quarta-feira, 22 de setembro de 2021
Cara de um...
O presidente apresentou dentro da nossa visão, a visão do nosso governo, a situação que o Brasil viveHamilton Mourão
Faça por merecer
Uma das cenas de guerra mais marcantes da filmografia contemporânea foi representada pelo ator Tom Hanks ao incorporar o capitão John Miller na obra “O resgate do soldado Ryan”.
O último filho vivo da família Ryan, combatendo na França após o desembarque na Normandia, precisava ser poupado.
Tendo recebido a tarefa, o capitão Miller reúne um grupo de sete homens e segue para a linha de frente a fim de cumprir a missão.
Ao longo das jornadas, a patrulha se depara com emboscadas, famílias desesperadas, alemães ainda prontos a matar para não morrer.
Os soldados vão ficando pelo caminho. Quando Ryan é encontrado, Miller é atingido de morte. Sabendo que o fim se aproxima, sussurra ao ouvido de Ryan: faça por merecer.
Assistir à epopeia renova a fé na importância de passar pela vida e deixar uma semente. Não importa se esta semente é de tâmara, uma árvore que leva anos para que o fruto possa ser apreciado. Plante-a.
O soldado Ryan fez por merecer. Ao final do filme, no Cemitério Militar da Normandia, diante da sepultura do capitão Miller, o velho paraquedista se apresenta com o relatório de sua vida. “Capitão, eu creio que fiz por merecer, missão cumprida.”
A sociedade e suas lideranças precisam fazer por merecer. Precisam assumir suas tarefas e persegui-las até sua concretização. Precisam vencer o mal que subsiste nos ambientes conflagrados do século 21. Precisam fazer valer a verdade sobre a hipocrisia da mentira montada por tijolos da insensatez e sanha pelo poder.
No campo da realidade palpável, um exemplo desse mundo distópico foi-nos revelado ontem nos discursos proferidos por ocasião da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Líder a líder, todos subiram ao palco e do púlpito discursaram tão somente para os seus. Quantos foram convencidos? Quantos pela retórica daqueles próceres – treinados para leitura em teleprompter de textos pautados na sugestão de seguidores – mudaram de opinião? Poucos, nenhum.
O discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, teve o dom de iluminar os desafios globais e propor estímulos aos países assentados naquele organismo.
Estímulos, pois ações exigem vontade de agir, que não é tempero fácil de ser agregado aos projetos de governos com interesses fricativos políticos e pessoais.
Meio ambiente, clima, fome, desigualdade social, migração, pandemia, vacina, guerras foram temas tratados por Guterres. Em cada um deles, há pontos de vista distintos a se observar.
A agenda mundial carece de uma discussão ampla e desarmada na tentativa de colimar os interesses nacionais aos interesses nacionais dos outros.
É ingênuo acreditar na possibilidade de entendimento quando algumas lideranças de países importantes não o veem como solução.
A confrontação Globalismo versus Nacionalismo emergiu em força. Quiçá, como cortina de fumaça para toldar as frustrações pós-guerra fria, fim da história e, recentemente, a reacomodação da balança geopolítica do poder mundial.
Os atuais “príncipes” precisam incorporar o figurino da boa liderança, apresentando suas soluções aos desafios vigentes. Não se espera atitudes arrogantes e amadoras como remédio a problemas profissionais.
É mandatório, entretanto, que a comunicação dessa liderança se faça de forma genuína, sobre o suporte da verdade, não da desinformação. Ao escutar a fala do chefe de governo brasileiro, pairaram dúvidas sobre a intenção e oportunidade do discurso. Não reflete a realidade, é o que se comenta em vários fóruns da sociedade.
Pareceu a confirmação de que a tribuna da ONU foi mero ambiente para enviar recados para o quintal da casa em algaravia permanente. Sejamos justos, ele não foi uma exceção. Outros a usaram de igual forma.
O mundo já se apercebeu desencaixado do espírito proposto pela carta das Nações Unidas. Aqueles valores ficaram ao costado nos velhos caminhos. Que fazer? Aceitar a perda da liberdade entre indivíduos, a nome de resultados duvidosos?
É hora de meditar. Validar narrativas. Amorfo emocionalmente, o sujeito não se inquire sobre o que ocorre à sua volta. Incorporado à massa, cria uma sensação de ser isento de responsabilidade. Bloqueia o seu grilo falante – a voz da consciência – e faz o que todo mundo faz.
É preciso fazer mais. Muito mais. “Ler e agir” para suplantar o mal, como assevera a professora Heloisa Starling na conclusão da biografia de Hanna Arendt, escrita por Ann Heberlein.
Se o que se busca é paz e harmonia para a colheita de boas tâmaras pela sociedade, os beneficiados, todos nós, precisam fazer por merecer. Regar, arrancar ervas daninhas e podar até que flores e frutos se fortaleçam sozinhos.
O último filho vivo da família Ryan, combatendo na França após o desembarque na Normandia, precisava ser poupado.
Tendo recebido a tarefa, o capitão Miller reúne um grupo de sete homens e segue para a linha de frente a fim de cumprir a missão.
Ao longo das jornadas, a patrulha se depara com emboscadas, famílias desesperadas, alemães ainda prontos a matar para não morrer.
Os soldados vão ficando pelo caminho. Quando Ryan é encontrado, Miller é atingido de morte. Sabendo que o fim se aproxima, sussurra ao ouvido de Ryan: faça por merecer.
Assistir à epopeia renova a fé na importância de passar pela vida e deixar uma semente. Não importa se esta semente é de tâmara, uma árvore que leva anos para que o fruto possa ser apreciado. Plante-a.
O soldado Ryan fez por merecer. Ao final do filme, no Cemitério Militar da Normandia, diante da sepultura do capitão Miller, o velho paraquedista se apresenta com o relatório de sua vida. “Capitão, eu creio que fiz por merecer, missão cumprida.”
