Mantenha a
esperança, disse-me a esperança, e, em seguida, avançou filosofando: só quem
nada espera a suas lembranças recorre. Preocupada com os jovens, contemporizou
como o poeta: não queira um pão melhor do que pode ser feito desse trigo.
Todo mundo
sabe que com a política não há novidade. Como seu interesse não se define em
termos morais, seus mistérios são inúteis. Um ar cada vez mais rarefeito de
teoria e doutrina combina muito com a parte mais visível de pessoas
indiferentes a especulações abstratas ou emoções estéticas. Não é um defeito,
nem incomum, a mente material e prática predominar nessa atividade que sempre
cheira à dissidência. Mas, para não alimentar a sedição, é prudente evitar dar
ouvidos aos que acreditam que persuasão combina com ferro e fogo. Se interessar
mais pela Constituição e dar à lealdade à lei o mesmo valor da gratidão aos
aliados ajudaria muito a evitar suas incertezas.
O Brasil se
acostumou com a pressa e as convicções de vento dos seus partidos políticos.
Tornou-se sócio de um número de facções tão espetacularmente singular que fez
dessa atividade quase uma irrealidade. Nosso pluripartidarismo é exclusivamente
um fato do mundo dos políticos e seus interesses. Não tem correspondência
cultural, religiosa ou social como a que explica esse fenômeno na Índia, por
exemplo, onde tudo é multidão. Os tipos previsíveis que nascem a cada dia nesse
laboratório de siglas se deslocaram da vida da sociedade para viverem dentro
dos seus 30 céus esplendorosos. Legendas e nomes com aquele ar de proprietários
de seus votos dados a quem quiserem, primeiro um parente necessitado, é óbvio.
Como a imensidão do oceano, cada vez mais só desponta dali um gosto de sal.
Diferentemente
de Dona Baratinha, sem dinheiro na caixinha, mas com fita oficial, a presidente
o que mais tem é pretendente. Com alto índice de ambiguidade diante do poder,
por aqui todas as maiorias politicas se parecem. O que as distingue de tempos
em tempos são os ciclos de prosperidade e contenção, as ondas ascendentes ou
descendentes da esperança em que vive imersa a sociedade. Sistema eleitoral e
político como o nosso, de velhas panelinhas e renovada insinceridade, lembra
embarque e desembarque de navios. Não são interesses democráticos, na maioria
das vezes, que decidem sucessões dentro das coalizões governistas.
Fernando
Sabino riu dos provincianismos na literatura brasileira em carta a Clarice
Lispector. Recordo-a, aqui, livremente aplicada à política. Devemos reabilitar
o amadorismo: cada defeito a menos tem sido um pecado a mais nos profissionais.
Desistir de muita inteligência e classificar os tipos a partir de categorias
mais simples: políticos redondos, quadrados, políticos cônicos, políticos
piramidais. Enquadrar logo aliados afoitos em subespécies: os que começam e se
acabam. Os que nos acabam e não começam. Os que começam, mas não acabam. Os que
nem começam nem acabam. E por fim batizar ministros com locuções
correspondentes: o “Apesar de Tudo”; o “Ainda Mais”; o “Contra o Qual”; o “Ele
Outra Vez”; o “Ora Bolas!”; “Ora Pro Nobis”...