quarta-feira, 1 de junho de 2022
A verdade também apanha
Quando chegou em Pipeiras o delegado Nonô Pestana foi aquele zunzum, aquele mal-estar. O delegado veio arrastando enorme palmatória. Era com muito orgulho que Nonô dizia mostrando o instrumento de trabalho:
E bem Nonô não havia arregaçado as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar, nas malhas da lei, o crime de sua lavra:
— Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.
De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:
— É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para um cadeia de trinta anos um pobre inocente.
E soltou o homem.
E bem Nonô não havia arregaçado as mangas apareceu um retinto dizendo ter dado morte por esquartejamento a um tal de Chico Cabeção. Pelo que confessou estar arrependido e pronto a purgar, nas malhas da lei, o crime de sua lavra:
— Matei e enterrei Chico Cabeção no quintal de minha casa.
De fato, o esquartejado lá estava mortinho da silva de nunca mais voltar a ser Chico Cabeção. Foi quando o delegado, dentro dos seus princípios justiceiros, passou o confessante por uma palmatória braba e esperta. E o sujeitinho tanto apanhou que acabou desconfessando tudo. Jurou de mãos postas que era mentiroso e inventeiro. Que outro tinha esquartejado Chico Cabeção. E Nonô orgulhoso:
— É o que eu digo e provo. Não tem como uma palmatória para o suspeito contar a verdade. Se não ministro esse corretivo, o delegado Nonô Pestana, que sou eu, mandava para um cadeia de trinta anos um pobre inocente.
E soltou o homem.
José Cândido de Carvalho, "Se eu morrer, telefone para o céu"
No Brasil, Fascismo é Racismo e Genocídio!
O Estado brasileiro precisa ser imediatamente responsabilizado pelo genocídio que pratica contra população negra. Os governos e governantes têm ordenado que as forças policiais executem a população no Brasil. Nesta semana, uma viatura da Polícia Rodoviária Federal foi transformada numa câmara de gás para sufocar um homem negro. Genivaldo de Jesus Santos, neurodivergente, viveu seus últimos minutos de vida com os pés segurados por agentes do Estado, preso, onde inalou gás lacrimogêneo e morreu por asfixia mecânica, com comprovação em laudo do IML.
Assistimos, em vídeo gravado por populares que poderiam ter tido o mesmo fim, uma cena macrabra de tortura e assassinato, típica dos DOI-CODI que o Presidente da República reivindica e sempre estimulou em sua carreira parlamentar. No registro, dois agentes do Estado não se intimidaram em tornar público suas técnicas diante de muitas pessoas. O trabalho autorizado pelas instituições brasileiras foi comprovado, por meio da nota da PRF, que alega que os policiais envolvidos “utilizaram de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo” na BR-101, em Umbaúba-SE, quando trancaram um homem neuroatípico de 38 anos num porta malas cheio de gás.
A reação, diante de cenas bárbaras como essa, é uma rápida assimilação ao fascismo, um movimento político que surgiu na Itália sob a liderança de Benito Mussolini e seguiu para Europa, com o nazismo de Hitler. Esses regimes mataram centenas de milhares de seres humanos, baseado no racismo "científico" que tem por ideologia a eliminação das diferenças étnicas. Genivaldo morreu numa câmara de gás, no estilo hitlerista. Mas a verdade é que, no Brasil, todo camburão descende de um navio negreiro.
Sua morte ocorreu em maio, mês da abolição inconclusa, que faz referência ao período da escravidão negra, que durou mais de três séculos e também torturou, matou e desumanizou, deixando como principal legado o Racismo. Inconclusa porque persistem no país a discriminação e desigualdade racial, sem nenhum tipo de reparação histórica ao povo negro. A morte de Genivaldo também ocorreu no mês da luta antimanicomial, que combate a tortura imposta aos neurodivergentes. E se a Itália viveu o fascismo, a Alemanha o nazismo. No Brasil, vivemos o Racismo há 520 anos. Tortura e morte não fazem parte apenas dos regismos nazistas e fascistas, mas da história branca e capitalista de dominação.
Certamente muitas pessoas acham exagero essa comparação. Mas eu ouso repetir que são séculos e séculos de tortura, morte e um plano de Estado que busca a eliminação do povo negro e indígena no Brasil. Um plano que tem a segurança pública como pilar de concretização.
