A lógica por trás do raciocínio é a seguinte: no petrolãonão existiria nada financeiramente mais importante do que as operações que envolveram Odebrecht, OAS e o então presidente da Transpetro. Qualquer outro evento no âmbito da Lava-Jato seria menor, pouco expressivo. Não creio.
Os desdobramentos dessa investigação ainda vão gerar muitas reflexões e consequências, destinadas a depurar o sistema político. Assim como o filme Hiroshima, meu amor, clássico de Alain Resnais de 1959 sobre a tragédia de Hiroshima, na Segunda Guerra, mostrou o dilema, anos depois, de personagens prisioneiros de uma vida sem perspectivas.
O passo seguinte será a digestão do escândalo por parte do Supremo Tribunal Federal (STF). Enquanto o juiz federal Sérgio Moro, responsável pelo andamento da Lava-Jato, em Curitiba, já condenou mais de 100 pessoas, o STF avança em ritmo prudente. Aqui e ali, por causa do absurdo da situação, ocorre uma decisão mais aguda, a exemplo da prisão do então senador Delcídio do Amaral e do afastamento do deputado Eduardo Cunha, presidente da Câmara.
Está muito claro que o Supremo não quer atravessar o sinal do ponto de inflexão institucional antes que se defina a situação de Dilma Rousseff. Até lá, as emoções serão mais pontuais do que processuais. E talvez deva ser assim mesmo.
No entanto, entre o hoje e o amanhã, teremos as três delações, todas com alto poder de destruição. O que vai acontecer? Primeiro, devemos considerar que os principais partidos políticos do país vão sair estropiados do processo, com desfalque de lideranças. Depois, após a definição do impeachment, um processo de depuração será deflagrado pelas investigações do STF. Qual será o alcance desse processo? Não sabemos.
O certo é que nada será como antes. Política e eleições não serão as mesmas. A elevação dos padrões será decisiva, ainda que nem tudo deva melhorar de uma hora para outra. Mas as decisões do STF permanecerão, por um bom tempo, como radioatividade, corroendo as entranhas do sistema político nacional.
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