terça-feira, 26 de janeiro de 2016

A guerra acabou

Um soldado japonês, chamado Hiroo Onoda, lutou por 30 anos, depois que a II Guerra acabou. Ele foi mandado para as Filipinas com a missão de resistir e ficou por lá, sem saber do término do conflito. É quase impossível reproduzir, hoje, a saga de Hiroo Onoda.

Mas se olhamos para o Brasil, num período de derrocada da Petrobras e dos próprios preços do petróleo, veremos que o país tem um pouco da persistência do soldado japonês. Fomos educados a pensar que o petróleo é nossa grande riqueza, constantemente ameaçada pelos estrangeiros. Saímos às ruas, os mais velhos, para defender esse tese e gritávamos orgulhosamente: o petróleo é nosso. Com a descoberta do pré-sal, no governo do PT, reacendeu-se a chama: o petróleo é nossa redenção e dele brotam as fontes dos nossos recursos. No primeiro mandato de Lula, ele flertou com o álcool, planejou usinas de álcool em todo lugar, inclusive em parceria com os americanos. Mas o petróleo era muito forte. O pré-sal fez com que Lula jogasse todos os projetos de álcool para o espaço, lambuzasse as mãos com óleo negro e acariciasse as costas de Dilma, numa célebre foto em que parecia dizer: você é a herdeira e vai nos levar ao paraíso.
Luiz Inácio Lula da Silva

Alguns sabiam que não era bem assim. Conheciam a história da doença holandesa, como os países dependentes da produção do petróleo correm o risco de se atrasar. E viam também que recursos não bastam. Os royalties saíam pelo ralo em grandes festas municipais, obras caras e quase inúteis. Os patrióticos soldados do petróleo atacaram na regulação do pré-sal. É preciso não só defender o papel da Petrobras, como afirmar nossa vocação nacionalista: a empresa era obrigada a participar de todos os projetos na área do pré-sal.

A alternativa era dar à Petrobras a preferência. Onde quisesse, participaria; onde não quisesse, descartaria. A preferência era inclusive evitar as canoas furadas. Mas não soava tão nacionalista, tão apaixonada. O populismo de esquerda queria se apresentar como o grande defensor da Petrobras. Seus adversários do PSDB não tinham como contestá-lo, na verdade entraram na onda, com medo de perder votos. Enquanto o petróleo seguia seu destino de commodity, subindo e descendo no mercado, acossado pelos perigos do aquecimento global, nossos soldados continuavam a luta para protegê-lo da ambição estrangeira, imperialista, alienígena, enfim, o adjetivo dependia do estilo pessoal do orador.

O soldado japonês ficou 30 anos lutando numa guerra por disciplina e amor ao seu país. Quem o mandou para as Filipinas disse: fique lá até que determinemos sua volta. Os soldados brasileiros do petróleo amam o Brasil de uma forma diferente do japonês. Eles se identificam tanto com o país que, ao afirmarem que o petróleo é nosso, querem dizer que o petróleo é deles. Esta confusão entre soldado e pátria, partido e país, acabou inspirando a maior roubalheira da história do Brasil: o petrolão. O governo japonês garantiu um salário digno para o soldado Hiroo Onoda até o fim de sua vida. O brasileiro terá de garantir uma longa prisão para seus retardatários guerreiros. A última grande batalha aconteceu nas ruas do Rio, quando já se sabia do escândalo da Petrobras. Comandado por Lula, um pequeno pelotão desfilou pelas ruas defendendo a grande empresa dos seus inimigos internos e externos.

Assim como Lula, usavam macacões da cor laranja. Se fosse nos Estados Unidos, pareceriam candidatos à prisão, pois já estavam vestidos com a cor certa. O laranja é a cor do uniforme dos presidiários lá e inspirou o título de uma série sobre a cadeia: “Orange is the new black”. Mas se prendêssemos todos ali, poderíamos cometer injustiças. Nem todos saquearam a Petrobras. Alguns, talvez a minoria, simplesmente, não sabem que a guerra acabou e continuam acreditando que os americanos querem nosso petróleo e que o mundo inteiro se tensiona para nos explorar. Não sabem como os americanos avançaram na exploração do xisto, ignoram os investimentos alemães e chineses na energia solar, não dimensionam um conflito muito mais importante para o petróleo: o da Arábia Saudita e Irã, sunitas versus xiitas.

