sábado, 29 de agosto de 2015

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Carta de um médico para a presidente da Repúbica

Não temos que agradecer nada que a senhora fez, pois não fez mais do que a obrigação. O dinheiro é nosso, a cidade é movida pelo nosso empenho. O povo é seu patrão!
Sra. Dilma Rousseff, tudo bem? Pelo que a senhora tem dito, está tudo bem, sim! Pude observar por fotos sua boa aparência enquanto visitava hoje pela manhã a cidade em que eu moro: Catanduva, aqui no interior de São Paulo. Porém, nós brasileiros não estamos tão bem quanto a senhora!

Desculpe-me não poder aplaudi-la hoje. Eu estava trabalhando, como sempre. A propósito, é isso que os brasileiros mais fazem para tentar consertar o seu desgoverno. Confesso, adoro trabalhar. Isso não é problema para mim. Porém, trabalhar sem perspectivas de mudança e melhoria, isso me incomoda. Cansamos de improvisar para resolver os desatinos do seu governo. Quem gosta de dar um jeitinho em tudo, são vocês aí de cima; nós, médicos, cansamos!

A senhora veio até a nossa cidade e “exigiu” um leito de UTI reservado apenas para atender um eventual problema. Senhora presidente, nossos pacientes que vivem à espera de um leito, às vezes até morrem aguardando, como ficam? A senhora deveria dar o exemplo: primeiro, como cidadã que se preocupa com seus pares, cedendo sua vaga para aqueles que realmente precisam; segundo, como autoridade, indicando a postura a ser seguida. Agindo como fez, reiterou o caos que se encontra a saúde pública desse país. Até a senhora precisa reservar leito, tamanha dificuldade de vagas!

Mas fique tranquila, caso sofresse algum mal súbito ou algum atentado contra sua saúde, atenderíamos a senhora com muito prazer. Porém, se precisasse de vaga de UTI, deveria aguardar na emergência até surgir um leito. Poderia demorar dias, até semanas. Aliás, é assim que funciona. A senhora não sabia? Passe uns dias aqui conosco para averiguar. Venha sentir o ambiente da emergência e das enfermarias. Quem sabe isso desperte compaixão perante o povo sofrido que cuidamos incessantemente.


Como se não bastasse, exigiu reserva de um leito na enfermaria. Precisamos muito do espaço que a senhora solicitou. No hospital de nossa cidade atendemos outras 19 cidades circunvizinhas que encaminham seus pacientes para cá. Nossa emergência vive lotada, os corredores contêm macas por todos os lados. Alguns pacientes aguardam dias até surgir uma vaga na enfermaria. Por que a senhora quer um leito reservado?

Convém recordar que a senhora é representante do povo, todos pagam impostos expressivos sobre o salário e todos os bens e serviços. Vale destacar que a senhora é o funcionário que mais dá prejuízo nesse país. Basta olhar os noticiários do Brasil e do mundo.

Notei barulho de vários helicópteros. Desculpe, não tive tempo de olhar pela janela para ver como eram. Cabe informar que seu transporte muito confortável poderia estar sendo utilizado para salvar vidas. Aqui em nossa região temos inúmeras estradas vicinais. Os acidentes são constantes e inúmeros óbitos são registrados. Já que melhorar as estradas não é possível, pelo menos nos dê condições de atender as vítimas com agilidade.

A cidade referência de nossa região, São José do Rio Preto, precisa ainda mais de um helicóptero como o seu. Faça um favor, ande de carro. Seja humilde, assim como seu povo é. Bem como o papa Francisco foi, quando visitou o Brasil. Assim conhecerá melhor as estradas do Brasil sob o seu desgoverno e dará exemplo de dignidade.

Como se não fosse suficiente toda a reserva no hospital tirando leito de quem precisa, ainda solicitou que três viaturas do SAMU estivessem ao seu dispor. Senhora presidente, trabalho no SAMU há seis anos. Conheço muito bem as necessidades e prioridades desse serviço. Cobrimos, 24 horas por dia, 19 cidades. Muitas vezes precisamos de suporte de mais viaturas para atender ocorrências com inúmeras vítimas, porém não temos disponível, nem profissionais

Observe, atendemos cerca de 500 mil habitantes em nossa região, com apenas um médico disponível do SAMU para socorrer! Agora, a senhora vem aqui nos visitar e exige um médico apenas para a senhora? Faça-me o favor, senhora presidente! Estamos sobrecarregados e ainda a senhora vem tumultuar nosso ambiente?