A sociedade e suas lideranças precisam fazer por merecer. Precisam assumir suas tarefas e persegui-las até sua concretização. Precisam vencer o mal que subsiste nos ambientes conflagrados do século 21. Precisam fazer valer a verdade sobre a hipocrisia da mentira montada por tijolos da insensatez e sanha pelo poder.
No campo da realidade palpável, um exemplo desse mundo distópico foi-nos revelado ontem nos discursos proferidos por ocasião da abertura da Assembleia Geral das Nações Unidas.
Líder a líder, todos subiram ao palco e do púlpito discursaram tão somente para os seus. Quantos foram convencidos? Quantos pela retórica daqueles próceres – treinados para leitura em teleprompter de textos pautados na sugestão de seguidores – mudaram de opinião? Poucos, nenhum.
O discurso do secretário-geral da ONU, António Guterres, teve o dom de iluminar os desafios globais e propor estímulos aos países assentados naquele organismo.
Estímulos, pois ações exigem vontade de agir, que não é tempero fácil de ser agregado aos projetos de governos com interesses fricativos políticos e pessoais.
Meio ambiente, clima, fome, desigualdade social, migração, pandemia, vacina, guerras foram temas tratados por Guterres. Em cada um deles, há pontos de vista distintos a se observar.
A agenda mundial carece de uma discussão ampla e desarmada na tentativa de colimar os interesses nacionais aos interesses nacionais dos outros.
É ingênuo acreditar na possibilidade de entendimento quando algumas lideranças de países importantes não o veem como solução.
A confrontação Globalismo versus Nacionalismo emergiu em força. Quiçá, como cortina de fumaça para toldar as frustrações pós-guerra fria, fim da história e, recentemente, a reacomodação da balança geopolítica do poder mundial.
Os atuais “príncipes” precisam incorporar o figurino da boa liderança, apresentando suas soluções aos desafios vigentes. Não se espera atitudes arrogantes e amadoras como remédio a problemas profissionais.
É mandatório, entretanto, que a comunicação dessa liderança se faça de forma genuína, sobre o suporte da verdade, não da desinformação. Ao escutar a fala do chefe de governo brasileiro, pairaram dúvidas sobre a intenção e oportunidade do discurso. Não reflete a realidade, é o que se comenta em vários fóruns da sociedade.
Pareceu a confirmação de que a tribuna da ONU foi mero ambiente para enviar recados para o quintal da casa em algaravia permanente. Sejamos justos, ele não foi uma exceção. Outros a usaram de igual forma.
O mundo já se apercebeu desencaixado do espírito proposto pela carta das Nações Unidas. Aqueles valores ficaram ao costado nos velhos caminhos. Que fazer? Aceitar a perda da liberdade entre indivíduos, a nome de resultados duvidosos?
É hora de meditar. Validar narrativas. Amorfo emocionalmente, o sujeito não se inquire sobre o que ocorre à sua volta. Incorporado à massa, cria uma sensação de ser isento de responsabilidade. Bloqueia o seu grilo falante – a voz da consciência – e faz o que todo mundo faz.
É preciso fazer mais. Muito mais. “Ler e agir” para suplantar o mal, como assevera a professora Heloisa Starling na conclusão da biografia de Hanna Arendt, escrita por Ann Heberlein.
Se o que se busca é paz e harmonia para a colheita de boas tâmaras pela sociedade, os beneficiados, todos nós, precisam fazer por merecer. Regar, arrancar ervas daninhas e podar até que flores e frutos se fortaleçam sozinhos.
Caráter e liderança
Montesquieu dizia que “a indiferença pelo bem comum é a causa da ruína das repúblicas”. Ruína que começa com a indiferença do presidente da República em honrar suas promessas ao povo brasileiro. Prometeu abrir a economia, privatizar estatais e aprovar reformas liberais para desidratar o Estado intervencionista que estrangula os brasileiros que trabalham e produzem riqueza, mas se rendeu à agenda do corporativismo que destrói a produtividade e a competitividade do Brasil e ainda criou mais estatais, como a ENBPar, que recebeu um aporte de R$ 4 bilhões dos cofres públicos.
Prometeu combater a “velha política” e a corrupção, mas se aliou ao Centrão, sepultou a Lava Jato, e pululam escândalos de superfaturamento de vacinas e de seus familiares. Por fim, Bolsonaro prometeu honrar os valores cristãos, mas na hora da pandemia demonstrou falta de misericórdia e de compaixão com milhares de brasileiros que padeceram da covid. Menosprezou a importância da vacina e repudiou o uso de máscara. Ademais, o presidente mostra-se indiferente aos reais problemas que afetam a vida dos brasileiros, como a queda da renda e o aumento do desemprego e da inflação, que vem encarecendo o preço do gás de cozinha, da carne, do arroz e feijão.
Evidentemente, o presidente da República culpa os infortúnios do seu governo à pandemia, à imprensa “esquerdista” e às decisões do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Essa visão infantil de que o problema está sempre nos outros revela sua incapacidade de reconhecer as incompetências política e administrativa do seu governo.
A questão crucial é como atravessar o vale do desgoverno e das crises institucionais até a eleição de 2022. O Brasil tem hoje um caminho e dois desvios. O caminho é a construção de um plano de ação para defendermos a democracia e nos unirmos em torno de uma candidatura presidencial competitiva, capaz de vencer os dois desvios – Bolsonaro e Lula. O primeiro representa a maior ameaça à democracia desde o golpe militar de 1964; o segundo retrata a volta ao pesadelo do passado em que se semeou a desgraça do presente – o sectarismo político, a corrupção sistêmica que corroeu a credibilidade das instituições e a gênese do nefasto governo Dilma, que nos brindou com recessão econômica, 13 milhões de desempregados e a atuação irresponsável de um Estado intervencionista que debilitou a economia.
