domingo, 1 de março de 2015

'Petrolão vai abalar a consciência do Brasil por anos'


O que está ocorrendo é algo impressionante. Minou-se o campo moral da Petrobras, é uma profunda tristeza. Isso vai abalar a consciência do Brasil durante muito tempo. Como é possível que não se saiba, que saqueiem uma casa como a Petrobras e ninguém saiba nem diga nada. Não é possível. É uma falha moral e do poder presidencial.”

Quanto vai custar recuperar a credibilidade?
Estava acontecendo e estava camuflado, o que nos leva a pensar que sabemos pouco, que só nos deixam saber pedacinhos, partes. É por isso que a imprensa é extraordinária; o Estado mente de forma inconsequente, só deixa que saibamos o que lhe convém.
Nélida Piñon 

Esperando Janot

A estatal brasileira não está ameaçada pelos trustes internacionais nem pelo imperialismo ianque, seus algozes são gente nossa, partidos e prepostos brasileiros que “tascaram” (para usar a linguagem de João Pedro Stédile), um patrimônio nacional que conseguiu sobreviver e prosperar ao longo de 63 anos a despeito das drásticas mudanças de governo.
Esperando Godot é uma vivência pessimista sobre impasses, dolorosas expectativas, desesperança, filha dos horrores da 2ª Guerra Mundial e da pérfida Guerra Fria que a sucedeu.
Esperando Janot pode ser uma aposta no aperfeiçoamento das instituições democráticas. Sobretudo, na nossa capacidade de julgar e punir com isenção.
Alberto Dines

Levy põe PT e oposição no divã

 
Levy não tem compromisso com o projeto de poder de Lula. E, ao que tudo indica, não está disposto ao jogo do vale tudo
Com apenas uma frase - “essa brincadeira da desoneração custa R$ 25 bilhões por ano, não tem criado e nem sequer protegido empregos” –, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, conseguiu fazer o que a oposição nem tentou ousar. Lavrou, de forma inconteste, a incompetência de Dilma Rousseff, e enterrou todos os argumentos que ela e o PT insistem em usar para transferir a outros a responsabilidade dos estragos que fizeram.

Levy tem dito verdades. Algo raro, que não costuma ser tolerado pelo governo.

Mas, ao contrário de qualquer outro auxiliar, ele não toma pito por discordar da presidente. Nem mesmo quando a critica publicamente.

Dilma apenas finge que não é com ela e, devidamente instruída pela propaganda palaciana a manter as cores do discurso de campanha, repete a cantilena de que tudo que faz é em nome dos pobres, em favor do emprego e de “mais crescimento”.

Dane-se se a conta de luz vai ficar três vezes mais alta do que era antes da redução da tarifa que ela inventou em 2013. Se a inflação alcançou 1,33% em fevereiro, 7,36% em 12 meses, quase 1% acima do teto da meta, ou se o crescimento da população desocupada foi de 22,5% no mês passado. Que a indústria tem crescimento negativo e a economia estagnou.

Na fala de Dilma e do PT, todos os males são externos – culpa de FHC ou da mídia. Sem tergiversar, para Levy o problema vem de dentro mesmo. Cordial, chama de “derrapadas” ou de alternativas “grosseiras” o que foi feito no mandato anterior.

Vê-se no governo a bipolaridade cultivada pelo petismo. Diante dos percalços que cria para si, o PT ora se deprime, com o mea-culpa de alguns, ora se excita e chama todos para a batalha nas ruas, como fez o ex Lula ao convocar o “exército do Stédile”.

Ainda que doentia, a lógica bipolar tem funcionado para o PT. Talvez porque, acima de qualquer outra coisa, Lula sempre se beneficiou dela.

Agora não há consenso. Aguentar o neoliberal Levy e defender ajustes que privilegiam o equilíbrio das contas, cortam privilégios e benefícios, é preço alto demais para o petismo. Difícil de defender nas centrais sindicais, nas frentes de batalha. E em nome de quê? De Dilma?

O PT sabe que é preciso salvar o mandato depauperado da presidente. A pupila de Lula não pode atrapalhar a campanha de 2018.

O eldorado da pegadinha do Lula virou pó

O Brasil acreditou na propaganda do PT. Milhares de incautos caíram na pegadinha do ex-presidente Lula. Nove anos depois do anúncio de que Itaboraí seria a terra prometida, escolhida para sediar o Comperj, maior polo petroquímico do país, assistimos estarrecidos ao sonho virar pesadelo.


