domingo, 12 de julho de 2015

O plano oculto de Lula para voltar ao poder

Nas últimas manifestações populares brasileiras, um humorista desenhou Lula escondido no meio do povo, gritando “Fora Lula!”. Uma charge simbólica e emblemática do que Lula está vivendo desde suas críticas inesperadas a Dilma e ao seu partido, o PT, que ele fustigou tão enfaticamente quanto poderiam fazê-lo os indignados da sociedade.

Por essa razão, é grande a curiosidade em saber se Lula prepara alguma nova estratégia, já que, como diz no jornal O Globo o catedrático Eugenio Giglio, especialista em marketing político, “ninguém pode acusá-lo de ingenuidade”.

Os meios de comunicação estão convidando analistas políticos a tentar desvendar um possível plano oculto de Lula, o político com a maior capacidade de se metamorfosear e tirar proveito dos tropeços e triunfos alheios, além de seus próprios.

Para entender a possível estratégia secreta de Lula é preciso destacar que, como chamou à atenção o senador Cristovam Buarque, suas duras críticas ao Governo e ao PT não encerraram um mea culpadele. A culpa seria de quem traiu suas ideias e não seguiu seus conselhos.

Quando lhe foi útil, Lula soube engolir a oposição, que ficou muda e paralisada enquanto ele governou como rei seguro de sua força popular e seu prestígio internacional.

Hoje, porém, está nascendo uma oposição nova que não é a oposição institucional dos partidos, mas a da sociedade e das ruas. É uma oposição que, desta vez, ameaça a força política de Lula e do PT e que pode criar problemas para os sonhos de Lula de voltar ao poder em 2018.

O que fazer? Há quem assegure que a manobra mais astuta de Lula em toda sua trajetória política pode ser a de voltar à oposição e até de colocar-se à frente desse novo protesto social para metabolizá-lo, apresentando-se como seu líder. Com isso ele voltaria às suas origens de opositor implacável, papel que exerceu durante a maior parte de sua vida.

Lula possui um faro especial para detectar os humores da rua. Ele sabe que está desgastado mas não morto; continua a acreditar que essa nova oposição, que deseja e reivindica um país menos corrupto e corroído pela crise econômica, ainda não tem um líder indiscutível com força suficiente para hastear uma nova bandeira que desaloje a sua.

Que solução melhor que apresentar-se como o novo Moisés, disposto a arrancar seu povo das garras da crise para conduzi-lo a um novo período de bonança? Com suas críticas a Dilma e ao Governo dela e as flechas lançadas contra seu próprio partido, desse modo Lula se uniria à nova oposição que critica os políticos tradicionais e corruptos.

Desta vez Lula não precisaria combater a oposição, já que teria decidido metamorfosear-se em opositor. Assim, é possível pensar que em 2018 os brasileiros insatisfeitos, aqueles que participaram das manifestações contra Dilma e o PT, dificilmente encontrarão outro líder melhor que esse que começou a gritar como eles: “Fora Dilma!” e “Fora PT!”.


Lula continua a acreditar que essa nova oposição, que deseja e reivindica um país menos corrupto e corroído pela crise econômica, ainda não tem um líder indiscutível

Tudo isso é o que se comenta neste momento entre os profetas que tentam interpretar o novo Lula insatisfeito e irritado com os seus e que adverte que está começando a perder sua força original, como o Sansão da Bíblia. Claro que ninguém sabe ainda o que a opinião pública contestatária, que já convocou uma nova manifestação nacional de protesto para o dia 16 de agosto, poderá pensar dessa possível estratégia maquiavélica de Lula.

Sem contar com a caixinha de surpresas do enigmático e severo juiz Moro, em cujas teias Lula já deixou entrever que pode acabar enredado.

Em meio à glória que o rodeava, um dia Lula chegou a comparar-se a Jesus, defensor dos pobres. Mas há nos Evangelhos uma cena significativa que tem relação com isso. Vendo que alguns começavam a abandoná-lo, Jesus perguntou aos apóstolos, que eram seu proletariado ambulante, em sua maioria analfabetos: “Quereis vós também retirar-vos?”. O fogoso Pedro se adiantou e respondeu por todos: “Não, a quem iríamos nós? Tu tens as palavras da vida eterna”. (João, 6, 67)

Entretanto, na hora em que o Mestre foi condenado à cruz, quando mais precisava de seu apoio, os apóstolos fugiram, mortos de medo. Pedro chegou a dizer: “Eu nem conheço tal homem”. (Mateus 26,72)

A história, até a religiosa e literária, pode às vezes ser mestra e profeta.

