sexta-feira, 5 de junho de 2015

A coisa aqui tá preta


Peguei emprestado um salvo conduto do Chico Buarque de Holanda e portanto posso ser politicamente incorreto. Você sabe, tem gente que pode fazer isso sem ser chamada de racista e tem gente que não pode nem pensar em usar uma expressão dessas sem ser linchado em praça pública.

Na música “Caro Amigo”, onde ele relatava a situação do Brasil durante a ditadura militar a um suposto amigo distante, Chico diz que a "coisa aqui tá preta” e, como estava mesmo, ninguém se lembrou de chamá-lo de racista. Se ele fosse um coxinha, estaria crucificado. Como é um progressista, está liberado. E aplaudido, claro.

Então vamos usar do salvo conduto e repetir: a coisa aqui tá preta.

Otelo, o mouro de Veneza, ainda não foi expulso de campo, mas falta pouco para isso. Machista, ciumento doentio, e além de tudo, um mouro. Na próxima montagem teatral, duvido que Otelo passe em brancas nuvens (racismo de sinal trocado pode).

Li no Facebook um manifesto de um grupo pró-igualdade racial exigindo a troca do nome de um restaurante chamado “Senzala”, porque isso lembra a escravidão, que deve ser esquecida para sempre. Como Ruy Barbosa, que mandou queimar documentos sobre a escravidão para apagar da História essa ignomínia. Os historiadores agradeceram, penhorados.

A paranoia politicamente correta ganhou a contribuição de um obscuro vereador petista de São José, cidade do interior do Espírito Santo. Ele conseguiu transformar em lei uma proposta que proíbe os restaurantes da cidade de colocar o saleiro à disposição dos clientes, em nome da preservação da saúde deles, ameaçada pelo poder hipertensivo do sódio.

Mas acontece que eu faço questão de temperar a minha própria salada e conclamo todos os habitantes da próspera cidade capixaba a um movimento de resistência civil, que deveria alastrar-se por todo o Brasil, sob o sagrada bandeira da liberdade de mandar na própria vida: deixem o saleiro na mesa!

É muito gratificante saber que o Estado, que é uma superestrutura de altruísmo, formada por várias camadas de generosidade e amor ao próximo, esteja tão preocupado em guiar os passos de seus cidadãos, para evitar que eles façam xixi nas calças, cocô fora do penico, e comam, bebam ou fumem coisas que podem prejudicar a saúde.

Substituir o livre arbítrio e até mesmo a Divina Providência pela mão protetora do Estado babá, o Estado guia, o Estado provedor, é um sonho recorrente dos engenheiros sociais que estão em busca de plantar os alicerces da sociedade perfeita.

Querem apenas guiar-nos em direção ao bem, e nós, ingratos, resistimos.

Não há de ser por outra razão, por exemplo, que o pró- reitor da Universidade Federal de Santa Maria (RS), mandou um memorando aos diretores de todos os departamentos pedindo para identificar todos os alunos e professores de origem israelense. O pedido foi feito por sindicatos de professores, DCE, e o Comitê Santa-mariense de Solidariedade ao Povo Palestino. O pró-reitor, em vez de jogar o pedido no lixo, o repassou a todos os departamentos da universidade.

Para que localizar professores e alunos de origem israelense? Para bordar uma estrela amarela na roupa deles? Nem o pró-reitor que assinou o memorando nem o reitor da universidade conseguiram justificar o pedido.

Como é que três assuntos tão diferentes, como o sal, o antissemitismo e o nome de um restaurante dizem tanto a respeito de um momento de degradação moral de um país?

A coisa aqui está mesmo preta.

Como esta crise vai mudando até as paisagens

Ao ir à minha banca de jornal na semana passada (pois é, ainda tenho esse hábito...), dei de cara com uma faixa que me deu tristeza. Nela estava escrito: "Passo o ponto _ Tratar aqui". O ponto é o bar sem nome do "seu" Zé, um legítimo português do Algarve, que está ali faz mais de trinta anos, e se tornou uma referência no bairro.
"Estou pagando para trabalhar. Por R$ 200 mil, passo na hora, não aguento mais", disse-me ele, sem entrar em maiores detalhes. Ia lá de vez em quando, para tomar uma cervejinha na calçada nos dias de calor, e conversar com sua freguesia de gente simples _ empregados de condomínios, pedreiros, carpinteiros, garçons, aposentados, pessoas que moram ou trabalham na vizinhança.

