quinta-feira, 16 de junho de 2016
Hiroshima, meu amor
Alguns políticos acreditam que, após as delações de Marcelo Odebrecht, Léo Pinheiro e Sérgio Machado, não restará muita informação a ser revelada pela Operação-Lava Jato. Por quê?
A lógica por trás do raciocínio é a seguinte: no petrolãonão existiria nada financeiramente mais importante do que as operações que envolveram Odebrecht, OAS e o então presidente da Transpetro. Qualquer outro evento no âmbito da Lava-Jato seria menor, pouco expressivo. Não creio.
Os desdobramentos dessa investigação ainda vão gerar muitas reflexões e consequências, destinadas a depurar o sistema político. Assim como o filme Hiroshima, meu amor, clássico de Alain Resnais de 1959 sobre a tragédia de Hiroshima, na Segunda Guerra, mostrou o dilema, anos depois, de personagens prisioneiros de uma vida sem perspectivas.
O certo é que, num primeiro momento, a combinação das três delações mencionadas vai implodir o ex-presidente Lula, a presidente afastada Dilma Rousseff, ex-ministros do PT, caciques do PMDB, entre outros. Será uma imensa devastação que desfigurará a política nacional, tal como aconteceu com Hiroshima há 71 anos. E depois? O que acontecerá?
O passo seguinte será a digestão do escândalo por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo andamento da Lava-Jato, em Curitiba, já condenou mais de 100 pessoas, o STF avança em ritmo prudente. Aqui e ali, por causa do absurdo da situação, ocorre uma decisão mais aguda, a exemplo da prisão do então senador Delcídio do Amaral e do afastamento do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara.
Está muito claro que o Supremo não quer atravessar o sinal do ponto de inflexão institucional antes que se defina a situação de Dilma Rousseff. Até lá, as emoções serão mais pontuais do que processuais. E talvez deva ser assim mesmo.
No entanto, entre o hoje e o amanhã, teremos as três delações, todas com alto poder de destruição. O que vai acontecer? Primeiro, devemos considerar que os principais partidos políticos do país vão sair estropiados do processo, com desfalque de lideranças. Depois, após a definição do impeachment, um processo de depuração será deflagrado pelas investigações do STF. Qual será o alcance desse processo? Não sabemos.
O certo é que nada será como antes. Política e eleições não serão as mesmas. A elevação dos padrões será decisiva, ainda que nem tudo deva melhorar de uma hora para outra. Mas as decisões do STF permanecerão, por um bom tempo, como radioatividade, corroendo as entranhas do sistema político nacional.
A lógica por trás do raciocínio é a seguinte: no petrolãonão existiria nada financeiramente mais importante do que as operações que envolveram Odebrecht, OAS e o então presidente da Transpetro. Qualquer outro evento no âmbito da Lava-Jato seria menor, pouco expressivo. Não creio.
Os desdobramentos dessa investigação ainda vão gerar muitas reflexões e consequências, destinadas a depurar o sistema político. Assim como o filme Hiroshima, meu amor, clássico de Alain Resnais de 1959 sobre a tragédia de Hiroshima, na Segunda Guerra, mostrou o dilema, anos depois, de personagens prisioneiros de uma vida sem perspectivas.
O passo seguinte será a digestão do escândalo por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo andamento da Lava-Jato, em Curitiba, já condenou mais de 100 pessoas, o STF avança em ritmo prudente. Aqui e ali, por causa do absurdo da situação, ocorre uma decisão mais aguda, a exemplo da prisão do então senador Delcídio do Amaral e do afastamento do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara.
Está muito claro que o Supremo não quer atravessar o sinal do ponto de inflexão institucional antes que se defina a situação de Dilma Rousseff. Até lá, as emoções serão mais pontuais do que processuais. E talvez deva ser assim mesmo.
No entanto, entre o hoje e o amanhã, teremos as três delações, todas com alto poder de destruição. O que vai acontecer? Primeiro, devemos considerar que os principais partidos políticos do país vão sair estropiados do processo, com desfalque de lideranças. Depois, após a definição do impeachment, um processo de depuração será deflagrado pelas investigações do STF. Qual será o alcance desse processo? Não sabemos.
O certo é que nada será como antes. Política e eleições não serão as mesmas. A elevação dos padrões será decisiva, ainda que nem tudo deva melhorar de uma hora para outra. Mas as decisões do STF permanecerão, por um bom tempo, como radioatividade, corroendo as entranhas do sistema político nacional.
Retratos da nossa ignorância
O Brasil conta com cerca de 50 milhões de analfabetos ou analfabetos funcionais. Isso significa que um em cada três brasileiros adultos não sabe ler ou, quando consegue, não é capaz de compreender o conteúdo de um texto simples. Mesmo entre aqueles considerados alfabetizados impera a ignorância. Pesquisa recente, intitulada Retratos da Leitura no Brasil, apontou que, na média, lemos 4,9 livros por ano (um número pequeno e ainda assim enganoso, já que, deste total, apenas 2,4 livros são terminados; o restante é lido apenas em parte). Além disso, apenas 7% da população lê jornais diariamente, já levando em consideração o acesso à informação digital.
A falta de tempo aparece como o principal argumento dos entrevistados para não ler (32%). No entanto, uma outra pesquisa, da NOP World Culture Score Index, mostra que os brasileiros dedicam cinco horas e 12 minutos semanais à leitura contra 18 horas e 15 minutos à televisão, 17 horas ao rádio e 10 horas e 30 minutos à internet (no caso, com navegação sem fins profissionais). Antes dos livros, os brasileiros preferem reunir-se com amigos ou família (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar WhatsApp (43%), escrever (40%) e usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%).
Mas o mais estarrecedor é que, se a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil constata, de um lado, a falência completa do nosso sistema educacional, de outro revela o crescimento atordoante do fundamentalismo religioso. A maioria absoluta das justificativas dos entrevistados para não ler estão relacionadas à baixa escolaridade — não gosta (28%), não tem paciência (13%), tem dificuldade (9%) e não sabe ler (20%). Esse quadro desolador ainda é agravado ao acrescentarmos dados de leitura específicos dos professores. Quando indagados sobre o título do último livro lido, metade deles simplesmente respondeu “nenhum” e 22% citaram a Bíblia.