De polo petroquímico, o Comperj virou refinaria. O que inicialmente deveria terminar em 2013, agora só em 2017. Vieram as greves dos trabalhadores, primeiro sinal de que alguma coisa ia mal. Na sequência, o escândalo do petrolão e a queda do preço do barril de petróleo para menos da metade do que valia há dez anos, ameaçando seriamente inviabilizar o pré-sal e a própria Petrobras.

Não será surpresa se a nossa refinaria virar em breve um posto de gasolina.

Desde que foi feito o anúncio, em 2006, pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o melhor vendedor de ilusões que a história recente já produziu, de que Itaboraí era a terra prometida, escolhida para sediar o empreendimento da Petrobras, a cidade nunca mais foi a mesma.

Até então, éramos um município de pouco mais de 180 mil habitantes, onde as pessoas se cumprimentavam pelo nome e dormiam de janelas abertas. Uma cidade dormitório, mais conhecida por suas laranjas, cerâmica e quebra- molas do que pelo fato de ter abrigado um dos portos mais importantes do Império, o Porto das Caixas. Sim, o IDH era baixo, mas as expectativas também.

A partir daquele dia, o Fusca virou Ferrari. A cidade acelerou de zero para 200 km. A população cresceu rapidamente, com a chegada de trabalhadores e suas famílias, pressionando por serviços públicos que já não eram lá um modelo de eficiência. Juntos, vieram a inflação e a especulação imobiliária que deixaram os aluguéis cobrados em Itaboraí em meados de 2012 comparáveis aos do Leblon, Zona Sul do Rio.

Os moradores mais antigos se assustaram com tamanha confusão e com tantas caras novas que chegaram à cidade; já os mais jovens se encheram de esperança. Era mesmo excitante viver numa cidade tão próspera que assistia à chegada de hotéis de grandes redes, centros comerciais, prédios de luxo e shopping centers, entre outras novidades.

Hoje, a realidade é outra. O cenário é de desolação: os trabalhadores que vieram atrás do Eldorado agora estão desempregados, e vagam sem rumo pelas ruas da cidade sem poder retornar para casa; os aluguéis reduzem e a violência grassa na mesma velocidade em que a economia despenca. Recentemente, uma grande rede hoteleira anunciou a suspensão da construção da segunda unidade no município. Há investidores que sequer vieram buscar as chaves dos imóveis que compraram.

Os cofres públicos sofrem o impacto. A arrecadação de ISS, que já foi de R$ 30 milhões/mês, está em R$ 18 milhões e deverá cair em breve para menos da metade. Como atender à demanda por serviços públicos de uma população que cresceu, segundo o IBGE, mais de 20% em tão pouco tempo? A matemática não fecha. O Brasil acreditou na propaganda do PT. Milhares de incautos caíram na pegadinha do ex-presidente Lula. Agora é preciso responder: quem arca com tamanho prejuízo?

Mãos dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.
Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros.
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considero a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.

Não serei o cantor de uma mulher, de uma história,
não direi os suspiros ao anoitecer, a paisagem vista da janela,
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida,
não fugirei para as ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens presentes,
a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade

Apenas humor

O esforço do PT para liquidar o socialismo

Já houve um tempo em que se julgava que o PT fosse socialista, que seu programa realmente objetivasse a justiça social, a melhoria da qualidade de vida e a busca do oferecimento de oportunidades iguais aos jovens. Quando chegou ao Poder, porém, essa imagem socialista acabou se diluindo e o Partido dos Trabalhadores se transformou num representante dele próprio, na busca desenfreada de seus dirigentes pelo enriquecimento ilícito.

A justificativa para mergulhar na corrupção era de que o PT precisava de um forte esquema de sustentação financeira para conseguir continuar no Poder e acabar com a exploração dos trabalhadores brasileiros. Foi assim que surgiu a criminosa arrecadação de recursos públicos por via da corrupção, inicialmente comprovada pelo Mensalão, agora pelo Petrolão e mais tarde pelos esquemas a ser desbaratados nos Fundos de Pensão, na Eletrobrás e outras estatais, no BNDES e no chamado Sistema S, integrado por Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial (Senai); Serviço Social do Comércio (Sesc); Serviço Social da Indústria (Sesi); e Serviço Nacional de Aprendizagem do Comércio (Senac), entre outras instituições.

O Sistema S faz a festa de petistas, como o sindicalista Jair Meneguelli, que recebe mais de R$ 60 mil mensais no Sesi, onde deu guarita e belo salário a uma das noras de Lula, Marlene Araújo Lula da Silva, e também a Márcia Regina Cunha, mulher do mensaleiro João Paulo Cunha, que ganha R$ 25 mensais. E tanto Márcia como Marlene não costumam comparecer aos supostos locais de trabalho: uma em São Bernardo; a outra, em Brasília.

