segunda-feira, 5 de fevereiro de 2024

A forretice dos ricos

Graças à loquacidade oferecida pelo malte escocês, pude finalmente conversar com um rico sobre o defeito que mais se atribui aos ricos: a forretice.

Este era particularmente forreta. É verdade que me ofereceu um livro, mas era um livro escrito por ele e, mal mo passou para as mãos, pôs-se a discursar sobre quanto custaria num alfarrabista, por estar esgotado e cheio de reproduções caríssimas.

Eis o que apanhei da conversa: sim, os ricos são forretas. Mas isso de ser forreta é coisa de pobre — segundo os ricos.

Um forreta, para um rico, é o que o pobre chama ao rico que não estoura o dinheiro todo. Os ricos são forretas porque têm medo de ficar pobres. Ficar pobre, para um rico, é ficar como nós: obcecados com o dinheiro.


Os ricos contam os cêntimos porque nós não contamos. Nós, para compensar o não sermos ricos, gastamos o dinheiro todo até acabar, e depois ficamos à espera de que venha mais no fim do mês.

Os ricos têm horror a ficar assim, sem dinheiro. E, por isso, são forretas. São mais forretas ainda porque têm muito dinheiro. Têm mais a perder. A angústia é redobrada. Ter muito é ter muito medo de deixar de ter muito. “Mas ainda ficas com muito!”, dizem os pobres, a tentar convencê-los a comer uma lagosta em vez de uma navalheira.

“Sim”, respondem os ricos, “mas já não fico com tanto.”

Nós sabemos que o mundo não acaba quando não temos dinheiro: é apenas interrompido. Mas os ricos têm medo de não conseguir sobreviver. Têm medo de estar completamente dependentes do dinheiro. Podem até odiar o dinheiro. Mas não passam sem ele. Não são como os pobres. São ricos.

Os ricos horrorizam-se com os esquemas que os pobres arranjam para lhes sacar o dinheiro: investe aqui, empresta-me dali, filantropiza-me aquilo.

Nós não descansamos enquanto não forem pobres como nós — até para podermos ser amigos deles a sério. Os ricos pensam que só gostamos deles por causa do dinheiro. E, como querem que gostemos deles, agarram-se ao dinheiro.

Pensamento do Dia

 


Será antissemitismo denunciar coisas como essas?

Soldados de Israel começaram nas últimas semanas a atear fogo a casas na Faixa de Gaza, seguindo ordens diretas dos seus comandantes e sem a necessária autorização legal para o fazer, segundo informa o jornal israelense Haaretz. Os soldados destruíram centenas de edifícios usando esse método no último mês. Depois que a estrutura é incendiada junto com tudo dentro dela, pode queimar até tornar-se inutilizável.

Quando questionado sobre a nova prática, um comandante do exército disse ao Haaretz que as estruturas são selecionadas para serem queimadas com base em informações. Ao ser questionado sobre um prédio que foi incendiado não muito longe de onde ocorreu a entrevista, o comandante disse:

“Deve ter havido informações sobre o proprietário, ou talvez tenha sido encontrado alguma coisa lá. Não sei exatamente por que aquela casa foi incendiada”.

A emissora de televisão Al-Jazeera noticiou a descoberta, no Norte da Faixa de Gaza, de cerca de 30 corpos que estavam enterrados sob um monte de escombros num pátio de uma escola em Beit Lahia.
Os corpos, em decomposição, tinham “fitas de plástico nas mãos e pernas e panos à volta dos olhos e cabeças”. Não se sabe ainda de quem são, mas a descoberta levanta suspeitas de que possam ter sido mortos depois de detidos.

Em dezembro último, imagens de uma série de detidos na Faixa de Gaza a serem levados sem roupa, algemados e de olhos vendados – o que fora apresentado como uma “rendição em massa” do Hamas – provocaram fortes críticas a Israel, que mais tarde admitiu que apenas 10% a 15% daqueles detidos eram de fato membros do Hamas.