A Bíblia aparece muito à frente entre as preferências dos entrevistados, em todas as classes sociais, faixas etárias e de escolaridade. Na lista dos mais citados surgem alguns poucos escritores — geralmente leitura obrigatória na escola, como Machado de Assis e Graciliano Ramos —, e autores de autoajuda (como Augusto Cury) e de entretenimento (como Paulo Coelho e John Green), mas a supremacia absoluta é de nomes ligados à divulgação religiosa. Os mais lembrados são João Ferreira de Almeida (tradutor da Bíblia utilizada pelos evangélicos), Zíbia Gasparetto, Allan Kardec e Chico Xavier (espíritas), padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo (católicos ligados à corrente carismática), Edir Macedo e sua filha Cristiane Cardoso (Igreja Universal) e Ellen G. White (Igreja Adventista).
A falta de tempo aparece como o principal argumento dos entrevistados para não ler (32%). No entanto, uma outra pesquisa, da NOP World Culture Score Index, mostra que os brasileiros dedicam cinco horas e 12 minutos semanais à leitura contra 18 horas e 15 minutos à televisão, 17 horas ao rádio e 10 horas e 30 minutos à internet (no caso, com navegação sem fins profissionais). Antes dos livros, os brasileiros preferem reunir-se com amigos ou família (45%), assistir vídeos ou filmes em casa (44%), usar WhatsApp (43%), escrever (40%) e usar Facebook, Twitter ou Instagram (35%).
Mas o mais estarrecedor é que, se a pesquisa Retratos da Leitura no Brasil constata, de um lado, a falência completa do nosso sistema educacional, de outro revela o crescimento atordoante do fundamentalismo religioso. A maioria absoluta das justificativas dos entrevistados para não ler estão relacionadas à baixa escolaridade — não gosta (28%), não tem paciência (13%), tem dificuldade (9%) e não sabe ler (20%). Esse quadro desolador ainda é agravado ao acrescentarmos dados de leitura específicos dos professores. Quando indagados sobre o título do último livro lido, metade deles simplesmente respondeu “nenhum” e 22% citaram a Bíblia.
A Bíblia aparece muito à frente entre as preferências dos entrevistados, em todas as classes sociais, faixas etárias e de escolaridade. Na lista dos mais citados surgem alguns poucos escritores — geralmente leitura obrigatória na escola, como Machado de Assis e Graciliano Ramos —, e autores de autoajuda (como Augusto Cury) e de entretenimento (como Paulo Coelho e John Green), mas a supremacia absoluta é de nomes ligados à divulgação religiosa. Os mais lembrados são João Ferreira de Almeida (tradutor da Bíblia utilizada pelos evangélicos), Zíbia Gasparetto, Allan Kardec e Chico Xavier (espíritas), padres Marcelo Rossi e Fábio de Melo (católicos ligados à corrente carismática), Edir Macedo e sua filha Cristiane Cardoso (Igreja Universal) e Ellen G. White (Igreja Adventista).
Onde o Estado falha, viceja a ignorância. Nenhum de nossos governantes — chamem-se eles José Sarney, Fernando Henrique Cardoso ou Luiz Inácio Lula da Silva — empenhou-se, de verdade, na melhoria do nosso sistema educacional. No Brasil, educação de qualidade nunca foi direito da população, sempre foi privilégio da elite mandatária. O resultado é esse: cada vez mais exacerbamos nosso egoísmo (traduzido em nossa incapacidade de agirmos no interesse da comunidade), nossos preconceitos (visíveis no machismo, no racismo, na homofobia, na xenofobia), nossa intolerância (perceptível na violência urbana, na passionalidade com que defendemos opiniões).
Pouco a pouco, o Brasil vai se tornando território do pensamento radical. Não só pelo grau nunca antes alcançado de representatividade religiosa no Congresso e, mais particularmente, no Governo do presidente interino Michel Temer (sejam evangélicos, protestantes ou católicos), como também pelas posições assumidas por intelectuais e formadores de opinião, autodenominem-se eles de esquerda ou de direita, que vêm fomentando o ódio e o fanatismo. É preocupante quando descobrimos que 74% da população adulta não adquiriu livros nos últimos três meses e 30% nunca comprou um livro em toda a sua vida. E é assustador quando contatamos que, aqueles poucos que leem, colocam um livro como “A verdade sufocada”, do coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015, entre os mais vendidos do país... Há algo muito estranho acontecendo por aqui...
Pouco a pouco, o Brasil vai se tornando território do pensamento radical. Não só pelo grau nunca antes alcançado de representatividade religiosa no Congresso e, mais particularmente, no Governo do presidente interino Michel Temer (sejam evangélicos, protestantes ou católicos), como também pelas posições assumidas por intelectuais e formadores de opinião, autodenominem-se eles de esquerda ou de direita, que vêm fomentando o ódio e o fanatismo. É preocupante quando descobrimos que 74% da população adulta não adquiriu livros nos últimos três meses e 30% nunca comprou um livro em toda a sua vida. E é assustador quando contatamos que, aqueles poucos que leem, colocam um livro como “A verdade sufocada”, do coronel torturador Carlos Alberto Brilhante Ustra, morto em 2015, entre os mais vendidos do país... Há algo muito estranho acontecendo por aqui...
País entregue a morcegos
A mais absurda tarefa do brasileiro neste tempos é descobrir o Brasil. Onde, afinal, enfiaram o país?
Certo é que o Brasil não está, em nenhum momento, na cabeça de políticos nem mesmo nas instituições à procura de ética. Muito menos estará nas ongs ditas sociais, nos sindicalistas de meia sola, na turma do meu pirão primeiro.
O Brasil ficou para escanteio e parece não haver gandula disposto a colocar a bola novamente em jogo. Culpa do juiz? Bem pode ser, mas é mais provável ser da falta de juízo da canalhada e da vergonha na cara que principalmente as "zelites" quadrilheiras exibem com altivez de medícores.
Dia a dia o noticiário é sempre o mesmo de envolvidos em processos afirmarem inocência de mãos em prece. Ninguém pegou dinheiro, as doações sempre foram legais, não sabe desde criancinha o que é propina, enfim, uma inocência generalizada de escárnio ao sofrimento de milhões.