Juan Arias

A lenda da classe média


O Brasil tornou-se um país de classe média, certo? Certo se você acredita na propaganda oficial e em algumas medições privadas que corroboram essa visão.

Errado, no entanto, segundo trabalho comparativo sobre a classe média mundial divulgado na quarta-feira (8) pelo Pew Research Center, referência global.

O estudo traz uma ótima notícia, em termos mundiais: 700 milhões de pessoas saíram da pobreza entre 2001 e 2011 (último ano para o qual há dados comparáveis).

Equivale a três "brasis" e meio deixando a pobreza (definida, como é da praxe internacional, como renda de até US$ 2 por dia ou R$ 6,44).

No Brasil também houve notável progresso, mas a maioria da população ainda é ou pobre ou de baixa renda (US$ 2 a US$ 10).

São 50,9% nesse patamar triste, divididos entre 7,3% de pobres e 43,6% de baixa renda.

Na classe média (US$ 10 a US$ 20), estavam, em 2011, apenas 27,8% dos brasileiros, de todo modo um auspicioso crescimento de 10,3 pontos percentuais em relação a 2001.

Como os anos mais recentes, não cobertos pelo estudo, foram de crescimento econômico relativamente reduzido ou quase zero, como em 2014, parece razoável deduzir que a classe média não deve ter engrossado muito desde 2011.

Houve, sim, alentador avanço, já que, na primeira década do novo século, caiu o número de pobres (8,7 pontos percentuais) e o de pessoas de baixa renda (8,5 pontos).

Mas são números que podem confortar apenas os governantes de turno, sejam quais forem, e seus áulicos.

Para quem quer mais, comparar os números do Brasil com o de outros países só traz tristeza.

Primeira comparação: com a Espanha, país desenvolvido que talvez seja mais compatível com o Brasil, seja pela história recente (longa ditadura seguida de democracia estável), seja pelo tamanho da economia.

Na Espanha, há quase tantas pessoas de renda média alta (49,5%) quanto os pobres e de baixa renda no Brasil somados (50,9%).

No Brasil, os de renda média alta (US$ 20 a US$ 50) são apenas 15,9% e os efetivamente ricos (mais de US$ 50) não passam de 5,4%.

Na Espanha, os ricos são 27,3%, cinco vezes mais que no Brasil.

Mesmo na comparação com a hoje depreciada Grécia, o Brasil faz feio: os pobres e de renda baixa na Grécia não passam, somados, de 5% (atenção, os dados são de 2011, quando apenas começava o "austericídio" que devastou o país).
No Brasil, repito, dez vezes mais.

Se se quiser comparar com a vizinhança, escolha-se o Chile, bem menor e menos dotado de recursos naturais.

Não obstante, sua classe média (33,8% da população) supera em cinco pontos percentuais a do Brasil. A soma de renda média e média alta dá 55,8%, bem mais que os 43,7% do Brasil.

Todos os cálculos levam em conta a paridade do poder de compra, ou seja, a adaptação do dólar ao que ele pode comprar em cada país.

Tudo somado, tem-se que a crise brasileira não vai incidir em um país de classe média, portanto com certa gordura para queimar, mas em um país pobre, muito pobre.

Sem controle, o Bolsa Família virou festival de fraudes

O governo enfim está reconhecendo o desvirtuamento do programa Bolsa Família, que se tornou a maior arma eleitoral dos candidatos do PT e agora está encontrando cada vez mais fraudes, inclusive políticos com mandato. Em 2013, pela primeira vez, o Ministério do Desenvolvimento Social resolveu investigar distorções no programa e os resultados da apuração foram surpreendentes.

Um total de 2.168 políticos eleitos no ano passado e que assumiram cargos de prefeito e vereador foram flagrados como beneficiários do programa Bolsa Família e o governo teve de bloquear os benefícios de todos eles. Havia até vereador de Fortaleza envolvido, vejam a que ponto chegamos.

Agora, outra auditoria levanta novas fraudes, envolvendo os próprios servidores públicos responsáveis pela gestão do programa. A suspeita é de que 16.915 funcionários e 183 gestores estejam recebendo o dinheiro de forma irregular. O governo federal determinou aos municípios que investiguem os casos.

É claro que funcionários públicos podem ser beneficiários do programa, desde que se encaixem nos pré-requisitos: a família precisa ter renda mensal inferior a 154 reais por pessoa. Mas a falta de controle levou ao festival de fraudes.