Além de tudo, veio acompanhada de três médicos, exaustivamente acompanhando a senhora, inclusive com desfibrilador a postos. Saiba que Catanduva, SP, tem médicos competentes o suficiente para atendê-la em caso de necessidade. Tenha certeza que será muito bem atendida, enfrentamos bem situações adversas.

Aliás, a senhora solicitou que uma sala cirúrgica estivesse livre e desocupada, ao seu dispor. Não sei se a senhora não sabe, mas precisamos de mais salas cirúrgicas para atender toda a demanda de pacientes. Não raramente, precisamos priorizar quem operamos. Alguns precisam aguardar a sala cirúrgica ser desocupada para ser operados. Às vezes, não dá tempo… Ora, a senhora quer uma disponível exclusivamente para uma eventual cirurgia? Pergunto: e o José, a Maria e o João? A vida deles é menos importante que a sua?

E a segurança? Além dos seus inúmeros seguranças particulares, a senhora mobilizou nosso contingente para resguardar sua integridade. Cerca de 50 policiais à sua disposição, além de viaturas. Ora, e a segurança da nossa população? Somos 115 mil habitantes e precisamos de mais segurança. Atendemos baleados, esfaqueados e agredidos com frequência em nosso serviço. Muitos deles precisam do espaço que a senhora reservou para seu “eventual” atentado.




Enfim, senhora Dilma, desculpe-me alongar. São tantas as dores que guardamos no coração… Vê-la dissimuladamente festejar entrega de casas populares dá-nos náuseas. Não estamos de brincadeira, senhora, queremos respeito com nosso suor. Exigimos que nos represente com honestidade e cuide de nossa população, ainda mais dos que precisam de condições mínimas de saúde.

Não me venha dizer que não sabia de nada dos desvios do seu governo e que não tinha conhecimento do comportamento delituoso das pessoas com quem estava se envolvendo. Agora responda por suas ações (e pela ausência delas!), cumpra com seus deveres e ao menos conserte o estrago feito.

Não temos que agradecer nada que a senhora fez, pois não fez mais do que a obrigação. O dinheiro é nosso, a cidade é movida pelo nosso empenho. O povo é seu patrão! Portanto, da próxima vez, nem venha. Trabalhe! Busque soluções concretas para o poço sem fundo que o país está. Rápido, antes que nosso Brasil vire pó.

Agora, pergunto: Sra. Dilma, a que veio? Da próxima vez, peça licença. Chega, estamos cansados!


Dr. Roberto Cacciari

O país do amanhã


O Brasil é um país adiado. Perdeu no passado várias oportunidades de dar um salto qualitativo, em função de decisões erradas ou de manipulações eleitoreiras de iniciativas que poderiam ter dado certo, como o Plano Cruzado, concebido pelos mesmos mentores do Plano Real, mas profanado pelo governo Sarney.

O Plano Real, o mais bem sucedido da história, sofreu estupro na gestão PT – e o país, dizimado por uma organização criminosa, que o governa há 13 anos, volta à estaca zero: inflação, desemprego, recessão, descrédito popular (o dano mais significativo e mais difícil de reparar e do qual depende o resgate dos demais).

Costuma-se dizer que, no alfabeto chinês, o mesmo ideograma que designa crise designa também oportunidade. Essa duplicidade, que aponta a solução de um problema a partir de sua transmutação, não funciona entre nós.

Crise aqui é só crise mesmo, sem qualquer vontade política de aproveitar a oportunidade regenerativa.

A atual, que submete a conjuntura política a uma operação policial, poderia ser uma oportunidade de passar o país a limpo, entregando à Justiça, sem subterfúgios, os responsáveis pela rapina. O que se vê, no entanto, é algo bem distinto: as instituições – os três poderes -, em conluio recíproco, em busca de saídas indolores, que reduzam ao máximo o arco punitivo.

A palavra acordão rima como Mensalão, Petrolão e outros “ãos” que ainda virão. Rima, mas não traz solução.

Neste momento, três adiamentos impedem o desfecho da crise. O TCU concedeu o segundo adiamento de 15 dias para que Dilma explique as pedaladas fiscais, que configuram crime contra a Lei de Responsabilidade Fiscal e podem dar início ao processo de impeachment.