A união dos defensores da democracia tem de ser construída em torno de dois pilares. Primeiro, é vital restabelecer os canais de diálogo cívico e de articulação política entre as principais lideranças do País em torno da defesa da democracia. Trata-se de uma tarefa imperiosa para combater o radicalismo político e os rompantes autoritários nas redes sociais, na imprensa, no Parlamento e nas cortes. Essa missão requer verdadeiro espírito público para sobrepor as divisões políticas que fragmentaram famílias, partidos, instituições e a Nação. Demanda disposição de conversar com antigos adversários para construir o entendimento em torno de prioridades urgentes para derrotar Lula e Bolsonaro. Exige restabelecer laços de confiança que tecem o consenso social para transformar ideias em apoio popular e votos no Congresso e nas urnas. Foi justamente essa amálgama de objetivos claros, mobilização cívica e resolução política que permitiu o País superar três crises: a eleição de Tancredo Neves em 1985, a destituição do presidente Collor em 1992 e o impeachment de Dilma em 2016.
Segundo, é preciso racionalidade e objetividade para colocar as prioridades do Brasil acima das disputas políticas. O Centro de Liderança Pública (CLP), em parceira com várias instituições da sociedade civil, criou em setembro de 2020 o Unidos pelo Brasil, um movimento para pressionar o Congresso a votar uma agenda mínima de projetos que ajudem a impulsionar a retomada da economia e a modernização do Estado. Ao unir pessoas determinadas a trabalhar por uma agenda de país e capaz de mobilizar a sociedade civil e o Parlamento, o Unidos pelo Brasil exerceu um papel protagonista na aprovação de projetos, como o marco do saneamento básico, a autonomia do Banco Central, a nova Lei do Gás e o projeto que acaba com os supersalários da elite da administração pública. A iniciativa prova que, mesmo em momentos turbulentos da política, é possível avançar com a agenda modernizadora do País, unindo esforços da sociedade civil e das lideranças políticas em torno de objetivos comuns.
O Brasil precisa apaziguar os ânimos, focar sua atenção numa agenda de país e olhar para o futuro. Não há futuro promissor se continuarmos a insistir nas escolhas erradas do passado que pavimentaram o caminho do radicalismo político, da recessão econômica, do desemprego e da maior crise social no País. A construção do Brasil que queremos começa pelas escolhas que faremos em 2022. O futuro presidente precisa ter dois atributos para tirar o País do lamaçal do patrimonialismo, do corporativismo e do clientelismo: caráter e liderança.
Prometeu combater a “velha política” e a corrupção, mas se aliou ao Centrão, sepultou a Lava Jato, e pululam escândalos de superfaturamento de vacinas e de seus familiares. Por fim, Bolsonaro prometeu honrar os valores cristãos, mas na hora da pandemia demonstrou falta de misericórdia e de compaixão com milhares de brasileiros que padeceram da covid. Menosprezou a importância da vacina e repudiou o uso de máscara. Ademais, o presidente mostra-se indiferente aos reais problemas que afetam a vida dos brasileiros, como a queda da renda e o aumento do desemprego e da inflação, que vem encarecendo o preço do gás de cozinha, da carne, do arroz e feijão.
Evidentemente, o presidente da República culpa os infortúnios do seu governo à pandemia, à imprensa “esquerdista” e às decisões do Supremo Tribunal Federal e do Congresso. Essa visão infantil de que o problema está sempre nos outros revela sua incapacidade de reconhecer as incompetências política e administrativa do seu governo.
A questão crucial é como atravessar o vale do desgoverno e das crises institucionais até a eleição de 2022. O Brasil tem hoje um caminho e dois desvios. O caminho é a construção de um plano de ação para defendermos a democracia e nos unirmos em torno de uma candidatura presidencial competitiva, capaz de vencer os dois desvios – Bolsonaro e Lula. O primeiro representa a maior ameaça à democracia desde o golpe militar de 1964; o segundo retrata a volta ao pesadelo do passado em que se semeou a desgraça do presente – o sectarismo político, a corrupção sistêmica que corroeu a credibilidade das instituições e a gênese do nefasto governo Dilma, que nos brindou com recessão econômica, 13 milhões de desempregados e a atuação irresponsável de um Estado intervencionista que debilitou a economia.
A união dos defensores da democracia tem de ser construída em torno de dois pilares. Primeiro, é vital restabelecer os canais de diálogo cívico e de articulação política entre as principais lideranças do País em torno da defesa da democracia. Trata-se de uma tarefa imperiosa para combater o radicalismo político e os rompantes autoritários nas redes sociais, na imprensa, no Parlamento e nas cortes. Essa missão requer verdadeiro espírito público para sobrepor as divisões políticas que fragmentaram famílias, partidos, instituições e a Nação. Demanda disposição de conversar com antigos adversários para construir o entendimento em torno de prioridades urgentes para derrotar Lula e Bolsonaro. Exige restabelecer laços de confiança que tecem o consenso social para transformar ideias em apoio popular e votos no Congresso e nas urnas. Foi justamente essa amálgama de objetivos claros, mobilização cívica e resolução política que permitiu o País superar três crises: a eleição de Tancredo Neves em 1985, a destituição do presidente Collor em 1992 e o impeachment de Dilma em 2016.
