segunda-feira, 29 de fevereiro de 2016

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Saída de Cardozo não alivia situação de Lula e de outros investigados

O ex-presidente Lula e os petistas que levaram José Eduardo Cardozo a decidir pelo pedido de demissão estão enganados se acham que com a saída do ministro vão conseguir algum tipo de vistas grossas por parte da Polícia Federal a irregularidades que estão sendo investigadas.

Em primeiro lugar, é praticamente impossível ao ministro da Justiça controlar o que a Polícia Federal faz. Em segundo, as investigações são feitas também pelo Ministério Público, sobre o qual o ministro da Justiça não tem nenhuma influência. É só observar a força-tarefa da Operação Lava Jato. Boa parte dela é constituída por procuradores de Justiça, que formam um time de investigadores junto com os delegados da PF.

No caso específico de Lula, a investigação que apura se ele praticou tráfico de influência ao defender o interesse de empreiteiras no Exterior é feita pelo MP.

Tanto Lula quanto boa parte do PT atribuem a Cardozo "corpo mole" diante das investidas da Polícia Federal contra petistas suspeitos de participação em irregularidades e atos de corrupção.

Em resumo, na visão deles Cardozo não estaria cumprindo a contento a tarefa de controlar as investigações da PF. Daí, as críticas cada vez mais fortes ao ministro, como as feitas durante o final de semana na festa de aniversário dos 36 anos do PT.

Quando Lula e o PT fazem pressão para que o ministro da Justiça - seja ele Cardozo ou quem vier a substituí-lo - tente controlar as investigações da Polícia Federal, no mínimo estão sugerindo que seja cometido o crime de prevaricação. Isso é grave. Como dizem os políticos, poderá ser um tiro no pé.

Como respeitar um sujeito desses?

Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir, sem corar, que recebeu de presente de amigos – de presente, ora vejam só? – um sítio de 173 mil metros quadrados (equivalente a 24 campos de futebol), em valorizada área do município paulista de Atibaia?

Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir sem corar, que o sítio unicamente usado por ele e sua família, na verdade, não é dele, mas de terceiros, uma vez que está registrado em nome de um amigo, sócio de um empresário, que por sua vez hospeda, de graça, um dos seus filhos em apartamento luxuoso da capital paulista?

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Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir sem corar, que o sítio foi reformado gratuitamente por um amigo dele preso pela Lava-Jato, o empresário José Carlos Bumlai, quando se sabe que foi a construtora Odebrecht que o reformou sem cobrar nada por isso?

Que homem público respeitável é esse, capaz de admitir sem corar, que a construtora OAS reformou por que quis o tripléx do Guarujá reservado para ele e sua família, e que ganhou um elevador privativo só para aumentar sua comodidade? Esse homem diz que desistiu da compra do tríplex porque sua intimidade foi devassada pela mídia.

Que homem público respeitável é esse, capaz de se declarar inocente das suspeitas que pesam sobre seus ombros, e que ao mesmo tempo se vale de todos os meios para evitar depor na Justiça sobre o sítio que nega ser seu, e sobre o tríplex que jura que jamais foi? Se é inocente por que tem tanto medo da Justiça?

Por fim, que homem público respeitável é esse, capaz de levar a vida aceitando “favores” de amigos e empresas, de carros a apartamentos emprestados, de sítio reformado de graça por construtora a triplex reformado de graça por construtora, beneficiando-se daqueles que nos seus dois governos foram beneficiados por ele?

Um homem público que mistura o público com o privado pode ser um homem, mas respeitável não é.

Antonio e a luz

“Nosso problema não é econômico. É politico. E a gente esta quase resolvendo. Já da para ver a luz no fim do túnel”, disse ele. Respeitava muito Antonio. Suas opiniões, integridade, inteligência e honestidade intelectual. Difícil ignorar este pacote de virtudes, cujo sabor vinha acompanhado de humor ácido e carismático. E Antonio sempre foi pragmático. “Melhor estar certo do que ser coerente”, repetia sempre.