Outro dia, duas mulheres passando na calçada me chamaram a atenção. A mais alta era loira, de traços finos, aparência de secretária bem sucedida. A seu lado, caminhava a moça morena, baixinha, roupas simples, cabelos presos. Uma parecia ser patroa da outra, mas eram colegas de trabalho.

As duas estavam carregando baldes, vassouras e detergentes. Pareciam novatas no ramo da faxina terceirizada. Com a maior dignidade, empunhando seus novos instrumentos de trabalho, encontraram uma forma alternativa de ganhar a vida nestes tempos de crise. Fazer o que? Ficar em casa vendo televisão e reclamando da inflação, do desemprego e dos políticos safados?

Diante daquelas cenas e das notícias dos jornais e revistas, achei que era hora de pegar a estrada e ver outras paisagens. Alguns leitores têm atribuído o pessimismo e desesperança dos meus textos nos últimos meses ao fato de morar em São Paulo, onde o clima anda realmente muito pesado desde a última campanha eleitoral, e só vem piorando.

Apesar do frio e da chuva, fui para a praia, coisa que não fazia há muito tempo. Fim de mês, grana curta, desta vez já esperava não encontrar congestionamentos pelo caminho, como antes era comum em qualquer final de semana, mas não podia imaginar que estivesse tudo tão livre, quase sem carros e sem gente, de São Paulo a São Sebastião.

Lá estavam as barracas de frutas da Mogi-Bertioga, oferecendo seus produtos encalhados para ninguém. Na Boracéia, desta vez não encontrei os índios de uma aldeia próxima que ficam à beira da estrada vendendo seu artesanato, plantas e palmitos. Em Maresias, reduto do campeão Gabriel Medina, desta vez não vi pranchas e surfistas em penca, apesar da ressaca do mar de ondas altas de até três metros.

Nos centros comerciais desertos, estava cheio de faixas anunciando promoções e descontos, muitas placas de vende-se e aluga-se, uma liquidação geral. Até a moda de casamentos na praia foi atingida: o movimento das festas de noivas, me disseram, caiu 70%, em pleno mês de maio. Quiosques de praia, supermercados, padarias, restaurantes, pousadas, tudo uma calmaria só.

Além de números, estatísticas e índices econômicos, esta crise vai mudando também as paisagens físicas e humanas e, pelo jeito, não adianta pegar a estrada para mudar de cenário e de conversa.

Vida que segue.

Oração presidencial

Blatter renuncia e fifaf tera nova eleicao dilma ajoelhada rezando livrai-nos desse mal

Nas mãos do Senhor do Bonfim

Daqui a uma semana, entre os dias 11 e 13, o PT estará realizando em Salvador o seu V Congresso Nacional, com direito à presença da presidente Dilma, do Lula e demais cardeais do partido. Tomara que o Senhor do Bonfim ilumine os companheiros e faça cair sobre eles a bênção da lucidez e do retorno aos antigos ideais dos tempos da fundação. A pauta dos trabalhos é desconhecida, mas circula nos meios petistas a versão de que vão elaborar um roteiro destinado a devolver-lhes a credibilidade e o apoio da classe operaria.

Não se trata da oportunidade de mais uma crítica ou sequer da análise da performance do governo, de resto sofrível, mas do reconhecimento de que em vez de lamentações e até de queixas contra a presidente Dilma, o PT deveria fornecer-lhe meios para a recuperação. Um elenco de iniciativas capazes de ir de encontro às necessidades do país, desde a retomada do desenvolvimento econômico à elaboração de novas conquistas sociais. Afinal, em seus dois governos, além do assistencialismo que aumentou o consumo entre as massas, não surgiram atos concretos de ampliação dos direitos do trabalhador.

