quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Brum - Tribuna do Norte
No Brasil, o crime ambiental compensa
Mario Moscatelli

Por que o intervencionismo estatal leva à manutenção da pobreza

A grande saída para o cenário político atual é o aprofundamento no tema “liberalismo”, que se assenta essencialmente em um dos valores mais centrais para a vida humana: a liberdade. Por sua própria definição, o liberalismo simplesmente recorre ao princípio da ação humana, inerente a cada indivíduo, visando efetuar realizações e criações.

Os pilares do liberalismo estão no indivíduo e seu direito à liberdade, crença que vai contra a visão paternalista de um Estado patrão e dirigista, que determina o destino dos seus cidadãos como se esses fossem seus súditos. Para o homem livre, o país é precisamente a coleção de indivíduos que o compõem, e não algo acima deles. O governo é visto apenas como um meio para seus objetivos, nunca um fim em si, nem um agente garantidor de favores ou um mestre que devesse ser cegamente seguido, detentor de uma sabedoria clarividente. A maior ameaça à liberdade individual é justamente a concentração de poder.

Diferentemente da imagem que a esquerda busca inventar, os liberais se preocupam com a classe mais hipossuficiente e entendem que tirar dinheiro dos mais pobres (e praticamente a metade do que eles ganham tem como destino o pagamento de impostos) e entregar para que o Estado decida o que fazer em nome deles é a maneira mais irracional de realocar esse dinheiro. No fim, não sobra nada além de serviços públicos precários e um total abandono – quando muito, um dinheiro que termina no bolso de grandes empresários que se aproveitam de um Estado centralizador para exercer seus poderes econômicos, criar barreiras para a concorrência e lobbies dos mais diversos tipos. Como dizia o economista austríaco Ludwig von Mises: “os ricos, que já estejam na posse de suas riquezas, não têm qualquer razão especial para desejar a preservação de um sistema de livre competição, aberto a todos; particularmente, se não ganharam, eles próprios, sua fortuna, mas a herdaram, têm mais a ter medo do que a esperar da concorrência. De fato, demonstram interesse especial no intervencionismo, que tem sempre a tendência de preservar a existente divisão das riquezas entre os que a possuem. Mas não podem esperar por qualquer tratamento especial do liberalismo, um sistema que não dá qualquer atenção a reivindicações de tradições consagradas pelo tempo, propostas por interesses investidos de riqueza estabelecida.”

“Uma coisa é dizer aos ricos que eles devem cuidar dos pobres”, escreveu John Stuart Mill, “outra coisa é dizer aos pobres que os ricos devem cuidar deles”. O senso de responsabilidade dos ricos para com os pobres não pode substituir o senso de responsabilidade que os pobres devem ter para com eles próprios.

Não se deve confundir responsabilidade com culpa. Montesquieu dizia que um povo “empobrecido pela dureza do governo” se tornava “incapaz de grandes atos porque sua pobreza fazia parte da sua escravidão”. O pobre não pode responder pela sua própria vida e a de sua família sem antes ter a propriedade sobre a caneta e a folha de respostas.

A legislação brasileira não dá ao pobre a propriedade sobre sua própria casa, a burocracia o impossibilita de se tornar seu próprio patrão, a legislação trabalhista joga sua força de trabalho para o escanteio da informalidade e o sistema tributário faz com que ele tenha que pagar preços escandinavos em produtos de péssima qualidade.

“Entre as coisas a serem feitas”, também dizia Mill, “a mais óbvia é remover todas as restrições e todos os obstáculos artificiais que os sistemas legal e fiscal lançam sobre as tentativas das classes trabalhadoras de melhorar sua própria condição”.

Essas coisas começavam a ser feitas quando Mill escrevia na Inglaterra do século XIX. Duzentos anos depois do início do século de Mill, escreve Deirdre McCloskey em A Dignidade da Burguesia:

O mundo sustenta uma população mais de seis vezes e meia maior. E contra a expectativa malthusiana pessimista de que o crescimento populacional seria um problema, o cidadão médio hoje ganha e consome quase dez vezes mais bens e serviços do que o fazia em 1800. O salário real por pessoa no mundo está dobrando a cada geração, e essa tendência está acelerando. A fome mundial nunca esteve com taxas tão baixas, e continua caindo. A alfabetização e a expectativa de vida nunca estiveram tão altas, e continuam subindo. A liberdade está avançando. A escravidão está recuando e, em particular, a escravidão das mulheres. Nos países mais ricos, como a Noruega, o cidadão médio ganha 45 vezes mais do que ganhava em 1800, estupendos U$137 ao dia. O meio ambiente — uma preocupação de uma burguesia bem de vida — está melhorando nesses países ricos.

