sexta-feira, 3 de julho de 2015

Em busca do eixo perdido


O candidato do PT ao governo de São Paulo Eduardo Suplicy desapareceu misteriosamente no meio da campanha eleitoral de 1986 e depois anunciou que tinha se refugiado na serra da Cantareira para reencontrar o “eixo" que tinha perdido.

Não importam aqui os motivos que levaram o candidato a isolar-se em busca do eixo perdido.

O que importa é que, três décadas depois, o partido de Suplicy parece estar sofrendo de uma variante do mesmo mal -a perda de eixo- e está se comportando como biruta de aeroporto, que se move de acordo com a direção do vento.

Nas campanhas eleitorais e nos discursos replicados pela militância nas redes sociais, o PT esforçou-se para vender a ideia de que nunca antes apareceram na imprensa tantos escândalos de corrupção porque “nunca antes na história este país” a corrupção foi tão investigada. Graças a quem? Graças ao PT, claro.

O fato de que os órgãos que investigam a corrupção-MP, Policia Federal, Justiça Federal - são constitucionalmente independentes nunca foi levado em consideração para os efeitos propagandísticos que o PT pretende auferir da balela de que “nunca se investigou tanto”.

Quanto mais as investigações se aprofundam e quanto mais ficam evidentes as ligações entre o saque aos cofres da Petrobras e o caixa do PT, mais o discurso do “combate rigoroso à corrupção" vai perdendo sentido.

A presidente, que na campanha eleitoral, entre promessas falsas e outros surtos de ficção, teve tempo de se vangloriar de sua intolerância à corrupção, fez um desatinado pronunciamento nos Estados Unidos contra o instituto da delação premiada, misturando alhos com bugalhos, como se houvesse algum tipo de paralelo possível entre a delação de companheiros de clandestinidade numa luta política armada e delação de métodos de assalto aos cofres públicos.

E o que é pior: a presidente se esqueceu de que o instituto de delação premiada foi instituído por uma lei sancionada em seu governo que ela mesmo exaltou durante um debate na TV contra o candidato da oposição: "Quero lembrar que duas leis, aprovadas no meu governo, no ano passado, dão base para esse processo de investigação da Petrobras”, jactou-se Dilma. “A primeira: a lei 12.830, que garante a independência do delegado. […] A outra, que regulamentou justamente a delação premiada, a 12.850.”

Uma declaração própria de quem perdeu o eixo.

O ex-presidente Lula, que uma semana antes havia surpreendido seus próprios seguidores ao afirmar que ele e Dilma estavam num “volume morto”, referindo-se ao atual estágio da popularidade de ambos e de seu partido, aproveitou a ausência da presidente do País para fazer uma incursão por meandros do poder em Brasília.

Lula reuniu-se com parlamentares do PT e lideranças do PMDB para praticar seu esporte preferido no momento: reencontrar o eixo de sua candidatura para 2018 descolando-se o máximo possível do naufrágio da imagem da presidente mas sem dar a impressão de estar abandonando o barco que ele mesmo colocou no mar.

Ser ao mesmo tempo o criador de Dilma e o líder da oposição a ela é uma tarefa árdua demais mesmo para um demiurgo e um ilusionista como ele.

Assim como ser a favor do “combate à corrupção" e ao mesmo tempo criticar o ministro Cardozo por sua “falta de pulso” com a Polícia Federal quando suas investigações se aproximam demais dele.

Por isso Cardozo já confidenciou a amigos que está querendo abandonar o governo, desgastado pela “fadiga de material”; não deve ser fácil prestar-se às sessões de petismo explícito em pronunciamentos ministeriais e ao mesmo tempo ser alvo do fogo amigo de seu partido.

Ao contrário de Suplicy, que preferiu o recolhimento para refletir sobre o eixo perdido, o PT exibe sua crise escandalosamente em público.

Fiscal do trabalho: 'Tirei 1,5 mil brasileiros da escravidão'

Quando perguntam a Marinalva Dantas quantos trabalhadores escravos ela libertou no Brasil, ela diz: "Pessoalmente, resgatei 1,5 mil pessoas. Com outros colegas, foram mais de 2 mil".