Pelo contrário, o que se vê são restrições ao salário desemprego, ao abono salarial e às pensões das viúvas. Oito milhões de desempregados e as sucessivas demissões em centros de produção atingidos pela crise exigem mudanças até na legislação, de forma a devolver ao trabalho aquilo que o capital lhe vem tomando. As bases trabalhistas, com as centrais sindicais à frente, rejeitam a teoria do sacrifício, da supressão de prerrogativas, dos cortes em investimentos sociais e da contenção de salários. Essas formulas só trouxeram mais dificuldades aos países que as adotaram.

A garantia do emprego e sua ampliação através de políticas públicas que atendam as necessidades do crescimento econômico e estendam a todos os frutos de um esforço nacional estava no cerne do PAC, quando lançado. Hoje, virou fumaça. Mais importante do que evitar vaias e panelaços será adotar medidas concretas de recuperação, capazes de beneficiar o conjunto, não apenas os privilegiados de sempre.

Boas intenções poderão ser enunciadas na capital baiana, mas redundarão em nada caso as bases do PT não consigam livrar-se da acomodação e da prática de usufruir do poder em beneficio de suas cúpulas. Uma lufada de ar puro renovará o partido e seu governo. Ficar vociferando e acusando os adversários só aumentará a distância entre o trabalhador e os que se dizem seus representantes.

A colheita de Dilma



O governo está colhendo e penalizando a sociedade pela década de irresponsabilidade populista e abandono das reformas estruturais que se impunham. Ao invés, optou pela popularidade e demagogia do “nunca antes na história desse país”. Hoje paga o preço por causa disso.
A sucessora, apresentada como gerente competente, não era nem gerente e nem competente. Reeleita não pode mais manipular a realidade pela ação dos marqueteiros. Agora é refém do seu próprio governo. O gerador de relativa credibilidade é o ministro da Fazenda que vem tentando instrumentalizar uma saída dolorosa no curto prazo para se enxergar o futuro. Solitário, vem lutando com bravura.

Brasil, entre a diplomacia da paz e a exportação de armas

O país participa de missões de paz da ONU, e por outro lado vende armas”
Nem só de soja vivem as exportações do Brasil. Existe um outro comércio, muito mais letal, no qual o país também vai muito bem: trata-se do mercado de revólveres, pistolas, metralhadores, fuzis, lança-granadas, artilharia anti-tanque, munições e morteiros. Atrás apenas dos Estados Unidos, Itália e Alemanha, o Brasil é o quarto maior exportador de armas leves do mundo, de acordo com o relatório As Armas e o Mundo divulgado nesta segunda-feira pela Small Arms Survey, entidade que monitora conflitos armados e o comércio de armas de fogo no mundo.

De 2001 a 2012 o país exportou 2,8 bilhões de dólares (374 milhões apenas em 2012) em armas, deixando para trás potências do setor como a Rússia – fabricante do famoso fuzil AK-47, arma de escolha de nove entre dez grupos guerrilheiros, do Estado Islâmico às Farc – e China, que possui o maior exército regular do mundo. O Brasil, no entanto, é o único entre os quatro maiores exportadores do ranking cujas transferências de armamento não são transparentes, diz o relatório. Ou seja, o país não apresenta à ONU seus recibos e contratos de venda: não se sabe exatamente o que, para quem e quanto é comercializado.

Na prática, isso significa que existe a possibilidade de que os armamentos vendidos pelo país estejam sendo comprados por nações em conflito ou que violam os Direitos Humanos. Ou que o Brasil venda para terceiros que por sua vez irão repassar as armas para milícias, facções terroristas ou governos autoritários. O Brasil é signatário do ATT, um tratado que regula este comércio no mundo e proíbe transferências consideradas irresponsáveis. A legislação ainda não foi sancionada.

Em 2011 o país não entregou às Nações Unidas o relatório de suas transferências de armas, e se absteve na votação do embargo imposto à Líbia. Em 2013, grupos de monitoramento de conflitos denunciaram que granadas de gás lacrimogênio da marca brasileira Condor estavam sendo usadas pela polícia turca para conter protestos contra o Governo de Recep Erdogan.