Do meu lado, em 1990, enxergar a luz no fim do túnel era coisa para sonhadores. Hoje sei que fui parte de geração órfã de esperança. Que nasceu e cresceu ao som (ou barulho) da propaganda do Brasil grande durante a ditadura. Por toda parte, diziam que era potencia emergente, pais do futuro, que vai para frente. Que ninguém segurava. E, de vez em quando, um sussurro aqui, um gemido ali, e dor por toda parte. Sempre vindo dos porões.

Adolescente, as coisas começaram a mudar. Diziam que era culpa do petróleo. Crise externa, enfim. Mas dentro das fronteiras, o futuro já não tinha o brilho de antes. E o presente, sem duvida, estava mais feio.

E vieram os anos 1980. Desastre. O futuro havia chegado, mas tinha cara de mentira, desilusão, tristeza. A gente não soube escolher presidente. A gente não soube tomar conta da gente. A gente pediu dinheiro e não conseguiu pagar. A gente jogou bola e não consegui ganhar. Foi, realmente, uma década inútil.

Mas Antonio via as coisas diferentes. Dizia que, se a gente olhasse de uma perspectiva histórica, o país tinha avançado muito no ultimo século. Que a crise era passageira. Explicou-me que, antes do século XX, nem manteiga era industrialmente fabricada no Brasil. Era muita informação. E bons argumentos. Na falta da internet para verificar cada detalhe dos argumentos, Antonio me convenceu. Comecei eu também a procurar a luz no fim do túnel.

Vieram os anos 1990 e a luz parecia jamais chegar. Era uma no cravo, outra na ferradura. Sempre um sacrifício justificado pelos erros do passado e somente possível pela promessa de um futuro (ele de novo) melhor onde os frutos seriam colhidos.

Já na passagem do milênio, pareceu que a geração dos órfãos de esperança poderia ser resgatada. Eleições, transição pacifica, casa em ordem. Finalmente tanto sacrifício, tanto esforço, parecia fazer sentido.

Até que a gente decidiu pela auto sabotagem. Pelo culto a ignorância. Pela tolerância ao erro. Pela corrupção da alma e das coisas. Tudo isto enquanto, distraídos, pisávamos nas estrelas, empenhando o futuro para aproveitar o presente. Acreditamos no almoço grátis.

E foi no meio disso tudo, que um dia Antonio me ligou. “Me mudo para a Europa no mês que vem. Não volto mais!”, disse ele. Fiquei chocado. Lembrei-me de seus argumentos. Da crise passageira. Da manteiga. Perguntei sobre a luz no fim do túnel. Não existia? “Existia sim. Era um trem.”, respondeu ele sem pestanejar.

Antonio, sempre pragmático, preferiu estar certo a ser coerente. E foi morar na Europa.

Lula roda um filme tipo B e reivindica um épico

Não dá para imaginar os executivos da OAS e da Odebrecht, pés sobre a mesa, copo de uísque na mão, charuto entre os dedos, calculando quanto da rapina na Petrobras caberia ao Lula. Segundo o Datafolha, a maioria dos brasileiros acha que houve toma-lá-dá-cá. Os governos do PT azeitaram negócios para as construtoras e, em troca, essas empresas beneficiaram Lula com reformas no tríplex do Guarujá e no sítio de Atibaia. Esse seria o filme classe B, a simples reiteração da tomada do Estado brasileiro por uma quadrilha e sua descoberta por jovens procuradores e agentes federais depois que a prataria já havia sido vendida.