Os números podem estar subestimados. O recém-publicado livro A Dama da Liberdade (Editora Saraiva), do jornalista Klester Cavalcanti, diz que 2.354 foram libertadas desde 1995 - ou em operações lideradas por Dantas como fiscal ou em operações de uma equipe especial do Ministério do Trabalho da qual ela participava.

Todos estes casos ocorreram em zonas rurais, em fazendas de Estados das regiões Centro-Oeste e Norte do país, onde há pouco controle sobre as relações de trabalho e muitos abusos.

Nascida em uma família pobre e criada por tios que tinham uma situação financeira melhor, Dantas diz que escolheu sua profissão ao ser confrontada com cenas de miséria.

Ela já dirigiu a Divisão de Articulação de Combate ao Trabalho Infantil do Ministério do Trabalho e atualmente trabalha como auditora-fiscal do trabalho em Natal, no Rio Grande do Norte.

Quem provocou essa guerra?

Comecei a trabalhar muito cedo, aos nove anos, numa padaria de um lugarejo. Acordava às três e meia da madrugada, preparava o tempero para a massa, ajudava a misturá-la num cocho e a tocar um pesado cilindro de madeira. À tarde, estudava. Quando voltava da escola, ajudava o padeiro a serrar os toros de madeira que serviriam de lenha para o forno no dia seguinte. Não ganhava um único tostão, apenas uns pães, muitas vezes dormidos. Às vezes, um pouco de trigo e açúcar para o mingau do meu pai, atacado pela terrível e constrangedora tuberculose. Com minha mãe, também plantei milho e feijão, à meia, no terreno de um vizinho. O dono da padaria era um homem pouco sensível e um tanto sovina, mas nunca o odiei. Sobrevivi. Estudei e trabalhei, tudo ao mesmo tempo, durante toda a minha vida, do primário à pós-graduação.

Numa loja em que trabalhava na adolescência, éramos visitados por dois homossexuais muito divertidos. Meu irmão e eu convivíamos bem com eles, sem problemas. Nossos fregueses também. Uma ou outra piadinha não atrapalhavam essa boa convivência. Um deles me gozava porque eu era magro ao extremo e tinha o rosto cheio de espinhas. Nenhum problema mais sério, nenhum ódio, convivência normal.

Quando crianças, os melhores amigos dos meus filhos superbranquelos, com olhos verdíssimos e translúcidos, eram pretos retintos. Brincavam, jogavam bola e rolavam na poeira. Do lado direito, pretos; do lado esquerdo, outros branquelos como meus filhos, que se misturavam, na rua, em casa, em todo lugar. Ao mudarmos para o meu bairro atual, meus branquelos, já na pré-adolescência, arranjaram um novo casal de amigos. Para variar, pretos também, com quem mantêm amizade até hoje. Sem problemas, sem ódio.

Como aluno e, depois, como professor, convivi com todo tipo de colegas. Só como professor, foram 33 anos. Alunos gays, colegas gays, nenhum problema, nenhum desrespeito. Uma gozação, uma menção à opção sexual aqui ou ali, claro, mas nada diferente das piadinhas com os gordinhos, os narigudos, os cabeçudos, os orelhudos ou os espinhentos como eu. O mesmo acontece com os gays da minha rua com os quais convivo há 25 anos. Um deles já cortou o cabelo dos meus filhos várias vezes e, inclusive, o meu. Convivência normal, sem problemas. Não os ouço reclamar de violência mais do eu e os demais moradores.

Nos últimos anos, entretanto, parece que essa boa convivência, entre patrões e empregados, negros e brancos, héteros e homos, sofreu um abalo. Há disseminação de rancores e estremecimento de amizades. Alguém poderia dizer que estou dourando a pílula ou vivendo em outro mundo. Não, mil vezes não! Não estou querendo negar que exista discriminação ou preconceito. Isso sempre houve e sempre haverá. A questão é outra, e as perguntas são: Em que nível ou grau? Por que a coisa é tão seletiva, privilegiando certos grupos? Quais são os números exatos? Quais as estatísticas reais e confiáveis? Quem as manipula?