Na contramão do real auxílio às classes menos favorecidas socioeconomicamente, os socialistas cumprem hoje com o Marxismo econômico, que é aquele “Programa Mínimo” do “Manifesto Econômico” de 1848, redigido por Marx e Engels. Constavam dez pontos que convém lembrar: 1. a “reforma agrária”, 2. o imposto progressivo aos ingressos, 3. o imposto às heranças, 4. a estatização das grandes empresas e companhias estrangeiras, 5. o Banco Central com seu monopólio de emissão, 6. transportes do Estado, 7. empresas de propriedade estatal e indústrias e comércios sob o controle do governo, 8. leis salariais e sindicais, 9. imposto aos lucros extraordinários, 10. educação pública socializada.

Assim suprimiram há muito tempo o “laissez faire” e, em troca, impuseram uma ditadura estatal à economia, embora só até certo ponto: o ponto no qual já não podem mais “avançar” sem cair na tragédia dos grandes desastres econômicos causados pelos atuais Governos de “esquerda”. Ir além seria exterminar 100% da produção, que quase passa nos anos 70 com o “cepalismo” [1], e por isso retrocederam nos anos 90: privatizaram segundo o Consenso de Washington (CdeW), cedendo nos pontos 4 e 7 do Manifesto. Dois passos atrás, para depois ir três adiante, disse Lenin.

As esquerdas enfrentam o dilema do parasita: têm de comer, então alguém tem de produzir. Assim que ao menos “no momento”, como disse Chávez, os socialistas pactuaram com os mercantilistas, velhos e novos, respeitando seus privilégios, em troca de seguir produzindo sob as condições por eles ditadas, que comem dos altos impostos que eles e a classe média pagam. E para isso, o CdeW serve.

No Brasil a ideologia intervencionista só cresce, fruto de um socialismo tardio, pois o fracasso desse sistema político como forma de distribuição de riqueza está mais do que comprovado. As esquerdas argumentam que o capitalismo, e mais recentemente o “neoliberalismo” adotado no governo FHC, levaram à elevada concentração da renda e da riqueza. Ora o Brasil nunca adotou o regime democrático de livre mercado capitalista, e somente as privatizações do governo FHC não são suficientes para caracterizá-lo como liberal. Continuamos no sistema mercantilista da colonização portuguesa, com o velho Estado patrimonialista e cartorial de sempre, onde o desenfreado empreguismo com nepotismo levaram este país a ter uma das mais altas cargas tributárias do mundo, concentrada numa minoria da sociedade, que se destina a satisfazer os ganhos exorbitantes e as gordas aposentadorias da alta burocracia, e nada beneficia os cidadãos contribuintes ou não. Estes, por não terem, em sua maioria, acesso ao ensino básico, nem ao saneamento, nem à saúde pública, não se podem habilitar a bons empregos, com remuneração condigna, e se mantêm na condição de “excluídos” da economia monetária, na pobreza ou mesmo na miséria. A implantação do socialismo não vai alterar essas causas. Vai mantê-las, distribuindo a pouca riqueza entre os militantes dos partidos socialistas então aboletados nos cargos públicos. As massas pobres continuarão iludidas por promessas vazias e seus integrantes se manterão como “proletários”.

Okamoto tenta defender Lula, mas acaba dando mancada

Já houve tempo em que a corrupção na política brasileira era investigada e discutida na casa dos milhares de reais, mas hoje só se fala em milhões e até bilhões de reais ou dólares, vejam como em poucos anos os políticos brasileiros evoluíram e se especializaram nessa arte de enriquecer ilicitamente fazendo uso dos recursos públicos. Em 2005, por exemplo, ainda no primeiro mandato do presidente Lula, a grande discussão se concentrava na modesta quantia de R$ 29 mil, que o chefe do governo havia tomado por empréstimo ao PT.

Segundo a prestação de contas do PT encaminhada ao Tribunal Superior Eleitoral, Lula tinha feito uma dívida com o partido por conta de “adiantamento a empregados” e “adiantamento a terceiros”. Na época, foi um escândalo, e o então presidente da República afirmou ter encarregado seu procurador, Paulo Okamotto, de explicar o pagamento do tal empréstimo.