Em meio a uma crise com milhões de desempregados, empresas e comércio fechando, milhões endividados, fazendo economia até em mercadinho, chovem fortunas de propinas de fulano a sicrano, até "mesadas" milionárias de dinheiro público para bolsos sempre assistidos pelo poder.
A elite política e as "zelites" apadrinhadas a quem nunca faltou a asssistência dos governos em gordos salários e aviltantes auxílios, como a insultante "quarentena" distribuída à companheirada, insistem em chafurdar em negativas de que são inocentes.
Diante de um noticiário de uma depressão, continuam a usufruir das regalias que o dinheiro do contribuinte lhes concedeu. Se banqueteiam como a nobreza dos déspotas, sobre os doentes, os velhos, as crianças, os mortos, e o suor dos trabalhadores. São os vorazes modernos do sangue, do corpo e da alma alheia. A nova classe que suga o país como gado no pasto infestado de morcegos.
Certo é que o Brasil não está, em nenhum momento, na cabeça de políticos nem mesmo nas instituições à procura de ética. Muito menos estará nas ongs ditas sociais, nos sindicalistas de meia sola, na turma do meu pirão primeiro.
O Brasil ficou para escanteio e parece não haver gandula disposto a colocar a bola novamente em jogo. Culpa do juiz? Bem pode ser, mas é mais provável ser da falta de juízo da canalhada e da vergonha na cara que principalmente as "zelites" quadrilheiras exibem com altivez de medícores.
Em meio a uma crise com milhões de desempregados, empresas e comércio fechando, milhões endividados, fazendo economia até em mercadinho, chovem fortunas de propinas de fulano a sicrano, até "mesadas" milionárias de dinheiro público para bolsos sempre assistidos pelo poder.
A elite política e as "zelites" apadrinhadas a quem nunca faltou a asssistência dos governos em gordos salários e aviltantes auxílios, como a insultante "quarentena" distribuída à companheirada, insistem em chafurdar em negativas de que são inocentes.
Diante de um noticiário de uma depressão, continuam a usufruir das regalias que o dinheiro do contribuinte lhes concedeu. Se banqueteiam como a nobreza dos déspotas, sobre os doentes, os velhos, as crianças, os mortos, e o suor dos trabalhadores. São os vorazes modernos do sangue, do corpo e da alma alheia. A nova classe que suga o país como gado no pasto infestado de morcegos.
O que está faltando ao Brasil
A crise econômica e moral que se abateu sobre o País despertou nos brasileiros reservas de ativismo cívico por muito tempo ausentes da nossa vida política. Desde março de 2015 até maio deste ano, multidões saíram às ruas, repetidas vezes, de modo pacífico e espontâneo, em protesto contra a ruína da economia, a predação de nossas melhores empresas públicas e o abandono do interesse público por grande parte do sistema político.
As instituições do Estado de Direito funcionaram apropriadamente e os Poderes Judiciário e Legislativo promoveram uma saída constitucional para a crise, fiéis aos rigores formais da lei, mas sensíveis, também, à vontade majoritária da Nação.
Felizmente, a população brasileira reagiu de modo maduro e sereno ao desfecho da crise política. Provou que a Nação não está dividida e que os inconformados constituem parcela minoritária da sociedade. Só chegamos ao ponto de apoiar e exigir o impedimento da presidente da República porque o estado da economia atingiu um limite insustentável. Ficou claro para todos que o principal responsável por tudo foi o governo, em alguns casos a falta de um governo efetivo.
Os setores produtivos tiveram papel ativo no processo. Coadjuvaram, no tempo próprio, com as iniciativas e manifestações nas cidades, não porque reivindicassem qualquer protagonismo de natureza puramente política – o que não lhes cabia –, mas porque perceberam que a desintegração progressiva do ambiente econômico acabaria por destruir a capacidade de produção do País. Uma vez concluído o processo, industriais, comerciantes e agricultores voltam, agora, ao trabalho, para cumprir o seu papel natural na vida da Nação.
Restam diante de nós os imensos problemas que nos foram legados. O caminho de volta ao equilíbrio fiscal, ao crescimento econômico e à regeneração da vida pública, tudo o que foi perdido, vai demandar remédios amargos, para os quais não sabemos, ainda, se a sociedade está totalmente preparada. Pode haver reações que cheguem ao limiar de conflitos sociais.
A maior parte das medidas necessárias precisará da ação do sistema político e das Casas do Parlamento. O esgotamento da capacidade fiscal do Estado, que é o responsável pela recessão econômica e a alta inflação, só pode ser corrigido por medidas legislativas e emendas constitucionais, que atingem interesses constituídos. A maior ou menor resistência da sociedade a essas mudanças dependerá de como o processo for conduzido pela classe política.
Se deputados e senadores forem capazes de, por um momento, deixar de lado a lógica dos seus interesses particulares, especialmente os de ordem eleitoral, e se dispuserem a discutir e construir um caminho para o futuro, nosso país poderá ter a esperança de reencontrar um destino de progresso e justiça.
O governo em exercício tem mostrado que reconhece e compreende os problemas que tem pela frente. A proposta de estabelecer um teto nominal para as despesas dos exercícios fiscais, limitado apenas à inflação do ano anterior, sem nenhum crescimento real, é um remédio duro, para o qual não há alternativas. O grande teste será a sua apreciação pelo Congresso Nacional. Em breve, os interesses organizados saltarão sobre as bancadas parlamentares, para que sua parte no bolo fiscal seja excluída dos tetos e das restrições.
O orçamento fiscal é, hoje, a grande arena em que se exprimem os conflitos distributivos. Todos têm seus bons motivos, mas nenhum tem razão neste momento. Se não for restaurado um equilíbrio duradouro nas contas públicas, caminharemos para um desastre geral, que arruinará todos.
Não é fácil ser otimista. O sistema político está em muito mau estado. Conseguimos a proeza de ter mais de 30 partidos, quase totalmente indiferenciados e com os quais o Poder Executivo tem de se articular em termos pragmáticos, já que não há questões de princípios em jogo. Construir uma pauta unificadora e negociar em questões exclusivamente de mérito é cada vez mais raro e difícil.