Tal projeto atravessa inclusive as nossas fronteiras e nos conecta a todas e todos de pele não branca no mundo. Desgraçadamente, Genivaldo morreu no dia exato quando há dois anos vimos a morte George Floyd, afro-americano assassinado em Minneapolis, sufocado pela polícia. Separados por frações do tempo e território, esses dois homens são pele alvo do genocídio em curso no mundo e, infelizmente, a comunidade negra tem histórias para lembrar para cada mês do ano, sempre dos nossos mortos.
Da mesma forma, Genivaldo também morreu dois anos após uma bala rasgar o pequeno corpo de João Pedro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, estado onde a mesma PRF, junto com o BOPE, nos fez contar mais corpos essa semana, que já chegam a 25, após uma chacina na Vila Cruzeiro. O Estado genocida mata crianças, adultos e idosos.
Essa mesma eugenia racista que matou Genivaldo também segue em curso em São Paulo. A operação Caronte, na Cracolândia, move usuários de drogas, com repressão, pelas ruas da capital, prendendo ou internando compulsoriamente.
É verdade, é crescente a escalada de ódio com o atual governo, seja nacional ou estaduais, mas as polícias têm cumprido seu verdadeiro papel no genocídio nos últimos séculos, desde o Brasil colônia, em que ao passo que as cidades se tornavam “incontroláveis”, com a presença da população negra nos centros urbanos e no campo, foi imposto o controle e sufocamento da liberdade de corpos específicos, para avançar com repressão e morte.
Não há lugar para fugirmos, e longe de serem histórias coincidentes, convivemos assim com a insegurança de que nós ou os nossos sejamos os próximos.
No Brasil, fascismo é racismo e entender as causas dessas mortes é parte do caminho para construirmos saídas. Precisamos seguir mobilizados, organizando a luta em nossos territórios e nas ruas, contra o racismo e pelo bem viver. Precisamos cobrar Justiça por Genivaldo e os 25 que perdemos no Rio de Janeiro.
Em maio, duas importantes iniciativas de resistência negra aconteceram. Recentemente, o Movimento Negro Unificado (MNU) organizou seu 19º Congresso Nacional e tirou como um dos nossos objetivos a derrota do governo Bolsonaro em 2022. Isso porque sua presidência e gerência do país cria um ambiente ainda mais favorável para o Racismo e as violações de direitos humanos.
O MNU é uma importante entidade para aqueles e aquelas que tem como objetivo se organizar em coletivo para reagir a violência racial e construir avanços para derrotar o Estado Racista. Uma organização para aqueles que querem derrotar Bolsonaro, mas não só, para aqueles e aquelas que querem construir um Brasil sem Racismo. Dar fim a esse projeto de poder bolsonarista que intensifica nossa morte é um passo importante para seguir o avanço do projeto político do povo negro para o Brasil, que deve ter em suas bases a desmilitarização das polícias e a construção de um modelo de segurança pública coletivo, que preze o bem estar comunitário do povo brasileiro.
Além das mobilizações permanentes, o movimento social negro também tem atuado na esfera jurídica e institucional para culpabilizar o Estado brasileiro de genocídio. Recentemente, junto a Coalizão Negra Por Direitos, protocolamos a ADPF Pelas Vidas Negras, denunciando o genocídio à população negra brasileira no Superior Tribunal Federal.
Agora é hora de tomarmos as ruas por Justiça por Genivaldo e exigir um projeto de futuro onde vidas negras importem e possam florescer em suas máximas potencialidades e dignidades.
Desde a travessia, de muitos antes do Atlântico, nossos ancestrais nos ensinaram a confrontar o racismo e o colonialismo e mais uma vez aqui estamos até derrotá-lo.
Assistimos, em vídeo gravado por populares que poderiam ter tido o mesmo fim, uma cena macrabra de tortura e assassinato, típica dos DOI-CODI que o Presidente da República reivindica e sempre estimulou em sua carreira parlamentar. No registro, dois agentes do Estado não se intimidaram em tornar público suas técnicas diante de muitas pessoas. O trabalho autorizado pelas instituições brasileiras foi comprovado, por meio da nota da PRF, que alega que os policiais envolvidos “utilizaram de imobilização e instrumentos de menor potencial ofensivo” na BR-101, em Umbaúba-SE, quando trancaram um homem neuroatípico de 38 anos num porta malas cheio de gás.
