Eduardo teria sido eleito? Como teria governado? Silêncio. O que não quer dizer que a esperança que despertava morra com ele
Quando um acidente fatal acontece instala-se um sentimento
de absurdo. Aconteceu como poderia não ter acontecido. E, entre essas duas
possibilidades, seja para uma família ou para um país, cava-se um abismo. A
vida que poderia ter sido e a que, doravante, será. E, contra todas as
expectativas, um aprendizado: o acaso tem sempre a ultima palavra.
A desgraça que se abateu sobre Renata Campos e seus cinco
filhos é difícil de aceitar. O Brasil perde com a morte de Eduardo um dos raros
homens públicos que despertavam entusiasmo em tempos em que políticos têm
merecido da população indiferença, quando não asco. Sua última entrevista ao
“Jornal Nacional” na véspera da tragédia mostrou, sob duro questionamento,
alguém capaz de olhar nos olhos de seus eleitores. “Não vamos desistir do
Brasil” foi sua última mensagem, que calou fundo mesmo em almas gastas pelos
dissabores.
Eduardo teria sido eleito? Como teria governado? Silêncio. O
que não quer dizer que a esperança que tinha e que despertava morra com ele.
Renata, uma mulher forte, há de saber, com o poeta Drummond, que “as coisas
findas, muito mais que lindas, essas ficarão”. Os filhos de Eduardo vão crescer
— o mais velho, João, já se manifestou nas redes pró-candidatura de Marina
Silva com um límpido argumento: não teria sentido apoiar Dilma, que era sua
adversária, em detrimento de Marina, que seria sua vice. O que se lhes pode
desejar é que não percam o gosto da política que trazem no sangue e o olhar
atento sobre as injustiças.
Na recusa visceral aos políticos e à politica partidária há uma mensagem a ser decifrada. Essa juventude não diz, como diziam seus pais, que “um outro mundo é possível”. Acredita que “outra vida é possível”. Vivencia a política no cotidiano, ancorada em escolhas existenciais. Seu espaço e tempo são aqui e agora. A experiência vivida é o seu horizonte.
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