Para impedi-lo, o ministro Luís Roberto Barroso, do STF, deu sua contribuição: saiu-se com uma decisão (a ser avaliada pelo pleno) que retira da Câmara, presidida pelo indigesto Eduardo Cunha, a votação das contas da presidente.

Embora a Câmara tenha votado as contas dos governos anteriores – Itamar Franco, FHC e Lula –, Barroso decidiu, sem qualquer justificativa razoável, que, daqui para frente, essas contas têm que ser votadas pelo Congresso, sob o comando do confiável presidente do Senado, Renan Calheiros.



Para complementar o acordão, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, decidiu denunciar Eduardo Cunha, poupando Renan, que passou a exercer o papel de fiador da intocabilidade de Dilma. Renan, citado diversas vezes nas delações premiadas, foi preterido em favor de Cunha, citado apenas uma vez por um delator, Júlio Camargo, que antes, por seis vezes, havia negado sua participação nas falcatruas que relatava.

Na sequência, reverberando a manobra, deputados petistas e aliados publicaram manifesto pedindo a saída de Cunha da presidência da Câmara. É o chamado ato político perfeito.

Se Cunha sair, será sucedido por um deputado do inominável PP, Waldir Maranhão, que teria a responsabilidade de convocar novas eleições para o cargo, com prazo, no entanto, para comandar (e garantir) a votação das contas de Dilma.

Cunha pode até ser culpado – e ninguém está pedindo para que não seja investigado -, mas as circunstâncias em que foi denunciado são suspeitas e aprofundam o descrédito nas instituições. E Renan? E Dilma? E Lula? E Edinho, Mercadante et caterva? Só a iniciativa privada vai para a prisão?

O TSE, por sua vez, interrompeu a votação das contas da campanha de Dilma, nutridas, segundo as delações premiadas da operação Lava-Jato, com dinheiro roubado da Petrobras. O placar estava em 4 a 1, pelo aprofundamento das investigações, num colegiado de sete - ou seja, já vitoriosa a tese de que há irregularidades que podem levar à cassação da chapa Dilma-Temer.

Eis que a ministra Luciana Lóssio, que é ninguém menos que a ex-advogada da campanha de Dilma em 2010, igualmente contaminada por dinheiro sujo, pediu vistas do processo, sem que se saiba quando será recolocado a voto.

O simples fato de alguém que exerceu tais funções estar julgando ex-clientes já indica uma anomalia profunda, absurda. Mas como estranhá-la se, na presidência da Corte, está alguém que fez o mesmo, numa escala bem mais ampla?

O ministro Duas Toffoli, como se sabe, fez toda a sua carreira dentro do PT: depois de reprovado duas vezes em concurso para juiz, foi chefe de gabinete de José Dirceu quando este foi deputado estadual em São Paulo e federal em Brasília; foi subchefe de Assuntos Jurídicos da Casa Civil, também na gestão Dirceu, além de advogado da campanha de Lula em 2006. Lula, agradecido, o fez advogado-geral da União.

Na campanha de 2006, tentou, junto ao mesmo TSE, impedir que os candidatos da oposição tratassem do Mensalão, argumentando que aquele escândalo “jamais existiu”. Seis anos depois, estava no STF julgando nada menos que o Mensalão.

Na oposição, o panorama é igualmente espantoso. Com a faca e o queijo na mão, tendo diante de si o maior escândalo jamais visto, exibe discurso desuniforme e vacilante.

Diz que não há elementos que justifiquem o impeachment (??!!), que a presidente é honesta e honrada (não obstante suas contas não o serem e nenhuma investigação tenha confirmado tal premissa) e que é preciso ir devagar com o andor.

Suas maiores lideranças brigam mais entre si que com os delinquentes. O governador paulista Geraldo Alckmin quer que Dilma fique até 2018, para que, nesse prazo, ele possa firmar sua candidatura presidencial. O senador José Serra quer o impeachment para que Michel temer assuma e o faça ministro da Fazenda, ocasião em que poderá produzir o seu Plano Real e tornar-se um candidato viável à presidência.

Aécio Neves, beneficiário do recall das últimas eleições, liderando as pesquisas, quer a cassação da chapa, para que se eleja. Sem diálogo interno e sem compromisso com o clamor das ruas, a oposição presta inestimável serviço ao caos.