A reação, diante de cenas bárbaras como essa, é uma rápida assimilação ao fascismo, um movimento político que surgiu na Itália sob a liderança de Benito Mussolini e seguiu para Europa, com o nazismo de Hitler. Esses regimes mataram centenas de milhares de seres humanos, baseado no racismo "científico" que tem por ideologia a eliminação das diferenças étnicas. Genivaldo morreu numa câmara de gás, no estilo hitlerista. Mas a verdade é que, no Brasil, todo camburão descende de um navio negreiro.
Sua morte ocorreu em maio, mês da abolição inconclusa, que faz referência ao período da escravidão negra, que durou mais de três séculos e também torturou, matou e desumanizou, deixando como principal legado o Racismo. Inconclusa porque persistem no país a discriminação e desigualdade racial, sem nenhum tipo de reparação histórica ao povo negro. A morte de Genivaldo também ocorreu no mês da luta antimanicomial, que combate a tortura imposta aos neurodivergentes. E se a Itália viveu o fascismo, a Alemanha o nazismo. No Brasil, vivemos o Racismo há 520 anos. Tortura e morte não fazem parte apenas dos regismos nazistas e fascistas, mas da história branca e capitalista de dominação.
Certamente muitas pessoas acham exagero essa comparação. Mas eu ouso repetir que são séculos e séculos de tortura, morte e um plano de Estado que busca a eliminação do povo negro e indígena no Brasil. Um plano que tem a segurança pública como pilar de concretização.
Tal projeto atravessa inclusive as nossas fronteiras e nos conecta a todas e todos de pele não branca no mundo. Desgraçadamente, Genivaldo morreu no dia exato quando há dois anos vimos a morte George Floyd, afro-americano assassinado em Minneapolis, sufocado pela polícia. Separados por frações do tempo e território, esses dois homens são pele alvo do genocídio em curso no mundo e, infelizmente, a comunidade negra tem histórias para lembrar para cada mês do ano, sempre dos nossos mortos.
Da mesma forma, Genivaldo também morreu dois anos após uma bala rasgar o pequeno corpo de João Pedro, em São Gonçalo, no Rio de Janeiro, estado onde a mesma PRF, junto com o BOPE, nos fez contar mais corpos essa semana, que já chegam a 25, após uma chacina na Vila Cruzeiro. O Estado genocida mata crianças, adultos e idosos.
Essa mesma eugenia racista que matou Genivaldo também segue em curso em São Paulo. A operação Caronte, na Cracolândia, move usuários de drogas, com repressão, pelas ruas da capital, prendendo ou internando compulsoriamente.
É verdade, é crescente a escalada de ódio com o atual governo, seja nacional ou estaduais, mas as polícias têm cumprido seu verdadeiro papel no genocídio nos últimos séculos, desde o Brasil colônia, em que ao passo que as cidades se tornavam “incontroláveis”, com a presença da população negra nos centros urbanos e no campo, foi imposto o controle e sufocamento da liberdade de corpos específicos, para avançar com repressão e morte.
Não há lugar para fugirmos, e longe de serem histórias coincidentes, convivemos assim com a insegurança de que nós ou os nossos sejamos os próximos.
No Brasil, fascismo é racismo e entender as causas dessas mortes é parte do caminho para construirmos saídas. Precisamos seguir mobilizados, organizando a luta em nossos territórios e nas ruas, contra o racismo e pelo bem viver. Precisamos cobrar Justiça por Genivaldo e os 25 que perdemos no Rio de Janeiro.
Em maio, duas importantes iniciativas de resistência negra aconteceram. Recentemente, o Movimento Negro Unificado (MNU) organizou seu 19º Congresso Nacional e tirou como um dos nossos objetivos a derrota do governo Bolsonaro em 2022. Isso porque sua presidência e gerência do país cria um ambiente ainda mais favorável para o Racismo e as violações de direitos humanos.