Assim como o japonês que não sabia do fim da guerra, nossos soldados talvez tenham ignorado um outro marco da história contemporânea: a queda do Muro de Berlim. Seguem de cabeça erguida rumo ao socialismo do século XXI, simplesmente como se o século anterior não tivesse existido. Em vez de fazer uma luta armada para implantar seu modelo, optaram por uma sinistra marcha pelas instituições, dominando-as progressivamente, até que sejam apenas um brinquedo na mão do partido e seu líder. Essa novidade também foi para o museu, com a crise na Venezuela, a derrota na Argentina. O Brasil não é um país muito rápido para apreender as mudanças, a ponto de prender os líderes saqueadores e mandar os iludidos soldados cuidarem de sua vida.

Pelo menos já compreendeu o ridículo de expor as mãos tintas pelo petróleo, de acreditar que nosso futuro depende apenas dele, de se divertir gastando royalties em incontáveis shows musicais nas cidades do interior. A guerra acabou. Hoje a ação da Petrobras vale menos que um coco na praia. E as reservas do pré-sal que nos trariam fortunas mirabolantes tornam-se economicamente inviáveis com o petróleo a US$ 30 o barril. O exército laranja e seu general com mãos sujas de óleo deveriam sair das trincheiras. Perderam. O pior é que fizeram o Brasil perder muito mais, com suas ilusões, erros e crimes.

Fernando Gabeira

A concentração mundial da renda e da riqueza

A Organização Não Governamental britânica Oxfam publicou recentemente a nova edição de seu estudo sobre a concentração da riqueza global. O título do estudo é “Uma economia a serviço do 1%”.

Quem viu o relatório do ano passado poderá lembrar-se de que o conjunto da riqueza das 88 pessoas mais abastadas do mundo equivalia então à riqueza distribuída entre os 3,5 bilhões de pessoas que integram os 50% mais pobres de toda a humanidade.

O novo quadro mostra que hoje bastam apenas as 62 pessoas mais ricas do mundo para igualar os 50% mais pobres do mesmo mundo. Isso significa que a riqueza média dos integrantes do grupo de cima (o G-62) é mais de 56 milhões de vezes maior que a renda média dos integrantes dos 50% de baixo. 

A riqueza total das 62 pessoas em 2015, segundo levantamento anual publicado pela revista norte-americana Forbes, foi de 1,76 trilhão de dólares, dos quais 900 bilhões, ou seja mais que a metade do total, pertencem aos 20 primeiros da lista.

Fazendo-se um cálculo estatístico para estimar a riqueza dos magnatas de número 63 a 88, que até o ano passado faziam parte dos que somam mais do que os 3,5 bilhões de pessoas mais pobres da humanidade, e atribuindo-lhes uma riqueza média de 13,5 bilhões de dólares per cápita, verifica-se que eles dispõem no total de 350 bilhões de dólares.

Como hoje só são necessárias as 62 pessoas mais ricas do mundo para superar os 50% da base da pirâmide humana, verifica-se que o patrimônio do G-62 aumentou em pelo menos 350 bilhões de dólares, supondo que os mais pobres tenham permanecido no mesmo lugar. Isso significa que cada indivíduo desse grupo aumentou sua riqueza em 5,65 bilhões em um ano.

Alargando o grupo dos mais ricos do mundo, para chegarmos ao 1% mais rico da humanidade, vemos que aí estão 70 milhões de pessoas, quase todas vivendo no hemisfério Norte, cuja riqueza hoje supera a de todo o restante da humanidade. Neste caso, a desproporção da riqueza passa a ser de cem vezes, ou seja, o super-rico que ocupa o trigésimo milionésimo lugar desse grupo tem um patrimônio cem vezes maior que o do ser humano que ocupa o meio da pirâmide de 99% de toda a humanidade, ou seja uma pessoa da classe média de um país como o Brasil.

Esses fatos, essa tendência, são preocupantes pelo menos por três razões de ordem econômica, para não falarmos da incrível injustiça aí contida.

Em primeiro lugar, não é assim que se deve governar o mundo. Esse modelo de distribuição, ou melhor, de concentração de riqueza gera distorções que reduzem brutalmente as possibilidades de uma vida mais produtiva para bilhões de pessoas, inclusive das classes médias de todo o mundo.

Em segundo lugar, o fenômeno é crescente. Se as coisas continuarem a evoluir do mesmo modo, não está longe o dia em que mil pessoa terão riqueza igual à de todos os restantes membros da humanidade. Essa tendência tem implicações sociais e políticas sensíveis pois não se poderá continuar pensando indefinidamente na persistência da solidariedade estratégica que hoje existe entre as classes médias e as elites. E a deterioração da situação vivida pelas classes trabalhadoras requererá da parte delas níveis de tolerância e paciência dificilmente praticáveis, o que pode ocasionar tensões violentas na sociedade.

