação, dentre outros.
Outra constatação impressionante: o montante perdido nas ações fraudulentas chega a 10 vezes a quantidade de recursos aplicados nos países em desenvolvimento.
Provavelmente, as implicações políticas do bom uso dessas elevadas quantias se traduziriam na diminuição do terrorismo, do tráfico de drogas, na maior estabilidade dos regimes democráticos e na diminuição dos fluxos migratórios.
Em diversos países tem sido frequente a adoção de políticas de tolerância zero e severas punições para as práticas fraudulentas (no Brasil nem sempre é assim), e de princípios e orientações para a conduta profissional, para a melhoria da qualidade dos serviços públicos, para a desburocratização e para a aplicação de legislação moderna ao processo de contratação de serviços. Muitos ainda se preocupam em estabelecer programas de cooperação entre os governos no sentido de identificar as práticas fraudulentas num determinado país que provoquem prejuízos à outros.
Esta lamentável situação impõe que o combate à corrupção seja mais efetivo. Seguramente ele começa na educação, nas escolas e nas universidades, com matérias que permitam a formação de profissionais comprometidos com os princípios éticos que devem nortear as sociedades verdadeiramente democráticas.
A nova classe média ainda não foi para as ruas
Vejamos Golbery do Couto e Silva, o bruxo da abertura política, com o seu “paper” intitulado “Sístoles e Diástoles da Política Brasileira”. Ele ressalta o papel da classe média brazuca como chave das mudanças políticas.
Para Golbery, o Brasil tem um condão único: quando o poder fica mais conservador que o povo, este opta por aberturas. Quando o poder abre demais à esquerda, é fechado por golpes patrocinados pela sociedade civil mas não tão civilizada: o tenentismo de Vargas era uma abertura face à política conservadora do café com leite, retirada à fórceps; Getúlio, por sua vez, encastelou demais e teve de meter um balaço; Jango abriu demais, foi fechado pelo Movimento de 1964; e este, por sua vez, fechou demais e teve de instalar a abertura lenta e gradual. Derrubaram Collor.
É essa a velha classe média que saiu às ruas no 12 de abril passado e neste domingo.
É essa velha classe média que derruba governantes.
Mas a nova classe média ainda confia no PT: vai abandonar a esperança em Dilma quando notar que em 2016 a crise vai piorar.
É um fenômeno mundial e os números são inequívocos: a nova classe média é responsável por mais de um terço de toda a população da África, de três quartos da população da América Latina e de quase 90% da população da China. É a classe que segundo o Banco Mundial tem faturado de 2 a 13 dólares por dia, e que subiu de 277 milhões de representantes da América Latina para 362 milhões entre 1990 e 2005.
Essa nova classe média ainda não foi para as ruas porque ainda acredita que PT vai mantê-la nessa condição. A crise brutal só vai corroer essas pessoas em 2016.
O retrato fiel da nova classe média brasileira, alimentada pelos programas progressistas do PT, sempre foi definido como bonapartismo.
O termo “bonapartismo” é classicamente empregado na obra O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, escrito entre dezembro de 1851 e março de 1852 , e publicado originalmente por Karl Marx na revista Die Revolution.
Marx, chamado derrisoriamente pela sua mulher, Jenny, de The Old Nick ( o velho satanás) escreveu:
Usado por FHC e Maria Victoria Benevides para definir Jânio Quadros, o termo “bonapartista” é uma referência a dois golpes de Estado: o de Napoleão Bonaparte em 1799, que descartou as conquistas republicanas da Revolução Francesa e instaurou um governo ditatorial, e o de seu sobrinho Luís Napoleão em 1851, quando era presidente da República proclamada em 1848.
O bonapartismo ocorre quando a autoridade do líder se articula a um partido de massas que intervém em todas as esferas da sociedade civil: sindicatos, associações patronais, grupos de jovens e de mulheres.
É o mundo sobre o qual o PT entesourou apoio.
Quando essas pessoas se sentirem afetadas por Dilma, vão lhe pedir a cabeça nas ruas. A crise ainda não chegou “venezuelamente” nessa gente.