Em nota, o Ministério informou que os pagamentos desses funcionários foram bloqueados na folha de junho por “precaução”, depois que os processos de controle identificaram a presença dos funcionários públicos entre os beneficiários.

Atualmente, 13,7 milhões de famílias no país recebem Bolsa Família, um programa realmente necessário para apoiar as camadas mais necessitadas. É uma pena que tenha se tornado uma arma eleitoral, pois é mantendo esse exército que os petistas têm conseguido se eternizar no poder, pois a cada eleição avisam que o programa será extinto pelos adversários.

Dilma, a insuperável

Aécio Neves deve estar exultante. Desde outubro do ano passado, na quase virada entre o primeiro e o segundo turnos das eleições, ele não surfava nem mesmo perto do topo da onda. Volta agora sob o patrocínio de Dilma Rousseff, que, relegada ao volume morto, bate boca e dá trela ao rival, abrindo generosos espaços para ser criticada por ele. Em dobro, triplo ou mais.

Dilma joga contra ela. 

A tragédia.....

Talvez pela mania de autossuficiência, de tudo impor à sua maneira. Talvez por falta de tato e impaciência. Provavelmente por soberba e teimosia, ou tudo isso junto, Dilma parece não compreender o quanto ela perde cada vez que retruca a fala do senador mineiro, recém-reeleito presidente do PSDB, maior partido de oposição.

Pior: nada ganha. Até os poucos fiéis que ainda lhe restam divergem da eficácia da estratégia de ela própria vir a público protestar quanto às possibilidades de seu impedimento. No ímpeto de se mostrar forte, expõe sua fragilidade. Atenta contra si.

Embrenha-se em um espinheiro no qual quanto mais ela se mexe mais se machuca, e escancara o fato de não conseguir um aliado sequer para defendê-la, para debater com Aécio de igual para igual.

As acusações de golpismo, ainda que despropositadas, soariam menos impróprias se viessem do líder do governo no Senado ou do presidente do PT. De igual para igual.

Poupariam Dilma do vexame do “daqui não saio daqui ninguém me tira” que, como criança birrenta, ela transformou em “não vou, não vou, não caio, não caio”, na fatídica entrevista à Folha de S. Paulo. Como se tivesse qualquer possibilidade de interferir nas normas constitucionais caso algum processo venha a ser aberto contra ela.

Dilma abusa do direito de errar. Nos Estados Unidos, acuada pelas novas diligências da Lava-Jato, caiu na esparrela de comparar a delação prevista em lei que ela própria sancionou a coerção tirana exercida pelo governo militar. A espantosa declaração ofuscou os resultados da viagem.

E insiste no erro: de Ufá, na Rússia, onde se reuniu com os parceiros dos BRICS, tinha tudo para mudar a pauta. Mas preferiu, para delírio da oposição em geral e de Aécio em particular, rebater o senador. Novamente.

Erráticos na forma de exercer oposição – chegaram ao absurdo de votar contra temas que já foram pilares de sua agenda, como o fator previdenciário e a reeleição -, os tucanos não têm conseguido capitalizar a aguda insatisfação popular com Dilma e o PT. Só tinham perdido terreno desde as eleições. Mesmo com a presidente sangrando.

Com o empurrão de Dilma, voltam a ter voz.

Mas ainda estão longe da liderança no ranking dos que mais perturbam a presidente. Ficam muito atrás do PMDB de Eduardo Cunha e Renan Calheiros. Perdem para Lula e para a própria Dilma. Esta, sim, insuperável em derrubar a si mesma.

Maricá ressuscita as escolas de lata do PT



Mais de R$ 68 mil reais dos cofres públicos de Maricá têm sido gastos mensalmente em aluguéis de "contêineres", utilizados como salas de aula em escolas situadas no distrito de Itaipuaçu. A denúncia foi veiculada em rede nacional no programa CQC, da Bandeirantes.

De acordo com a reportagem, o dinheiro gasto pela prefeitura poderia ser usado para construir novas salas de aula ou reformar várias escolas como foi prometido pelo governo municipal. Seriam.construídas salas de alvenaria e que tais "módulos", utilizados "provisoriamente por um prazo de 120 dias". Porém, o prazo já está quase expirando e nenhuma obra foi iniciada. Conforme declaração de uma arquiteta da secretaria de Educação, as obras ficarão prontas no início do ano que vem. 