Julgava-se que o PT faria uma revolução social no Brasil, impondo um modelo político humano e despojado, como os exercidos por Nelson Mandela na África do Sul e por Pepe Mujica no Uruguai. Mas foi apenas um sonho. Está mais do que demonstrado que não há socialismo no PT, cuja principal ideologia tem sido o alpinismo social, movido por uma corrupção desenfreada, do tipo ampla, geral e irrestrita, como se dizia na época da anistia.


Lula, Dirceu, Palocci, Meneguelli, Genoino, Delubio, Vaccari e praticamente todos os expoentes petistas hoje são novos ricos e se comportam como tal, com poucas exceções, como o deputado mineiro Nilmário Miranda e outros raros idealistas, que ainda não debandaram, procuram se manter íntegros e, por isso mesmo, não mais ocupam cargos de destaque no partido.

Muito falam que o socialismo morreu, mas é um engano. O socialismo evoluiu muito, passou a conviver com o capitalismo. Hoje, o socialismo democrático está cada vez mais vivo e mostra sua absoluta viabilidade como modelo político nos países nórdicos, que já conseguiram chegar a índices satisfatórios de justiça social, qualidade de vida e oportunidades de ascensão para as camadas menos privilegiadas. Esta é uma realidade que ninguém pode contestar.

No Brasil, o mínimo que se esperava do PT seria o básico – uma educação pública que possibilitasse a formação adequada às novas gerações, uma saúde pública que pudesse garantir o direito à vida e uma segurança pública que assegurasse o direito de ir e vir.

Na verdade, o desenvolvimento do país necessita apenas do fortalecimento deste tripé que representa as bases do socialismo moderno – educação, saúde e segurança. Apenas isso. O capitalismo não precisa ser abolido. Pelo contrário, é fundamental para o fortalecimento da economia no socialismo democrático.

Quando houver esta base sólida de educação, saúde e segurança, tudo se resolverá. Mas o PT não se interessa mais por isso. Não tem projeto político, nunca teve programa de governo e hoje abriga hoje apenas projetos pessoais e familiares.

Ao invés de lutar pela evolução da saúde pública, Lula prefere apoiar o empresário José Seripieri Junior, dono da Qualicorp, que controla os planos de saúde no Brasil. Foi na mansão de Seripieri em Angra dos Reis que a família de novos ricos Lula da Silva passou os dois últimos réveillons, não é preciso dizer mais nada.

O PT desprezou o socialismo democrático, transformou-se num pastiche de si mesmo, um partido sem honra e sem destino. Está caminhando para ter o fim que merece. Mas o socialismo democrático não morrerá por causa dos erros do PT. Como dizem os árabes, “mactub” (assim está escrito).

Carlos Newton

O corte mágico de Dilma


Pra valer, o governo até agora só conseguiu cortar os quilinhos a mais da presidente, o bolso dos trabalhadores, a bolsa dos estudantes, a educação e os sonhos do Brasil Melhor. Para compensar o prejuízo, aumenta os impostos e prenuncia a criação de outros ou a ressurreição de velhos.

Corte na multidão do comissariado nem pensar, pois deles deve depender o futuro do país ou, quiçá, é um gesto social sustentar cambada de vagabundos.

Na mágica contabilidade do Congresso, com o mesmo orçamento, se aumenta vencimentos de parlamentares, dá viagem gratuita às(os) acompanhantes dos mesmos, se fala em novas construções, patati-patatá. Nunca se viu sair tanto dinheiro de uma mesma quantia. É a magia que se consegue eliminando umas coisinhas. Mas que coisinhas?

Os governos estaduais e municipais, que saíram propalando crise e anunciando cortes, já calaram a boca. Se arrumaram no boleto do "são dois pra lá e dois pra cá". Acabaram com secretarias, deram-lhe outro nome ou fizeram a dança da cadeira. Quem sai daqui vai pra lá.

A DJ Dilma, em sua louca dança para o país entrar no regime, faz a população se agitar em ritmo louco na dieta do impacto. Do Planalto, em seu vestido de burro quando foge, não quer saber de parar para pensar que a velocidade da música cansa os dançarinos, ainda mais que são poucos e já estão quase nus e famintos. Essa dança macabra pode acabar mal apesar de que quem tem garantia em paraíso fiscal não se importar que os outros dancem por eles.