Nossa democracia, apesar de vibrante e autêntica, em virtude dos defeitos do sistema eleitoral, não tem produzido líderes capazes de agregar e formular agendas transformadoras, com amplo apoio popular. O sistema político acaba funcionando por impulsos, respondendo apenas a emergências, sem condições de resistir a pressões corporativistas e de interesses mais bem organizados.
Reconheço, com tristeza, que uma geração inteira já foi sacrificada. Passada mais uma emergência institucional, todos temos razão em temer que a política brasileira volte, mais uma vez, ao seu lugar de sempre e não dê aos brasileiros a oportunidade de sonhar com realizações mais altas, que a nossa riqueza natural e o nosso povo nos permitem desejar.
A sociedade não se recolheu, para sempre, às suas casas e a seus locais de trabalho. Tendo chegado até aqui, ela não vai permitir que tanto esforço e esperança se dissipem no nada. A Nação espera que os seus representantes, malgrado as imperfeições e os vícios dessa representação, aprovem as medidas exigidas para reconduzir o País à normalidade.
Se os interesses políticos esvaziarem o conteúdo das reformas legislativas e patrocinarem falsas reformas, que não resolvem nada, a Nação, os trabalhadores e os empresários, jovens e adultos, brasileiros de hoje e do amanhã, terão o direito de reagir.
Passadas as emergências da crise econômica e social, os políticos devem à Nação uma reforma política que mude a natureza caótica da representação parlamentar e torne os agentes públicos – presidente, governadores, prefeitos e legisladores – mais responsáveis pelos seus erros e pelas suas ações.
Um sistema político mais justo e consequente não teria permitido que tantos agentes públicos tivessem errado tanto, durante tanto tempo. Se tudo isso acontecer, terão valido a pena os riscos e perigos que corremos.
João Martins da Silva Júnior
As instituições do Estado de Direito funcionaram apropriadamente e os Poderes Judiciário e Legislativo promoveram uma saída constitucional para a crise, fiéis aos rigores formais da lei, mas sensíveis, também, à vontade majoritária da Nação.
Felizmente, a população brasileira reagiu de modo maduro e sereno ao desfecho da crise política. Provou que a Nação não está dividida e que os inconformados constituem parcela minoritária da sociedade. Só chegamos ao ponto de apoiar e exigir o impedimento da presidente da República porque o estado da economia atingiu um limite insustentável. Ficou claro para todos que o principal responsável por tudo foi o governo, em alguns casos a falta de um governo efetivo.
Os setores produtivos tiveram papel ativo no processo. Coadjuvaram, no tempo próprio, com as iniciativas e manifestações nas cidades, não porque reivindicassem qualquer protagonismo de natureza puramente política – o que não lhes cabia –, mas porque perceberam que a desintegração progressiva do ambiente econômico acabaria por destruir a capacidade de produção do País. Uma vez concluído o processo, industriais, comerciantes e agricultores voltam, agora, ao trabalho, para cumprir o seu papel natural na vida da Nação.
A maior parte das medidas necessárias precisará da ação do sistema político e das Casas do Parlamento. O esgotamento da capacidade fiscal do Estado, que é o responsável pela recessão econômica e a alta inflação, só pode ser corrigido por medidas legislativas e emendas constitucionais, que atingem interesses constituídos. A maior ou menor resistência da sociedade a essas mudanças dependerá de como o processo for conduzido pela classe política.
Se deputados e senadores forem capazes de, por um momento, deixar de lado a lógica dos seus interesses particulares, especialmente os de ordem eleitoral, e se dispuserem a discutir e construir um caminho para o futuro, nosso país poderá ter a esperança de reencontrar um destino de progresso e justiça.
O governo em exercício tem mostrado que reconhece e compreende os problemas que tem pela frente. A proposta de estabelecer um teto nominal para as despesas dos exercícios fiscais, limitado apenas à inflação do ano anterior, sem nenhum crescimento real, é um remédio duro, para o qual não há alternativas. O grande teste será a sua apreciação pelo Congresso Nacional. Em breve, os interesses organizados saltarão sobre as bancadas parlamentares, para que sua parte no bolo fiscal seja excluída dos tetos e das restrições.
O orçamento fiscal é, hoje, a grande arena em que se exprimem os conflitos distributivos. Todos têm seus bons motivos, mas nenhum tem razão neste momento. Se não for restaurado um equilíbrio duradouro nas contas públicas, caminharemos para um desastre geral, que arruinará todos.
Não é fácil ser otimista. O sistema político está em muito mau estado. Conseguimos a proeza de ter mais de 30 partidos, quase totalmente indiferenciados e com os quais o Poder Executivo tem de se articular em termos pragmáticos, já que não há questões de princípios em jogo. Construir uma pauta unificadora e negociar em questões exclusivamente de mérito é cada vez mais raro e difícil.
Nossa democracia, apesar de vibrante e autêntica, em virtude dos defeitos do sistema eleitoral, não tem produzido líderes capazes de agregar e formular agendas transformadoras, com amplo apoio popular. O sistema político acaba funcionando por impulsos, respondendo apenas a emergências, sem condições de resistir a pressões corporativistas e de interesses mais bem organizados.
Reconheço, com tristeza, que uma geração inteira já foi sacrificada. Passada mais uma emergência institucional, todos temos razão em temer que a política brasileira volte, mais uma vez, ao seu lugar de sempre e não dê aos brasileiros a oportunidade de sonhar com realizações mais altas, que a nossa riqueza natural e o nosso povo nos permitem desejar.
A sociedade não se recolheu, para sempre, às suas casas e a seus locais de trabalho. Tendo chegado até aqui, ela não vai permitir que tanto esforço e esperança se dissipem no nada. A Nação espera que os seus representantes, malgrado as imperfeições e os vícios dessa representação, aprovem as medidas exigidas para reconduzir o País à normalidade.
Se os interesses políticos esvaziarem o conteúdo das reformas legislativas e patrocinarem falsas reformas, que não resolvem nada, a Nação, os trabalhadores e os empresários, jovens e adultos, brasileiros de hoje e do amanhã, terão o direito de reagir.