O filme verdadeiro deve ser um épico, salpicado de nuances psicológicas. Nele, Luís Inácio, no papel de Lula, é um homem convencido de sua missão divina e dos privilégios que ela lhe concede. Personagens como os empreiteiros e o primeiro-amigo José Carlos Bumlai são apenas escudeiros providenciais, versões pós-modernas de Sancho Pança. Todos com as algibeiras recheadas com verbas do BNDES e dos cofres de estatais. O papel dos escudeiros é o de livrar Lula dos cuidados banais, como a conta das reformas do sítio e do tríplex, a montagem das cozinhas planejadas, a troca do assoalho, a instalação do elevador privativo…

Na festa de aniversário do PT, Lula disse que anda de “saco cheio” com os inimigos, com a imprensa e com os procuradores e magistados que se curvam para as manchetes. Natural que Lula se sinta injustiçado, acossado não pela indignação moral da sociedade, mas pela mesquinhez das pessoas, pela incapacidade geral de reconhecer que tudo que lhe caía no colo, viesse de onde viesse, não era mais do que o merecido. Que diabos, ele saiu de Garanhuns para dar dinheiro do BNDES aos ricos e dignidade aos pobres! Isso já o distinguia como um cidadão especial, portanto merecedor de favores excepcionais.

No STF, a defesa de Lula pediu a suspensão das investigações sobre o tríplex e o sítio. Os advogados reiteraram que o apartamento não pertence a Lula. Quanto ao sítio, registrado em nome de dois sócios de Lulinha, alega-se que foi comprado por iniciativa de um velho amigo, Jacó Bittar, para que o ex-presidente da República pudesse “acomodar” os objetos que ganhou do “povo brasileiro”. Como oas instalações eram precárias, o primeiro-amigo Bumlai ofereceu-se para reformá-lo. Ouvido, o advogado de Bumlai levou o pé atrás: “Só se a Odebrecht for propriedade de Bumlai, o que não me consta.''

Seja como for, julgar Lula pela generosidade com que foi tratado por amigos e congêneres seria julgá-lo como um presidente qualquer. E Lula foi eleito duas vezes com a promessa de que não seria um presidente qualquer. Lula passaria pelo Planalto como a “alma viva mais honesta” que Lula já conheceu. Tem todo o direito de estar de “saco cheio”. Seus eleitores votaram nele porque queriam a diferença. Agora, reclamam da diferença. Dizem que a OAS, a Odebrecht, o Bumlai, o Jacó Bittar, os sócios do Lulinha não faziam parte da diferença. Queriam um Messias. Mas com horário comercial e limite de saque.

No filme B, Lula seria um espertalhão que engana todo mundo e impõe uma trama conhecida: os amigos comercializam sua influência no governo, enriquecem à base de propinas e dividem o proveito com o presidente. No enredo épico, Lula e o Brasil se enganam mutuamente. Lula, reivindica para si um figurino de idealista incompreendido. Vira protagonista de inquéritos graças às más-companhias e à campanha de perseguição. Um final tipo B seria mais realista. Mas Lula avalia que o Brasil merece uma tragédia grandiosa. A autoestima nacional não resistiria a um enredo simplório, em que que tudo não passasse de uma vigarice banal.

É o fim do caminho

“A liberdade é vermelha”, escreve num post de Paris Mônica Moura, mulher do marqueteiro João Santana. É uma alusão a uma trilogia de filmes inspirados nas cores da bandeira francesa. O primeiro deles se chamou “A liberdade é azul”. É compreensível que Mônica Moura tenha escolhido o vermelho entre as cores da bandeira. E que tenha escolhido a liberdade do lema da Revolução Francesa, que também conta com fraternidade e igualdade.

João Santana e Mônica ficaram milionários levantando a bandeira vermelha, no Brasil, na Venezuela, com as campanhas agressivas do PT e do chavismo. Com os bolsos entupidos de dólares, a liberdade é vermelha, pois à custa da manipulação dos eleitores latino-americanos, João Santana e Mônica Moura podem viajar pelo mundo com um padrão de vida milionário.

Mas chega o momento em que a cadeia é vermelha, e Mônica Moura não percebeu essa inversão. Nas celas da Polícia Federal e do presídio em Curitiba, o vermelho predomina. José Dirceu, Vaccari, o PT é vermelho. Marcelo Odebrecht, a Odebrecht é vermelha, basta olhar seus cartazes.