Olhe para a sua família. Estenda o seu olhar para a sua rua, seu bairro, sua cidade, seu Estado, seu País. Qual a verdade? Qual a realidade? Quais os números reais? Pare, pense e pergunte: Quem nos botou pra brigar? Quem provocou essa guerra? A quem ela interessa?

Eu tenho as minhas respostas e posso dá-las a qualquer instante, sem paixão, com a consciência tranquila diante de Deus e dos homens, pressão doze por oito e setenta batimentos cardíacos por minuto. Quais são as suas?

Nas mãos de quem estamos


Nasci um mês antes do Getúlio decretar o Estado Novo. Como ainda estou por aqui, vocês podem ver por quantos Brasis passei...

Tirando o período da contagiante alegria do presidente Juscelino, tudo o mais foram sobressaltos, medo, dificuldades, inflação, planos econômicos experimentais, corruptos e corruptores, promessas, promessas, promessas...

Mas nunca tinha visto o Brasil entregue a figuras tão estranhas quanto o inacreditável anteprojeto de ditador Eduardo Cunha, ao pusilânime Renan Calheiros, ou à dona da caneta Dilma Rousseff. Todos três sob a sombra ameaçadora do Lula.

Eduardo Cunha, com o poder de presidente da Câmara dos Deputados, ao ver derrotada a PEC da Maioridade Penal, o que faz? Ora, como ele não gosta de perder, põe na mesa outra PEC e dessa vez vence! Passa por cima de tudo para sair vencedora a ideia mesquinha: ao prender em nossas masmorras tão medievais quanto ele jovens de 16 anos, a violência sairá vencida.

Enquanto ele se diverte na tenda em que transformou a Câmara dos Deputados, o do Senado permite que saia vencedor um aumento absurdo para os funcionários do Judiciário, aumento que o Estado não tem condições de honrar. Renan Calheiros sabe disso, mas não se envergonha de passar a batata quente para a presidente da República. Assim, pensa o alagoano, quem sai queimada é ela que vai ter que vetar o aumento.


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Enquanto o Brasil passava por esses horrores, dona Dilma visitava os EUA. Em New York hospedou-se no St.Regis, hotel que além das muitas estrelas, tem a sofisticação que só os viajantes experientes e habituados ao melhor reconhecem e podem pagar.

De NYC foi para Washington onde ficou, para o encantamento da jornalista Sandra Coutinho, da Globo News, na Blair House, a casa que o governo americano mantém para hospedar seus visitantes, ali na Lafayette Sq, bem atrás da Casa Branca.

Comprada durante o governo Roosevelt, no início de 1942, a Blair House é linda. O primeiro hóspede a gozar das suas regalias foi o Presidente do Peru Manuel Prado, que lá foi acolhido em maio de 1942. Se você leitor, quiser saber mais sobre essa casa elegantíssima, é só acessar Blair House.

De Washington a comitiva brasileira seguiu para o Vale do Silício, na California, a terra das inovações, reis da Internet. Com que intuito? Sei lá.

Mas calculo sua emoção ao entrar no Museu Google e ao experimentar alguns produtos de ponta, como o Self-Driving Car do Google que lhe provocou a sensação de ter estado no futuro.

Diz o presidente do PT, Rui Falcão, que a mais recente pesquisa, que deixa muito mal dona Dilma, ainda não mediu o sucesso de sua visita aos States.