Em terceiro lugar, a possibilidade de que esse fenômeno perdure é proporcional à solidez política, econômica e social do regime que hoje governa o mundo. A elite financeira rege a orquestra, é dona dos bancos, controla as indústrias, dispõe da mídia, influencia forte e crescentemente os governos e abastece-se com os melhores cérebros produzidos pelas universidades. Quem terá força para mudar essa configuração?

O partido que não muda nada

Notícias sobre envolvimento de políticos oposicionistas em ações de corrupção são invariavelmente exploradas pelos líderes petistas em pronunciamentos oficiais e pela militância do partido nas redes sociais como se isso fosse capaz de justificar e legitimar o assalto aos cofres públicos praticado em dimensões oceânicas desde que Lula e sua tigrada assumiram o poder. Há corruptos, sim, também entre os políticos da oposição. Qual é a novidade? Negar essa obviedade é tão despropositado e ridículo quanto o chefão do PT se proclamar o mais honesto dos brasileiros. O que a prática generalizada da corrupção na gestão da coisa pública demonstra é que o sistema político patrimonialista em vigor desde os tempos coloniais é viciado e não serve aos propósitos de uma sociedade que se pretende moderna e genuinamente democrática. O sistema precisa urgentemente de reforma. E em 13 anos no poder o PT não moveu uma palha nesse sentido.

O fato de os petistas explorarem em benefício próprio as notícias sobre corrupção praticada pelos oposicionistas demonstra, desde logo, que essas notícias existem e são veiculadas por todos os meios de comunicação, o que desmonta o argumento de Lula & Cia. de que impera no país uma “imprensa golpista” que protege a oposição, manipula o noticiário em benefício dos interesses da “burguesia” e por isso se esmera em caluniar o PT, único e legítimo defensor dos fracos e dos oprimidos.

É verdade que a quantidade das notícias sobre a delinquência dos petistas e aliados – a rigor, cúmplices – sobrepuja em muito o número de notícias sobre as lambanças de gente da oposição. Mais uma vez, porém, qual é a novidade? Há mais de uma década o partido que surgiu para lutar contra “tudo isso que está aí” chegou à conclusão de que não adianta dar murro em ponta de faca e se entregou sem o menor constrangimento ao aperfeiçoamento das mesmas práticas que passara a vida condenando. Tudo em nome, é claro, de uma causa nobre: a perpetuação no poder da “opção popular”.

E veio o mensalão, brincadeira de criança comparada com a “privatização” da Petrobras em benefício de políticos, empresários e espertalhões de variadas especialidades. Durante anos seguidos, a partir do primeiro mandato de Lula, o assalto aos cofres das estatais foi-se tornando cada vez mais amplo e bem-sucedido, a ponto de os envolvidos na mamata nem imaginarem que a lei os pudesse alcançar. Tiveram uma surpresa com o processo do mensalão. E em março de 2014 uma operação policial de nome estranho, Lava Jato, começou a puxar o primeiro fio da meada que hoje parece inesgotável.

A partir de então, praticamente todo dia surge a notícia de um fato novo no trabalho da Polícia e do Ministério Público federais. Praticamente toda semana algum juiz, não apenas Sergio Moro, manda para a cadeia um figurão pego com a mão na massa. Os principais delitos praticados são o tráfico de influência, o favorecimento a prestadores de serviços públicos, inclusive na forma de superfaturamento, e o desvio de recursos para o fim de pagamento de propina. Crimes que obviamente só podem ser praticados com a cumplicidade de quem tem o poder de prover. O que não costuma ser o caso dos oposicionistas.

Assim, a tigrada aperfeiçoou métodos, mas não é original na essência do que faz. Há mais de meio século, os correligionários de um importante político paulista, que foi prefeito da capital e governador do Estado, proclamavam com orgulho: “Rouba, mas faz”. Hoje, a tigrada rouba, deixa roubar e não “faz”. A não ser que se considere um progresso o fato de o atual governo lulopetista estar pondo a perder os avanços que os brasileiros mais pobres conquistaram quando o governo Lula tinha dinheiro para investir em programas sociais.

Melhor faria agora a tigrada petista se levasse a sério o diagnóstico feito semanas atrás pelo ministro-chefe da Casa Civil da Presidência da República, Jaques Wagner: “O PT errou ao não ter feito a reforma política no primeiro ano do governo Lula. E aí não mudou os métodos do exercício da política”. E agora vai mudar?

As fraudes eleitorais grosseiras do dr. X

Era tempo de cédula de papel, e o grupo dominante, da indústria extrativa, sempre achava solução para rechaçar tentativas de vitória dos trabalhadores.