O Papa e nós


O papa Francisco continua a fazer alertas e duras críticas ao capitalismo selvagem. Em sua passagem, nesta quinta-feira, por Santa Cruz de La Sierra, na Bolívia, referiu-se ao capitalismo como fonte de “exclusão social e destruição da natureza”, pedindo mudanças estruturais: “os trabalhadores, os camponeses, a Mãe Terra não aguentam”. Antes, em sua Encíclica Laudato Si, cuja capa traz a imagem de São Francisco de Assis, prega uma “revolução corajosa” para salvar o planeta.

Afinal de contas, o que defende o papa Francisco?

Para começo de conversa, é inimaginável pensar no Chefe da Igreja Católica defendendo o marxismo-leninismo como alguns hermeneutas chegam a sugerir. Nada disso. Ele já chegou a dizer que “Marx não inventou nada” e que “os comunistas roubaram nossa bandeira” (Igreja Católica)

O que está no foco das acusações do cardeal Bergoglio são os desvios e disfunções que se operam no bojo do sistema capitalista, como a especulação financeira, que desvia a função do capital na produção de bens a serviço da coletividade, nova forma de colonialismo.

Ele é contra a opulência, a riqueza a ambição dos poderosos, a promiscuidade com os mais fortes e ricos. Trata-se de um humanista. Que conhece profundamente a realidade latino-americana. Em sua trajetória, conviveu com os mais carentes.

Se fossemos creditar ao papa Francisco um escopo ideológico, este seria próximo aos valores de uma sociedade livre, abrigo dos direitos individuais e sociais, e sob a bandeira da igualdade dos cidadãos, todos tendo acesso aos mecanismos da justiça.

Se a socialdemocracia respira por esses poros, o papa seria, então, um socialdemocrata. Atente-se: com uma visão profundamente religiosa e humana.

Não seria adepto de uma “revolução socialista”, nos termos do socialismo utópico, nem defensor do “neocapitalismo opressor”.

Seria o pregador por excelência de princípios doutrinários extraídos tanto do socialismo como do liberalismo, adaptados às características de cada Nação.

Combinaria com o que pensam nossos atores políticos, partidos e representantes? Vejamos.

Na década de 80, Darcy Ribeiro, senador e antropólogo, chegou a pintar a fusão de princípios, mostrando a Leonel Brizola um “socialismo moreno” como doutrina para o Brasil. O achado linguístico foi esquecido.

Todos os nossos presidentes querem tocar nessa orquestra. Fernando Henrique dizia que o “autoritarismo burocrático com poder econômico-financeiro mina o espírito da democracia constitucional”. Era a acusação que jogava sobre o governo Lula.

Os petistas e tucanos exibem, porém, traços de concordância em alguns aspectos. Suas gramáticas, expurgadas de exageros, descrevem abordagens semelhantes na forma de conceber o papel do Estado e a administração do governo. São parentes na concepção da socialdemocracia.

Em 1989, o tucanato definiu no documento “Os desafios do Brasil e o PSDB” o papel do Estado na condução de programas econômicos e sociais.

Em seu início, em 80, o PT considerou o sistema socialdemocrata inepto para vencer o “capitalismo imperialista”. Mesmo após a queda do Muro de Berlim, cultivou a velha utopia, até aceitar, não sem resistências internas, a realidade imposta por novos paradigmas.


O mundo deu uma guinada ideológica, integrando escopos do reformismo democrático, do realismo econômico e dos avanços do capitalismo. E aí o PT produziu, em junho de 2002, a “Carta ao Povo Brasileiro”, peça chave para a vitória de Lula, pavimentando, assim, sua entrada no território da socialdemocracia.

O documento foi decisivo no processo de descarte de dogmas que não resistiram aos ventos da modernidade. O socialismo utópico evaporou-se nos ares da abstração.

As ideologias cederam lugar aos ismos da modernidade: pragmatismo, capitalismo (mesmo sob um Estado controlador) e liberalismo social.

Os modelos de economias assentadas na solidariedade cedem lugar a programas reformistas, voltados para atender a demandas pontuais e urgentes.

As autonomias nacionais passam a se impregnar de ares globaliza­dos.

O crescimento desordenado e a qualquer preço é balizado por metas de inflação.

Os programas de privatização, tão combatidos pelo PT, hoje fazem parte de suas bandeiras, agora sob a designação de “concessões”.

O nacionalismo, bandeira recorrente na América Latina, abriu espaço para ingresso de capitais internacionais. Gastos a fundo perdido começam a ser regrados por normas de responsabilidade fiscal.