Passadas as emergências da crise econômica e social, os políticos devem à Nação uma reforma política que mude a natureza caótica da representação parlamentar e torne os agentes públicos – presidente, governadores, prefeitos e legisladores – mais responsáveis pelos seus erros e pelas suas ações.
Um sistema político mais justo e consequente não teria permitido que tantos agentes públicos tivessem errado tanto, durante tanto tempo. Se tudo isso acontecer, terão valido a pena os riscos e perigos que corremos.
João Martins da Silva Júnior
As únicas classes
Num estado democrático existem duas classes de políticos: os suspeitos de corrupção e os corruptosDavid Zac
Esquerda e direita querem saquear o Brasil
O fato de os deputados terem desfigurado a nova lei geral das estatais mostra que o Brasil ainda está muito longe de pensar em ser um país civilizado.
O governo queria desaparelhar e limpar as empresas, mas a Câmara manteve a boquinha nas diretorias para apadrinhados de parlamentares, partidos e sindicatos.
A conclusão é simples: os políticos e comparsas querem continuar roubando as estatais, porque as consideram sua propriedade exclusiva.
Esquerda e direita têm o objetivo comum de saquear o Brasil.
O Antagonista
O governo queria desaparelhar e limpar as empresas, mas a Câmara manteve a boquinha nas diretorias para apadrinhados de parlamentares, partidos e sindicatos.
A conclusão é simples: os políticos e comparsas querem continuar roubando as estatais, porque as consideram sua propriedade exclusiva.
Esquerda e direita têm o objetivo comum de saquear o Brasil.
O Antagonista
A Justiça no Brasil, inalcançável como fim
Tem sido assim através dos tempos: Cícero condena, Catilina é condenado. Rodrigo Janot pede a prisão, Teori Zavaski absolve Renan Calheiros, Romero Jucá e José Sarney. Do lado de fora, patrícios e plebeus não entendem por que Eduardo Cunha recebeu cinco dias para provar sua inocência, depois de considerado culpado por seus julgadores.
A Justiça oscila entre os fundamentos do crime. A sociedade se divide diante deles tanto quanto os encarregados de julgá-los. Em cada cabeça uma sentença. Inocentes e culpados nivelam-se de acordo com a opinião dos que interpretam suas ações.
Haveria alternativa para substituir a dicotomia? Para aplicar os mesmos princípios em todos os julgamentos?
Enquanto não for encontrada uma solução equânime e uniforme (mas impossível e inviável porque todos os crimes diferem entre si em ações e motivações), haverá que conviver entre Cícero e Catilina, apesar das múltiplas razões de Rodrigo Janot e Teori Zavaski.
Em suma, emerge uma evidência: a Justiça é inalcançável como fim. Mas haverá alternativa?
A Justiça oscila entre os fundamentos do crime. A sociedade se divide diante deles tanto quanto os encarregados de julgá-los. Em cada cabeça uma sentença. Inocentes e culpados nivelam-se de acordo com a opinião dos que interpretam suas ações.
Haveria alternativa para substituir a dicotomia? Para aplicar os mesmos princípios em todos os julgamentos?
Enquanto não for encontrada uma solução equânime e uniforme (mas impossível e inviável porque todos os crimes diferem entre si em ações e motivações), haverá que conviver entre Cícero e Catilina, apesar das múltiplas razões de Rodrigo Janot e Teori Zavaski.
Em suma, emerge uma evidência: a Justiça é inalcançável como fim. Mas haverá alternativa?
O lugar de Dilma na história
Alguns historiadores brasileiros, cujo ofício é o de reconstituir o passado para entender o que somos no presente, estão com pressa de antecipar a história que será escrita no futuro. A aguerrida militância política desses intelectuais pretende transformar em versão oficial a conclusão de que a presidente Dilma Rousseff sofreu um golpe – e qualquer outra consideração será entendida como parte dessa conspiração.
Não haveria nenhum problema se os defensores dessa interpretação dos fatos fossem cidadãos sem qualquer responsabilidade sobre o que se ensina em sala de aula. No entanto, o que se tem hoje no Brasil é a formulação de uma espécie de pensamento único nas escolas e universidades – e a vanguarda desse pensamento é formada por historiadores muito bem posicionados na academia, local de onde pretendem difundir um discurso consensual segundo o qual só é democrático quem defende o mandato de Dilma.
No dia 7 passado, a presidente afastada recebeu um grupo desses profissionais, intitulado “Historiadores pela Democracia”. Ali, na melhor tradição dos intelectuais a serviço de partidos que se dizem revolucionários, eles prestaram homenagem não a Dilma – mera figurante dessa história e certamente detestada por muitos dos convidados –, mas sim ao lulopetismo, que lhes franqueou espaço privilegiado ao longo da última década.
Nesse período, esses intelectuais pretendiam aproveitar o sucesso eleitoral petista para tornar hegemônica a versão segundo a qual o PT e seus satélites transformaram o Brasil no paraíso da “justiça social”. Qualquer sinal da realidade que contrariasse esse discurso seria tratado como evidência do complô das “elites”, supostamente injuriadas com a transformação dos pobres em consumidores. Em troca do serviço prestado aos políticos, os intelectuais bajuladores do poder teriam a glória de ditar os termos da história, pregando o rótulo de “fascistas” nos colegas que ousassem denunciar o engodo do lulopetismo, isolando-os nas universidades como se fossem doentes cujo contato se deveria evitar.
Mas a democracia brasileira provou-se forte o bastante para implodir o edifício fraudulento que o PT de Lula e seus sequazes acadêmicos estavam erguendo. Quando o lulopetismo julgava ter encontrado a fórmula perfeita para se perpetuar no poder, comprando o Congresso e associando-se a empresários corruptos, eis que um punhado de procuradores, policiais federais e magistrados puxou o fio da meada e expôs ao País as entranhas do projeto do PT. Além disso, técnicos do Tribunal de Contas da União mostraram que o milagre econômico anunciado por Lula e Dilma estava assentado em grossa irresponsabilidade fiscal. O afastamento da presidente foi o desfecho lógico – e legítimo – desse empreendimento criminoso e autoritário.