O MNU é uma importante entidade para aqueles e aquelas que tem como objetivo se organizar em coletivo para reagir a violência racial e construir avanços para derrotar o Estado Racista. Uma organização para aqueles que querem derrotar Bolsonaro, mas não só, para aqueles e aquelas que querem construir um Brasil sem Racismo. Dar fim a esse projeto de poder bolsonarista que intensifica nossa morte é um passo importante para seguir o avanço do projeto político do povo negro para o Brasil, que deve ter em suas bases a desmilitarização das polícias e a construção de um modelo de segurança pública coletivo, que preze o bem estar comunitário do povo brasileiro.
Além das mobilizações permanentes, o movimento social negro também tem atuado na esfera jurídica e institucional para culpabilizar o Estado brasileiro de genocídio. Recentemente, junto a Coalizão Negra Por Direitos, protocolamos a ADPF Pelas Vidas Negras, denunciando o genocídio à população negra brasileira no Superior Tribunal Federal.
Agora é hora de tomarmos as ruas por Justiça por Genivaldo e exigir um projeto de futuro onde vidas negras importem e possam florescer em suas máximas potencialidades e dignidades.
Desde a travessia, de muitos antes do Atlântico, nossos ancestrais nos ensinaram a confrontar o racismo e o colonialismo e mais uma vez aqui estamos até derrotá-lo.
Cretinos unidos
Nosso egoísmo descrê de qualquer interesse público. Nosso amor ao abstrato e horror ao concreto também não colaboram. A nossa burrice congênita não ajuda, já que desconfia da razão com tintas visíveis de um protofascismo rancorosoArnaldo Jabor
Promessas fake assombram Bolsonaro
O caos que Jair Bolsonaro promove no Brasil não afeta só a vida dos mais pobres, a economia, a imagem do país no exterior, a resiliência da democracia e direitos e liberdades vários. Vira e mexe acontece, também, de essa esculhambação geral atingir o próprio Bolsonaro. Quando isso ocorre, o que se vê é um homem em franco desespero, sem saber como lidar com as próprias limitações. E aí o risco é para todos os brasileiros.
Tirado das cordas em que se enfiou com sua gestão temerária da pandemia, graças à vacina que tanto tentou boicotar e à ajuda do Centrão, Bolsonaro mirou alguns outros truques para voltar a crescer nas pesquisas: de um lado aprofundar o ataque ao sistema eleitoral e estimular o antipetismo irracional, e de outro fazer “mandrakarias” fiscais para turbinar o Auxílio Brasil, tentar segurar o preço dos combustíveis e fazer média com o funcionalismo, sobretudo com as categorias de policiais federais, por meio de reajustes.
O segundo braço da estratégia naufragou por completo até aqui. O Auxílio Brasil se mostrou, como já apontavam os economistas e especialistas em políticas públicas, um programa mal desenhado, sujeito a desvios, com logística capenga e, pior, cujo acréscimo de valor em relação ao Bolsa Família foi rapidamente corroído pela inflação.
O resultado é que, segundo o mais recente Datafolha, 69% dos beneficiários o consideram insuficiente, a rejeição a Bolsonaro (45%) entre os que recebem o pagamento é maior que no conjunto da população, e 66% dos cadastrados afirmam que o programa não terá influência sobre seu voto.
No caso dos combustíveis, o capitão troca presidentes da Petrobras e ministros em série, sem perspectiva de provocar alguma redução consistente nas bombas de postos e no botijão de gás. Pior: o Banco Central sinaliza que a inflação está fora de controle e disseminada por amplos setores da economia e que o choque de juros deverá continuar.
Por fim, há o papelão do presidente nos acenos aos servidores federais. Impossibilitado de conceder reajuste expressivo aos policiais, que gostaria de levar para seu palanque, sob pena de paralisar setores vitais da administração pública, Bolsonaro está feito barata tonta: não sabe mais se adianta conceder um reajuste linear de 5% que não lhe trará um eleitor e só ampliará a antipatia geral, mas também corre o risco de, diante de tantas idas e vindas, passar a sofrer boicote da máquina pública (o que os bolsonaristas amam chamar de deep state, de que se pelam de medo).
