sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Meras fofocas


Não podemos perder a capacidade de nos indignar


Na quarta-feira, o advogado de um dos investigados pela Lava-Jato disse que sem corrupção a empreiteira não ganha a concorrência. Me fez lembrar uma frase que usávamos na luta contra a ditadura: não podemos perder a capacidade de nos indignar. A corrupção não pode ser aceita como parte da paisagem brasileira.

Essa declaração do advogado é o começo daquele discurso de que as empreiteiras são vítimas. Não são. As que forem apanhadas em casos de corrupção têm que responder por isso. Muitas dessas grandes empreiteiras são eficientes como empresas de engenharia. Competentes, ganham concorrências em outros países onde os controles de desvios são muito rígidos.

Não podemos aceitar que a corrupção faça parte da paisagem e vire endêmica. Tampouco cabe banalizar algo que é gravíssimo, como tentou fazer o advogado.

Temos que nos indignar para que, de fato, a investigação seja uma oportunidade de mudarmos a forma de fazer negócios entre governos e empresas no Brasil.

Ninguém viu?


Como não desconfiaram dos seguidos aditivos, que adicionavam novos custos às obras e novos prazos?
 Como é que a Petrobras pode ter cometido tantos erros? Pois, antes de mais nada, é um erro empresarial brutal começar a construir uma refinaria, esta mesmo, a de Pernambuco, calculando que vai custar US$ 4 bilhões, depois gastar US$ 18 bilhões, e a obra ainda não está pronta. Mesmo que tudo tivesse sido feito com a maior honestidade, é evidente que as diretorias da empresa e seu Conselho de Administração fizeram uma péssima gestão. Como é que não perceberam que o negócio estava errado?

Essa mesma pergunta pode ser dirigida a todos os dirigentes honestos que não perceberam o tamanho do desastre e a corrupção que se praticava na empresa. Ou perceberam e não puderam contar aos demais órgãos de controle?

Como ninguém desconfiou dos seguidos aditivos, que adicionavam novos custos às obras e novos prazos? Reparem, não um, mas todos os investimentos relevantes ficavam cada vez mais caros e demoravam mais tempo.

Lembram-se do que disse o ex-diretor Paulo Roberto Costa quando perguntado, no Congresso, sobre o aumento dos custos da Refinaria Abreu e Lima? Que o projeto inicial estava errado, fora feito em cima das pernas. Na ocasião, não falou das propinas que entregaria na delação premiada. Mas ele tinha razão em apontar o improviso como uma das causas do problema.

E isso remete a responsabilidade administrativa e política ao ex-presidente Lula. Foi ele mesmo que disse, em entrevista publicada pelo jornal “Valor”, em 17 de setembro de 2009, quando o país saía da crise. O então presidente reclamava que empresários brasileiros eram conservadores no investimento, que era preciso partir para o ataque.

Exemplificou contando que até a diretoria da Petrobras lhe apresentara um plano de investimento que ele considerou pífio. O que fez? “Convoquei o Conselho da Petrobras para dizer: ‘Olha, este é um momento em que não se pode recuar’. Até no futebol a gente aprende que, quando se está ganhando de 1 x 0 e recua, a gente se ferra.”

A Petrobras partiu para o ataque, programou não uma, mas logo quatro refinarias e ampliou o projeto do complexo Comperj, no Rio. As sucessivas diretorias, já entrando pelo governo Dilma, foram levando a coisa (sem notar nada?), até que a situação tornou-se absurda. Diziam: qual o problema com a refinaria de Pasadena? Apenas um mau negócio. Abreu e Lima vai custar cinco vezes mais? Acontece nas grandes obras.

Paisagens Brasileiras

Edgar Oehlmeyer, "Rua no interior"

A honesta honestidade



Um partido político não começa a morrer quando conquistado de fora, pelos adversários, mas no momento em que passa a ser destruído de dentro, por seus próprios integrantes. A regra milenar serve para civilizações, países, corporações, até clubes de futebol.

O PT encontra-se nessa situação. Pouca influência tem em sua sobrevivência os ataques do conservador PSDB ou a histeria do PSOL e penduricalhos, do outro lado. Os companheiros estão entrando em colapso por conta de suas atividades. Uma vez conquistadas as primeiras vitórias, mesmo aquelas menores, como as prefeituras do interior de São Paulo, o partido chegou ao poder maior, com a vitória do Lula. Aí se intensificaram as atividades agora responsáveis pela deturpação, a desmoralização e agonia da legenda. O capítulo dos escândalos na Petrobras é apenas mais um, envolvendo outros anteriores.

Encontra-se o PT em pleno conflito entre a honesta desonestidade ou, se quiserem, entre a desonestidade honesta. Fora aquela parcela de aproveitadores existentes em toda comunidade, sempre interessados em aumentar suas contas bancárias, a grande maioria do partido justifica o assalto à coisa pública como decorrência natural da luta para reformar e até revolucionar costumes e instituições. Trata-se, para eles, de um confronto ideológico, necessário para a concretização de suas propostas. Se é para promover a justiça social, a igualdade e as mudanças imprescindíveis à construção de uma nova sociedade – tudo será válido. Até superfaturar preços, cobrar propinas, fraudar contratos e comprar opiniões. Imaginam que o objetivo final justifica todos os instrumentos utilizados.

O problema, para os companheiros, é que ao construir uma nova ordem, geraram a desordem. Pergunte-se a seus líderes se estão arrependidos e eles ficarão surpresos e irritados. Para eles, tudo é permitido no rumo do final projetado. Apenas, esqueceram-se dos valores fundamentais que deveriam pautar a vida em sociedade. Não há, para o PT, uma ética universal e permanente, mas diversas éticas capazes de anular-se.