Agora, com a história a lhes escorrer por entre os dedos, os “Historiadores pela Democracia” e seus congêneres, incapazes de aceitar a democracia, representada pelo respeito à Constituição, ainda tentam desesperadamente fazer prevalecer a tese da conspiração. “Sabemos que está em disputa, na sociedade, na mídia e no governo interino, a narrativa desse evento”, diz o manifesto desses historiadores, sem esconder, portanto, a intenção de moldar, desde já, a interpretação desse período no futuro.
Os signatários advertem os “historiadores do futuro” que não se fiem “na grande imprensa”, pois esta faz parte do “golpe”. E o tal “golpe”, dizem, “ameaça a continuidade das políticas que buscam a integração da população negra, pobre, indígena na sociedade brasileira” e “representa a força do passado na sociedade brasileira, com suas bandeiras de privilégio de classe, misoginia, racismo e corrupção”. Isso não é história, é má-fé.
O manifesto afirma, por fim, que “a história fará justiça” ao governo de Dilma. Se os historiadores do futuro seguirem o conselho do grande mestre desse ofício, Marc Bloch, que pedia a seus colegas apenas “honesta submissão à verdade”, esse julgamento já tem um veredicto: a absoluta desmoralização do lulopetismo.
Não haveria nenhum problema se os defensores dessa interpretação dos fatos fossem cidadãos sem qualquer responsabilidade sobre o que se ensina em sala de aula. No entanto, o que se tem hoje no Brasil é a formulação de uma espécie de pensamento único nas escolas e universidades – e a vanguarda desse pensamento é formada por historiadores muito bem posicionados na academia, local de onde pretendem difundir um discurso consensual segundo o qual só é democrático quem defende o mandato de Dilma.
Nesse período, esses intelectuais pretendiam aproveitar o sucesso eleitoral petista para tornar hegemônica a versão segundo a qual o PT e seus satélites transformaram o Brasil no paraíso da “justiça social”. Qualquer sinal da realidade que contrariasse esse discurso seria tratado como evidência do complô das “elites”, supostamente injuriadas com a transformação dos pobres em consumidores. Em troca do serviço prestado aos políticos, os intelectuais bajuladores do poder teriam a glória de ditar os termos da história, pregando o rótulo de “fascistas” nos colegas que ousassem denunciar o engodo do lulopetismo, isolando-os nas universidades como se fossem doentes cujo contato se deveria evitar.
Mas a democracia brasileira provou-se forte o bastante para implodir o edifício fraudulento que o PT de Lula e seus sequazes acadêmicos estavam erguendo. Quando o lulopetismo julgava ter encontrado a fórmula perfeita para se perpetuar no poder, comprando o Congresso e associando-se a empresários corruptos, eis que um punhado de procuradores, policiais federais e magistrados puxou o fio da meada e expôs ao País as entranhas do projeto do PT. Além disso, técnicos do Tribunal de Contas da União mostraram que o milagre econômico anunciado por Lula e Dilma estava assentado em grossa irresponsabilidade fiscal. O afastamento da presidente foi o desfecho lógico – e legítimo – desse empreendimento criminoso e autoritário.
Agora, com a história a lhes escorrer por entre os dedos, os “Historiadores pela Democracia” e seus congêneres, incapazes de aceitar a democracia, representada pelo respeito à Constituição, ainda tentam desesperadamente fazer prevalecer a tese da conspiração. “Sabemos que está em disputa, na sociedade, na mídia e no governo interino, a narrativa desse evento”, diz o manifesto desses historiadores, sem esconder, portanto, a intenção de moldar, desde já, a interpretação desse período no futuro.
Os signatários advertem os “historiadores do futuro” que não se fiem “na grande imprensa”, pois esta faz parte do “golpe”. E o tal “golpe”, dizem, “ameaça a continuidade das políticas que buscam a integração da população negra, pobre, indígena na sociedade brasileira” e “representa a força do passado na sociedade brasileira, com suas bandeiras de privilégio de classe, misoginia, racismo e corrupção”. Isso não é história, é má-fé.
O manifesto afirma, por fim, que “a história fará justiça” ao governo de Dilma. Se os historiadores do futuro seguirem o conselho do grande mestre desse ofício, Marc Bloch, que pedia a seus colegas apenas “honesta submissão à verdade”, esse julgamento já tem um veredicto: a absoluta desmoralização do lulopetismo.
Escrava dos poderes
O Brasil fica melhor sem Cunha, sem Lula e sem a esquerda acadêmica
Eu fico com a tal sensação da vergonha alheia a cada vez que o deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também presidente afastado da Câmara, nega a existência de provas de que tenha conta no exterior, ponto em que sua defesa também insiste.
Tenho paixão pelo direito, como sabem os que me leem. Muitos dos meus amigos são advogados — em número, talvez só percam para os médicos: o preço da hipocondria é a eterna vigilância, rsss… As novas gerações da minha família e das respectivas famílias de amigos caminham para o espírito das leis. Tendo a ser legalista e, como posso dizer?, literalista: se o texto legal é explícito, aplique-se; só vamos especular sobre as intenções do legislador se houver vazios nessa explicitação
Mas isso não significa, obviamente, um compromisso com a hipocrisia.
Quando o senhor Eduardo Cunha negou que tivesse conta no exterior, não estava se apegando a uma formalidade. Não se tratava de afastar de si a suspeita de que mantivesse em país estrangeiro uma conta corrente. O que ele estava dizendo aos brasileiros e aos eleitores é que não mantinha dinheiro no exterior. Se esse dinheiro — aquela coisa que compra feijão e com que se paga o açougue — estava na forma de conta corrente ou de um trust, a diferença é de uma irrelevância, também ela, escandalosa. O deputado mentiu.
Cunha não deixa de prestar um serviço ao Brasil. Nem ele se dá conta disso. De fato, e isto precisa ser reconhecido, ele teve um papel importante no desmonte do PT. E por quê? Roberto Jefferson, que não é um santo, interpretou o enigma: porque era preciso que houvesse alguém que jogasse tão bem o jogo que joga o partido. Cunha é o triunfo da falta de escrúpulos, da ausência de limites, do pragmatismo mais cego.