A acusação em relação aos 30 cadáveres surge um dia depois de uma operação de um grupo de militares israelenses num hospital de Jenin. Vestindo batas de pessoal de saúde e outros vestidos de mulher com lenço a cobrir a cabeça, em cerca de dez minutos, o grupo entrou num quarto e matou três palestinos usando armas com silenciador. Israel diz que os mortos faziam parte de uma célula do Hamas. O porta-voz do hospital Ibn Sina, onde ocorreu o ataque, disse que não houve trocas de tiros depois da entrada dos militares disfarçados.

“O que aconteceu é um precedente”, declarou. “Nunca houve um assassinato dentro de um hospital. Houve detenções e ataques, mas não um assassinato.” Israel diz que matou o líder de uma célula terrorista, Muhammad Jalamneh, que era também porta-voz do Hamas no campo de refugiados de Jenin.“Executaram os três homens enquanto eles dormiam no quarto”, descreveu à agência Reuters o diretor do hospital, Naji Nazzal. “Executaram-nos a sangue frio, disparando balas diretamente nas suas cabeças, no quarto onde estavam a ser tratados”.

Dezesseis países, incluindo EUA, Reino Unido, Alemanha e França, anunciaram a suspensão de financiamento da agência da ONU para os refugiados palestinos (UNRWA) depois de Israel ter denunciado que funcionários da agência teriam ajudado o Hamas a preparar e a cometer o ataque de 7 de Outubro. O secretário-geral da ONU, António Guterres, disse que nove funcionários foram imediatamente identificados e despedidos”.

Em Gaza, 500 mil pessoas passam fome, e morreram, desde o início de outubro, cerca de 24 mil palestinos, metade dos quais crianças.

O todo pela pior parte

É muito comum, nos meios progressistas, escutar que a postura verdadeiramente democrática consiste em estabelecer um amplo diálogo com todas as correntes de opinião, da direita à esquerda, desde que a conversa aconteça dentro do marco do respeito aos direitos humanos. Em seguida, normalmente se esclarece que o conservadorismo está fora desse marco. (Estou usando o termo não personalista “conservadorismo” para me referir ao que normalmente chamamos de “bolsonarismo”.) Mas será mesmo que os conservadores não respeitam os direitos humanos?

Por trás desse pressuposto amplamente difundido, há uma redução do todo à pior parte. O desacordo — e mesmo o desgosto — de progressistas pelos conservadores faz com que procurem seus piores elementos e os tratem como se fossem casos típicos, casos exemplares. Dessa maneira, distorcem e caricaturam o conservadorismo, tratando-o como meio essencialmente machista, obscurantista, antidemocrático e violento. A realidade, porém, é mais complicada.

Os conservadores valorizam a família, querem uma abordagem mais dura contra a criminalidade e são desconfiados de mudanças muito aceleradas nos costumes. Porém, como mostram as pesquisas, a grande maioria é contra a violência doméstica, é contra a perseguição e a discriminação de homossexuais, defende o respeito às escolhas das mulheres e a igualdade salarial entre os sexos.

O reducionismo e a distorção progressista destacam e amplificam no conservadorismo apenas o ridículo, o grotesco e o caricato, seja para atacar o adversário, seja para reafirmar o sentimento de pertencer ao lado “certo”, o lado “anti-eles”. Na imaginação progressista, o comportamento conservador típico não é aquele das igrejas que combatem a violência doméstica, a discriminação e promovem o respeito entre marido e mulher, mas o dos pequenos nichos de coaches de conquista, das tradwives que defendem a submissão aos maridos e dos ultratradicionalistas de toda sorte.


É verdade que esses elementos caricatos, violentos, reacionários e antidemocráticos existem e se abrigam no campo político conservador. Os progressistas podem perguntar por que então são tolerados ali. A resposta pode ser encontrada devolvendo a pergunta aos progressistas e pedindo que façam, eles também, um esforço de autoexame.

Por que nós, progressistas, toleramos em nosso meio apoiadores de ditaduras como Cuba, Nicarágua ou Venezuela? Por que toleramos em nosso meio feministas que dizem que toda relação heterossexual é um estupro? A resposta honesta é que toleramos essas posições nos meios progressistas porque partilhamos com elas alguns pressupostos e valores sobre como a sociedade deveria se organizar. Isso vale também para os conservadores.

