quarta-feira, 24 de outubro de 2018

Gepeto da nova era


Filosofia

Você quer mesmo saber
como a vida se levar?
Pois é… primeiro viver
e depois, filosofar…

Diz que é rico… Pode ser…
Mas pode ser que não seja…
Ser rico… é apenas poder
fazer o que se deseja…

Nessa eterna e dura lida
renasço a cada momento
lavando as dores da vida
no rio do esquecimento…

Onde o sonhar de outra idade?
A fé que tive, e perdi?
Hoje… chego a ter saudade
daquele … que já morri…
J.G. de Araújo Jorge

Sem debater crise fiscal, candidatos apostam em propostas populistas no final da campanha

A campanha presidencial deste ano começou com a promessa dos candidatos de discutirem uma solução para a grave crise fiscal. Ficou na promessa. O tema não só foi deixado em segundo plano, como os candidatos partiram para propostas populistas nesta reta final da eleição.

Em busca de avançar no eleitorado nordestino, Jair Bolsonaro (PSL) propôs um 13º para os beneficiários do Bolsa Família. Já Fernando Haddad (PT) prometeu, para reconquistar eleitores perdidos para seu adversário, reajustar em 20% o valor pago pelo mesmo programa. Foi além: disse que, se eleito, o gás de cozinha não custará mais do que R$ 49.

Enquanto isso, as equipes dos candidatos do PSL e do PT não tratam das medidas que terão de adotar para reduzir o desequilíbrio das contas públicas, que irão registrar no ano que vem o quinto déficit consecutivo. O rombo em 2019 está projetado em R$ 139 bilhões.


Se não for enfrentado, o país não irá retomar o crescimento sustentável, essencial para reduzir o desemprego que atinge mais de 12 milhões de brasileiros.

O Orçamento da União só prevê um total de cerca de R$ 30 bilhões para bancar o pagamento dos benefícios do Bolsa Família.

A promessa de Jair Bolsonaro vai elevar o orçamento do Bolsa Família em R$ 2,5 bilhões. Ideia lançada em busca de conquistar mais eleitores num território petista, a região Nordeste, única em que o candidato petista bate o do PSL. E a proposta de Fernando Haddad, lançada neste fim de semana na busca de uma reação nesta reta final da campanha, pode custar R$ 6 bilhões.

Enquanto isso, o mercado prefere fingir que não está vendo a onda populista nesta reta final de campanha e vai aguardar o dia depois da eleição para testar as propostas dos candidatos na área econômica. Aposta que vai prevalecer a liberal de Jair Bolsonaro e se dá por satisfeito. A conferir.

Esquerda fetiche

Sempre desconfiei de artistas com pautas políticas. Continuo desconfiando: artista falando de política é puro marketing. Recentemente, tivemos um exemplo no show do Roger Waters e sua “inserção” no debate político brasileiro. Sua crítica é puro fetiche gourmet.

Artistas assim (existem vários exemplos nacionais e internacionais, mas não vou citá-los, você os conhece bem) ganham rios de dinheiro sendo “progressistas”. Trata-se de uma espécie de gourmetização da crítica política, propício a shows de rock and roll.

O mundo da arte, do audiovisual e da cultura é um dos mais violentos e antiéticos da face da Terra. Quem discordar, mente ou desconhece o assunto.


A informalidade e o “capitalismo selvagem” que regem esse campo de negócios é reconhecidamente agressivo. Jovens, e pessoas em geral, são frequentemente explorados em larga escala quando tentam entrar nesse mercado de trabalho. Além de serem mal pagos.

Seja música, seja cinema, seja teatro ou afins, muito do que os artistas criticam no mundo do “capital” à sua volta é prática comum nesses mesmos campos de negócios. Entre a vaidade e a vocação ao abuso, os artistas (não todos, é claro) são menos confiáveis do que a “velha política”.

Outro fator importante é o desconhecimento em mínima profundidade dos temas menos clichês da política contemporânea —que é uma selva densa de problemas sem soluções.

As críticas levadas a cabo por esses artistas são mais marketing profissional e pessoal deles do que propriamente conhecimento instalado sobre esses temas.

O que Waters sabe da realidade brasileira (ou mesmo de outro tópico constantemente tratado por ele, a saber, o conflito israelo-palestino) que não seja fruto da sua própria e distante bolha ideológica ou dos jargões “progressistas”? O que ele sabe que não seja fruto da construção de uma imagem de consumo associado a este mesmo vago conceito de “progressista”?

Há um pacote ideológico que alimenta o marketing de artistas há muito tempo, começando pelo “Che suave”.

O conceito de cognição política, crescente no tratamento do comportamento dos eleitores e agentes políticos em geral, cai bem aqui.

Antes de tudo, um profissional que se dedica (mesmo que, competentemente, do ponto de vista artístico) a música, dificilmente conseguirá reunir tempo e ferramentas específicas para construir um mínimo repertório para realizar uma cognição política minimamente consistente.

Projetar imagens de crianças da África em shows de rock and roll é o que há de mais banal em marketing da própria banda. Aquilo que, de certa forma, era “raiz” em artistas como John Lennon, hoje não passa de estilo “nutella” em bancas milionárias.

Voltando a cognição política, conceito que demonstra a quase incapacidade de profissionais dedicados a política em, de fato, compreender de forma minimamente consistente o mundo político contemporâneo para além do mimimi ideológico, quase nos leva ao impasse cético nas análises de temas políticos, principalmente depois que as mídias sociais trouxeram a superfície a fala de milhares de pessoas que antes eram mudas, e não passavam de objeto de fantasia idealizada por parte desses mesmos profissionais da análise política.

Parte do transtorno e da desorientação que vivemos hoje quando pensamos na democracia não advém da redução da participação popular nas opiniões políticas, mas da saturação aguda dessa mesma participação.

Estamos afogados na “soberania popular” tagarela nos últimos anos. E isso não vai mudar porque as ferramentas de comunicação tendem a dispersar cada vez mais essa tagarelice (que Alexis de Tocqueville, em 1835, já apontava no seu “Democracia na América”).

E venhamos e convenhamos, a música de Waters é grandiosa, mas dizer que “we don’t need no education...” (nós não precisamos de educação) é, como já apontou o psiquiatra inglês Theodore Dalrymple, coisa de adolescente bobo.

Resistir ao fascismo sempre foi, de fato, urgente. Mas, é bom lembrar que o fascismo sempre gostou de grandes surtos coletivos regados a palavras de ordem e multidões.
Luiz Felipe Pondé