quinta-feira, 19 de janeiro de 2023
Lula tem mais é que desconfiar dos militares, que não gostam dele
O Exército expulsou Bolsonaro nos anos 1980 por ter desonrado a farda ao planejar atentados à bomba em quartéis.
Deputado federal durante quase 30 anos, Bolsonaro comprou o apoio dos militares com emendas ao Orçamento da União.
Depois de eleito presidente, voltou a comprar o apoio deles com empregos, altos salários e uma Previdência Social particular.
Só se elegeu porque o Supremo Tribunal Federal, em abril de 2018, negou um habeas corpus a Lula que evitaria sua prisão.
O Supremo votou sob pressão do comandante do Exército, o general Villas Bôas. Lula seria preso poucos dias mais tarde.
De dentro da prisão, liderou todas as pesquisas de intenção de voto até que a Justiça Eleitoral decretou sua inelegibilidade.
Entre 30 de outubro último, quando se elegeu presidente, e 8 deste mês, Lula viu o Exército dar abrigo a golpistas.
E no dia da tentativa fracassada de golpe, viu a omissão da tropa do Exército destinada a proteger o presidente da República.
Como cobrar a Lula que renove a confiança nos militares se muitos pretendiam derrubá-lo? É sobre um golpe de Estado.
No final da tarde do dia 30 de outubro, poucas horas antes do início da apuração de votos, Bolsonaro achou que havia vencido.
A derrota, de fato, surpreendeu-o, e aos que o cercavam. Antes da meia-noite, ele já falava que a eleição lhe fora roubada.
No dia 18 de novembro, à saída de uma reunião com Bolsonaro, o general Braga Neto, seu vice, disse aos devotos no cercadinho:
“Vocês não percam a fé, tá bom? É só o que eu posso falar para vocês agora”.
O que se tramava? Segundo a CNN Brasil, discutia-se no entorno de Bolsonaro como reverter o resultado eleitoral.
Havia várias cartas na mesa – dentre elas, a possibilidade de decretar o Estado de Defesa no país. Seria um golpe.
Minuta de decreto presidencial estabelecendo o Estado de Defesa foi apreendida na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça.
Torres foi preso. Disse que recebeu a minuta “de um bolsonarista”, mas não quis revelar a identidade dele.
É claro que o golpe fracassou porque a maioria dos generais do Alto Comando do Exército não aderiu. Mas, e daí?
Daí é natural que Lula, por ora, siga arredio. E que assim permaneça até que os culpados sejam descobertos e punidos.
Em entrevista à GloboNews, Lula falou como chefe supremo das Forças Armadas:
“O importante é despolitizar as Forças Armadas. O soldado, o sargento e o coronel são do Estado. Não é o Exército do Lula, do Bolsonaro, eles têm que defender o Estado brasileiro, a Constituição. Eu quero conversar com eles (os comandantes) abertamente. Quero manter uma relação civilizada”.
Não quero ter problemas com as Forças, nem que elas tenham problemas comigo. Quero que a gente volte à normalidade. As pessoas estão aí para cumprir as suas funções e não para fazer política. Quem quiser fazer política tira a farda, renuncia ao seu cargo, cria um partido político e vai fazer política.”
Não lhes parece sensato? Parte dos que discordam querem que nada mude, e que o Poder Civil continue subordinado ao Militar.
Deputado federal durante quase 30 anos, Bolsonaro comprou o apoio dos militares com emendas ao Orçamento da União.
Depois de eleito presidente, voltou a comprar o apoio deles com empregos, altos salários e uma Previdência Social particular.
Só se elegeu porque o Supremo Tribunal Federal, em abril de 2018, negou um habeas corpus a Lula que evitaria sua prisão.
O Supremo votou sob pressão do comandante do Exército, o general Villas Bôas. Lula seria preso poucos dias mais tarde.
De dentro da prisão, liderou todas as pesquisas de intenção de voto até que a Justiça Eleitoral decretou sua inelegibilidade.