Foi uma festa. Na época, Okamotto era presidente do Sebrae (Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas) e se enrolou todo ao dar as explicações. Informou que a dívida de Lula foi gerada por uma passagem emitida antes de 2002 à mulher dele, Marisa Letícia, para uma viagem à China, na qual ela acompanhou Lula, que então era presidente de honra do partido, além de incluir “adiantamentos em moeda estrangeira” para viagens de Lula a China, França, Portugal e Itália, e também “adiantamentos a funcionário que teriam ocorrido em 1997”, ou seja, oito anos antes, evidenciando uma confusão bancária digna de comédia.

Em nota divulgada à imprensa, Okamotto afirmou ter sido nomeado procurador em dezembro de 2002 exclusivamente para tratar da demissão de Lula do cargo de assessor do PT, mas acabou cuidando também da dívida, que teria sido paga em quatro parcelas, entre dezembro de 2003 e março de 2004. Apertado pelos jornalistas, inicialmente disse não poder comprovar com recibos ou outro documento ter entregado ao PT dinheiro próprio para quitar a dívida de R$ 29 mil de Lula. Depois, mudou a versão e afirmou que o partido “deve ter dado recibos”.

Por fim, declarou que, para pagar a dívida, fez saques de suas contas bancárias pessoais, em agências de Brasília, em datas não coincidentes com os pagamentos das parcelas. Não deixou claro como o dinheiro foi repassado a um funcionário do partido (sem pegar um recibo), no valor correto da parcela. Okamotto também não detalhou como o dinheiro foi enviado para São Paulo – onde os depósitos teriam ocorrido em quatro agências diferentes do Banco do Brasil.

“Eu estou em Brasília, eu ia ao caixa eletrônico e ia sacando”, disse Okamotto, que não sacava apenas no caixa eletrônico, segundo ele próprio admitiu.

Indagado sobre o motivo pelo qual usou dinheiro para quitar as parcelas, e não um simples cheque ou uma transferência bancária, Okamotto afirmou à Folha: “Tem que ser em espécie. Se eu faço em cheque, quem pagou foi Paulo Okamotto, não foi Lula. Ia lançar como na contabilidade?”.

Okamotto foi ficando cada vez mais confuso e disse que, além do dinheiro sacado de suas contas, ainda teria recorrido a US$ 3.500 “que sobraram dos gastos das viagens internacionais e que estavam em poder da Secretaria de Relações Internacionais do PT”.

Oito anos depois, agora na condição de presidente do Instituto Lula, Okamotto foi novamente encarregado de defender o amigo e deu entrevista tentando minimizar a proximidade entre Lula e o pecuarista José Carlos Bumlai, preso pela Polícia Federal.

“O Bumlai frequentava as festas e aniversários, mas não era ‘aquele’ amigo do Lula que todo mundo está falando”, afirmou Okamoto, que logo começou a se enrolar, ao dizer não acreditar que Bumlai tivesse passe livre no Palácio do Planalto. “Isso foi amplamente divulgado pela imprensa mas acho difícil de acreditar. Eu sou mais amigo do Lula do que o Bumlai e precisava me identificar toda vez que ia ao Palácio. Essa história não é crível”.

Caramba! Quer dizer que Okamotto desconhece que na portaria principal havia um aviso oficial de “Atendimento Específico”, com três fotos de Bumlai, permitindo a entrada dele no Palácio “em qualquer tempo e em qualquer circunstância”. Não sabe que o aviso foi fotografado pela Veja na época e desde então faz um sucesso enorme na internet. Desse jeito, como é que ele pretende defender Lula?

Segundo o repórter Ricardo Galhardo, do Estadão, depois da mancada Okamotto foi evasivo ao comentar se Bumlai estaria usando indevidamente o nome de Lula para fazer negócios. “Quem usa o quê? O jornalista usa a fonte. A polícia usa a testemunha. A pessoa que quer abrir portas usa o nome de uma pessoa importante”, tentou justificar.

Indagado se Lula é o alvo da PF, ele respondeu: “Acho que não. O que a PF está fazendo é investigar. É natural. Cada um sabe o que fez, mas a gente não sabe o que as outras pessoas fazem”, admitiu Okamotto, que no final da entrevista parece que já estava tirando o corpo fora, como se dizia antigamente.

Nada é para sempre

Nenhuma onda é definitiva. Mais dia, menos dia, todas elas passam, como acaba de descobrir a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Na América do Sul foi sempre assim. Tivemos a época dos grandes caudilhos – Getúlio e Peron, entre outros -, das ditaduras militares, da redemocratização e, por último, a onda do bolivarianismo nas suas variadas vertentes – chavismo, kirchnerismo e sua face mais moderada, o lulopetismo.