Rui Falcão, presidente do PT, agradece. E constata: não há chance para o impeachment porque a oposição não se entende. Ele nem precisa sustentar a inocência do governo. Basta constatar que seus oponentes são aliados na missão de mais uma vez adiar o Brasil.

CPMF, o pixuleco oficial

Dilma foi barrada no Palácio. A presidente vinha andando pelos salões da sede do governo federal quando um funcionário abriu os braços e impediu a passagem dela. O episódio se deu no momento em que vazava o plano do governo petista de recriar a CPMF. Foi como se o funcionário do Palácio tomasse a frente de um país abobado, prestes a levar calado mais uma facada dos companheiros, e dissesse a Dilma: “Não, minha senhora. CPMF é demais. Daqui a senhora não vai passar”.


A expressão ultrajada da presidente foi captada pelo fotógrafo Orlando Brito — no momento em que o chefe interino do Cerimonial do Planalto, Fernando Igreja, se punha no caminho dela, deixando passar apenas os atletas dos Jogos Parapan-Americanos que visitavam o Planalto. Nenhuma explicação factual para o acontecimento patético será tão precisa quanto o grito simbólico da cena: Dilma foi barrada no Palácio porque não devia mais estar lá.

A representante legal do maior projeto de pilhagem da História do país ainda respira por aparelhos porque, no quesito aparelhagem, seu partido é bom. Não é para qualquer um ter advogados de estimação na Corte Suprema, nem um procurador-geral da República para chamar de seu. Nas listas de Janot, o petrolão parece um desastre natural, uma nevasca de propinas que se abateu sobre os políticos brasileiros. Olhando, ninguém diz que é um esquema montado pelo estado-maior petista para roubar a Petrobras em favor do partido governante. Sabatinado no Senado, Rodrigo Janot disse que pau que bate em Chico, bate em Francisco. Só não bate em Dilma — porque em mulher sapiens não se bate nem com uma franja.

A presidente já foi citada mais de uma dezena de vezes na Lava-Jato, que produziu uma nevasca de evidências do financiamento eleitoral dela com dinheiro sujo de petróleo. Os tesoureiros petistas, entre delatados, denunciados, condenados e presos, já entraram para o anedotário como a profissão mais perigosa do mundo — anedota que só tem graça para os milionários com estrelinha na lapela. Enquanto o crime de responsabilidade dormita no TCU, com a tropa do cheque pedalando as pedaladas fiscais, o bom entendedor, e também o nem tão bom, já viu que o governo do PT montou um sistema de assalto ao dinheiro do povo — o que talvez explique o seu título de governo popular. E o impeachment, misteriosamente, continua sendo pronunciado como palavrão em convento.

Os companheiros agradecem as boas maneiras, e partem desinibidos para novos saques. E bota desinibição nisso: no momento em que o país entra oficialmente em recessão, com um rombo recorde de R$ 10 bilhões nas contas públicas em julho — joias de uma década de pilhagem —, os oprimidos profissionais tiram da cartola a ressurreição da CPMF. Já que você não quer falar em impeachment, querido contribuinte, vai passar a pagar pixuleco também. Mas não se preocupe: é pixuleco oficial, contabilizado, tudo certinho. Você nem vai precisar apertar a mão do companheiro Vaccari.

Para um governo tão preocupado com o povo, que chega a destruir o setor elétrico para fingir que a conta de luz é barata, recriar a famigerada CPMF é o sinal definitivo do desespero. Estão raspando o tacho. Até Delfim Netto, o oráculo do Lula, resolveu fazer o boletim de ocorrência do desastre financeiro. E note-se que Delfim foi aquele amigo das horas difíceis, sempre com um malabarismo teórico na ponta da língua para dizer que a administração petista ia muito bem, obrigado. Para Delfim Netto, desembarcar do seu doce teatro progressista, o brejo realmente deve ter alcançado a vaca.