Para alguém que todos os dias planta teorias da conspiração contra as urnas eletrônicas e adora incitar insubordinação nas polícias militares contra os governadores, não deixa de ser irônico que Bolsonaro possa ter a si mesmo, aos filhos e aos aliados do Centrão como reféns de policiais e auditores fiscais, transformados em inimigos pela sua completa inaptidão para a governança e pela mania de mentir e prometer coisas sem ter condições de cumpri-las.
O quadro acima é uma evidência de quanto a agenda eleitoral atabalhoada de um presidente incidental tem potencial para bagunçar o ambiente da vida nacional em múltiplas e importantes camadas.
A sangria provocada pela sanha eleitoreira de Bolsonaro na Petrobras ainda demorará a ser calculada — da perda de valor da companhia aos gastos com indenizações de executivos demitidos sem nenhum respeito nem liturgia.
Que ele experimente doses cada vez maiores do próprio veneno e fique exposto como está ao menos é didático para que aqueles que espantosamente ainda aprovam este governo inepto — de parlamentares beneficiados pelo sequestro do Orçamento a empresários alheios à realidade do resto da população — entendam o custo alto a que sujeitam o Brasil.
Tirado das cordas em que se enfiou com sua gestão temerária da pandemia, graças à vacina que tanto tentou boicotar e à ajuda do Centrão, Bolsonaro mirou alguns outros truques para voltar a crescer nas pesquisas: de um lado aprofundar o ataque ao sistema eleitoral e estimular o antipetismo irracional, e de outro fazer “mandrakarias” fiscais para turbinar o Auxílio Brasil, tentar segurar o preço dos combustíveis e fazer média com o funcionalismo, sobretudo com as categorias de policiais federais, por meio de reajustes.
O segundo braço da estratégia naufragou por completo até aqui. O Auxílio Brasil se mostrou, como já apontavam os economistas e especialistas em políticas públicas, um programa mal desenhado, sujeito a desvios, com logística capenga e, pior, cujo acréscimo de valor em relação ao Bolsa Família foi rapidamente corroído pela inflação.
O resultado é que, segundo o mais recente Datafolha, 69% dos beneficiários o consideram insuficiente, a rejeição a Bolsonaro (45%) entre os que recebem o pagamento é maior que no conjunto da população, e 66% dos cadastrados afirmam que o programa não terá influência sobre seu voto.
No caso dos combustíveis, o capitão troca presidentes da Petrobras e ministros em série, sem perspectiva de provocar alguma redução consistente nas bombas de postos e no botijão de gás. Pior: o Banco Central sinaliza que a inflação está fora de controle e disseminada por amplos setores da economia e que o choque de juros deverá continuar.
Por fim, há o papelão do presidente nos acenos aos servidores federais. Impossibilitado de conceder reajuste expressivo aos policiais, que gostaria de levar para seu palanque, sob pena de paralisar setores vitais da administração pública, Bolsonaro está feito barata tonta: não sabe mais se adianta conceder um reajuste linear de 5% que não lhe trará um eleitor e só ampliará a antipatia geral, mas também corre o risco de, diante de tantas idas e vindas, passar a sofrer boicote da máquina pública (o que os bolsonaristas amam chamar de deep state, de que se pelam de medo).
Para alguém que todos os dias planta teorias da conspiração contra as urnas eletrônicas e adora incitar insubordinação nas polícias militares contra os governadores, não deixa de ser irônico que Bolsonaro possa ter a si mesmo, aos filhos e aos aliados do Centrão como reféns de policiais e auditores fiscais, transformados em inimigos pela sua completa inaptidão para a governança e pela mania de mentir e prometer coisas sem ter condições de cumpri-las.
O quadro acima é uma evidência de quanto a agenda eleitoral atabalhoada de um presidente incidental tem potencial para bagunçar o ambiente da vida nacional em múltiplas e importantes camadas.
A sangria provocada pela sanha eleitoreira de Bolsonaro na Petrobras ainda demorará a ser calculada — da perda de valor da companhia aos gastos com indenizações de executivos demitidos sem nenhum respeito nem liturgia.