Evolucao da Filosofia Lula x Socrates So sei que nada sei

Uma vez entrei na Papuda e filmei uma cela vermelha com o número 13. Os condenados do mensalão estavam a ocupar o presídio. A divulgação da imagem foi um Deus nos acuda, insultos: as pessoas não têm muita paciência para símbolos. Mônica Moura fala esta linguagem. Se tivesse visto o take de seis segundos da cela vermelha, ela iria buscar outra cor para a liberdade.

A situação de Dilma e a do chavismo convergem para um mesmo ponto: tanto lá quanto aqui a aspiração majoritária é derrubá-los do poder. João Santana, num país onde se valoriza a esperteza, foi considerado um gênio. Gênio da propaganda enganosa, dos melodramas, dos ataques sórdidos contra adversários. O único critério usado é a eficácia eleitoral avaliada em milhões de dólares, certamente com taxa extra para os postes, Dilma e Haddad.

Sua obra continental se espelha também no resultado dos governos que ajudou a eleger: Dilma e Maduro são rejeitados pela maioria em seus países. O que aconteceu na semana passada é simplesmente o fim do caminho. Com abundantes documentos, cooperação dos Estados Unidos e da Suíça, não há espaço para truque de marqueteiros.

O dinheiro de Santana não veio de fora. Saiu do Brasil. Saiu de uma empresa que tinha negócios com a Petrobras, foi mandado para o exterior por seu lobista Zwi Skornicki. E saiu também pela Odebrecht.

A Lava-Jato demonstrou que a campanha de Dilma foi feita com dinheiro roubado da Petrobras. E agora? Não é uma tese política, mas um fato, com transações documentadas.

Na semana passada ouvi os panelaços por causa do programa do PT. O programa foi ao ar um dia depois da prisão de João Santana. Mas o tom era o mesmo, uma mistificação para levantar os ânimos. E um pedido de Lula: parem de falar da crise que as coisas melhoram.

Em que mundo eles estão? Em 2003, já afirmei numa entrevista que o PT estava morto como proposta renovadora. Um pouco adiante, com o mensalão, escrevi “Flores para los muertos”, mostrando como uma experiência que se dizia histórica terminou na porta da delegacia.

Na semana passada, escrevi “O processo de morrer”. Não tenho mais saída exceto apelar para “O livro tibetano dos mortos”, que dá conselhos aos que já não estão entre nós. O conselho é seguir em frente, não se apegar, não ficar rondando o mundo que deixaram.

Experimentei aquele panelaço como uma cerimônia de exorcismo: as pessoas saíam às janelas e varandas para espantar fantasmas que ainda estavam rondando as casas. Poc, poc, poc. Na noite escura, o silêncio, um grito ao longe: fora PT. E o PT na tela convidando para entrar nas fantasias paradisíacas tipo João Santana, já trancafiado numa cela da PF em Curitiba.

Simplesmente não dá para continuar mais neste pesadelo de um país em crise, epidemia de zika, desemprego, desastres ambientais, é preciso desatar o nó, encontrar um governo provisório que nos leve a 2018.

De todas as frentes da crise, a que mais depende da vontade das pessoas é a política. Se o Congresso apoiado por um movimento popular não resolver, o TSE acabará resolvendo. Com isso que está aí o Brasil chegará a 2018 como um caco, não só pela exaustão material, mas também por não ter punido um governo que se elegeu com dinheiro do assalto à Petrobras.

É hora de o país pegar o impulso da Lava-Jato: carro limpo, governo derrubado, de novo na estrada. É uma estrada dura, contenções, recuperação da credibilidade, quebradeira nos estados e cidades. É pau, é pedra, é o fim do caminho.

A semana, com a prisão do marqueteiro do PT e os dados sobre as transações financeiras, trouxe mais claramente o sentido de urgência. E a esperança de sair desta maré.