Dr. X era advogado, muito superficial no direito, mas de muita coragem ao abraçar uma causa, principalmente quase perdida. Fazia jus ao estipêndio que a empresa lhe pagava para demandas trabalhistas e estratégia eleitoral.

Da primeira vez em que os empresários sentiram que o adversário estava forte, convocaram o dr. X, que tranquilizou os patrões.


Sabedor de que uns 200 eleitores iriam sufragar a chapa opositora, chamou-os aos poucos a seu escritório, deu dinheiro a cada um, pediu que deixassem com ele seus títulos de eleitor, para estudo sociológico dessa amostra de votantes. Devolveria os documentos na manhã do dia da eleição. Nesse dia, virou um cisco, sumiu, ninguém dava notícia dele. Seus patrões ganharam a eleição, a lei proibia votar sem o título. Uns 15 dias depois o dr. apareceu na cidade com atestado médico de mal súbito em longínqua cidade.

Na segunda vez, ele estava num carteado com doutores, no fundo de um boteco, quando, beirando a meia-noite, lhe apareceram dois líderes dos empresários, que lhe disseram: “Desta vez, não escaparemos. O pessoal do povoado dos Buenos vai nos ferrar, ficamos sabendo agorinha mesmo, o inimigo vencerá”.

E a ansiedade era tamanha que por pouco arrancavam o homem da cadeira. Pacificou-os e somente pediu que com ele deixassem a Rural em que vieram. E prosseguiu na jogatina. Às 6h45 do dia seguinte, dia da eleição, ele atravessou o carro na estrada que vinha dos Buenos e foi dizendo aos caminhantes, à medida que se aproximavam: podem voltar para casa, o juiz declarou que vocês, daqui dos Buenos, vão votar é amanhã. Houve uma atmosfera de descrença, mas uns cinco eleitores que haviam sido ajudados pela advocacia bandoleira do dr. X convenceram o resto a retornar ao povoado.

Da terceira vez, o caso era mais difícil. O dr. X tinha sido nomeado escrutinador na apuração do pleito, o juiz era novo na comarca.

O alto-falante do fórum ribombava: Plínio Andrade, Carlos Ribeiro, Augusto Pontes e Lima Teixeira. Era o enunciado, fora de ordem, do voto para o candidato a prefeito, a vice, a vereador e a juiz de paz.

No undécimo minuto para terminar a contagem dos votos, faltando apenas três, o placar acusando a vitória dos empresários por um voto, o dr. X engoliu os três restantes, numa acrobacia e rapidez dignas de mágico.

Tudo faz crer que essas fraudes grosseiras merecem fé, a grossura era correlata ao estádio da cultura, da informação ou da desinformação e do desinteresse dos eleitores.

Se hoje um dr. X não poderia agir como o descrito, o dr. Y pode, de maneira refinada, com alguma publicidade, favores bem antes da eleição e hábeis agentes, comprar voto para o candidato, sem levar um “psiu” da polícia. Aliás, o candidato, ele mesmo, é uma fraude edulcorada.

O risco da derrota ou saltar de banda

O crime não é comprar um apartamento, mesmo de luxo, a preço incompatível com a renda do comprador. Crime é permitir que uma empreiteira envolvida em corrupção com dinheiro da Petrobras se encarregue das obras de reforma e complementação do imóvel, sem ônus para o proprietário. Fica evidente a relação entre a empresa e o beneficiário, em especial se ele foi presidente da República e favoreceu a outra parte flagrada pela Justiça praticando negócios ilícitos como superfaturamento de contratos, lavagem de dinheiro e formação de quadrilha, entre outros. Sobre o Lula pesa a acusação de ocultação de patrimônio. É o que deve enfrentar, prestes a ser denunciado pelo Ministério Público de São Paulo. A empreiteira OAS assumiu a construção do empreendimento e entregou as chaves do imóvel ao ex-presidente da República sem que até agora ele tenha provado que pagou pelo serviço.

Cabe ao PT defender seu criador? Por questão de lealdade, não. Afinal, o partido nada tem a ver com as atividades privadas do Lula. As conferências que pronunciou, as viagens que fez ao exterior, financiadas por empresas cujos interesses defendeu junto a governos estrangeiros, incluem-se no rol das práticas contrárias à imagem que deveria preservar. A cada dia, como agora no caso do apartamento triplex no Guarujá, surgem novas denúncias de malfeitos debitados à ação irresponsável do Lula.

A pergunta que se faz é se, condenado ou não em longos e arrastados processos na Justiça, ele terá o respaldo dos companheiros para candidatar-se à sucessão de Dilma Rousseff, em 2018. Tudo indica que se tiver vontade, será lançado, mas enfrentará profunda reação de seus adversários. Precisará defender-se em cada palanque ou debate a que compareça. Correrá o risco de rejeição em suas próprias bases.