Vamos lá, senhor Rui Falcão. Quantos pontos o senhor acha que a popularidade de dona Dilma vai subir depois das seguintes notícias:

1) o presidente Obama prometeu que vai usar, na intimidade do lar, a jaqueta da seleção brasileira que achou macia e confortável;

2) na entrevista coletiva na Casa Branca, ao responder a uma pergunta que deixou dona Dilma extremamente sorridente, Obama disse que “não vê o Brasil como uma potência regional, mas (como) uma potência global";

3) dona Dilma, em declaração conjunta com Barack Obama, comprometeu-se a recuperar 120 mil km² de florestas, até 2030;

4) ainda em Nova York, dona Dilma encontrou-se com Henri Kissinger. É, com ele mesmo, o grande representante da realpolitik, que teve papel de ponta na política externa americana como Conselheiro Nacional de Segurança de 1969 a 1975 e foi Secretário de Estado de 1973 a 1977.

Dona Dilma, que confunde delator de companheiros com réus confessos que pretendem diminuir sua pena ao se valer de delação premiada, conforme lei chancelada por ela, fez questão de dizer que não respeita delator.

Já Kissinger ela respeita, e muito. Dele disse: “É uma pessoa fantástica, com grande visão global”.

Estamos ou não estamos bem entregues?


Boopo , para VejaEssa

A crise civilizatória e humanitária

Quando soube da nova encíclica do papa Francisco, lembrei-me de um judeu, meu professor Ignacy Sachs. Há 45 anos, ele abriu meus olhos para o limite “ao” crescimento, devido às restrições físicas, e para o limite “do” crescimento, pela impossibilidade de o consumo supérfluo fazer uma humanidade mais feliz.


Mas, por décadas, aqueles que indicavam os limites “ao” e “do” crescimento propondo um novo modelo de desenvolvimento para as nações foram rejeitados pela “teologia do crescimento”. A ideia do progresso como sinônimo de produção e consumo crescentes domina o pensamento social como uma doutrina religiosa. A escassez de recursos e as mudanças climáticas passaram a mostrar os limites físicos da natureza; a desigualdade social crescendo ao ponto de quase romper o sentimento de semelhança entre os seres humanos; o vazio existencial e as crises econômicas mostraram os limites éticos do crescimento.

Quando a palavra “decrescimento” passou a ser utilizada como uma alternativa, escrevi sobre o assunto; um leitor publicou crônica em outro jornal dizendo que eu havia sido submetido a uma lobotomia. Na verdade, a insanidade na voracidade do processo da produção e consumo há quase 50 anos apresenta indicadores de esgotamento. Apesar da crise ecológica, a “teologia do crescimento” continuou dominando o pensamento social e a prática política; e as críticas ao crescimento como vetor do progresso humano continuam sendo denunciadas como gestos de insanos.

O mundo atual não tem estadistas porque os políticos estão divididos entre aqueles prisioneiros da lógica do impossível crescimento econômico ilimitado e para todos e aqueles considerados “lobotomizados”, porque apresentam alternativas de outro futuro, negando as bases filosóficas e econômicas da civilização industrial. A nova encíclica do papa Francisco traz um raio de luz para o debate sobre o futuro desejado e possível para a humanidade. Sua fala vai provocar uma luz na escuridão do debate político no mundo de hoje. Ainda mais: ele oferece uma “teologia da harmonia” para substituir a “teologia do crescimento”.


Com sua encíclica, o papa Francisco se sintoniza com a crise civilizatória e humanitária – desequilíbrio ecológico, divisão social, migração em massa, desemprego, violência, intolerância – e propõe a necessidade de construirmos uma nova civilização, na qual o crescimento seja um instrumento, mas não o propósito em si; e o decrescimento na produção, em alguns lugares e para certas camadas da sociedade, passe a fazer parte das estratégias de evolução humana.

Com sua autoridade moral, ele contribui para que o debate não mais seja entre o socialismo, que não deu respostas, e o capitalismo, que deu respostas erradas, mas entre a civilização regida pela “teologia do crescimento” e a civilização orientada pela “teologia da harmonia” entre os seres humanos e destes com a natureza que os sustém.

Cristovam Buarque

O elo que nos une

Ainda que distantes geograficamente e, na mesma proporção, economicamente, Brasil e Grécia estão deixando suas populações em polvorosa. A homérica crise grega levou o país à decisão abissal: ou fica no mundo do euro, penando no Hades, ou sai e vai penar do mesmo jeito. O Brasil, em melhor posição, só tenta se equilibrar à beira do abismo. Tem logicamente saída: o povo pagando ainda por muito tempo a conta de administrações desastrosas. Coisa aí por dez anos ralando o couro para então começar a se acertar.