Obra em andamento

Há países ainda primitivos e outros já bastante civilizados. Quanto mais evoluídos, mais abertos aos avanços das Ciências, mais interessados em aprender e evoluir
Suécia: Prisão Sollentuna, cela, sala de ginástica e refeitório
É claro que um país nunca está absolutamente pronto, posto que as sociedades não são estáticas e alteram seus modos e meios de viver e conviver. Cada era que atravessamos trouxe muitas novidades, mas esta Era da Tecnologia é imbatível em mudanças quase que diárias.

É de se esperar, pois, que os países estejam preparados para aceitar e conviver com as novidades. Sempre a serviço do Homem e para seu benefício, naturalmente.

Mas é imprescindível que o país primeiro se civilize por igual, em toda a sua extensão. Civilizado, organizado, as novidades que forem sendo aprovadas por seu povo serão estendidas a todos.

Agora, estar sempre na foto como a work in progress, essa característica é nossa. O Brasil é o mais perfeito exemplo de país sob infindável obra em andamento de que se tem notícia.

Nunca estaremos prontos? Será possível?

Nossa democracia é apresentada, por muitos, como planta tenra. Desculpa rota. Democracia não quer dizer, como pensam alguns, anarquia. Como disse o poeta francês Saint-John Perse (1887/1975), antinazista ferrenho, “A democracia, mais do que qualquer outro regime, exige o exercício da autoridade”.

Um de nossos maiores problemas é a segurança pública. Veja bem, leitor, eu disse um de nossos maiores problemas! Temos uma enorme quantidade de graves problemas, mas a segurança pública e tudo que dela decorre, é dos maiores.

O Globo de hoje mostra a explosão carcerária que estamos sofrendo. O aumento, de 2005 a 2013, foi de 87%! E o déficit de vagas é de 139%...

A reportagem não assusta apenas pelos números que expõe, mas muito mais pelo que nos conta a jornalista Renata Mariz a propósito do pacote de medidas que o Governo Federal pretende apresentar para a área de Segurança Pública: redução ou não da maioridade penal, maior tempo de internação para menores infratores, propostas para um Pacto pela Redução de Homicídios.

São temas cujo debate é urgente, que aguardam uma solução de bom senso para ontem! Mas o Governo Federal esbarra num muro que me deixou indignada: os militantes do movimento social que defende o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) declaram que não aceitam qualquer alteração no Estatuto.

Não é a severidade da pena que assusta o menor e o afasta do crime, mas a certeza da punição. Ou seja, a chave de tudo é a derrota total da Impunidade, o mal que nos distancia dos países inteiramente civilizados.

Os defensores do ECA, que vêm todas as crianças como anjos de candura que lutam contra o adulto malvado, precisam deixar de assistir ao Mágico de Oz e se ligar no noticiário.
Corredor de penitenciária na Suécia
A luta desses militantes deve mudar de objetivo: eles que se batam por prisões humanas, como as que existem na Noruega, por exemplo. Lá o preso vive em condições dignas, tem aulas, se desejar; trabalho remunerado; instalações adequadas para um ser humano viver e aprender a conviver. O governo norueguês concluiu que a reabilitação do preso é o que mais interessa para não caírem no ciclo vicioso de prisão, crimes, mais prisão, mais crimes, e mortes, muitas mortes mais.

É imprescindível que o Brasil compreenda que a privação de liberdade como vingança pelo crime cometido não vai servir nem ao infrator, nem à sociedade. É o momento exato onde a autoridade de um Governo Federal sensato é fundamental.

Em verdade, o que não é mais possível é querer que o Brasil, como está, seja considerado um país civilizado. Não é. Somos é uns novos-ricos sem categoria. Isso, somos.

País do Carnaval

O Brasil é um país fundamentalmente carnavalesco. Palmeira é uma cidade essencialmente brasileira. Grande parte dos defeitos e das virtudes que no brasileiro se encontram, em geral, o palmeirense possui, em particular. Reproduz-se entre nós, em ponto pequeno, o que o país em ponto grande produz. (...) A pátria é um orangotango; nós somos um sagui. Diversidade em tamanho, inclinações idênticas. Imitações, adaptações, reproduções – macaqueações. (...)
Graciliano Ramos 
 

A eficiência errada

Prevalece entendimento de que o pobre deveria era estar agradecido por ser atendido. Queriam mais o quê? Tratamento VIP?