Segundo, é preciso racionalidade e objetividade para colocar as prioridades do Brasil acima das disputas políticas. O Centro de Liderança Pública (CLP), em parceira com várias instituições da sociedade civil, criou em setembro de 2020 o Unidos pelo Brasil, um movimento para pressionar o Congresso a votar uma agenda mínima de projetos que ajudem a impulsionar a retomada da economia e a modernização do Estado. Ao unir pessoas determinadas a trabalhar por uma agenda de país e capaz de mobilizar a sociedade civil e o Parlamento, o Unidos pelo Brasil exerceu um papel protagonista na aprovação de projetos, como o marco do saneamento básico, a autonomia do Banco Central, a nova Lei do Gás e o projeto que acaba com os supersalários da elite da administração pública. A iniciativa prova que, mesmo em momentos turbulentos da política, é possível avançar com a agenda modernizadora do País, unindo esforços da sociedade civil e das lideranças políticas em torno de objetivos comuns.
O Brasil precisa apaziguar os ânimos, focar sua atenção numa agenda de país e olhar para o futuro. Não há futuro promissor se continuarmos a insistir nas escolhas erradas do passado que pavimentaram o caminho do radicalismo político, da recessão econômica, do desemprego e da maior crise social no País. A construção do Brasil que queremos começa pelas escolhas que faremos em 2022. O futuro presidente precisa ter dois atributos para tirar o País do lamaçal do patrimonialismo, do corporativismo e do clientelismo: caráter e liderança.
Luiz Felipe D'Ávila, autor do livro "10 mandamentos – do Brasil que somos para o país de queremos"
Banana de dinamite
Durante a ditadura militar, havia um governo autoritário, cujo poder estava com as Forças Armadas e a administração a cargo de tecnocratas civis. Atualmente vivemos um período em que se mantiveram, pelo menos formalmente, as instituições da democracia-liberal, mas conjugada a um projeto de destruiçãoJorge Ferreira
É preciso combinar com a lei
A lei, a regra, a norma ou o habitual estão fora de nós. Quando um desejo nascido no fígado ou no coração nos assalta, temos de combinar com os costumes. Sem um acordo entre interesses egocêntricos e leis sociocêntricas não há jogo.
O coletivo é governado por normas fora dele que, no entanto, são parte dele ou feitas para ele. Não é por acaso que mandamentos e leis foram entregues a deuses encarnados, patriarcas, visionários e profetas – a seres extramundanos, como dizia Max Weber – em montanhas mediadoras entre céu e terra, ou em situações dramáticas como tempestades, humilhações, extrema solidão e doenças mortais.
Por mais, entretanto, que as leis sejam sagradas, somos nós que as honramos com nossa lealdade ou desonestidade. Mesmo vindo do “outro mundo”, não há quem não saiba que as regras mudam e são mudadas.
Tudo isso para dizer algo simples, mas pouco discutido no Brasil. Nas monarquias e aristocracias, os soberanos e os nobres que são parte de sua corte ou família (pessoas especiais, “cortadas” ou removidas das gentes comuns) não precisam pensar no futuro, pois sua posição social é dada ao nascer.
Nobres são estruturalmente diferenciados (têm, reza a lenda, sangue azul) e imutáveis. O clero tem uma dinâmica singular porque ninguém nasce padre, bispo ou papa. Mas o “povo” (os membros do chamado “terceiro estado”) tem de construir o seu futuro e esse futuro, como o dos escravos, é preestabelecido. Uma pessoa comum morre como nasce.
A ideia democrática de mobilidade social vertical – de nascer pobre, mas morrer rico, de ser ninguém e virar alguém – é parte de uma intrusão individualista ou, como se diz, de um apadrinhamento, de sorte ou malandragem. Trata-se de uma mudança formidável que, obviamente, depende de transformações radicais de leis e costumes.
É preciso não esquecer que a igualdade perante a lei é algo complexo e difícil mesmo em sociedades que nasceram republicanas, como faz prova o caso americano. Leis justas enfrentam desejos, projetos, paixões e interesses que promovem injustiça por origem familiar, cor da pele, trabalho, gênero, idade e mais o que o leitor ou leitora quiser acrescentar.
Se republicanos natos têm problemas com suas inevitáveis esferas privilegiadas (os cargos governamentais, por exemplo) – os ultrarricos ou suas “classes dominantes” –, imagine o Brasil, que nasceu escravagista e dividido em vice-reinados aristocráticos, reforçados pela fuga da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808. E, algumas décadas depois, com a República, a separação do Estado e da Igreja Católica e a Abolição (bem como o jogo do bicho).
A questão que não se cala é a seguinte: como não continuar com privilégios aristocráticos na República, a menos que se combine com os barões, os altos funcionários e os comuns? Como não ter foros privilegiados e reversões jurídicas brutais se os ditos republicanos não enxergam os seus vieses aristocráticos?
Pergunto: o populismo que resolve tudo no discurso, mas agrava tudo na prática, não seria um modo de tentar combinar uma nobreza soberana com plebeus sujeitos da lei? Questiono: os foros privilegiados conferidos aos representantes do povo não seriam emblemas de delegação, de uma entrega política que embarga a representatividade democrática, conforme sugeria o cientista político Guillermo O’Donnell?
Meu saudoso mentor, Roberto Cardoso de Oliveira, dizia que não se passa de pato para ganso impunemente. Não pense o leitor que estou aqui propondo o absurdo de um retorno à monarquia. Não! Meu propósito é deslindar essas intrusões jurídicas nobres, parte e parcela de certos cargos, que recriam leis privadas ou especiais num campo jurídico igualitário. Infecções sociais que explicam o “Você sabe com quem está falando?”, esse rito pessoal que reafirma superioridades sociais e, obviamente, vira um “golpe” quando é articulado por um presidente.
Em suma, não se passa de monarquia escravocrata a República sem combinar com os golpistas, os coronéis, os barões, os autoritários reacionários dos dois lados, o machismo, os corruptos e os racistas estruturais. Os que querem levar vantagem em tudo...