Desconfie de prazos menores, sem validade. Só a Petrobras não levanta da cova em que a colocaram por menos de cinco anos, ainda assim tendo que cortar na carne, literalmente e não metaforicamente como falou Dilma. As empreiteiras envolvidas na Lava-Jato talvez levarão mais tempo para se recuperarem e voltarem a ser as grandes empresas que eram. Só isso retarda muito a recuperação do país. 


Além do sofrimento do povo que vai ter o couro arrancado por muito tempo, Brasil e Grécia têm algo em comum: a mentira. A desgraceira dos gregos arrancando os cabelos e os brasileiros se arrastando na tristeza são resultado de quanto os governos respectivos mentiram nas pedaladas, nas maquiagens contáveis, nas marolas e nas infindáveis armações para dar a seus povos a sensação de estabilidade econômica. Custou caro a manobra e agora chegou a conta para trabalhador (de verdade), aposentado, estudante, doente, e mesmo os pobres pagarem. Ficam isentos políticos, governantes, comissionados, juízes, agregados e todos que vivem pendurados no governo, que sempre prosperam mesmo na desgraça nacional.

Foi mentindo que se construiu o Brasil petista e a “construtora” PT está mando a conta para o contribuinte do desastre. Talvez seja um aprendizado para muitos de que acreditar na mentira, de mãos postas, tem preço. Os governos podem mentir como mentem a torto e a direito, mas devem ser rejeitados a cada mentira. Caso contrário, a conta é nossa, não deles.

O cinismo dos valores

Cada vez mais desesperado. Olho, olho, e só vejo negrura à minha volta. Fé? Evidentemente... Enquanto há vida, há esperança — lá diz o outro. Mas, francamente: fé em quê? Num mundo que almoça valores, janta valores, ceia valores, e os degrada cinicamente, sem qualquer estremecimento da consciência? Peçam-me tudo, menos que tape os olhos. Bem basta quando a terra nos cobrir! — Ah! mas a humanidade acaba por encontrar o seu verdadeiro caminho — dizem-me duas células ingénuas do entendimento. E eu respondo-lhes assim : Não, o homem não tem caminhos ideais e caminhos de ocasião. O homem tem os caminhos que anda. Ora este senhor, aqui há tempos, passou três séculos a correr atrás dum mito que se resumia em queimar, expulsar e perseguir uns outros homens, cujo pecado era este: saber filosofia, medicina, física, astronomia, religião, comércio — coisas que já nessa época eram dignas e respeitáveis
Miguel Torga, in "Diário (1942)"

A debilidade do governo Dilma e do PT está custando caro ao país



Deve ser debitado na conta do governo e do PT os prejuízos causados pela série de sandices cometidas por um Congresso tocado por dois presidentes ocupados em desviarem a atenção da opinião pública dos problemas que enfrentam com a Justiça.

Refiro-me, naturalmente, a Eduardo Cunha e Renan Calheiros, presidentes da Câmara dos Deputados e do Senado, suspeitos de envolvimento com a roubalheira na Petrobras.

O governo quase não apita mais nas duas Casas. Nada mais sintomático disso do que a derrota colhida por ele no Senado que aprovou o disparatado reajuste dos servidores do Judiciário.

O governo perdeu por 62 votos a 0. Nem os 13 senadores do PT votaram com ele. Ao sentirem o tamanho da derrota, pediram para ser liberados. E foram por seu líder Humberto Costa (PT-PE).

O reajuste é um despropósito na hora em que a maioria dos brasileiros come a mandioca que o diabo amassou. Em breve, o Ministério Público pedirá vantagem parecida. E o próprio Congresso.

Bons argumentos sustentaram a posição do governo contrária à redução da maioridade penal. Mas isso não bastou. Está evidente a falta de coordenação política do governo.