Entre 30 de outubro último, quando se elegeu presidente, e 8 deste mês, Lula viu o Exército dar abrigo a golpistas.
E no dia da tentativa fracassada de golpe, viu a omissão da tropa do Exército destinada a proteger o presidente da República.
Como cobrar a Lula que renove a confiança nos militares se muitos pretendiam derrubá-lo? É sobre um golpe de Estado.
No final da tarde do dia 30 de outubro, poucas horas antes do início da apuração de votos, Bolsonaro achou que havia vencido.
A derrota, de fato, surpreendeu-o, e aos que o cercavam. Antes da meia-noite, ele já falava que a eleição lhe fora roubada.
No dia 18 de novembro, à saída de uma reunião com Bolsonaro, o general Braga Neto, seu vice, disse aos devotos no cercadinho:
“Vocês não percam a fé, tá bom? É só o que eu posso falar para vocês agora”.
O que se tramava? Segundo a CNN Brasil, discutia-se no entorno de Bolsonaro como reverter o resultado eleitoral.
Havia várias cartas na mesa – dentre elas, a possibilidade de decretar o Estado de Defesa no país. Seria um golpe.
Minuta de decreto presidencial estabelecendo o Estado de Defesa foi apreendida na casa de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça.
Torres foi preso. Disse que recebeu a minuta “de um bolsonarista”, mas não quis revelar a identidade dele.
É claro que o golpe fracassou porque a maioria dos generais do Alto Comando do Exército não aderiu. Mas, e daí?
Daí é natural que Lula, por ora, siga arredio. E que assim permaneça até que os culpados sejam descobertos e punidos.
Em entrevista à GloboNews, Lula falou como chefe supremo das Forças Armadas:
“O importante é despolitizar as Forças Armadas. O soldado, o sargento e o coronel são do Estado. Não é o Exército do Lula, do Bolsonaro, eles têm que defender o Estado brasileiro, a Constituição. Eu quero conversar com eles (os comandantes) abertamente. Quero manter uma relação civilizada”.
Não quero ter problemas com as Forças, nem que elas tenham problemas comigo. Quero que a gente volte à normalidade. As pessoas estão aí para cumprir as suas funções e não para fazer política. Quem quiser fazer política tira a farda, renuncia ao seu cargo, cria um partido político e vai fazer política.”
Não lhes parece sensato? Parte dos que discordam querem que nada mude, e que o Poder Civil continue subordinado ao Militar.
Vandalismo isolou extrema direita, mas sociedade segue polarizada
Os atos de vandalismo ocorridos em 8 de janeiro isolaram a extrema direita, porém, a sociedade continua polarizada. A pronta resposta do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) contra os sediciosos e a dura reação do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes contiveram a escalada golpista. A pesquisa divulgada ontem pelo Ipec mostra que 54% dos brasileiros confiam no petista. Por outro lado, 41% disseram que não confiam e 4% não responderam ou não opinaram.
A maior parte dos que confiam no presidente são homens (59%), com mais de 60 anos (63%), que possuem escolaridade até o ensino fundamental (65%) e que moram na região Nordeste (77%). O índice dos que não confiam é maior entre as mulheres (45%). Elas são jovens de 25 a 34 anos (46%), com ensino superior (49%) e moradoras da região Sul (53%). O dado mais positivo foi o fato de que 55% dos entrevistados acreditam que o governo Lula será bom ou ótimo. Já para 21% será ruim ou péssimo. Os que consideram que a gestão será regular são 18%. Essa expectativa não pode ser frustrada.
Será um erro confundir o isolamento da extrema-direita com o de Jair Bolsonaro (PL). Nas redes sociais, permanece o dispositivo montado para manipular a opinião pública e coordenar as ações bolsonaristas, apesar de todas as medidas tomadas até agora contra os propagadores de fake news e financiadores do que houve no domingo. As narrativas construídas nas redes bolsonaristas atribuem a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF à ação de provocadores, desvinculando-as de Bolsonaro, que foi para Miami exatamente para que isso fosse possível. Insistem na tese da fraude eleitoral.