O Brasil na muda

Nada melhor para definir o atual perfil da classe política brasileira do que reconhecermos, em todos os níveis, que ela se acha na muda. Nos pássaros, trata-se do período que vem depois da reprodução, geralmente entre janeiro e maio de cada ano; eles perdem as penas, comem menos, têm seu metabolismo alterado e não cantam. Mais ou menos assim se veem nossos homens públicos: estão mudando, muitos de partido, outros de ideias, sempre ao sabor da própria conveniência ou do grupelho que os acompanha e sustenta. Ontem, numa roda de pessoas de razoável conhecimento dos fatos, ninguém foi capaz de sugerir um nome que pudesse tomar pelas mãos a responsabilidade de conduzir um Brasil a cada dia mais desgovernado, mais debilitado e mergulhado num abismo sem volta como o que estamos assistindo. Quando se diz um nome, obviamente, não se admite ser um aventureiro, ou um produto de marketing político, ou um falastrão apaixonado pela própria imbecilidade. Também não se cogita de um golpe militar, uma quartelada, porque se a crise evoluiu para piorar os civis, ela também arrastou os militares. Alastrou-se. Piorou geral.

O que dizer de um momento em que não se consegue identificar num Congresso de quase 600 senadores e deputados um, dois ou três nomes, para haver disputa, que traga nas mãos um programa confiável, concebido com responsabilidade especialmente em relação à garantia de seu cumprimento, no qual seja origem e destino a sociedade brasileira, na sua amplitude? Programas de partidos no Brasil sempre foram peças escritas para formalizar seu registro legal. Alguém sabe o que defendem nossos quase 40 partidos políticos? Pelo que lutam? Ninguém, especialmente seus membros e, mais especialmente ainda, se pesquisarmos suas ações. Nossos partidos são ajuntamentos, acampamentos de interesses e de brigas menores.

O tempo passa e suas consequências são implacáveis. A inflação vai bater 12% neste ano; podemos esperar. Os juros bancários, para matar os tomadores de cartões de crédito e do cheque especial chegaram a 500% ao ano. Mais do que uma imoralidade, um crime de que deveriam merecer julgamento sumário os nossos banqueiros, para condená-los à pena de morte. Saúde, educação, segurança e infraestrutura sem verbas para seu atendimento, ainda que da forma precária como faz o poder público. Mais de 100 mil estabelecimentos comerciais foram fechados no Brasil nesses últimos meses. A indústria não produz e não entrega produtos atualizados porque não tem fomento; tem a fome que lhe impõe uma carga tributária monstruosa, uma legislação trabalhista que inviabiliza as relações dos empregados com seus empregadores, o ativismo de pseudo-ambientalistas enfurnados em conselhos, câmaras, ONGs, montadas, na sua grande maioria, para fabricar consultores e facilitários.

Nesse quadro de miséria o que se discute em Brasília? Se o STF vai processar e mandar prender Eduardo Cunha e Renan Calheiros, em cela única ou separada; se o melhor para o país seria o impeachment de Dilma, ou a cassação da chapa eleita Dilma/Temer; se o Delcídio deve ou não voltar ao Senado. E eu, você, nós, os comuns, pagando a conta. Nós também somos responsáveis. Somos a expressão da muda.

O lugar deles já se sabe: a lata de lixo da História

Em termos de marketing político e de propagação de mentiras, João Santana é mesmo uma fera! Mas em termos de planejamento tributário, o homem não passa de um analfabeto. Cometeu erros contábeis-tributários primários. Se houvesse qualquer problema com a Receita Federal, provavelmente este crápula contava que a presidente Dilma convocaria o capacho (digo, o Cartaxo) ou mesmo o Jorge Rachid, e estaria tudo resolvido.

Isso poderia valer até 2014. Afinal de contas, Dilma botou para correr a ex-secretária Lina Vieira, que ousou querer fiscalizar a Petrobrás em 2009. Os tempos mudaram, não tem mais Lula, Dilma ou Rachid que dê jeito para esses quadrilheiros! Até mesmo porque as próprias batatas deles estão assando!É a famosa lei do retorno! Na última campanha eleitoral, o bruxo assumiu deliberadamente a mentira e a propagação do ódio, para “desconstrução” dos adversários, Marina Silva que o diga!