Uma onda que começou a bater nas pedras, entrar em refluxo, como já indicou a disputa presidencial brasileira do ano passado e confirma agora o resultado eleitoral da Argentina.


Cada caso é um caso, ou melhor, cada crise tem a sua própria história. Mas o esgotamento da atual fase do populismo na Argentina, Brasil e Venezuela tem um mesmo pano de fundo: o fim da bolha das commodities. Foram as exportações de bens primários que financiaram os modelos econômicos e políticos destes três países.

Como eles não aproveitaram o bom momento para trilhar o crescimento sustentado ruíram as próprias bases objetivas de uma via que se anunciava como salvacionista, mas que, ao final, aprofundou o atraso da América Latina.

O populismo - fórmula equivocada de responder à secular desigualdade social que a globalização não equacionou -, obviamente deixou de entregar a prosperidade prometida, muito menos criou condições para a emancipação social e a universalização dos direitos básicos do cidadão.

Ao contrário, ampliou a dependência das massas em relação ao Estado, criou currais e bolsões facilmente manipuláveis, muitas vezes por projetos autoritários, como aconteceu com maior agudez na Venezuela. Quando veio a crise econômica, a pobreza voltou com toda a força.

É sobre as costas dos pobres que hoje recai o fardo pesado da recessão, do desemprego, da inflação, da violência. Aqui, na Argentina ou na Venezuela.

A onda populista parece então estar perdendo seu charme. Mas seu fetiche dura a um bom tempo, embalado por um verniz ideológico de uma esquerda que sempre cultivou um anti-imperialismo pueril e viu-se órfã, de uma hora para a outra, de muitos de seus ideais, depois da queda do muro de Berlim, do fim da União Soviética e da virada da China. Parte desta esquerda, registre-se, mandou os princípios às favas e chafurdou-se na lama, ora em nome da causa, ora para usufruir benefícios pessoais.

Deixando o jurássico de lado é possível mirar no futuro. Felizmente a Argentina, com a eleição de Maurício Macri, dá sinais de que uma nova brisa pode soprar sobre “nuestra América”. Ela pode romper a camisa de força do Mercosul e permitir a superação do terceiro-mundismo que nos levou a ficar de costas para o mundo.

Vivemos o tempo das cadeias produtivas globais. Quem nelas não se integrar ficará para trás, perderá o bonde da história. O Chile, a Colômbia e o Peru entenderam muito bem a direção dos ventos e buscam sua integração em megablocos como o Transpacífico. Tão somente por aí se pode conquistar o verdadeiro crescimento, condição indispensável para a justiça social.

Neste novo tempo que se anuncia, o populismo não será apenas um anacronismo. Será uma aberração. Os argentinos parecem ter entendido isto, com seu recado das urnas. Quem sabe os venezuelanos não serão os próximos?

As ondas são assim. Vem e passam. Para o alívio da maioria dos brasileiros e dos demais sul-americanos, delas, nem o bolivarianismo escapa.

O começo do fim do bolivarianismo

A vitória de Macri na Argentina representa o começo do fim do bolivarianismo na América Latina. É um marco importante a oposição mais à direita ter derrotado o candidato kirchnerista, mesmo com todo o abuso da máquina estatal após tantos anos. Maduro cambaleia na Venezuela também, que já está mais perto de um regime ditatorial completo. No Brasil, o PT anda na corda bamba, lutando para evitar o impeachment de Dilma.

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Todos eles são chavistas na essência, uma mistura de caudilhismo populista com o “socialismo do século XXI”. Agem em conjunto, desde que decidiram fundar o Foro de SP no começo da década de 1990, para “resgatar na região o que havia se perdido no Leste Europeu” após a queda do Muro de Berlim. Quase conseguiram.

O êxito do avanço socialista no continente é inegável. Bolívia, Equador, Venezuela, Argentina, Brasil: todos dominados por partidos intervencionistas de extrema-esquerda, que foram asfixiando as liberdades individuais e estendendo os tentáculos do Leviatã estatal por todo lugar. Instituições republicanas foram cedendo espaço para o poder arbitrário do caudilho, visto como “messias salvador” e representante direto dos pobres.


Os petrodólares e a bonança produzida pelo cenário externo permitiram a fartura nos cofres públicos, viabilizando o populismo escancarado, a compra de votos disfarçada de “conquistas sociais”. Esmolas estatais insustentáveis seduziam dos mais pobres às elites, todos fazendo vista grossa aos abusos de poder e escândalos de corrupção, pois parte do mesmo sistema podre.