O que significam tais reconfigurações?

Um modelo de gestão responsável e eficaz, compro­metido com crescimento, preservação da estabilidade macroeconô­mica, atendimento às demandas sociais, enfim, administração equi­librada das relações entre Estado, mercado (capital) e sociedade.

Esse é o eixo que o sistema socialdemocrata tenta aprofundar em seu berço, o continente europeu, sendo visto com sim­patia pela maioria dos atores políticos do mundo hodierno.

Mas a modelagem continua a corroer alguns eixos, particularmente o peso do capital financeiro e as carências sociais. Este é o alerta do Papa Francisco. Portanto, senhores políticos, atentem para as palavras, cheias de bom senso, do modesto jesuíta argentino.

O líder sem culpa

elvis
Se tenho com frequência comentado aqui, nesta coluna, os problemas que envolvem Lula, Dilma e o PT, é porque esse problemas, por envolverem o governo e a situação do maior partido político do país, dizem respeito a nosso presente e ao nosso futuro.

Não se trata, portanto, de meramente criticar os atuais detentores do poder político do país. A verdade é que algo de muito importante está acontecendo, e que sem dúvida alguma preocupa Lula, como o líder desse partido e responsável por seu futuro.

Essa é razão por que, em recentes ocasiões, ele falou da necessidade de renovação dos quadros dirigentes do PT e da pregação de novas utopias que -segundo ele- caracterizaram o surgimento e o crescimento do Partido dos Trabalhadores.

Não resta dúvida de que o PT, ao ser fundado em 1980, prometia uma mudança radical na vida política brasileira, que ainda estava submetida à ditadura militar. Mas não só isso; no seu manifesto de fundação, soavam alusões ao manifesto comunista de 1848, o que indicava a visão ideológica dos seus fundadores, a maioria deles admiradora da revolução cubana.

Aconteceu que, não muito depois, o sistema soviético desabou, tornando praticamente insensato acreditar numa cubanização do Brasil.

De fato, o fim da utopia marxista levou à desativação de quase todos os partidos comunistas no mundo inteiro. O PT, a exemplo de outros partidos latino-americanos, tomou o caminho do populismo, como já observei nesta coluna. Não por acaso, Lula mudou seu discurso, abandonou a postura de feroz agitador para tornar-se o Lulinha, paz e amor. De suposto líder da revolução operária, passou a ser o defensor dos pobres contra os ricos, enfim, o presidente do Bolsa Família.

Como se não bastasse, passou a comprar deputados de sua base parlamentar, a fim de assegurar-se de seu apoio sem ter de ceder-lhes ministérios e cargos importantes das estatais. Isso é o que se soube com o escândalo do mensalão, mas o pior estava por vir e se revelou graças à Operação Lava Jato: o assalto aos cofres da Petrobras.

Por outro lado, tendo de deixar a presidência ao fim do segundo mandato, inventou para suceder-lhe a figura de Dilma Rousseff, que nunca havia sido eleita nem vereadora, e a elegeu presidente da República, certo de que, ao fim de quatro anos, seria eleito para o cargo.

Só que Dilma, que ama o poder acima de tudo, não lhe deu essa chance: candidatou-se de novo e foi reeleita. Para consegui-lo, gastou tanto dinheiro durante seu primeiro mandato que, ao chegar ao fim dele, o país estava à beira da falência.

Era o que diziam os candidatos de oposição, enquanto ela os acusava de serem mentirosos, garantindo que a economia do país ia às mil maravilhas. Mas, após assumir o novo mandato, teve que reconhecer a verdade do que diziam seus adversários.

E estamos assim, agora, cortando as verbas de todos os ministérios, aumentando o custo de vida e nas mãos de uma inflação crescente. Quase 70% dos eleitores a avaliam como ruim ou péssima. É vaiada aonde chega.

E a perspectiva é o agravamento da crise econômica.

Essa é a razão por que Lula agora diz verdades que sempre negou.

E mais, que ele, Dilma e o PT perderam o prestígio na opinião pública. Para as eleições de 2018, o PT só tem a ele como possível candidato à presidência, mas, na última pesquisa, perdia para Aécio Neves.

E a crise ainda não chegou a seu ápice. Novos escândalos se anunciam e o próprio Lula, depois da prisão dos chefões das empreiteiras, teme a chegada da sua vez. É ele quem o diz.

