O candidato do PT ao governo de São Paulo Eduardo Suplicy desapareceu misteriosamente no meio da campanha eleitoral de 1986 e depois anunciou que tinha se refugiado na serra da Cantareira para reencontrar o “eixo" que tinha perdido.
Não importam aqui os motivos que levaram o candidato a isolar-se em busca do eixo perdido.
O que importa é que, três décadas depois, o partido de Suplicy parece estar sofrendo de uma variante do mesmo mal -a perda de eixo- e está se comportando como biruta de aeroporto, que se move de acordo com a direção do vento.
Nas campanhas eleitorais e nos discursos replicados pela militância nas redes sociais, o PT esforçou-se para vender a ideia de que nunca antes apareceram na imprensa tantos escândalos de corrupção porque “nunca antes na história este país” a corrupção foi tão investigada. Graças a quem? Graças ao PT, claro.
O fato de que os órgãos que investigam a corrupção-MP, Policia Federal, Justiça Federal - são constitucionalmente independentes nunca foi levado em consideração para os efeitos propagandísticos que o PT pretende auferir da balela de que “nunca se investigou tanto”.
Quanto mais as investigações se aprofundam e quanto mais ficam evidentes as ligações entre o saque aos cofres da Petrobras e o caixa do PT, mais o discurso do “combate rigoroso à corrupção" vai perdendo sentido.
A presidente, que na campanha eleitoral, entre promessas falsas e outros surtos de ficção, teve tempo de se vangloriar de sua intolerância à corrupção, fez um desatinado pronunciamento nos Estados Unidos contra o instituto da delação premiada, misturando alhos com bugalhos, como se houvesse algum tipo de paralelo possível entre a delação de companheiros de clandestinidade numa luta política armada e delação de métodos de assalto aos cofres públicos.
E o que é pior: a presidente se esqueceu de que o instituto de delação premiada foi instituído por uma lei sancionada em seu governo que ela mesmo exaltou durante um debate na TV contra o candidato da oposição: "Quero lembrar que duas leis, aprovadas no meu governo, no ano passado, dão base para esse processo de investigação da Petrobras”, jactou-se Dilma. “A primeira: a lei 12.830, que garante a independência do delegado. […] A outra, que regulamentou justamente a delação premiada, a 12.850.”
Uma declaração própria de quem perdeu o eixo.
O ex-presidente Lula, que uma semana antes havia surpreendido seus próprios seguidores ao afirmar que ele e Dilma estavam num “volume morto”, referindo-se ao atual estágio da popularidade de ambos e de seu partido, aproveitou a ausência da presidente do País para fazer uma incursão por meandros do poder em Brasília.
Lula reuniu-se com parlamentares do PT e lideranças do PMDB para praticar seu esporte preferido no momento: reencontrar o eixo de sua candidatura para 2018 descolando-se o máximo possível do naufrágio da imagem da presidente mas sem dar a impressão de estar abandonando o barco que ele mesmo colocou no mar.
Ser ao mesmo tempo o criador de Dilma e o líder da oposição a ela é uma tarefa árdua demais mesmo para um demiurgo e um ilusionista como ele.
Assim como ser a favor do “combate à corrupção" e ao mesmo tempo criticar o ministro Cardozo por sua “falta de pulso” com a Polícia Federal quando suas investigações se aproximam demais dele.
Por isso Cardozo já confidenciou a amigos que está querendo abandonar o governo, desgastado pela “fadiga de material”; não deve ser fácil prestar-se às sessões de petismo explícito em pronunciamentos ministeriais e ao mesmo tempo ser alvo do fogo amigo de seu partido.
Ao contrário de Suplicy, que preferiu o recolhimento para refletir sobre o eixo perdido, o PT exibe sua crise escandalosamente em público.