Por ora, esperam bovinamente que nhonhô Lula vá brandir a sua varinha de condão e magicamente consertar-llhes a vida dessa crise brava…
Para Golbery, o Brasil tem um condão único: quando o poder fica mais conservador que o povo, este opta por aberturas. Quando o poder abre demais à esquerda, é fechado por golpes patrocinados pela sociedade civil mas não tão civilizada: o tenentismo de Vargas era uma abertura face à política conservadora do café com leite, retirada à fórceps; Getúlio, por sua vez, encastelou demais e teve de meter um balaço; Jango abriu demais, foi fechado pelo Movimento de 1964; e este, por sua vez, fechou demais e teve de instalar a abertura lenta e gradual. Derrubaram Collor.
É essa a velha classe média que saiu às ruas no 12 de abril passado e neste domingo.
É essa velha classe média que derruba governantes.
Mas a nova classe média ainda confia no PT: vai abandonar a esperança em Dilma quando notar que em 2016 a crise vai piorar.
É um fenômeno mundial e os números são inequívocos: a nova classe média é responsável por mais de um terço de toda a população da África, de três quartos da população da América Latina e de quase 90% da população da China. É a classe que segundo o Banco Mundial tem faturado de 2 a 13 dólares por dia, e que subiu de 277 milhões de representantes da América Latina para 362 milhões entre 1990 e 2005.
Essa nova classe média ainda não foi para as ruas porque ainda acredita que PT vai mantê-la nessa condição. A crise brutal só vai corroer essas pessoas em 2016.
O retrato fiel da nova classe média brasileira, alimentada pelos programas progressistas do PT, sempre foi definido como bonapartismo.
O termo “bonapartismo” é classicamente empregado na obra O 18 de Brumário de Luís Bonaparte, escrito entre dezembro de 1851 e março de 1852 , e publicado originalmente por Karl Marx na revista Die Revolution.
Marx, chamado derrisoriamente pela sua mulher, Jenny, de The Old Nick ( o velho satanás) escreveu:
“A tradição de todas as gerações mortas pesa sobre o cérebro dos vivos como um pesadelo. E mesmo quando estes parecem ocupados a revolucionar-se, a si e às coisas, mesmo a criar algo de ainda não existente, é precisamente nestas épocas de crise revolucionária que esconjuram temerosamente em seu auxílio os espíritos do passado, tomam emprestados os seus nomes, as suas palavras de ordem de combate, a sua roupagem, para, com este disfarce de velhice venerável e esta linguagem emprestada, representar a nova cena da história universal”.Nosso espírito do passado é o bonapartismo brazuca.
Usado por FHC e Maria Victoria Benevides para definir Jânio Quadros, o termo “bonapartista” é uma referência a dois golpes de Estado: o de Napoleão Bonaparte em 1799, que descartou as conquistas republicanas da Revolução Francesa e instaurou um governo ditatorial, e o de seu sobrinho Luís Napoleão em 1851, quando era presidente da República proclamada em 1848.
O bonapartismo ocorre quando a autoridade do líder se articula a um partido de massas que intervém em todas as esferas da sociedade civil: sindicatos, associações patronais, grupos de jovens e de mulheres.
É o mundo sobre o qual o PT entesourou apoio.
Quando essas pessoas se sentirem afetadas por Dilma, vão lhe pedir a cabeça nas ruas. A crise ainda não chegou “venezuelamente” nessa gente.
Por ora, esperam bovinamente que nhonhô Lula vá brandir a sua varinha de condão e magicamente consertar-llhes a vida dessa crise brava…
A cidadania das ruas está bem viva
Em pleno domingo, o quinto do ano, a população foi às ruas para exercer o direito cidadão de protestar e pedir o impeachment de Dilma. No entanto, como as manifestações não conseguiram satisfazer em números o desejo de muitos, dando até margem para o governo suspirar aliviado, o dia seguinte foi marcado até por crítica à "pouca participação popular" (?).
Edinho Silva, da Comunicação do Planalto, quase que agradeceu o número menor de manifestantes nas ruas como significativo de que "a população não abraçou o pedido de impeachment". Seria uma declaração lamentável de quem se desse ao respeito, mas não é o caso. Cumpre apenas mal e porcamente a função de pau mandado. Pena que pago com dinheiro público para desqualificar um gesto da imensa rejeição à presidente.