O vice-presidente Michel Temer (PMDB-SP) não dá conta do recado. Menos porque lhe faltar talento para isso. Mais porque faltam ao governo condições razoáveis para ser coordenado.

O empenho de Temer esbarra em Aloizio Mercadante, chefe da Casa Civil. E também na própria Dilma que não gosta da história de ter sido obrigada a compartilhar o poder com seu vice.

O ajuste fiscal do ministro Joaquim Levy, da Fazenda, arrasta-se mal e mal. Daqui a pouco ficará claro que as medidas do ajuste não serão mais suficientes para produzir o resultado desejado.

O país navega ao sabor das marolas causadas pelo Congresso e pela Operação Lava Jato.

Quando inteligência e ignorância se cruzam


Dizem as pessoas que conhecem pessoalmente o ex-presidente Lula – “Nosso Guia”, segundo o jornalista e escritor Elio Gaspari – ou com ele convivem, que S. Exa. é dotado de extraordinária inteligência. Com o ex-líder sindical não tenho relações de nenhuma espécie. Nem sequer cheguei alguma hora a vê-lo de perto ou, como aprazia a Machado de Assis, com graça e ironia, também nunca nos vimos de vista e de chapéu. Nesse ponto, há uma pequena e insignificante dúvida entre mim e minha mulher. Refere-se esta a um voo de Belo Horizonte a São Paulo, ainda no tempo das vacas magras de derrotado em eleições presidenciais – época seca e dura, em que não havia jatinhos de empreiteiros a sua disposição, e a sua desdita era amargar, como o personagem machadiano amargava a tocha em vez da glória do pálio, aviões comerciais, sempre desconfortáveis, como piores são hoje em dia. Nesse voo, estaríamos nós. Entretanto, desse desprazer não desfrutei, simplesmente porque não me lembro do acontecimento que hoje não me festeja nem me amarga as retinas, já bem cansadas, como lamentava o grande poeta.

Curioso é que a minha companheira até hoje se lembra de que, durante a viagem, o futuro Nosso Guia parecia agitado, levantando-se seguidamente da sua poltrona para segredar algo a dois ou três companheiros, mas o que seria? Claro, não o sabemos. Retomemos o assunto desta crônica e abandonemos o desvio que, de fato e de direito, não interessa a ninguém.

Acredito no depoimento de que o companheiro dos outros em lutas e reivindicações sindicais tenha recebido, ao nascer, uma inteligência invulgar. Afinal, chegar ao porto em que fundeou não é mole; antes, uma façanha que pouquíssimos conseguem realizar. Nas condições em que lutou, o destino e a inteligência pactuaram a rara aventura e o elevaram às alturas.

Curioso é que só aquela última não basta. Se tivesse buscado o saber, o conhecimento formal, uma boa cultura e o aprendizado de invejável formação e grandeza moral, principalmente a pública, poderia ter-se tornado um político imbatível, livrando-se dos transes em que se meteu, pelo bem do Brasil e nossa sorte. Já pensaram em um Lula assim acabado? Não o sendo, foi nosso mal. Sim, porque carece o homem público, o líder sindical, o homem do povo da qualidade do sabedor e de uma dose bem maior de sabedoria, se é que bafejado por alguma, talvez o primado de tudo.

Propaganda pt compara lula e dilma a mandela e ghandi tv sofa

Sabedoria em abundância, que Salomão pediu a Deus que lhe desse quando foi comunicado de que seria rei: “Dai, pois, ao vosso servo um coração sábio, capaz de julgar o vosso povo e discernir entre o bem e o mal, pois, sem isso, quem poderia julgar o vosso povo, um povo tão numeroso?” Esbraveja Lula repetidamente que o ajuste fiscal não é um fim em si mesmo. Parece que ouviu a expressão, gostou dela, achou-a elegante e adotou o truísmo para todas as horas, esquecendo-se de que a utilização de meio apropriado para a realização de objetivo lícito e indispensável se equivale para quem tem a honra de chefiar a nação e o dever de promover a felicidade do povo.