Será diante dessas dúvidas que o Lula decidirá. Claro que voltar a ser presidente constitui seu principal objetivo, mas disputar sem a certeza da vitória constituirá um risco. Ainda mais frente a uma performance mais do que sofrível da sucessora, que precisará contestar caso eleito. Há quem recomende que salte de banda, mesmo sem perspectiva de ser substituído por outro companheiro.

Em suma, o ex-presidente não está premido pelos fatos. Há tempo para decidir-se. Mas entre correr o risco da derrota ou saltar de banda, sempre haverá o sonho de reviver tempos que possivelmente não voltam mais.

Os tabus de uma democracia limitada: por que não discutimos economia?

Na semana passada a presidente Dilma sancionou o Plano Plurianual para o período de 2016 a 2019. O plano é uma lei que estabelece o planejamento orçamentário de médio prazo, apontando para temas prioritários e indicando meios para executar as medidas fiscais que conduzirão aos objetivos que a nação quer atingir. Houve, entretanto, alguns vetos feitos pelo Executivo em relação ao projeto aprovado pelo Congresso. Um dos que causou alguma repercussão, embora muito secundária, foi o veto à emenda apresentada pelo deputado federal Edmilson Rodrigues (PSOL-PA), que previa a realização de auditoria da dívida pública com participação de entidades da sociedade civil, a chamada auditoria cidadã da dívida pública.

A argumentação das razões do veto presidencial, em geral, foram de que este assunto já possui a devida publicização e que já são realizadas auditorias internas e externas pelos órgãos de controle. Ou seja, foi uma atitude de impedir a discussão e o debate público do assunto. Mas por que a dívida pública deveria ser auditada e debatida pela sociedade?

O problema da dívida pública no Brasil tem características muito peculiares, que fazem deste tema um dos maiores entraves para quem quer que governe o país. Resumidamente, o maior problema da dívida pública no Brasil são suas condições e as taxas de juros de nossa economia.

A DIFERENÇA SÃO OS JUROS

O tamanho da dívida do setor público no Brasil (em torno de 65% do PIB no ano passado) não é muito diferente da maioria dos países e está muito longe do apresentado pelos países europeus do chamado grupo dos PIGS (Portugal, Irlanda, Grécia e Espanha), que são alguns dos países mais endividados, tendo dívidas públicas que representam de 120% a 177% de seus PIBs, bem como de países como Japão e EUA, todos com taxas de endividamento de três dígitos.

Um bom exercício de análise sobre as complicações deste problema no Brasil seria compararmos com o caso português. No ano passado, embora a relação dívida/PIB do governo português tenha sido aproximadamente o dobro, somente 10% do orçamento governamental português foram drenados com as despesas da dívida pública, já no Brasil a soma das despesas com encargos financeiros chegou a mais de 47% do orçamento da União. O que gera este enorme desiquilíbrio são fundamentalmente as elevadas taxas de juros pagas pelo Tesouro Nacional aos seus credores e as condições pactuadas no mercado.

Mas quem são os credores do tesouro nacional? São, essencialmente, investidores nacionais e estrangeiros que aplicam seus vastos excedentes financeiros em títulos de renda fixa. São, pois, as camadas mais ricas da população.

Como tema público, entretanto, nos acostumamos muito mais a discutir os 1,2% do orçamento federal que vão para as 14 milhões de famílias mais pobres do país, beneficiárias do Bolsa Família (para que mantenham seus filhos na escola e sejam acompanhadas pelos serviços de saúde) do que os 47% que vão para algumas poucas famílias, sem que delas seja exigida qualquer contrapartida.

Neste sentido, se tomarmos outro tema tabu, que é a reforma tributária, veremos que o Brasil é um dos países onde a tributação é mais regressiva. Aqui, quanto mais pobre, mais impostos se paga. Os mais pobres comprometem, em média, 54% de sua renda com impostos, enquanto os mais ricos, como aqueles que ganham mais de 30 salários mínimos, comprometem apenas 29% (quase metade). Contudo, quem conduz as “rebeliões populares” contra a carga tributária quase nunca são os setores mais pobres.

Em Portugal, voltando à comparação, tais temas não só são debatidos com frequência pela sociedade e nos meios de comunicação, como são os grandes temas de discussão nos debates eleitorais, no qual socialistas e sociais democratas possuem posições claramente diferentes.