E aí se entende por que apela para que o PT se recupere e alardeie novas utopias. Mas quais? Voltar ao PT ideológico de 1980? Como, se foi o Lula mesmo que trocou a utopia pelo Bolsa Família? Talvez seja a utopia do Instituto Lula, que diz lutar contra a fome -não só no Brasil, mas no mundo! Como? Fazendo palestra em troca de muitos milhares de dólares.

Nos seus últimos pronunciamentos, atribuiu a culpa do desastre petista à inoperância do partido e à teimosia de Dilma, que não ouve o que ele diz. E ele, Lula, tem alguma culpa nesse desastre? Não, não tem culpa nenhuma, embora Dilma tenha sido um invenção sua.

A grande mentira do n°1

Os arranjos para aqueles almoços dominicais continuam frescos na minha memória - papai nos levava até um lago particular afastado de casa, onde basicamente o esquema consistia em pescar algumas trutas e na saída pagar pelas ditas cujas. Eu e meu irmão nos divertíamos bastante, qualquer coisa seria melhor do que comprar peixe no supermercado, porém, e deixando a nostalgia de lado, me questiono sobre nossas noções de entretenimento à época. Afinal, que graça tem pescar se o sucesso é garantido? Pois para muitos a idéia é justamente essa.
Não surpreende a mais ninguém o fato do nosso ambiente político favorecer a eleição e eternização de todo tipo de escroque. Tampouco a infinidade de legendas e o voto obrigatório, fundamentais para o bom funcionamento da engrenagem. Assim, não só a cada dois anos somos obrigados a tomar uma decisão que tem tudo para ser equivocada, mas nos deixamos enredar de tal maneira que passamos a defender este ou aquele candidato, mesmo partidos políticos, como se fossem times de futebol. Dito isso, o cenário conseguiu piorar bastante, graças à contribuição decisiva de uma mente tão perversa que deixaria rubro o próprio Richelieu.

Seria pretensão apontar a maior mentira parida e instrumentalizada por Lula, são inúmeras, mas indicar a lorota fundamental, aquela decisiva na horripilante escalada ao poder deste que, insisto, é o menor dos brasileiros, não requer muito esforço. Falo aqui do “nós contra eles”. E de sua customização.

Percebam, definir uma roupagem específica nunca teve importância, muito pelo contrário, o discurso sempre foi dirigido, como determina qualquer manual de marketing elementar. Digo, se o momento pedisse um discurso voltado para o militante, dá-lhe luta de classes fuça adentro do beócio. Plateia de baixa renda? Ódio racial na ponta da língua, como não? Já para o pessoal universitário-classe média ou, melhor ainda, classe alta com a consciência pesada embebida de ranço religioso, bastava uma pílula de populismo chinfrim para garantir o objetivo.

O massacre retórico foi tão grande que até os detratores do PT aceitaram-no como verdadeiro. Ou existe maior prova disso que cobrar do PSDB uma postura diferente da que sempre teve, de direita, quando no fundo existem mais semelhanças do que diferenças entre suas visões e aquelas petistas?

Tudo começou com a necessidade de fabricar inimigos. Desde o início o Luiz Inácio entendeu que diferenciar-se era fundamental, principalmente quando os discursos mais populares passaram a ser tão próximos. Claro, a natural falta de escrúpulos ajudou, assim como de adversários que se negassem a servir de trampolim.

O Brasil é um grande pesque-pague que durante mais de uma década foi fragmentado com a nossa complacência. A boa notícia é que, graças a incompetência e desonestidade dos próprios gatunos, a mentira perdeu seu viço, hoje em dia apenas os fanáticos levam a sério o discurso de castas esquerdóide.

É, Brahma, ao que parece seu nariz finalmente cresceu. Ufa!

A parabólica do governo brasileiro ainda está desligada

Em meio à crise interna das oportunidades perdidas e ao “ajuste fiscal” que sacrifica os trabalhadores, prevalecem a vaidade, a pirraça e a perda da noção do ridículo. Ao comparar os atuais delatores de investigações aos presos da ditadura, que eram forçados a confessar e a acusar mediante tortura, Dilma brinca com temas sérios para que seu discurso alucinado seja interpretado de maneira lúdica, assim como fora feito com a “saudação à mandioca”, tão destacada pelo ministro Marco Aurélio e por outras figuras públicas mais sarcásticas.

Nesse contexto, em meio às gafes sem noção e ao humor típico de hienas, creio que a governanta e sua trupe deveriam voltar a frequentar o catecismo, não pela desapontadora CNBB, mas pelas lições de popularidade, carisma e grandeza do atual líder da Igreja Católica, bem como pelo papado pop de João Paulo Segundo, diferentemente contraditório, mas útil no embate geopolítico e dos interesses econômicos e eclesiásticos de sua época.