PS: A desmontagem está quase no fim e, depois, virão outras montagens e mais desmontagens. Os jornalistas Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg chamam atenção para esses absurdos e abusivos desmanches. Afinal, como diz um velho filme de Frank Capra, as causas perdidas são, paradoxalmente, as causas que valem uma luta. No caso brasileiro, a da igualdade democrática e, com ela, a da coerência legal. Cedo ou tarde o nosso lado republicano vai ter de combinar com o nosso poderoso viés aristocrático – esse mantenedor de privilégios.
O coletivo é governado por normas fora dele que, no entanto, são parte dele ou feitas para ele. Não é por acaso que mandamentos e leis foram entregues a deuses encarnados, patriarcas, visionários e profetas – a seres extramundanos, como dizia Max Weber – em montanhas mediadoras entre céu e terra, ou em situações dramáticas como tempestades, humilhações, extrema solidão e doenças mortais.
Por mais, entretanto, que as leis sejam sagradas, somos nós que as honramos com nossa lealdade ou desonestidade. Mesmo vindo do “outro mundo”, não há quem não saiba que as regras mudam e são mudadas.
Tudo isso para dizer algo simples, mas pouco discutido no Brasil. Nas monarquias e aristocracias, os soberanos e os nobres que são parte de sua corte ou família (pessoas especiais, “cortadas” ou removidas das gentes comuns) não precisam pensar no futuro, pois sua posição social é dada ao nascer.
Nobres são estruturalmente diferenciados (têm, reza a lenda, sangue azul) e imutáveis. O clero tem uma dinâmica singular porque ninguém nasce padre, bispo ou papa. Mas o “povo” (os membros do chamado “terceiro estado”) tem de construir o seu futuro e esse futuro, como o dos escravos, é preestabelecido. Uma pessoa comum morre como nasce.
A ideia democrática de mobilidade social vertical – de nascer pobre, mas morrer rico, de ser ninguém e virar alguém – é parte de uma intrusão individualista ou, como se diz, de um apadrinhamento, de sorte ou malandragem. Trata-se de uma mudança formidável que, obviamente, depende de transformações radicais de leis e costumes.
É preciso não esquecer que a igualdade perante a lei é algo complexo e difícil mesmo em sociedades que nasceram republicanas, como faz prova o caso americano. Leis justas enfrentam desejos, projetos, paixões e interesses que promovem injustiça por origem familiar, cor da pele, trabalho, gênero, idade e mais o que o leitor ou leitora quiser acrescentar.
Se republicanos natos têm problemas com suas inevitáveis esferas privilegiadas (os cargos governamentais, por exemplo) – os ultrarricos ou suas “classes dominantes” –, imagine o Brasil, que nasceu escravagista e dividido em vice-reinados aristocráticos, reforçados pela fuga da Corte portuguesa para o Rio de Janeiro, em 1808. E, algumas décadas depois, com a República, a separação do Estado e da Igreja Católica e a Abolição (bem como o jogo do bicho).
A questão que não se cala é a seguinte: como não continuar com privilégios aristocráticos na República, a menos que se combine com os barões, os altos funcionários e os comuns? Como não ter foros privilegiados e reversões jurídicas brutais se os ditos republicanos não enxergam os seus vieses aristocráticos?
Pergunto: o populismo que resolve tudo no discurso, mas agrava tudo na prática, não seria um modo de tentar combinar uma nobreza soberana com plebeus sujeitos da lei? Questiono: os foros privilegiados conferidos aos representantes do povo não seriam emblemas de delegação, de uma entrega política que embarga a representatividade democrática, conforme sugeria o cientista político Guillermo O’Donnell?
Meu saudoso mentor, Roberto Cardoso de Oliveira, dizia que não se passa de pato para ganso impunemente. Não pense o leitor que estou aqui propondo o absurdo de um retorno à monarquia. Não! Meu propósito é deslindar essas intrusões jurídicas nobres, parte e parcela de certos cargos, que recriam leis privadas ou especiais num campo jurídico igualitário. Infecções sociais que explicam o “Você sabe com quem está falando?”, esse rito pessoal que reafirma superioridades sociais e, obviamente, vira um “golpe” quando é articulado por um presidente.
Em suma, não se passa de monarquia escravocrata a República sem combinar com os golpistas, os coronéis, os barões, os autoritários reacionários dos dois lados, o machismo, os corruptos e os racistas estruturais. Os que querem levar vantagem em tudo...
PS: A desmontagem está quase no fim e, depois, virão outras montagens e mais desmontagens. Os jornalistas Merval Pereira e Carlos Alberto Sardenberg chamam atenção para esses absurdos e abusivos desmanches. Afinal, como diz um velho filme de Frank Capra, as causas perdidas são, paradoxalmente, as causas que valem uma luta. No caso brasileiro, a da igualdade democrática e, com ela, a da coerência legal. Cedo ou tarde o nosso lado republicano vai ter de combinar com o nosso poderoso viés aristocrático – esse mantenedor de privilégios.
Em discurso na ONU, Bolsonaro mostra que odeia o Brasil
Nenhuma surpresa de que o Jair Bolsonaro que deu as caras na Assembleia-Geral da ONU é aquele que conhecemos desde sempre: canalha e ególatra. Pelo terceiro ano consecutivo, o presidente fez o que faz cada vez melhor: mentiu.
Quem achou que seria diferente não entendeu nada sobre o seu caráter. Bolsonaro não é um sujeito moderado, jamais será. Seus raros recuos não significam mudança nenhuma em sua forma de fazer política e de nos representar. Tal qual a parábola do sapo e do escorpião, ele é capaz de morrer afogado, mas nada o fará trair suas convicções e transformar sua natureza autoritária.
O que ainda me surpreende é que o país continue mais um ano e três meses refém desse mitômano, que usou o palco da ONU apenas para reafirmar o que já sabemos: é um presidente que fala e governa apenas para uma pequena parte da população, aquela que acredita nesse Brasil utópico criado em sua cabeça.