Não é por outro motivo que o recém empossado primeiro ministro António Costa, do partido socialista, já em sua primeira semana de governo apresentara medidas, como uma política de forte valorização do salário mínimo, de aumento da isenção tributária aos mais pobres (por meio de uma espécie de “imposto de renda negativo”) e aumento do número de alíquotas do imposto sobre a renda acompanhado de maior progressividade no imposto sobre a propriedade, para que os mais ricos contribuam mais.

Economia no Brasil é um tema tabu no debate público, seja nos meios de comunicação, seja no parlamento. Construir o debate destes temas seria uma ótima agenda para o aprofundamento da democracia no Brasil. Em uma democracia de alta intensidade não existem temas tabu, ainda mais temas tão centrais, como o quão forte pode ser o Estado para prover serviços públicos e de onde vem e para onde vão os recursos que ele arrecada.

O PT deu bastante trabalho

No fim da manhã de 24 de junho de 2006, enquanto milhões de brasileiros se preparavam para passar a noite celebrando outra noite de São João, 4.000 fiéis de uma seita debilitada festejavam desde cedo, no auditório do Minas Brasília Tênis Clube, na capital federal. Eram todos participantes da Convenção Nacional do Partido dos Trabalhadores. A animação chegou ao clímax à 12h22, quando um suado Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao palco para anunciar que seria candidato à Presidência da República pela quinta vez. Naquele momento, o Mensalão já completara um ano e a oposição se dera conta de que, assolada por brigas fratricidas, havia perdido o bonde da história.

Lula empunhou o microfone por mais de 90 minutos, recheados de autoelogios. Cercado por um punhado de gente que hoje preferiria não estar naquela foto, vangloriou-se de ter gerado mais empregos formais no Brasil “do que eles”. Eram tempos alvissareiros os que antecederam a desastrada “nova matriz econômica”. A casa parecia arrumada economicamente, embora já fosse assombrada pelo fantasma da corrupção.

Segue um trecho do discurso, sempre sublinhado pelo obsessivo “nós contra eles”.

“Nos oito anos de governo deles, a taxa de desemprego aberto aumentou 41%. Nos nossos três anos e meio, a taxa de desemprego aberto diminuiu 13,7%. E o mais importante: enquanto eles criaram, em média, 8.300 empregos por mês, nós estamos criando uma média de 102.000 empregos mensais. Por isso, já criamos mais de quatro milhões de empregos com carteira assinada, um montante superior ao que eles criaram nos seus oito longos anos de inércia. Se somarmos as vagas abertas no mercado informal e no setor público, o número de empregos criados por nós é de 5 milhões e 600 mil. Para não cansá-los com outros números, resumo o restante numa frase: fizemos em 42 meses mais que eles em 8 anos.”

No fim da manhã de 20 de janeiro de 2016, o governo Dilma Rousseff admitiu que ampliara a coleção de recordes negativos: nos últimos doze meses, 1,5 milhão de brasileiros perderam o emprego, marca só comparada às registradas em 1992, nas trevas da gestão de Fernando Collor de Melo . Lula não fez comentários sobre a árvore que plantou e voltou a regar em 2014.

Nem a mais otimista das cartomantes se arriscaria a antecipar um prazo para que o Brasil saia da UTI. De qualquer forma, em 2018 — se Dilma durar até lá — pela primeira vez a carteira de trabalho azul não será exibida durante a campanha presidencial, seja quem for o candidato a herdeiro do malogro petista. O tema será o desemprego.


Em 2006, deslumbrado com os números da economia, Lula aproveitou para condecorar-se com a medalha que atestava a competência técnica da Petrobras. Em tempo: na época, a estatal era comandada por gente da estirpe de Nestor Cerveró e Paulo Roberto Costa, sob a regência de um cartel de empreiteiros bandidos e as bênçãos do companheiro Delcídio Amaral, que hoje fazem parte da população carcerária.

Voltemos ao discurso do candidato à reeleição em 2006:

“Depois da experiência pioneira, nas décadas passadas, com o etanol, chegamos agora a era revolucionária do biodiesel e do Hbio, este último uma maravilhosa invenção brasileira, fruto da competência técnica da Petrobras. Parte disso só foi possível porque nos últimos três anos e meio, a Petrobras deu um salto sem precedentes.”

Faltam seis meses para que a anunciação do Brasil potência imaginado por Lula complete uma década. Até junho – ou até antes — , é provável que uma ação da Petrobras valha menos do que uma nota de um dólar.

O PT deu bastante trabalho.

Os desafios mais rentáveis da humanidade


O mundo nunca teve que enfrentar tantos desafios. Terrorismo, mudanças climáticas, desigualdade, escassez de água, concentração de terras, disrupção digital, pandemias como as de câncer e de obesidade. Como se fosse pouco, o envelhecimento da população do planeta é o prelúdio de todas as grandes transformações que viveremos. Essas forças estruturais podem levar a um panorama aterrador ou a uma era em que o ser humano dê o melhor de si: sua capacidade de inovação e sua magia para sonhar soluções.