É o famoso ditado “quem semeia vento colhe tempestade”! Essa gente, o bruxo marqueteiro, Dilma, Lula, Marilena Chauí e os petralhas de modo geral só souberam destilar mentiras e segregação na campanha eleitoral. A débil mental da Chauí inclusive declarou que odiava a classe média!

O castigo está vindo a cavalo, o país está ingovernável e essa gente terá que suportar o ódio de milhões e milhões de brasileiros enganados, roubados e vilipendiados por essa gentalha!

Depois, ficarão eternamente colocados no seu devido lugar: a lata de lixo da História!

Mal das 'esquerdas'

Os países da América do Sul enfrentam com maior intensidade as implicâncias de um crescimento econômico não inclusivo, que mostram governos que não solucionaram problemas como a desigualdade e que são respingados pela corrupção e a ineficiência na aplicação de políticas públicas ou de reformas estruturais
Guillermo Holzmann, professor chileno de ciências políticas da Universidade de Valparaíso (Por que líderes de esquerda sul-americana estão perdendo popularidade)

João Santana e o PT, uma mistura destrutiva

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Estranhe não. Preferir a versão ao fato e a mentira à verdade não é opção incomum. Muitas vezes é o mais conveniente para quem faz a escolha. Negar verdade conhecida e desprezar fatos pode ser colo protetor onde consciências em conflito são acalentadas. Por isso, entendo perfeitamente a atitude de quem, sem ser pago para tanto, prefere afirmar que nunca como nestes anos, o Brasil foi governado por seres tão generosos e movidos por tão virtuosas intenções.

“Generosos que enriqueceram? Virtuosos que ocultaram suas reais intenções?”, perguntará o leitor já perdendo a paciência. E se fizer tais perguntas prepare-se para receber os rótulos de coxinha, golpista, fascista e inimigo dos pobres. Quem senta no colo da ilusão não está ali só pelo aconchego.

Escrevo estas linhas pensando no João Santana, publicitário do PT que está preso. Existem publicitários que atuam em área protegida pelo direito do consumidor, cuja liberdade de criação está confinada pelos limites do que seja verdadeiro a respeito daquilo que promovem. Outros, porém, atuam na política, segmento de mercado não alcançado pelo direito à informação honesta. Mesmo assim, todos os profissionais sérios, que reconhecem ser a política mais importante do que o marketing eleitoral, têm como parte relevante de sua tarefa trabalhar o cliente para que ele faça o melhor de si mesmo.

Há publicitários assim, eu os conheço. E há o João Santana, marqueteiro do PT, muito bem sucedido na arte de vender lebre e entregar bichano. Em 2006, depois que a oposição optou por deixar o “Lula sangrar” até a eleição, o João estancou a hemorragia, suturou os cortes, refez a imagem e entregou Lula ao eleitor, puro como cristal da Boêmia.

Em 2010, João (contando não se acredita!), convenceu a maioria dos eleitores de que Dilma era uma grande gestora, braço direito de Lula, estadista qualificada, mãe do PAC, padroeira do pré-sal. Em 2014, quando poucos ainda levavam a sério essa descrição, fez tudo de novo. Foi a simbiose instalada entre o marqueteiro João e o PT, a grande vitoriosa das três últimas eleições presidenciais brasileiras.

Estamos falando, aqui, de um talento a serviço do desastre nacional. E também falamos de um partido político que, ao montar um discurso, ao elaborar uma peça publicitária, como vimos há poucos dias, deixa de lado a verdade, os fatos, aponta para todos os lados e jamais – jamais! – em circunstância alguma, aponta para o próprio e comprometido peito. Perigoso, muito perigoso!

Porque me desfiliei do PT

Eu ainda era uma adolescente quando me identifiquei com os ideais do PT. Era aluna de um colégio religioso, onde sempre aprendi a ter um olhar mais acurado para os mais necessitados. Foi nas salas de aula desse colégio que conheci minha professora de Religião, Cleonice, que era um exemplo de ética e comprometimento, que despertou em mim valores que trago até hoje.