Entretanto, o presidente Lula saiu fortalecido, as instituições também. Duas variáveis foram decisivas para demover o ex-presidente Jair Bolsonaro de assinar o tal decreto de “estado de emergência” contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A primeira, foi a ostensiva atuação dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, contra qualquer tentativa de golpe. Os militares brasileiros são sensíveis a esse posicionamento, porque são estudiosos da geopolítica e sabem que o governo Bolsonaro se tornara uma ameaça para o mundo, por causa da questão do desmatamento da Amazônia e da aproximação de Bolsonaro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. A segunda, a união dos Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – em repúdio ao vandalismo e defesa da democracia.
Do ponto de vista da sua legitimidade, o governo Lula está blindado. Entretanto, a governança e a governabilidade são ainda um dever de casa. A primeira depende da competência dos ministros, de suas iniciativas num cenário de escassez de recursos, que exige criatividade e ações de alto impacto e baixo custo. Os titulares das diferentes pastas, principalmente as recém-criadas, ainda estão arrumando as gavetas; aguardam a demissão dos integrantes da equipe de Bolsonaro, inclusive de 8 mil militares em cargos comissionados, prevista para o próximo dia 24 de janeiro, para organizar suas equipes.
É aí que a questão da governabilidade passará pelo primeiro teste, porque uma parte desse pessoal é ligada aos generais que garantiram a posse de Lula, outra, aos partidos que estiveram com Bolsonaro e agora se dispõem a dar sustentação a Lula no Congresso. A reeleição dos atuais presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), são favas contadas, mas o sistema de alianças que se estabelecerá como hegemônico nas duas Casas tende a ser mais conservador. Pelo andar da carruagem, Pacheco será um aliado de Lula; Lira, um adversário ladino e perigoso. O prestígio de Lula na opinião pública terá um peso igual ou superior à capacidade de cooptação da administração federal, que como se sabe é muito grande.
Não se deve invocar o nome do povo em vão. A pesquisa IPEC mostrou que a desconfiança em relação ao governo Lula está na faixa de 41% dos eleitores. Bolsonaro teve 49,1% dos votos no segundo turno. Lula venceu com 50,9%, uma margem muito estreita. Esses números mostram a resiliência dos opositores do petista e são uma tentação para os que acham, equivocadamente, que Bolsonaro é um cachorro morto.
Por exemplo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que assume o comando do PSDB com o firme propósito de ampliar a federação com Cidadania em direção ao eleitorado bolsonarista. O novo parceiro seria o Podemos, que incorporou ao PSC. Isso lhe garantiria uma bancada de 40 deputados na Câmara, que poderia dar muito trabalho ao governo Lula e garantir sustentação à sua candidatura.
O projeto de Leite é açodado, mas vai ao encontro de setores da opinião pública, agentes econômicos e líderes políticos frustrados pelo fato de que Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente, Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e Simone Tebet (MDB), ministra do Planejamento, estão no governo e dão a ele um caráter de ampla coalizão democrática. Os órfãos da terceira via estão em busca de um candidato para chamar de seu. Não combinaram com Bolsonaro, cuja resiliência eleitoral é maior do que alguns imaginam. Por razões políticas e até antropológicas, sua liderança carismática e reacionária continua enraizadas na sociedade.
A maior parte dos que confiam no presidente são homens (59%), com mais de 60 anos (63%), que possuem escolaridade até o ensino fundamental (65%) e que moram na região Nordeste (77%). O índice dos que não confiam é maior entre as mulheres (45%). Elas são jovens de 25 a 34 anos (46%), com ensino superior (49%) e moradoras da região Sul (53%). O dado mais positivo foi o fato de que 55% dos entrevistados acreditam que o governo Lula será bom ou ótimo. Já para 21% será ruim ou péssimo. Os que consideram que a gestão será regular são 18%. Essa expectativa não pode ser frustrada.