Há oportunidades econômicas na intersecção de todas essas forças de mudança e em todos esses desafios. Para o bem e para o mal, o mercado é capaz de transformar um problema num ativo financeiro. “Os horríveis ataques na Europa tristemente lembraram às pessoas que o terror não se detém em suas fronteiras. Por compromisso ético e social, não fazemos nenhuma recomendação sobre como lucrar com essa cicatriz, mas é impossível ignorar o uso da ciberguerra por parte desses grupos como estratégia para provocar danos no futuro”, reflete Fabiano Vallesi, analista do banco suíço Julius Bär. E a defesa nessa nova batalha é a cibersegurança. O Centro de Estudos Estratégicos e Internacionais (CSIS, na sigla em inglês) estima que o crime digital custe entre 375 e 575 bilhões de dólares (de 1,5 a 2,4 trilhões de reais) por ano. São números maiores que a riqueza de muitos países. Por isso “as empresas estão investindo mais do que nunca para se proteger”, observa Marc Martínez, especialista na área da KPMG. E isso é uma oportunidade para as empresas especializadas na nuvem e em análise de dados em grande escala (big data).
Mas nesta viagem para um novo mundo, a demografia continua a ser um destino. O planeta envelhece. Pela primeira vez na história a população com mais de 65 anos passará –em 2047- a das crianças com menos de 5 anos. “É a maior transformação social, política e econômica da nossa era”, avalia a Global Coalition on Aging. “Todos subestimam a importância dos idosos, como se fazer aniversário não fosse problema nosso”, queixa-se Francisco Abad, diretor da consultoria a Best Innovación Social. Isso não combina com a matemática e com o tempo. Nos Estados Unidos, a economia da longevidade movimenta 7,1 trilhões de dólares (29 trilhões de reais). Se fosse uma nação, seria a terceira mais rica do planeta. Seus integrantes terão em 2020 no bolso um poder aquisitivo de 60 trilhões de reais. Parece impossível interromper esse movimento, entre econômico e malthusiano. Porque em 2050 já haverá no mundo mais de 2 bilhões de habitantes com mais de 65 anos de idade.

Mais tempo sobre a Terra significa também maior chance de adoecer. O câncer se tornou uma espécie de pagamento ao barqueiro pela travessia desse rio Estige representado pela vida longa. E é também um filão para a indústria farmacêutica. A tal ponto que os remédios para essa enfermidade já representam 10% do mercado farmacêutico mundial. “E nos próximos cinco anos chegará uma gama de novas drogas que farão com que as vendas de fármacos contra esse mal superem o mercado generalista”, avalia o banco UBS. Essa química revolucionária é a esperança para lutar contra uma enfermidade responsável pela morte de 25% das pessoas com mais de 65 anos. Cerca de 8,2 milhões de pessoas morrem por ano por sua culpa. Outro assassino cúmplice do tempo é a demência. A cada ano são diagnosticados 7,7 milhões de novos casos no mundo. E esse número vai triplicar em 2050. Entre todas as suas variantes, o Alzheimer é a patologia mais comum, e sua cura é considerada o santo graal da indústria farmacêutica.

E há outra epidemia global que ameaça ceifar milhões de vidas e custar bilhões: a obesidade. Pode ser o maior desafio na área de saúde enfrentado pelo planeta. O número de obesos e de pessoas com sobrepeso triplicou desde 1980. Nenhum país melhorou seus indicadores desde então, e a conta a pagar é astronômica. É calculada em mais de 8 trilhões de reais, o equivalente a 2,8% da riqueza do mundo. É o mesmo impacto provocado pela violência armada, pelo tabagismo, pelo terrorismo e pela guerra. Existem no planeta 671 milhões de obesos, e cerca de 2,1 bilhão de pessoas sofrem de sobrepeso. Com esses números, a doença é o parque de diversões das indústrias farmacêuticas, de empresas de alimentação e de dieta, de roupas esportivas e até de companhias aéreas. A Samoa Air foi a primeira empresa de aviação a cobrar dos passageiros em função de seu peso, e o a Airbus oferece nos aviões A320 poltronas especiais para obesos.
Nova classe média

Muitas dessas pessoas com sobrepeso farão parte de uma nova classe média aguardada para 2030. Nesse ano, 2 bilhões de seres humanos, metade deles na Índia, terão renda per capita de entre 10 e 100 dólares (de 41 a 410 reais) por dia. Isso significa que sua renda passará da mera subsistência, e o gasto será direcionado para o lazer, a compra de carros e o turismo. Uma vida diferente, que “abre oportunidades de investimento na indústria farmacêutica, especialmente no mercado de medicamentos genéricos de países emergentes”, relata Roberto Ruiz-Scholtes, diretor de estratégia do UBS. Afinal, o mundo terá a responsabilidade de cuidar de 10 bilhões de almas em 2050.