Se existisse, esse país descrito na ONU seria quase um paraíso. Só não digo que gostaria de morar lá porque seria um paraíso habitado por zumbis idiotizados, que aplaudem o rosário de delírios desfiado por Jair. Um lugar sem corrupção, com florestas preservadas, economia bombando, onde família é mamãe, papai e filhinho e todos são mais espertos que o resto do mundo e tomam cloroquina.
Bolsonaro, em seu discurso, ignora não apenas a realidade como também os milhões de brasileiros que não se encaixam no conto de fadas que ele insiste em repetir sobre o país. Despreza a diversidade cultural, sexual, política e religiosa que sempre nos fez um caldeirão invejado pelo mundo, apesar dos pesares.
Não temos presidente. Bolsonaro odeia o Brasil. Não à toa, vem do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o gesto que melhor traduz o discurso mentiroso do presidente, em Nova York: um dedo do meio na cara de cada um dos brasileiros que ele não representa.
Quem achou que seria diferente não entendeu nada sobre o seu caráter. Bolsonaro não é um sujeito moderado, jamais será. Seus raros recuos não significam mudança nenhuma em sua forma de fazer política e de nos representar. Tal qual a parábola do sapo e do escorpião, ele é capaz de morrer afogado, mas nada o fará trair suas convicções e transformar sua natureza autoritária.
O que ainda me surpreende é que o país continue mais um ano e três meses refém desse mitômano, que usou o palco da ONU apenas para reafirmar o que já sabemos: é um presidente que fala e governa apenas para uma pequena parte da população, aquela que acredita nesse Brasil utópico criado em sua cabeça.
Se existisse, esse país descrito na ONU seria quase um paraíso. Só não digo que gostaria de morar lá porque seria um paraíso habitado por zumbis idiotizados, que aplaudem o rosário de delírios desfiado por Jair. Um lugar sem corrupção, com florestas preservadas, economia bombando, onde família é mamãe, papai e filhinho e todos são mais espertos que o resto do mundo e tomam cloroquina.
Bolsonaro, em seu discurso, ignora não apenas a realidade como também os milhões de brasileiros que não se encaixam no conto de fadas que ele insiste em repetir sobre o país. Despreza a diversidade cultural, sexual, política e religiosa que sempre nos fez um caldeirão invejado pelo mundo, apesar dos pesares.
Não temos presidente. Bolsonaro odeia o Brasil. Não à toa, vem do ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, o gesto que melhor traduz o discurso mentiroso do presidente, em Nova York: um dedo do meio na cara de cada um dos brasileiros que ele não representa.
Bolsonaro acertou em cheio ao falar na ONU para seu rebanho
Se um povo faz por merecer o governo que tem, o do Brasil é um governo de cafajestes, velhacos, farsantes e medíocres. Uma escória reunida em torno de um ex-capitão expulso do Exército por ser mal militar a ponto de planejar atentados terroristas a quartéis.
Supor que ele seria capaz de comportar-se como um estadista ou discursar como se fosse um na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU, é o mesmo que, há dois anos, ter considerado difícil a escolha entre o charlatão e Fernando Haddad no segundo turno.
Equivale também a dizer, como tantos já dizem, que daqui a 12 meses, se nenhum outro candidato se impuser até lá, a Presidência da República estará ao alcance de dois conhecidos extremistas – Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Há motivos bastantes para que 38% dos brasileiros digam hoje que não votarão em Lula de jeito nenhum, e 59% digam o mesmo de Bolsonaro, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. Mas Lula nunca foi um extremista nem governou como extremista.
Os mais afortunados deste país sabem muito bem disso e beijaram sua mão em apelo para que voltasse a se candidatar em 2014 no lugar de Dilma. Lamentaram porque isso não aconteceu. Os defeitos de Lula comprovadamente são outros, não esse.
Extremista sempre foi Bolsonaro desde que descobriu a política como um meio de vida para sustentar-se, e à sua família, rachando com ela dinheiro público desviado por meio de brechas oferecidas pelas leis, ou simplesmente ignorando as leis.
Jamais passou pela cabeça dele eleger-se presidente. Candidatou-se por estar cansado de sua insignificância como deputado. Seu propósito era garantir a reeleição dos seus três filhos zero, dedicando-se depois a desfrutar de uma gorda aposentadoria.
Supor que ele seria capaz de comportar-se como um estadista ou discursar como se fosse um na abertura da 76ª Assembleia Geral da ONU, é o mesmo que, há dois anos, ter considerado difícil a escolha entre o charlatão e Fernando Haddad no segundo turno.
Equivale também a dizer, como tantos já dizem, que daqui a 12 meses, se nenhum outro candidato se impuser até lá, a Presidência da República estará ao alcance de dois conhecidos extremistas – Jair Messias Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva.
Há motivos bastantes para que 38% dos brasileiros digam hoje que não votarão em Lula de jeito nenhum, e 59% digam o mesmo de Bolsonaro, segundo a mais recente pesquisa Datafolha. Mas Lula nunca foi um extremista nem governou como extremista.
Os mais afortunados deste país sabem muito bem disso e beijaram sua mão em apelo para que voltasse a se candidatar em 2014 no lugar de Dilma. Lamentaram porque isso não aconteceu. Os defeitos de Lula comprovadamente são outros, não esse.
Extremista sempre foi Bolsonaro desde que descobriu a política como um meio de vida para sustentar-se, e à sua família, rachando com ela dinheiro público desviado por meio de brechas oferecidas pelas leis, ou simplesmente ignorando as leis.
Jamais passou pela cabeça dele eleger-se presidente. Candidatou-se por estar cansado de sua insignificância como deputado. Seu propósito era garantir a reeleição dos seus três filhos zero, dedicando-se depois a desfrutar de uma gorda aposentadoria.