Portanto, aproveitando a visita do líder católico à América Latina, do lado de cá do Equador (recheado de pecados, de massacres, mas também de lutas, de resistência, de ilusões e de usurpações), algumas lições das inesquecíveis e sábias parábolas jesuíticas merecem ser rememoradas, sobretudo retomando-se o sonho educacional e universitário de promoção do conhecimento e da liberdade, cultivado por alguns missionários de nossa história, que teriam mudado a trajetória de nosso continente se não fossem covardemente perseguidos.

Observando os erros, acertos, sacrifícios e desesperos da Grécia, devem lembrar da “parábola da dracma perdida”, num caminho sem visibilidade, em meio aos atropelos dos arrochos atrasados no precipício ao término de um aclive. Sem dúvida, um grito a ser ouvido e interpretado, caso a parabólica dos governantes brasileiros volte a funcionar, conferindo-lhes um mínimo de bom senso e de coerência.

A parábola do filho pródigo também precisa ser compreendida no governo brasileiro, que gastou toda a oportunidade da alta das commodities engordando as contas dos amigos e iludindo os contribuintes-eleitores-consumidores com propagandas abusivamente enganosas.

Como principal parábola a ser aprendida, deve ser destacado que nos falta, via banco de fomento, a parábola do semeador. Eis o principal pecado que origina a tragédia que vivemos nos setores mais carentes. A Bíblia ensina que é preciso semear em terra boa, sem atirar pérolas aos porcos, além de investir bem os talentos, para ganhar produtividade sustentável e competitividade, ao invés de exibir pedaladas que não nos conduzem a parte alguma.

O golpe é só uma fantasia


O golpe contra a presidente Dilma Rousseff não passa de uma ficção. Por que então tanta especulação sobre “o golpe”? A alguém deve interessar esse blá-blá-blá sobre a ameaça de um golpe iminente, ali, ao dobrar uma esquina de nossa História. “O golpe” derrubará Dilma numa saidinha de banco – o BNDES talvez?

“Eu não vou cair. Eu não vou, eu não vou”, disse Dilma ao jornal Folha de S.Paulo

. “As pessoas caem quando estão dispostas a cair. Não tem base para eu cair. E venha tentar, venha tentar.” A presidente agora deu para repetir o que fala, em refrões. É quase um rap. O rap da Dilminha. Nisso, ela está certa. O rap é popular e, se até Lula diz que a presidente está “no volume morto”, ela precisa aumentar o som.

Não é a primeira vez que Dilma se repete. Em setembro de 2010, ao se opor a um plebiscito sobre legalização do aborto, disse: “Não acho que quem ganhar ou quem perder, nem quem ganhar nem perder, vai ganhar ou perder. Vai todo mundo perder”. Deu para entender? Você pode assistir ao vídeo no YouTube. E rir. Mas essa declaração em 2010 foi premonitória. O Brasil inteiro perdeu em qualidade de vida. Só quem não perde são os político$.

Dilma sempre se confundiu ao falar de improviso, sempre tropeçou nas palavras. Não são as gafes seu problema maior. São as mentiras. Foram muitas e, por isso, a massa no Brasil perdeu de vez a confiança nela e no PT. Juros, contas, ajustes fiscais, repasses – tudo era mentira durante a campanha. E censura velada. Na semana passada, o ex-diretor do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada) Herton Araújo reafirmou ter sido impedido, em 2014, de divulgar o aumento da extrema pobreza no Brasil.

Para salvar o país de suas pedaladas, Dilma se rendeu ao arrocho fiscal e por isso tem sido encurralada por gregos e troianos. Mas a presidente eleita não será derrubada por um golpe. Isso não existe. Este país não quer golpe, nem de direita nem de esquerda. Se houvesse um plebiscito à grega no Brasil, o resultado seria nem sim nem não, muito pelo contrário.
Os ministros e os blogueiros chapa-branca ignoram as críticas do próprio PT a Dilma e alimentam a tese da “ameaça golpista” da direita. O motivo é claro. Nada como transformar a presidente em vítima, para tentar recuperar um naco do apoio popular perdido. Esquecem que quem transformou Dilma em vítima de vaias e panelaços foi Dilma. Quem transformou Dilma em algoz dos trabalhadores demitidos e prejudicados pela inflação foi... Dilma. Quem colocou Dilma no “volume morto” foi... Lula.