Deu na imprensa no mesmo dia: pesquisa do IBGE mostra que o pessoal do Programa Saúde da Família não visita regularmente nem metade dos domicílios cadastrados; Polícia Federal apanha quadrilha que “falsificava” operações cardíacas no SUS para roubar material cirúrgico e utilizar em clínicas particulares.

Na primeira notícia, um fracasso administrativo e descaso com a população. Na segunda, uma complexa operação que vai da falsificação de diagnóstico à lavagem de dinheiro.

Dá o que pensar. Não se deveria falar de dificuldades administrativas ou falta de dinheiro no serviço público. Se o pessoal tem imaginação e capacidade burocrática para encontrar o dinheiro e montar as fraudes no SUS (e na Petrobras, nas licitações eletrônicas, no DPVAT, para citar só os mais recentes), então deveria saber como tocar as mais simples e honestas operações.

Convenhamos: deveria ser muito mais fácil organizar os agentes comunitários para que visitassem mensalmente os clientes do Saúde da Família. Pois atendem assim menos da metade. Pior ainda, mostra o IBGE: quase 20% das casas registradas nunca foram visitadas.

Já a fraude do SUS, essa mais nova, é um espetáculo de eficiência. O esquema começava assim: o médico examinava um paciente do SUS e dava dois diagnósticos, um mandando o “doente” tomar uma aspirina, por exemplo, outro indicando uma cirurgia complexa, com a necessidade de instrumentos e material como válvulas, stents etc.

O paciente pegava sua receita e ia para casa. O outro diagnóstico seguia os trâmites burocráticos, ou seja, aprovação, compra dos instrumentos, agenda da operação que não acontecia e desvio do material para clínicas particulares. Capaz até de estarem utilizando esse material para pacientes de planos de saúde de órgãos públicos. Faziam isso em pelo menos quatro estados.

Vamos reparar: é competência, para o lado do mal, é verdade, mas competência mesmo assim.

O que nos leva à questão: por que a competência parece estar sempre do lado errado?

Tem aí um fator cultural. Há muito descaso quando se trata de atender a população mais pobre. Até que tem melhorado, mas ainda prevalece aquele entendimento de que o pobre deveria era estar agradecido por ser atendido. Queriam mais o quê? Tratamento VIP?

VIPs — aquelas pessoas muito importantes que não entram na fila e são bem atendidas mesmo quando procuram um serviço público.

O chefão ou o político governante resolve dar uma checada de surpresa no bandejão do segundo andar. E o atendente: “Doutor, o senhor por aqui? O picadinho acabou, aceita um filé?”

Isso se muda com o tempo, com os exemplos, com uma prática correta, e vigiada, por anos a fio. Mas há um ponto que depende de gestão: a avaliação permanente dos programas e serviços públicos. Saúde da Família é um bom programa, mas é necessário checar todos os meses se os agentes comunitários estão visitando a clientela.


O Bolsa Família não é para dar dinheiro aos pobres. É para acabar com a pobreza e isso só vai acontecer se as crianças frequentarem regularmente uma escola na qual aprendam o suficiente para arrumar bons empregos — e não depender mais do Bolsa Família.

Logo, não se pode medir o programa pelo número de famílias beneficiadas, mas pelo aproveitamento escolar das crianças.

Há falhas aqui. A frequência não é cobrada sistematicamente, muito menos o progresso escolar dos meninos e meninas. Alguns dizem: não faz sentido fazer essa avaliação porque as escolas são ruins. É verdade, mas qual é a ideia? Deixar tudo por isso mesmo?

É uma distorção muito comum. Os governos criam os programas, lançam o benefício e parece que está tudo resolvido. Sem avaliação regular, ocorre uma de duas situações: ou o programa não funciona para todos ou perde o sentido, a eficácia, e fica no orçamento por inércia. Uma boa reforma administrativa pegaria isso tudo. Mas reforma dá trabalho, tromba com interesses instalados, de modo que... fica por isso mesmo.

Já o pessoal da corrupção... A eficiência vai ficando para o lado do mal.

Carlos Alberto Sardenberg