Somos uma vergonha
Na verdade, o Brasil inteiro é uma vergonha. Apesar de todos os crimes do sociopata, que acarretaram 600 mil mortes, falhamos miseravelmente como país, porque fomos incapazes de afastá-lo do cargo e trancá-lo na cadeia. A culpa é coletiva
O meu, o seu, o nosso dinheiro
Em abril de 2009, uma série de reportagens do site "Congresso em Foco" abalou o Congresso Nacional ao revelar que parlamentares faziam turismo com dinheiro público. A verba era de uma generosa cota para compra de passagens aéreas relacionadas às atividades do mandato.
Na prática, porém, cada congressista gastava o dinheiro a seu bel-prazer e sem dar satisfações a ninguém. Deputados e senadores ainda levavam a tiracolo parentes, amigos e cupinchas para destinos turísticos no Brasil e no exterior, como Nova York, Miami, Londres, Paris, Milão, Madri. Uma farra!
Doze anos depois, os repórteres Eduardo Militão, Eumano Silva, Edson Sardinha e Lúcio Lambranho revisitam o escândalo e trazem mais novidades no livro "Nas Asas da Mamata", recém-publicado. Eles descobriram agora, por exemplo, que o contribuinte bancou as passagens de Jair e Michelle Bolsonaro para a lua de mel em Foz do Iguaçu, em 2007.
A gastança era possível graças a regras extremamente permissivas adotadas por Michel Temer e Aécio Neves, quando exerceram a presidência da Câmara. No Senado, com José Sarney no comando, não era diferente. A falta de controle era de tal ordem que a cota aérea de dois senadores foi gasta depois da morte deles. Ao todo, 560 parlamentares foram investigados, e os gastos, em valores de hoje, seriam de R$ 105 milhões.
Para não esvaziar a surpresa da leitura, acrescento apenas que os autores reconstituíram as investigações oficiais para traçar a teia de impunidade que resultou em mais um crime sem castigo. O que fizeram Corregedoria, Conselho de Ética, Câmara, Senado, polícia, Ministério Público, Judiciário? Está tudo no livro, com nomes, datas, decisões.
Esse belo trabalho jornalístico põe em evidência um dos aspectos mais nefastos da mentalidade e da prática política no Brasil: o de que autoridades em geral não querem entender que têm a obrigação de prestar contas de cada centavo gasto do meu, do seu, do dinheiro suado dos nossos impostos.
Na prática, porém, cada congressista gastava o dinheiro a seu bel-prazer e sem dar satisfações a ninguém. Deputados e senadores ainda levavam a tiracolo parentes, amigos e cupinchas para destinos turísticos no Brasil e no exterior, como Nova York, Miami, Londres, Paris, Milão, Madri. Uma farra!
Doze anos depois, os repórteres Eduardo Militão, Eumano Silva, Edson Sardinha e Lúcio Lambranho revisitam o escândalo e trazem mais novidades no livro "Nas Asas da Mamata", recém-publicado. Eles descobriram agora, por exemplo, que o contribuinte bancou as passagens de Jair e Michelle Bolsonaro para a lua de mel em Foz do Iguaçu, em 2007.
A gastança era possível graças a regras extremamente permissivas adotadas por Michel Temer e Aécio Neves, quando exerceram a presidência da Câmara. No Senado, com José Sarney no comando, não era diferente. A falta de controle era de tal ordem que a cota aérea de dois senadores foi gasta depois da morte deles. Ao todo, 560 parlamentares foram investigados, e os gastos, em valores de hoje, seriam de R$ 105 milhões.
Para não esvaziar a surpresa da leitura, acrescento apenas que os autores reconstituíram as investigações oficiais para traçar a teia de impunidade que resultou em mais um crime sem castigo. O que fizeram Corregedoria, Conselho de Ética, Câmara, Senado, polícia, Ministério Público, Judiciário? Está tudo no livro, com nomes, datas, decisões.
Esse belo trabalho jornalístico põe em evidência um dos aspectos mais nefastos da mentalidade e da prática política no Brasil: o de que autoridades em geral não querem entender que têm a obrigação de prestar contas de cada centavo gasto do meu, do seu, do dinheiro suado dos nossos impostos.
Não é só culpa de Bolsonaro que o mundo zombe do Brasil
Além de triste, é injusto que o Brasil tenha passado de objeto de desejo fora de suas fronteiras a motivo de chacota, com todas as consequências que isso acarreta, como a grave crise econômica e moral que vive o país.
As patéticas imagens que chegam de Nova York, que mostram o presidente Jair Bolsonaro — na cidade para a Assembleia Geral da ONU — comendo um pedaço de pizza na rua, impossibilitado de entrar em um restaurante por não ter se vacinado, e também sua entrada no hotel pelas portas dos fundos por medo de encontrar jornalistas, já percorreram o mundo e são uma vergonha para o país.
Pouco importa o que Bolsonaro vai dizer em seu discurso inaugural na ONU. Essas imagens já disseram tudo e se relacionam mais a uma “República das Bananas” do que ao quinto maior país do planeta e coração econômico da América Latina.
Seria o caso de se perguntar: até quando as demais instituições do país continuarão a permitir que o Brasil continue sendo alvo de chacotas e ironias por manter no poder um presidente que é alvo de mais de 100 pedidos de impeachment no Congresso? As desculpas políticas para não abrir um processo contra o presidente, além de perigosas, são ridículas.
O fato de que as razões da baixa política prevaleçam para continuar a manter no poder um presidente rejeitado pela grande maioria da população — essa que apoia a abertura do impeachment— empobrece as demais instituições e os partidos.