O drama de nossa época politicamente polarizada é que essa caricatura que fazemos do adversário termina, no longo prazo, por moldá-lo. Ao reduzirmos o campo adversário a seus piores elementos, sinalizamos que são esses elementos os que mais nos incomodam. No outro lado, o ódio do adversário aparecerá como prestígio. Os grupos odiados pela esquerda se apresentarão na direita como os que mais incomodam, os que são verdadeiramente “anti-eles”. Pouco a pouco, vamos nos transformando na caricatura que o adversário faz de nós. Vamos nos tornando, nos dois lados, monstros.

A saída, um pouco contraintuitiva, é tentar escapar do jogo da polarização e se concentrar em cuidar da própria casa. Nossa principal responsabilidade é evitar que os piores elementos do nosso campo se desenvolvam e prosperem, com o empurrãozinho que recebem do adversário. Em resumo, precisamos de menos polarização e mais autocrítica.

De sapiens a humildes aprendizes

Certa espécie de mamífero se disse e acreditou ser sapiens! Colocou-se, arrogante, acima das demais, cuja extinção em massa tem provocado. No processo, destrói também suas próprias condições de vida!!

O suposto sapiens não aprende! Continua a fazer as mesmas coisas que causam tal destruição, uma forma de genocídio!!! E o faz por quê? Para quê? Se sobressair? O faz sem saber ou recusando-se a saber? Ciente, mas enganando-se? Constrangido a optar por ignorar a realidade? A história oficial diz que é para melhorar a qualidade de vida, mas mantém 70% da sua espécie em abjeta pobreza!

Extinguir ou tentar extinguir povos é crime; exterminar espécies também deveria ser, com agravante! Afinal, em cada espécie há muitos povos.


São apenas alguns dias de treinamento, ou talvez poucos meses, e os rebentos de quase todas as espécies aprendem a sobreviver, e sobrevivem, cientes de que um predador pode interromper sua trajetória. Os autonomeados sapiens levam décadas para aprender o básico, e a grande maioria mal consegue sobreviver! E, no processo, o sapiens se condena à extinção, não em decorrência do surgimento de um novo predador, mas em razão de suas próprias ações. Sapiens?

Mais que sapiens, é necessário que nós os membros dessa espécie nos tornemos “humildes aprendizes”! De Homo Sapiens a Homo Humilis Discipulus! Deixar a arrogância de lado e passar a aprender com as iterações dos diversos elementos da biosfera, de forma a nos tornarmos resilientes como ela é! Ou era, pois as ações daqueles “sábios” estão a detonar as bases da vida!

Parece, dizem os cientistas, que ainda há tempo para evitar o pior, mas é urgente abandonar o mito de sapiens e reconhecermo-nos como aprendizes, com humildade e vontade de aprender! Nas demais espécies, ninguém come além das suas necessidades, tornando-se obesos e de saúde frágil, exceto aqueles indivíduos que viraram animas domésticos dos “sábios”. Raríssimas guerreiam entre si, como fazem os ditos sábios!

É fundamental mudar as cabeças e os estilos de vida não apenas dos nossos dirigentes, mas de muito mais gente, se quisermos que nossos filhos possam evitar viver sob constantes e cada vez mais graves desastres que já não são mais “naturais”. Também não será agradável ver nossos descendentes presos em guetos, mesmo que luxuosos, como fazem hoje muitos europeus e norte americanos, buscando segurança (armada) contra os “outros da mesma espécie” que fogem da vida que sofrem!

Sim, enquanto nos acreditarmos sapiens, acima de todas as demais criaturas, continuaremos a maltratar todas elas, assim como convivemos com a maioria da nossa espécie sendo maltratada em razão das carências que caracterizam suas vidas! Se nos convencermos de que essa coisa de sapiens é uma fake news, que somos na realidade aprendizes que sequer sabemos conservar a nossa única casa, teremos chances de, humildemente, reconhecer o estrago que fizemos na nossa espécie e nos meios necessários para sobrevivermos. E agir para reparar tais 
danos!

Eduardo Fernandez Silva