Mas, para um povo cordial e pacato, até o brejo é relativo. Daqui a pouco aparece um intelectual antenado para dizer que, se é para tombar no chão, melhor afundar... Ou então que o brejo já vinha se chegando há muito tempo, e a vaca só estava no lugar errado, na hora errada. Os respeitáveis economistas Mansueto Almeida, Marcos Lisboa e Samuel Pessoa, por exemplo — que não são malabaristas — escreveram que o tombo fiscal brasileiro tem pouco a ver com a era petista. Sugeriram inclusive que este signatário é maniqueísta e só pensa no PT. Seja como for, após 12 anos de déficits escondidos com maquiagem contábil, reaquecimento da inflação, derrubada dos investimentos graças ao sequestro do Estado pelo partido e, finalmente, uma recessão genuinamente petista, as ponderações do trio de notáveis são pura poesia para João Santana.

Melhor mesmo parar de pensar no PT. Vamos concentrar só no brejo. Mas se você acha, ainda assim, que pagar CPMF para financiar pixuleco é um pouco demais, faça como o chefe do cerimonial do Palácio: tome posição e diga àquela senhora que daqui ela não passa.

O outro lado da lua

Neste país que parece de um planeta a gravitar fora do sistema solar, talvez seja de bom alvitre que esqueçamos de escrutinar o lado transparente do seu satélite natural. Afinal, a política não pode sobreviver sem o mistério, que está na raiz de toda arte. Minha proposta é que olhemos para o outro lado da lua, invisível, que ela esconde. Pois me parece que este é o lado verdadeiro da política. Sua coroa, não essa cara que estampa a figura de São Jorge montando um cavalo para matar o dragão. Mas a coroa, símbolo do poder. Poder que o PT já perdeu, mas ainda detém. Por quê?

Que perdeu é óbvio. O dinheiro - que nunca aceita desaforo - nomeou um banqueiro para tratar das finanças antes que não restasse mais nem uma moedinha de centavo no cofrinho. E o político? Aí já é preciso separar o joio do trigo. Numa democracia, esse poder pertence ao povo, vale dizer, ao conjunto dos cidadãos que elegem seus governantes. Este poder, ou melhor, a legitimidade desse poder, o PT governo perdeu em seu quarto mandato consecutivo. E perdeu por um placar igual ao da vitória do Alemanha sobre a seleção brasileira. Até pior: por 9 a 1.


Por que ainda estamos torcendo para o juiz apitar o final do jogo? É aí que entra o mistério. O outro lado da lua. Onde a democracia não é o governo do que promete ser do povo. É dos políticos e de seus patrocinadores. E sócios. Que tiram de sua misteriosa cartola ora um excêntrico Jânio Quadros, ora um desatinado Fernando Collor, e até um Fernando Henrique, o precursor de Luís Inácio Lula da Silva, o messias prometido por Fidel Castro para tirar Cuba da orfandade da União Soviética.

Agora,mais uma vez nós não sabemos que coelho vai sair dessa cartola. Como espectadores, nem sempre atentos na plateia desse teatro, chegamos a apostar: seria Michel Temer, o "articulador"? Ou seria Eduardo Cunha, o "insurgente"? Quem vai sair com mais uns trocados no bolso, dessa fila do "gargarejo"? Eu não me arrisco a apostar em ninguém. Porque o outro lado da lua é capaz de coisas que até o demônio duvida. Só sei que é impossível levar o andor de uma procissão com um santo em quem ninguém mais acredita. O PT virou Judas. E ninguém leva esse traidor para louvar no altar.

Então o que espera o circo para anuncia a nova atração do picadeiro?

Ora, espera aprontar nos bastidores, o outro lado da lua, um artista que não deixe o circo pegar fogo. Que mostre à plateia que a companhia tem nova direção. E se todos se unirem, o espetáculo vai continuar. Porque ele não pode parar. The show must go on.

Até lá, relaxem. Comam pipoca, tomem refrigerante, torçam pelo seu time no campeonato nacional. 

Ou saiam de casa, mostrem que não são palhaços, reclamem do preço do ingresso. Exijam o devido respeito.
A democracia precisa da nossa atitude para se iluminar.

A lorota venceu

É possível encher o espaço desta coluna com declarações da presidente Dilma Rousseff e seus aliados contra a ideia de cortar ministérios. A sugestão circulou em diversos momentos, mas sempre foi tratada com desprezo no Planalto.

Uma boa oportunidade surgiu depois dos protestos de junho de 2013, quando a popularidade presidencial sofreu o primeiro tombo. Pressionada pelas ruas, Dilma foi aconselhada a enxugar a máquina em sinal de austeridade. “Há um consenso hoje na questão do número exagerado de ministérios”, disse o então presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves, sugerindo o fim de 14 pastas.