A passividade das forças políticas diante das investidas do Governo contra a democracia e a palpável incapacidade do capitão de governar um país da envergadura do Brasil podem, um dia, cair nas costas de outros. Outros que, podendo fazer isso, não tiraram do poder um personagem mundialmente reconhecido não apenas como genocida, mas, também, como alguém que está destruindo as riquezas ambientais que afetam todo o planeta, e envenenando a coexistência de milhões de pessoas cada vez mais empobrecidas que buscam ossos de animais nos mercados — já que a carne ficou só para as classes abastadas. É uma vergonha e uma humilhação para um país que, além de tudo, exporta alimentos para meio mundo.
Hoje, o Brasil tem políticos preparados e capazes de presidir o país não só com competência, mas também com dignidade. Arrastar o país sem governo e sem prestígio internacional por mais um ano por causa das pequenas ou grandes intrigas da baixa política poderá contribuir para piorar ainda mais a grave crise econômica e para multiplicar no exterior a falta de credibilidade do Brasil.
Não podemos esquecer que a força do presidente da República no Brasil é muito expressiva e concentra muito poder, para o bem e para o mal. Portanto, a permanência no poder de alguém desacreditado dentro e fora de suas fronteiras e que está comprometendo o seu futuro implica responsabilidade das demais instituições.
A experiência nos lembra que, embora seja difícil construir um país com bases democráticas e econômicas sólidas, é muito fácil reduzi-lo a escombros pela incompetência ou arrogância de quem o governa. Que o Brasil se deteriora a cada dia que passa enquanto cresce a crise que o aflige e que poderia comprometer ainda mais seu futuro já não é mais um segredo. É uma evidência global.
Que quem tem o poder continua a fechar os olhos à deterioração do país e a tapar os ouvidos ao clamor da maioria, que segundo todas as pesquisas pede uma mudança de poder, poderia acabar sendo trágico para os pobres e os ricos, já que todos acabam perdendo com um presidente e um governo que claramente se mostram incapazes de tirar o país do inferno.
Agora, pouco importa o que o presidente brasileiro possa dizer na ONU, onde já é objeto de descrédito e de medo, visto como alguém que possa arrastar o nazifascismo à terceira maior democracia do mundo.
O simbolismo negativo do presidente e sua comitiva oficial comendo pizza na rua de NY e entrando no hotel pelos fundos, como um fugitivo, para escapar das perguntas dos jornalistas, anulam as palavras de seu discurso, que já perderam toda a força e o respeito.
As patéticas imagens que chegam de Nova York, que mostram o presidente Jair Bolsonaro — na cidade para a Assembleia Geral da ONU — comendo um pedaço de pizza na rua, impossibilitado de entrar em um restaurante por não ter se vacinado, e também sua entrada no hotel pelas portas dos fundos por medo de encontrar jornalistas, já percorreram o mundo e são uma vergonha para o país.
Pouco importa o que Bolsonaro vai dizer em seu discurso inaugural na ONU. Essas imagens já disseram tudo e se relacionam mais a uma “República das Bananas” do que ao quinto maior país do planeta e coração econômico da América Latina.
Seria o caso de se perguntar: até quando as demais instituições do país continuarão a permitir que o Brasil continue sendo alvo de chacotas e ironias por manter no poder um presidente que é alvo de mais de 100 pedidos de impeachment no Congresso? As desculpas políticas para não abrir um processo contra o presidente, além de perigosas, são ridículas.
O fato de que as razões da baixa política prevaleçam para continuar a manter no poder um presidente rejeitado pela grande maioria da população — essa que apoia a abertura do impeachment— empobrece as demais instituições e os partidos.
A passividade das forças políticas diante das investidas do Governo contra a democracia e a palpável incapacidade do capitão de governar um país da envergadura do Brasil podem, um dia, cair nas costas de outros. Outros que, podendo fazer isso, não tiraram do poder um personagem mundialmente reconhecido não apenas como genocida, mas, também, como alguém que está destruindo as riquezas ambientais que afetam todo o planeta, e envenenando a coexistência de milhões de pessoas cada vez mais empobrecidas que buscam ossos de animais nos mercados — já que a carne ficou só para as classes abastadas. É uma vergonha e uma humilhação para um país que, além de tudo, exporta alimentos para meio mundo.
Hoje, o Brasil tem políticos preparados e capazes de presidir o país não só com competência, mas também com dignidade. Arrastar o país sem governo e sem prestígio internacional por mais um ano por causa das pequenas ou grandes intrigas da baixa política poderá contribuir para piorar ainda mais a grave crise econômica e para multiplicar no exterior a falta de credibilidade do Brasil.
Não podemos esquecer que a força do presidente da República no Brasil é muito expressiva e concentra muito poder, para o bem e para o mal. Portanto, a permanência no poder de alguém desacreditado dentro e fora de suas fronteiras e que está comprometendo o seu futuro implica responsabilidade das demais instituições.
A experiência nos lembra que, embora seja difícil construir um país com bases democráticas e econômicas sólidas, é muito fácil reduzi-lo a escombros pela incompetência ou arrogância de quem o governa. Que o Brasil se deteriora a cada dia que passa enquanto cresce a crise que o aflige e que poderia comprometer ainda mais seu futuro já não é mais um segredo. É uma evidência global.
Que quem tem o poder continua a fechar os olhos à deterioração do país e a tapar os ouvidos ao clamor da maioria, que segundo todas as pesquisas pede uma mudança de poder, poderia acabar sendo trágico para os pobres e os ricos, já que todos acabam perdendo com um presidente e um governo que claramente se mostram incapazes de tirar o país do inferno.
Agora, pouco importa o que o presidente brasileiro possa dizer na ONU, onde já é objeto de descrédito e de medo, visto como alguém que possa arrastar o nazifascismo à terceira maior democracia do mundo.
O simbolismo negativo do presidente e sua comitiva oficial comendo pizza na rua de NY e entrando no hotel pelos fundos, como um fugitivo, para escapar das perguntas dos jornalistas, anulam as palavras de seu discurso, que já perderam toda a força e o respeito.
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