Menos pior do que o desclassificado líder do PT na Câmara, Sibá Machado. "O povo não foi para a rua, o Datafolha (apenas 2% dos presentes nos protestoseram negros) mostrou claramente quem foi para a rua. Uma minoria de pele branca". Os petistas têm esse dom de dividir tudo para melhor explorar para si e ter com que alimentar nababescamente suas famílias
Nem o governo pode se dar ao luxo de divulgar tamanhas besteiras, nem outros têm direito de reclamar de menos gente nas ruas, procurar justificativas para a pouca participação. Isso é descaradamente condenar a democracia cidadã das ruas.
Qual o país já conseguiu promover cinco manifestações pacíficas, todas em domingo, na maior civilidade e democraticamente, com números tão expressivos?
Não importa a quantidade, ainda mais quando chega a centenas de milhares, mas o gesto. Estrangeiros ficam de boca aberta de o Brasil conseguir que o povo vá às ruas, em pleno domingo, para exigir a saída da presidente durante todo o ano.
Em lugar algum acontece gesto dessa ordem como os dos domingos de manifestação no Brasil. Mais ainda, sem qualquer iniciativa de partidos, sem bolsa lanche, vale transporte e outros estímulos.
É para colocar qualquer governo de cabelo em pé, porque ao lado dos milhares nas ruas há milhões em redes sociais, participando, aplaudindo, incentivando a participação.
O Brasil mostra que não mais para aos domingos apenas para ver Ayrton Senna correr, mas para fazer a presidente correr do governo, quiçá do país. É motivo para se bater palmas e pedir bis, hoje e sempre.
Edinho Silva, da Comunicação do Planalto, quase que agradeceu o número menor de manifestantes nas ruas como significativo de que "a população não abraçou o pedido de impeachment". Seria uma declaração lamentável de quem se desse ao respeito, mas não é o caso. Cumpre apenas mal e porcamente a função de pau mandado. Pena que pago com dinheiro público para desqualificar um gesto da imensa rejeição à presidente.
Nem o governo pode se dar ao luxo de divulgar tamanhas besteiras, nem outros têm direito de reclamar de menos gente nas ruas, procurar justificativas para a pouca participação. Isso é descaradamente condenar a democracia cidadã das ruas.
Qual o país já conseguiu promover cinco manifestações pacíficas, todas em domingo, na maior civilidade e democraticamente, com números tão expressivos?
Não importa a quantidade, ainda mais quando chega a centenas de milhares, mas o gesto. Estrangeiros ficam de boca aberta de o Brasil conseguir que o povo vá às ruas, em pleno domingo, para exigir a saída da presidente durante todo o ano.
Em lugar algum acontece gesto dessa ordem como os dos domingos de manifestação no Brasil. Mais ainda, sem qualquer iniciativa de partidos, sem bolsa lanche, vale transporte e outros estímulos.
É para colocar qualquer governo de cabelo em pé, porque ao lado dos milhares nas ruas há milhões em redes sociais, participando, aplaudindo, incentivando a participação.
O Brasil mostra que não mais para aos domingos apenas para ver Ayrton Senna correr, mas para fazer a presidente correr do governo, quiçá do país. É motivo para se bater palmas e pedir bis, hoje e sempre.
A maioria ainda é contra
O grito nas ruas, ontem, se restringiu a uma minoria que acredita que mobilização pode derrubar o governo. Talvez tenham razão, talvez não. Mas se engana quem imagina que a redução de manifestantes antipetistas nas ruas significa aprovação à gestão Dilma. As pesquisas indicam o contrário: a maioria, mesmo quieta, repele o governo. Pode não ter saído às ruas por comodismo ou por vergonha de andar a reboque do fiador do impeachment, o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tapado de denúncias de corrupção.
Mesmo calado, esse eleitor acanhado e pouco disposto a fazer passeata será decisivo — no processo do impeachment ou após ele, numa eleição. Nem sempre silêncio significa resignação. É por saber disso que o governo não fez festa.
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