A presidente escalou Jaques Wagner, então governador da Bahia, para responder em seu nome. “Não é reduzindo ministério que se dá eficiência à máquina pública”, disse ele. Dois anos depois, o peemedebista e o petista esqueceram a divergência e foram premiados com a mesma moeda. Hoje, eles são dois dos 38 ministros do governo Dilma.

O tema voltou na campanha de 2014, quando Aécio Neves e Marina Silva prometeram passar a navalha na Esplanada. Como nenhum deles se encorajou a nomear as pastas que seriam sacrificadas, a presidente se sentiu à vontade para contra-atacar.

“Tem gente querendo reduzir ministérios. Um deles o da Igualdade Racial, outro o que luta em defesa das mulheres. Eu acho um verdadeiro escândalo querer acabar”, disse, em setembro. No mês anterior, ela definira a promessa dos adversários como uma “cegueira tecnocrática”.

Reeleita, Dilma teve nova chance de reduzir o time, mas bateu o pé. “Outra lorota”, disse em novembro, ao ser questionada sobre os rumores de que enxugaria o segundo escalão. Ela insistiu que a medida não geraria “economia real” para o governo.

Ao voltar atrás, Dilma deixou duas hipóteses em aberto. Ou mentiu antes, ao dizer que não precisava cortar ministérios, ou mente agora, ao agir contra suas convicções. Em qualquer dos casos, a lorota terá vencido.

Mujica no Brasil, lições à canalha

*O homem da rua existe. Ele pensa e sente. Quando é pisoteado, quando roubam dele, ele sente ódio.
*Que pague mais aquele que tem mais.
*Na vida temos que defender a liberdade. E ela não se vende, se conquista. Fazendo algo pelos outros. Isto se chama solidariedade. E sem solidariedade não há civilização.
*Se queremos mudar algo, não podemos fazer do mesmo.
*Os governantes devem viver como a maioria e não como a minoria endinheirada.

O legado do PT

Acontecerá o quê, caso Madame perca o mandato? Na hipótese de Michel Temer despencar com ela, se o Tribunal Superior Eleitoral anular as eleições do ano passado, teremos nova eleição para completar o período. No reverso da medalha, o vice assume se o Tribunal de Contas da União e o Congresso considerarem ter havido crime de responsabilidade nas contas do governo em 2014. Também fica em aberto a possibilidade de tudo continuar como está, ou seja, Dilma permanecer no governo até o fim.
E daí? Daí nada. É esse o destino que nos assola. O Brasil ficará igualzinho, pela falta de alternativas com relação ao futuro. Inexistem projetos no imaginário de nosso coletivo. Os políticos ficarão onde estão, buscando parcelas de poder para satisfazer-se e até para enriquecer. Os empresários correndo atrás do lucro. Os trabalhadores tentando sobreviver. A classe média equilibrando-se. Os religiosos imaginando uma outra vida.

Falta-nos um ideal comum. Um objetivo capaz de sobrepor-se à mesquinharia de todos os dias perseguindo a satisfação individual que nos separa. É o legado do PT que um dia propôs-se a construir uma nova sociedade. Doze anos no poder serviram para demolir esperanças e expectativas. Os companheiros não mudaram nada, apenas ocuparam espaços vazios.

Quando criado, o partido parecia pleno de entusiasmo. Tinha metas e objetivos. Os primeiros a cair fora foram os intelectuais. Depois a Igreja. Em seguida os líderes sindicais. Os trabalhadores. A juventude. Hoje, o PT resume-se a um aglomerado sem ideais. Carente de um programa em condições de sensibilizar e unir a massa à qual se dirigiu. Até o Lula perdeu sua razão de ser, transformado em pequeno burguês milionário a serviço dos que, no passado, imaginou extirpar. Por essas e outras, o PT começará derrotado nas eleições municipais do próximo ano. Depois, em 2018...

Enganou-se quem quis. Foi lamentável a performance do senador Fernando Collor na sabatina do procurador Rodrigo Janot. O máximo que conseguiu foi impor um acento agudo no “o” do sobrenome do desafeto. O ex-presidente caminhou para o cadafalso. Dificilmente escapará da cassação. 
Carlos Chagas

CPMF, a volta da múmia

O anúncio de que o governo da presidente Dilma Rousseff está considerando recriar, com maquiagem nova, a velha e enrugada CPMF, não tem como ser bem recebido pelos agentes econômicos e pela sociedade.