“E que serviço ele presta, Reinaldo?” Ele expõe de tal sorte o amoralismo da política que nos deixa enfarados, enfastiados, com o saco cheio. Cunha leva ao limite do insuportável as franjas da ética. De tal sorte ele relativiza o bem que, depois de algumas jornadas, o capeta fica parecendo um cara bacana porque, afinal, tem alguns princípios.
Não, senhores! Não é mero acaso que Cunha esteja caindo em desgraça junto com Luiz Inácio Lula da Silva. Ambos sabem muito bem o nome do que praticam.
Há apenas uma diferença relevante entre eles: Cunha está indo para o buraco sem gerar fortuna crítica; sem um séquito de intelectuais uspianos a lhe lamber as botas. Lula vai para o lixo levando consigo boa parte da esquerda acadêmica.
Que bom! O Brasil fica melhor sem Cunha, sem Lula e sem a esquerda acadêmica!
'A madame mais honesta dos cabarés do Brasil'
O delator Sérgio Machado prestou 13 depoimentos à força-tarefa brasiliense da Lava Jato. Transcritas, suas revelações encheram 400 páginas. Cobrem de Temer a Aécio. Certos trechos só deveriam ser exibidos na tevê depois da meia noite. E vendidos em jornais envoltos em sacos plásticos. A política, como se sabe, é a segunda profissão mais antiga do mundo. Mas o ex-presidente da Transpetro demonstrou que, no Brasil, ela se parece muito com a primeira.
A certa altura, Machado referiu-se à Petrobras como “a madame mais honesta dos cabarés do Brasil''. Os inquiridores estranharam. E o depoente: “Era um organismo estatal bastante regulamentado e disciplinado''. A perver$ão é maior noutros órgãos, onde vigoram “práticas menos ortodoxas''. Machado empilhou exemplos: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Docas, Banco do Nordeste, Fundação Nacional de Saúde, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas…
Lendo-se os depoimentos de Machado, percebe-se que a suruba estatal dos dias atuais é muito parecida com a de antigamente. A diferença é que o PT, ao deixar a história para cair na vida, esforçou-se demais para demonstrar que não estava imune às tentações alheias. Entregou-se com tal volúpia aos prazeres do poder despudorado, que expandiu demais a orgia e esqueceu de fechar a janela. Adorou as alianças esdrúxulas. E percebeu que a volta às origens, além de indesejada, era impossível. Castidade, como a virgindade, não dá segunda safra.
Noves fora a diferença de escala, o ex-tucano Sérgio Machado disse que desde 1946 havia um padrão segundo o qual os empresários incorporavam em seus orçamentos um certo “custo político” —eufemismo para o ‘por fora’, o ‘quanto eu levo nisso?’. Variava conforme o ente da federação: 3% do valor dos contratos firmados com o governo federal, 5% a 10% nos negócios fechados com governos estaduais e 30% nas transações municipais.
Nos bordeis do Estado, pratica-se a suruba às avessas. A Viúva paga para ser violada. Se a Petrobras é “a madame mais honesta”, imagine-se o que sucede nos outros cabarés. Machado disse ter repassado propinas a 23 políticos de seis partidos. Apenas para os pajés do PMDB, sua tribo, entregou mais de R$ 100 milhões durante os 12 anos em que presidiu o balcão da Transpetro.
Sob Machado, “madame” era especialmente dadivosa com seus padrinhos do PMDB do Senado: Renan (R$ 32 milhões), Lobão (R$ 24 milhões), Jucá (R$ 21 milhões), Sarney (R$ 18 milhões), Jáder (R$ 4,2 milhões)… No cabaré gerido por Machado, Renan tinha tratamento diferenciado. Chegou a morder uma mesada de R$ 300 mil. Em anos eleitorais, a cifra engordava.
Dilma não respeita delatores. Lula adomina vazamentos. Mas o petismo adorou a veiculação dos depoimentos de Sérgio Machado. Gostou especialmente do trecho em que ele contou que Michel Temer lhe pediu R$ 1,5 milhão em verbas de má origem, para a campanha paulistana de Gabriel Chalita, em 2012. “É a reversão do impeachment”, celebrou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), como se nada tivesse sido descoberto sobre o partido dele.
Se a Lava Jato ensinou alguma coisa foi o seguinte: quem tem telhado de vidro não deve criticar a permissividade do cabaré do lado. Vem daí o silêncio da banda muda do Congresso, que convive com Cunhas, Renans, Jucás, Jáderes e dezenas de etcéteras que privaram do prazer grupal propiciado pela “madame mais honesta dos cabarés do Brasil.” A política brasileira sobrevive porque não presta atenção às suas impossibilidades. Nesse meio, a desonestidade deixou de ser exceção. Tornou-se um estilo de vida.
A certa altura, Machado referiu-se à Petrobras como “a madame mais honesta dos cabarés do Brasil''. Os inquiridores estranharam. E o depoente: “Era um organismo estatal bastante regulamentado e disciplinado''. A perver$ão é maior noutros órgãos, onde vigoram “práticas menos ortodoxas''. Machado empilhou exemplos: Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes, Docas, Banco do Nordeste, Fundação Nacional de Saúde, Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação, Departamento Nacional de Obras Contra as Secas…
Lendo-se os depoimentos de Machado, percebe-se que a suruba estatal dos dias atuais é muito parecida com a de antigamente. A diferença é que o PT, ao deixar a história para cair na vida, esforçou-se demais para demonstrar que não estava imune às tentações alheias. Entregou-se com tal volúpia aos prazeres do poder despudorado, que expandiu demais a orgia e esqueceu de fechar a janela. Adorou as alianças esdrúxulas. E percebeu que a volta às origens, além de indesejada, era impossível. Castidade, como a virgindade, não dá segunda safra.
Noves fora a diferença de escala, o ex-tucano Sérgio Machado disse que desde 1946 havia um padrão segundo o qual os empresários incorporavam em seus orçamentos um certo “custo político” —eufemismo para o ‘por fora’, o ‘quanto eu levo nisso?’. Variava conforme o ente da federação: 3% do valor dos contratos firmados com o governo federal, 5% a 10% nos negócios fechados com governos estaduais e 30% nas transações municipais.