Será um erro confundir o isolamento da extrema-direita com o de Jair Bolsonaro (PL). Nas redes sociais, permanece o dispositivo montado para manipular a opinião pública e coordenar as ações bolsonaristas, apesar de todas as medidas tomadas até agora contra os propagadores de fake news e financiadores do que houve no domingo. As narrativas construídas nas redes bolsonaristas atribuem a depredação do Palácio do Planalto, do Congresso e do STF à ação de provocadores, desvinculando-as de Bolsonaro, que foi para Miami exatamente para que isso fosse possível. Insistem na tese da fraude eleitoral.
Entretanto, o presidente Lula saiu fortalecido, as instituições também. Duas variáveis foram decisivas para demover o ex-presidente Jair Bolsonaro de assinar o tal decreto de “estado de emergência” contra o Tribunal Superior Eleitoral (TSE). A primeira, foi a ostensiva atuação dos presidentes dos Estados Unidos, Joe Biden, e da França, Emmanuel Macron, contra qualquer tentativa de golpe. Os militares brasileiros são sensíveis a esse posicionamento, porque são estudiosos da geopolítica e sabem que o governo Bolsonaro se tornara uma ameaça para o mundo, por causa da questão do desmatamento da Amazônia e da aproximação de Bolsonaro com o presidente da Rússia, Vladimir Putin. A segunda, a união dos Três Poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário – em repúdio ao vandalismo e defesa da democracia.
Do ponto de vista da sua legitimidade, o governo Lula está blindado. Entretanto, a governança e a governabilidade são ainda um dever de casa. A primeira depende da competência dos ministros, de suas iniciativas num cenário de escassez de recursos, que exige criatividade e ações de alto impacto e baixo custo. Os titulares das diferentes pastas, principalmente as recém-criadas, ainda estão arrumando as gavetas; aguardam a demissão dos integrantes da equipe de Bolsonaro, inclusive de 8 mil militares em cargos comissionados, prevista para o próximo dia 24 de janeiro, para organizar suas equipes.
É aí que a questão da governabilidade passará pelo primeiro teste, porque uma parte desse pessoal é ligada aos generais que garantiram a posse de Lula, outra, aos partidos que estiveram com Bolsonaro e agora se dispõem a dar sustentação a Lula no Congresso. A reeleição dos atuais presidentes da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), e do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), são favas contadas, mas o sistema de alianças que se estabelecerá como hegemônico nas duas Casas tende a ser mais conservador. Pelo andar da carruagem, Pacheco será um aliado de Lula; Lira, um adversário ladino e perigoso. O prestígio de Lula na opinião pública terá um peso igual ou superior à capacidade de cooptação da administração federal, que como se sabe é muito grande.
Não se deve invocar o nome do povo em vão. A pesquisa IPEC mostrou que a desconfiança em relação ao governo Lula está na faixa de 41% dos eleitores. Bolsonaro teve 49,1% dos votos no segundo turno. Lula venceu com 50,9%, uma margem muito estreita. Esses números mostram a resiliência dos opositores do petista e são uma tentação para os que acham, equivocadamente, que Bolsonaro é um cachorro morto.
Por exemplo, o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que assume o comando do PSDB com o firme propósito de ampliar a federação com Cidadania em direção ao eleitorado bolsonarista. O novo parceiro seria o Podemos, que incorporou ao PSC. Isso lhe garantiria uma bancada de 40 deputados na Câmara, que poderia dar muito trabalho ao governo Lula e garantir sustentação à sua candidatura.
O projeto de Leite é açodado, mas vai ao encontro de setores da opinião pública, agentes econômicos e líderes políticos frustrados pelo fato de que Marina Silva (Rede), ministra do Meio Ambiente, Geraldo Alckmin (PSB), vice-presidente e ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, e Simone Tebet (MDB), ministra do Planejamento, estão no governo e dão a ele um caráter de ampla coalizão democrática. Os órfãos da terceira via estão em busca de um candidato para chamar de seu. Não combinaram com Bolsonaro, cuja resiliência eleitoral é maior do que alguns imaginam. Por razões políticas e até antropológicas, sua liderança carismática e reacionária continua enraizadas na sociedade.
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