A simples admissão de que poderá retirar essa decrépita múmia do sarcófago, significa um contundente sinal de fraqueza e de incompetência econômica e política, emitido pelo governo.

Nove em cada dez economistas brasileiros não acreditam de que tal malfadada ideia tenha partido de Joaquim Levy, avesso que é nosso Ministro da Fazeda a ortodoxias, exotismos e a pedaladas, ainda que disfarçadas.

O Brasil e nós, brasileiros e brasileiras, já nos submetemos a uma carga tributária elevada, comparável somente à dos países escandinavos. Em troca, recebemos serviços (em todos os níveis - federal, estaduais e municipais –) da mais baixa qualidade.

As razões dessa distorção nós contribuintes as conhecemos bem: gigantismo do setor público, ineficiência generalizada, corrupção e falta de seriedade. Em resumo, nosso grande problema não é o da falta de dinheiro, é o da falta de vergonha, da incapacidade de gestão.

Ajuste fiscal não pode ser sinônimo de extorsão tributária. A regra fundamental para se lidar com tempos de vacas magras é bem conhecido de todos: O dinheiro torna-se escasso? Cortem-se os gastos. Faça-se o dinheiro disponível render mais!

Dizer que o dinheiro da CPMF se destina ao setor de saúde é uma balela; seu objetivo será mesmo o de reforçar o caixa de um Tesouro que se acostumou a gastar sem limites . No ano passado, ano eleitoral convém sempre lembrar, o governo gastou 80 bilhões de reais sem cobertura orçamentária, o que contribuiu para o sério desajuste das contas públicas.

Tudo o que se fizer daqui para frente, para retirar dinheiro das pessoas e das empresas, transferindo-o para o governo, é um atentado à lógica e ao bom senso. Desemprego, em última instância, é falta de consumo. E falta de consumo é falta de dinheiro. Dinheiro que saem dos já surrados bolsos das famílias para cobrir as mazelas do setor público.

Nossos juros básicos estão a 14% ao ano; no resto do mundo estão próximos a zero. Aqueles que produzem, no Brasil, são considerados meramente como tetas.

As invencionices, no passado, levaram o Brasil à hiperinflação e à inviabilidade financeira. Não é possível que não tenhamos nada aprendido.

Lula antecipa o Pixuleco 3


Dilma, Lula e o que resta dos petistas se acorrentam cada vez mais ao osso. Não para salvar o país, nem pensar. Só sonharam isso quando para fins de assumir o poder. O aferramento deles é manter o trono para 2018 num Pixuleco 3.

É claro o recado de Lula, em entrevista na rádio Itatiaia, quando antecipa sua candidatura à presidência da República. "Se a oposição acha que vai ganhar, que não vai ter disputa, e que o PT está acabado, ela pode ficar certa do seguinte: se for necessário, eu vou para a disputa e vou trabalhar para que a oposição não ganhe as eleições".

Remake de 2012, quando na época, antecipou a corrida eleitoral em dois anos ao garantir a candidatura de Dilma para outro mandato e evitar desgaste para 2014. Agora, numa crise nunca antes vista no Brasil, se lança pré-candidato oito meses após as eleições, quando as pesquisas indicam que ficaria em último lugar numa corrida eleitoral.

O Flagelo de Garanhuns repete a jogada política. Não por gostar de Dilma, mas por ter paixão enlouquecedora pelo poder. No último mês já deu mostra de que é um articulador para qualquer momento de olho em cobrar a candidatura em 2018.

Lula não prega prego sem estopa ainda mais quando se trata de política, espaço onde se acha o maior político de todos os tempos. Nunca se convencerá de que ainda é um pelego travestido. A politicanalha dele é de sindicato, não de Estado.

Governou o país como se estivesse entre os metalúrgicos do ABC. Em troca de uns ganhos sindicais cobrou a permanência dele e de seus asseclas no comando. Foi o mesmo sistema que aplicou no país com o esbanjamento do dinheiro público para "melhorar" a vida do povo em campanha publicitárias e cobrar com o continuísmo, agora se sabe, também com a roubalheira dos companbheiros;.

Quem ainda acredita em Lula pode retirar gratuitamente em qualquer centro psiquiátrico o atestado de retardado.