Albert W.Ketelbey(1875-1959)
domingo, 17 de agosto de 2014
Tragédia fortalece gana para mudar
O episódio dramático pode levar a um fechamento desse 'gap' entre a sociedade e a classe política
A violenta e inesperada saída de cena de Eduardo
Campos, candidato do PSB à presidência que morreu na última quarta-feira num
acidente aéreo, foi penosa e chocante não só para a sua família e seus
correligionários mais próximos. Eleitores e não eleitores do presidenciável se
sentiram consternados e obrigados a refletir sobre a processo eleitoral e sobre
quem era o político que vinha persistindo em terceiro lugar nas pesquisas com
uma mensagem de mudar o modo de fazer política no país.
Por isso, a morte de Campos pode ter um alcance maior do que
se supõe para o eleitor brasileiro, acredita a socióloga Fátima Pacheco Jordão.
“A morte trágica de Campos reduz a distância entre a sociedade e a classe
política”, avalia ela, que é diretora da D'Fatto pesquisa em Jornalismo. A
última mensagem do presidenciável, numa entrevista ao Jornal Nacional, da rede
Globo, um dia antes, “Não desistam do Brasil”, poderia ter um efeito importante
para a juventude brasileira que anda tão refratária à política. “A ideia
de renovação está escrita na sociedade. É uma mensagem que Eduardo Campos
encampou”, afirma. A sua morte, explica, fortalece a gana de mudança do eleitor.
Com amor...
Tantas pessoas votaram na Dilma e se frustraram, pois viram agora um governo que valoriza no seu centro a velha política, deixou a inflação voltar, derreter os empregos. (...) Nós vínhamos nos afastando do governo, porque esse governo é o único que vai entregar o país pior do que recebeu, seja na economia, na segurança, na logística, na política externaEduardo Campos
Não desistam do Brasil
Eduardo teria sido eleito? Como teria governado? Silêncio. O que não quer dizer que a esperança que despertava morra com ele
Quando um acidente fatal acontece instala-se um sentimento
de absurdo. Aconteceu como poderia não ter acontecido. E, entre essas duas
possibilidades, seja para uma família ou para um país, cava-se um abismo. A
vida que poderia ter sido e a que, doravante, será. E, contra todas as
expectativas, um aprendizado: o acaso tem sempre a ultima palavra.
A desgraça que se abateu sobre Renata Campos e seus cinco
filhos é difícil de aceitar. O Brasil perde com a morte de Eduardo um dos raros
homens públicos que despertavam entusiasmo em tempos em que políticos têm
merecido da população indiferença, quando não asco. Sua última entrevista ao
“Jornal Nacional” na véspera da tragédia mostrou, sob duro questionamento,
alguém capaz de olhar nos olhos de seus eleitores. “Não vamos desistir do
Brasil” foi sua última mensagem, que calou fundo mesmo em almas gastas pelos
dissabores.
Eduardo teria sido eleito? Como teria governado? Silêncio. O
que não quer dizer que a esperança que tinha e que despertava morra com ele.
Renata, uma mulher forte, há de saber, com o poeta Drummond, que “as coisas
findas, muito mais que lindas, essas ficarão”. Os filhos de Eduardo vão crescer
— o mais velho, João, já se manifestou nas redes pró-candidatura de Marina
Silva com um límpido argumento: não teria sentido apoiar Dilma, que era sua
adversária, em detrimento de Marina, que seria sua vice. O que se lhes pode
desejar é que não percam o gosto da política que trazem no sangue e o olhar
atento sobre as injustiças.
Na recusa visceral aos políticos e à politica partidária há uma mensagem a ser decifrada. Essa juventude não diz, como diziam seus pais, que “um outro mundo é possível”. Acredita que “outra vida é possível”. Vivencia a política no cotidiano, ancorada em escolhas existenciais. Seu espaço e tempo são aqui e agora. A experiência vivida é o seu horizonte.
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