O PAC – Programa de Aceleração do Crescimento, para quem já esqueceu o significado – foi abandonado, e a sigla da vez se tornou o PPE, Programa de Proteção ao Emprego. O PPE se propõe a preservar o emprego de quem ganha até R$ 6 mil. Como? Reduzindo jornada e salário em 30%, por um ano. Para compensar o corte salarial, seriam usados recursos de um fundo que está sem fundos, o FAT, de Amparo ao Trabalhador. Mais uma promessa vazia da presidente.

O mico da semana do Planalto foi usar, como garoto-propaganda do PPE, Charles Chaplin no filme clássico Tempos modernos. Que lambança. Chaplin abraçado às engrenagens, numa sátira às péssimas condições de trabalho na Revolução Industrial, rindo de si próprio (e dos trabalhadores brasileiros) com a seguinte legenda em maiúsculas: “Jornada de trabalho menor... e meu emprego garantido!”. A imagem foi apagada rapidinho na página do governo federal no Facebook. Pegou mal.

O momento da presidente nunca foi tão delicado. Suas contas de 2014 podem ser rejeitadas em agosto pelo Tribunal de Contas da União (TCU). Sua conduta na campanha pode ser condenada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que a julga por abuso de poder econômico. Seu ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pode ser alvo da criPTonita – e aí, adeus ajuste.

Até agora não há nada contra Dilma, e ela não deve cair. Mas, se isso ocorrer, o Brasil carece de líderes confiáveis. Quem seria o presidente? O enigmático vice Michel Temer, que não articula nada e já tenta sair de fininho? O imprevisível Eduardo Cunha, presidente da Câmara, líder da direita evangélica do PMDB? O tucano Aécio Neves, que agradeceu ter sido reeleito “presidente da República”? O PSDB não pode afirmar, em convenção, que “está pronto para assumir” o país. Não está vago o posto de presidente. Esse açodamento é no mínimo inoportuno. Abre o flanco para quem adora falar de “golpe”.

Temos uma presidente fraquíssima – e um monte de partidos, aliados ou não, contra ela. Quem, afinal, apoia Dilma? “Eu não vou, não vou, não vou cair”. Só se repete assim quem tem medo.

Lula, sai do Face e vem pra rua!

Há alguns dias, no melhor estilo que seu caráter pode proporcionar, Lula resolveu puxar as orelhas de sua protegida. Disse que ela se tranca no gabinete, que foge do contato com o povo, que deveria estar nas ruas defendendo seu governo. Ao final, diagnosticou que o governo petista, nas mãos da companheira, "já está no volume morto". E por aí foi. Das duas uma: se falou sério foi velhaco; se falou brincando, também.

Em ambos os casos, ele está tratando de se eximir das responsabilidades que sobre ele recaem em relação aos 13 anos de governo petista. Oito foram dele e cinco correm à conta de seu braço direito e grande gestora, a mãe do PAC, a madrinha de Pasadena, a tia do Petrolão e a dona da crise. Sair para rua? Ô Lula! Você pode imaginar Dilma passeando num shopping, pedalando na Lagoa Rodrigo de Freitas ou na orla do Guaíba? Consegue imaginar Dilma apertando mãos na Rua da Praia ou jantando no Piantella? Vai com ela, Lula. Vai com ela.

Mesmo quando tinha bem mais de nove pontos de aprovação, a presidente descobriu que aparecer em público era um convite à vaia e ao panelaço. Com nove pontos, assistir um jogo de futebol seria franquear-se para ataques à sua dignidade pessoal e familiar. Portanto, o conselho de Lula está muito longe de ser uma orientação estratégica. É expressão do mais indigno "faz o que eu digo, mas não faz o que eu faço", porque também ele, Lula, só aparece valente cheio de indignações e razões no Facebook, no meio dos próprios companheiros ou entre gente muito amiga do peito.

Essa frase de Lula dispensa o discurso da mandioca e da "mulher sapiens" para evidenciar mais esse absurdo da nossa democracia: o absurdo do poder que se mantém nas mesmas mãos apesar de seus dois principais representantes, que governam o país há 13 anos, não poderem aparecer em público, tamanha sua rejeição. Hoje, se dependesse da vontade popular, estavam fora do poder. Mas isso, no presidencialismo, não tem qualquer significado. Ao que tudo indica, estamos dependendo do TCU ou da UTC. Mas a CUT resiste.

Percival Puggina