Além disso, o envelhecimento e o aumento da população são preocupantes porque se combinam a outra tendência: o aumento da dívida pública nas economias avançadas. Sete anos depois do início da Grande Crise, o déficit alcançou seu maior valor histórico – e continua a subir. “Com mais aposentados, menos trabalhadores em atividade para mantê-los e uma expectativa de vida maior, as economias mais desenvolvidas poderão ser pressionadas e ter que reduzir sua dívida cortando nos benefícios e na saúde”, é a análise da gestora Pioneer Investments.

Só não vê quem não quer

Tiro todos os dias uma hora em família para assistir o espetacular House of Cards, que eu recomendo. Isso porque a trama bem poderia se passar numa republiqueta qualquer de quinta categoria, mas se desenvolve no coração do mundo, no entorno do Senado norte-americano.


Imagino que, caso os excelentes redatores da coisa se debruçassem sobre o Brasil, a serie avassaladora iria aproximar-se mesmo é de Lost. Lá está escancarado como são criadas as Lobos, as Rosemarys, e como servem caninamente a um projeto de poder que é um fim em si mesmo.

Barganha é o nome da coisa. Encampa a imprensa predestinada, a igreja falante e agentes sempre bem escondidos em suas taras marretas. É o poder em sua essência mais nefasta, olhando sempre para o próprio umbigo. Digo isso para afirmar que é um alento ver que estão chegando ao triplex no Guarujá.

Já não era sem tempo e sem motivos, que existem de sobra. A justiça tarda mas demora. É essa a conclusão a que chegam seres de bem quando constatam que ainda não há políticos “espertos” devidamente enquadrados pelos crimes cometidos em doses cavalares. E o cara vai cavar uma temporada num hospital cinco estrelas para tentar fugir das algemas.

É o Brasil, meus caros. Um país relativo. Hoje é o dia de expurgar anos de servilismo, não é mesmo? Quantos idiotas úteis tentaram nos convencer que o “candidato a prêmio Nobel da vigarice” era um santo vestido com um socialismo que não para em pé? Quantos prêmios, medalhas, “honoris causa” o picareta recebeu de seus pares para parecer o que nunca foi?

Como acordam esses cretinos hoje? O partido da estrelinha na cueca tenta fugir da imagem de seus líderes rapineiros. A dona, fantástica invenção do maior vigarista que este país já viu, acorda pedetista, hehehe. Quantos mais vão se transmutar em alguma outra coisa, só para tentarem nos ludibriar por mais uma eleição?

Bem assinalado pelos antagônicos, a oposição simplesmente não existe. E se recusa a existir, visto que é a mesmo coisa refletida num espelho opaco. Esquerda ser oposição da esquerda é só neste país com os dois pés virados para o mesmo lado. Tente andar com essa deficiência genética e você verá como se cai da cadeira antes dos primeiros passos.

Estou enojado. Não com o triplex do demiurgo, asceta e apedeuta. Este eu já conhecia. O que eu ainda não conhecia são estes políticos em vôo de galinha, batendo suas asinhas curtas para saírem de um partido para outro e fingirem que são outra coisa para o eleitor, esse sempre desentendido.

Vão emergir da lama em que chafurdam novinhos em folha, com grana repatriada e ideologia renovada. E dá-lhe ouvirmos a mesma ladainha, as mesmas bolsas-miséria, os mesmos mutirões de catarata que turbinaram cada uma dessas caravanas do absurdo com o dinheiro alheio. O nosso dinheiro.

Hoje é o dia de encarar um eleitor dessa vigarice bem de frente. Olhar bem na cara daquele jornalista que defendeu essa patranha e ficar esperando uma desculpa esfarrapada para suas atitudes sórdidas e seu alinhamento nojento. Hoje é o dia de comemorar as algemas que vão ganhar esses calhordas. Pra quem queria morar num tríplex com elevador privativo, às custas dos imbecis, uma cela no Paraná até que tem seu charme.

Vocês já pararam pra pensar que vamos continuar pagando pela existência desses carcamanos em nossa sociedade exaustivamente rapinada? Por muito menos, presidentes daquela potência onde é gravado o House of Cards levaram umas balas no crânio. Que bom que o Brasil não tem dessas coisas, não é mesmo? Vigaristas.