Cleonice foi candidata a vereadora pelo PT em 1988 e tornou-se um modelo de luta política para muitos de seus alunos, como foi para mim. Anos depois, meu pai também filiou-se ao PT, e os ideais que havia aprendido nas cadeiras escolares eram uníssonos com meu seio familiar. Com orgulho, finalmente, me filiei ao PT.


Chorei de emoção com a posse do Lula. Aquele operário tinha, finalmente, alcançado o lugar pelo qual tanto lutou. Era a voz de milhões de brasileiros que, assim como ele, tinham origem humilde. Os avanços dos programas sociais dos governos do PT são inquestionáveis; a mudança no cenário da fome e da miséria não pode ser ignorada! Mas o PT era muito mais que isso. Era um partido que combatia os corruptos, que pediu o impeachment do Collor, que denunciou inúmeras atividades ilícitas dos governos anteriores e que sempre nos fez acreditar que, quando chegasse ao poder, faria uma varredura pela ética e moral e que nos levaria a pensar: por que eles não chegaram ao poder antes?

Assumiram o poder com a sede de justiça social, esquecida até então, mas mantendo os mesmos esquemas de corrupção e práticas conservadoras para ter sempre o apoio de uma base aliada e governável. Com o avanço das investigações da operação Lava-Jato, ainda que alguns princípios constitucionais estejam sendo ameaçados, ainda que a balança das investigações esteja pesando um pouco mais para o lado esquerdo, compreendemos o quão endêmica é a corrupção no nosso país e o quanto é difícil de mudar esse sistema quando se chega ao poder. Ser defensor da ética e primar pela lisura no que diz respeito aos interesses públicos significa encontrar barreiras quase intransponíveis para governar e sofrer todo tipo de oposição pelo simples fato de mexer no bolso daqueles que buscam a política apenas para enriquecer e participar de esquemas de lesão ao Erário.

Como dizia Cazuza, o poeta visionário que nos deixou precocemente: “Meus heróis morreram de overdose.” É o sentimento que tenho hoje. Perdi meus heróis políticos, pessoas que, para mim, eram honradas e éticas e que se corromperam pelo sistema como jamais imaginei que se corromperiam. Senti-me uma órfã política, parte da minha identidade política moldada ainda na adolescência trazia uma estrela cravada no peito. Eles morreram de uma overdose de poder, de impunidade, de falta de compromisso com uma história partidária, com uma história de luta e de um sonho que nutrimos por décadas e décadas. Nossa estrela maior era a ética.

Em outubro de 2015, desfilei-me do PT, seguindo os passos do meu pai, e desoPTei em fazer parte de um partido que já não traz consigo mais nenhum ideal do que foi outrora. Nem os trabalhadores eles defendem mais, nem as mulheres eles defendem mais. Então, diante de todo o cenário negativo que pairava sobre o partido, acreditava que nada mais poderia piorar. Até que, para minha surpresa, um prefeito de um município do Estado do Rio, eleito pelo PT, vem a público defender o pré-candidato a prefeito do Rio, que agrediu sua mulher, dizendo que “qualquer um já perdeu a cabeça um dia”.

Quando li essa declaração infeliz, tive certeza de que havia tomado a decisão certa, ainda que tenha sido dolorosa pela história política que vivenciei. Quem agride uma mulher, uma, duas vezes, não pode ocupar nenhum cargo no poder. O PT, mais uma vez, escolhe caminhos duvidosos ao apoiar a candidatura do agressor, em troca do apoio do seu partido na base do governo federal.

A todos esses que defendem ou minimizam a atitude do pré-candidato à prefeitura do Rio, eu os respondo também com os versos de Cazuza: “Meus inimigos estão no poder”! Como é que o partido da presidenta, o partido que no governo está construindo a Casa da Mulher Brasileira (espaço para acolhimento às mulheres vítimas de violência), defende um agressor de mulher? Não encontro tal resposta, tampouco consigo compreender onde tudo se perdeu? Apenas sei que se continuasse a compactuar com eles, também estaria perdida. Lutar contra os “inimigos das mulheres” é meu ponto de partida.