Miran Cartum |
Sob Machado, “madame” era especialmente dadivosa com seus padrinhos do PMDB do Senado: Renan (R$ 32 milhões), Lobão (R$ 24 milhões), Jucá (R$ 21 milhões), Sarney (R$ 18 milhões), Jáder (R$ 4,2 milhões)… No cabaré gerido por Machado, Renan tinha tratamento diferenciado. Chegou a morder uma mesada de R$ 300 mil. Em anos eleitorais, a cifra engordava.
Dilma não respeita delatores. Lula adomina vazamentos. Mas o petismo adorou a veiculação dos depoimentos de Sérgio Machado. Gostou especialmente do trecho em que ele contou que Michel Temer lhe pediu R$ 1,5 milhão em verbas de má origem, para a campanha paulistana de Gabriel Chalita, em 2012. “É a reversão do impeachment”, celebrou o deputado Paulo Teixeira (PT-SP), como se nada tivesse sido descoberto sobre o partido dele.
Se a Lava Jato ensinou alguma coisa foi o seguinte: quem tem telhado de vidro não deve criticar a permissividade do cabaré do lado. Vem daí o silêncio da banda muda do Congresso, que convive com Cunhas, Renans, Jucás, Jáderes e dezenas de etcéteras que privaram do prazer grupal propiciado pela “madame mais honesta dos cabarés do Brasil.” A política brasileira sobrevive porque não presta atenção às suas impossibilidades. Nesse meio, a desonestidade deixou de ser exceção. Tornou-se um estilo de vida.
Destruir ou mudar?
“Que diabo, eles precisam comer como todo mundo!”Harry Hopkins, assessor de Franklin Roosevelt na década de 1930
O que Orson Welles, Saul Bellow, Jackson Pollock e Sidney Lumet têm em comum? Além de seu papel na história da cultura dos Estados Unidos, eles receberam salário do governo federal. Sem passar por teste ideológico. De fato, entre os milhares de escritores e artistas que recolheram um salário modesto para criar, havia notórios simpatizantes comunistas.
Falo dos programas sob o guarda-chuva da WPA, a Works Progress Administration, criada em 1933 por Franklin Delano Roosevelt para dar trabalho a 15 milhões de norte-americanos ou um quarto da mão de obra do país desempregada pela Grande Depressão.
Durante oito anos, a WPA foi a maior agência federal do período do New Deal, investindo maciçamente em infraestrutura pública, como a construção de 800 aeroportos que foi o grande impulso à aviação comercial doméstica e programas de educação. Mas os trabalhos públicos incluíram também dois grandes projetos, um para escritores e outro para artistas, os tais que, segundo o tinhoso assessor de Roosevelt, precisavam comer também.
A ideia de um governo federal, no epicentro do capitalismo, distribuindo dinheiro para cultura não escapou de chacotas. Até o New York Times ajudou a cunhar, em 1935, a expressão boondoggle, feita sob medida para o Brasil da última década. Boondoggle, então usada para fazer troça de artesanato remunerado pela WPA, hoje define um projeto que é um desperdício de dinheiro e tempo, algo que vai em frente para atender um interesse político. Pasadena é boondoggle elevado a crime.
Com milhões de pessoas passando fome, perdendo suas casas e recebendo assistência emergencial, Roosevelt viu na WPA não só um investimento, mas também uma forma de aplacar a desmoralização de tantos por viver de favor. Está aí uma aflição contra a qual boa parte da nossa classe política parece ter sido inoculada.
Voodoo MacBeth |
Além de contribuir para o transporte, educação e saúde até o começo da entrada dos Estados Unidos na Segunda Guerra, a WPA deixou sua marca indelével na cultura do país. Pelo menos 10 mil artistas foram empregados para pintar, fotografar, encenar, filmar e até fazer acrobacias circenses – estas, por exemplo, patrocinaram um certo Burt Lancaster. Apenas em fotografia, a WPA patrocinou, gente como Walker Evans, Berenice Abbot e Dorothea Lange. Em pintura, Jackson Pollock, Willem de Kooning e Mark Rothko, mais tarde gigantes do primeiro movimento não desembarcado da Europa, o Expressionismo Abstrato.
O país foi remapeado, fotografado e cada estado da federação foi objeto de um guia. Na literatura, que tal, além de Saul Bellow, John Cheever, James Baldwin e Richard Wright? E Orson Welles, aos 21 anos, encenando, pela primeira vez, Shakespeare com um elenco negro no eletrizante Voodoo MacBeth?
Mas o que deu na colunista, um ataque de saudosismo? Não, cansaço com a polarização política que arrasta boa parte da elite cultural e da mídia do Brasil. Ninguém precisa fazer lavagem cerebral e achar que só Marx salva para ouvir tal compositor ou assistir tal ator. Entendo que o PT no poder desfigurou o apoio às artes criando pequenas Odebrechts de favorecidos. Gente que não está na fila da sopa, como estavam tantos da WPA, e que não deve, de modo algum, ser financiada com o dinheiro de quem não tem o que comer. É obsceno permitir renúncia fiscal – eufemismo para tirar dinheiro do Tesouro – para financiar a turnê de uma estrela pop rica ou o livro de uma celebridade mal alfabetizada. Ontem mesmo, joguei fora uma meia dúzia de livros caros patrocinados por uma sopa de letrinhas de organismos federais. E eu não sou de jogar livro fora.
É inevitável que a reação ao híper-aparelhamento petista seja um darwinismo em que só vai sobrar o lixo cultural fácil de vender? A retração do jornalismo representa um desafio à democracia. Se os Estados Unidos, um país continental, perderam boa parte da cobertura de notícias locais, imaginem o Brasil, cujo território contínuo é maior. A EBC deve ser desmontada porque faz propaganda petista? Ou deve ser equipada e gerida com talento independente e não apparatchiks? Se a EBC é um serviço público, não é para concorrer em igualdade com redes comerciais. Mas, se continua dando traço, é por incompetência. Se tem um rombo no orçamento é pela esculhambação da coisa pública. O monólogo de Dilma Rousseff disfarçado de entrevista é um exemplo cintilante da mentalidade que vê o Brasil como um imenso diretório da UNE. Existe uma estrutura com equipamentos e 2600 empregados. É preciso jogar tudo fora? Ou é possível usar a imaginação?
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