Que ele experimente doses cada vez maiores do próprio veneno e fique exposto como está ao menos é didático para que aqueles que espantosamente ainda aprovam este governo inepto — de parlamentares beneficiados pelo sequestro do Orçamento a empresários alheios à realidade do resto da população — entendam o custo alto a que sujeitam o Brasil.
O eleitor é um detalhe
Ciro Gomes está certo. É uma covardia inominável com o eleitor que Lula e Jair Bolsonaro não participem de debates, seja na TV, na imprensa ou promovidos por entidades, como a Frente Nacional de Prefeitos.
Nunca antes na história o cidadão pagador de impostos foi tão desrespeitado pelos líderes das pesquisas.
O atual presidente é incapaz de oferecer saídas razoáveis para uma das piores crises econômicas da história. E o ex-presidente, que ameaça voltar, debocha da audiência ao dizer que só explicará sua política econômica depois de eleito.
É inaceitável que candidatos a dirigir a nação não prestem contas aos cidadãos que os sustentam, literalmente. A campanha virou briga de torcida, discursos são recheados de platitudes e postagens na internet buscam apenas ‘lacrar’.
Quem oferece algum plano de discussão é ridicularizado por ambos os lados.
A imprensa, sequestrada pela dinâmica do não debate das redes sociais, também é responsável por não cobrar accountability dos candidatos. Na defensiva, o TSE se perdeu no ativismo antibolsonarista e ajuda a aprofundar a polarização.
Para piorar, assistimos brotar por todo lado pesquisas com resultados tão díspares que é impossível concluir que todos estão certos. No mínimo, estão todos errados. Talvez seja o caso também de cobrarmos um debate entre os donos desses institutos.
Nada do que está acontecendo chega mesmo a surpreender, considerando que a política partidária virou uma corrida do ouro pelo botim do fundão eleitoral, até hoje sem regulamentação que garanta financiamento democrático e acesso de novos quadros.
As legendas se tornaram fábricas que consomem bilhões e nada produzem, sejam propostas de políticas públicas, lideranças ou gestores eficientes. Seus dirigentes enriquecem à luz do dia, vendem candidaturas no mercado negro eleitoral e escolhem quais candidatos receberão fundos públicos.
Precisam ser puxadores de votos para garantir a maior bancada e ter acesso a ainda mais recursos. Em 2018, esse sistema proporcional elegeu apenas 5% da Câmara pelo voto direto, distanciando ainda mais Brasília do resto do Brasil.
Nunca antes na história o cidadão pagador de impostos foi tão desrespeitado pelos líderes das pesquisas.
O atual presidente é incapaz de oferecer saídas razoáveis para uma das piores crises econômicas da história. E o ex-presidente, que ameaça voltar, debocha da audiência ao dizer que só explicará sua política econômica depois de eleito.
É inaceitável que candidatos a dirigir a nação não prestem contas aos cidadãos que os sustentam, literalmente. A campanha virou briga de torcida, discursos são recheados de platitudes e postagens na internet buscam apenas ‘lacrar’.
Quem oferece algum plano de discussão é ridicularizado por ambos os lados.
A imprensa, sequestrada pela dinâmica do não debate das redes sociais, também é responsável por não cobrar accountability dos candidatos. Na defensiva, o TSE se perdeu no ativismo antibolsonarista e ajuda a aprofundar a polarização.
Para piorar, assistimos brotar por todo lado pesquisas com resultados tão díspares que é impossível concluir que todos estão certos. No mínimo, estão todos errados. Talvez seja o caso também de cobrarmos um debate entre os donos desses institutos.
Nada do que está acontecendo chega mesmo a surpreender, considerando que a política partidária virou uma corrida do ouro pelo botim do fundão eleitoral, até hoje sem regulamentação que garanta financiamento democrático e acesso de novos quadros.
As legendas se tornaram fábricas que consomem bilhões e nada produzem, sejam propostas de políticas públicas, lideranças ou gestores eficientes. Seus dirigentes enriquecem à luz do dia, vendem candidaturas no mercado negro eleitoral e escolhem quais candidatos receberão fundos públicos.
Precisam ser puxadores de votos para garantir a maior bancada e ter acesso a ainda mais recursos. Em 2018, esse sistema proporcional elegeu apenas 5% da Câmara pelo voto direto, distanciando ainda mais Brasília do resto do Brasil.
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