Mas o que era doce se acabou. O cenário externo piorou para os emergentes, o preço do petróleo caiu, e a irresponsabilidade fiscal desses governos perdulários cobrou seu preço. A inflação disparou, a atividade econômica despencou, o desemprego aumentou. E com ele a insatisfação popular, o cansaço dos que não aguentavam mais pagar a fatura e a revolta dos que perderam as mamatas. O véu populista caiu e expôs a carranca feia do socialismo que só sabe dividir, jamais criar riquezas.


A imprensa fora controlada quase toda nesses países, mas o pouco que restou independente foi capaz de mostrar os escândalos infindáveis de corrupção e as mazelas econômicas e sociais que os governantes tentavam esconder. Culpar sempre fantasmas estrangeiros, como o capitalismo, ficava simplesmente ridículo na era das redes sociais. Mesmo os mais ignorantes percebiam que os socialistas tentavam apenas criar bodes expiatórios para seus próprios erros.

A comparação com os países que não mergulharam no mesmo modelo esquerdista era inevitável e também esfregava na cara de pau dos bolivarianos suas mentiras. Os países da Aliança do Pacífico avançavam com mais crescimento, menos inflação e estabilidade social, enquanto os membros do fracassado Mercosul afundavam na lama vermelha. Não se tratava de uma conspiração da CIA, dos judeus ou americanos capitalistas, e sim de uma desgraça causada pelo esquerdismo mesmo.
Os desmandos autoritários dos governantes, os escândalos de corrupção, o fracasso econômico, tudo isso serviu para arranhar bastante a imagem da esquerda populista na região, permitindo o crescimento espontâneo de movimentos populares liberais. O discurso em prol dos mais pobres conquistava apenas uma minoria muito ignorante, e tinha a adesão dos artistas engajados e “intelectuais” com ódio patológico do capitalismo liberal.

A mobilização foi grande, unindo pessoas de vertentes ideológicas diferentes, que perceberam a necessidade urgente de se resgatar uma República democrática. Sempre haverá terreno fértil para populistas com mensagens igualitárias na América Latina, onde ainda existe muita ignorância e miséria. Mas surgia a oportunidade para uma reação, uma vez que o fracasso socialista ficara evidente demais para ser ignorado.


É nesse contexto que devemos celebrar a vitória de Macri, e encará-la como apenas um primeiro passo rumo à reconstrução latino-americana. Ainda não é o candidato ideal, mas a prioridade é interromper o avanço socialista. Ele vai enfrentar uma pedreira e descascar um enorme abacaxi, pois o legado socialista é sempre um rastro de destruição. Mas quanto antes se começar a remar na direção certa, melhor.


No Brasil, ainda precisamos nos livrar do PT, o representante chavista no poder. Não será fácil e se engana quem já decreta sua morte. Não podemos jamais subestimar o inimigo. Mas raiou um feixe de luz e esperança: se nossos hermanos conseguiram colocar Kirchner para correr, então também podemos dar um pé na bunda do lulopetismo.

O Brasil estuporado

Fora da porta da cadeia, o Brasil parou. Das elites políticas e econômicas ao povo, o país vive em estado de estupor. Quem tem poder parece insensível à degradação; "a rua" parece incapaz de reações. O imobilismo encomenda para 2016 uma crise tão grande como a de 2015, provavelmente maior no que diz respeito ao desemprego e aos salários.

Estamos à espera do quê? De revolta? Ou vamos deslizar calados para um oceano de desgraça, tal como a lama da mineradora, aquela tristeza revoltante que escorreu do rio para o mar, sem que se fizessem muito mais do que muxoxos, além das indignações particulares?

Catastrofes

Ontem soubemos de mais degradação do trabalho, pela nova pesquisa do IBGE, a Pnad Contínua. Pelos indícios, 2016 será pior. Nem seria razoável esperar que viesse a ser diferente, pois o mercado de trabalho reage com defasagem a outras pioras da economia. Mas as elites governantes não demonstram nem preocupação de atenuar o drama.

O número de pessoas empregadas na melhor das hipóteses deverá ficar estagnado em 2015. No trimestre encerrado em setembro, era 0,2% menor que no período equivalente do ano passado. Como a Pnad Contínua é recente, com dados desde 2012, não é possível fazer comparações com outros períodos de desgraça. Uma pesquisa algo similar, a Pnad anual, mostra que não houve regressão do número de ocupados pelo menos desde 2001, ao contrário (não é preciso lembrar que houve crise ruim até 2003).

A mesma Pnad anual mostra que o salário médio cresceu em média 4,5% de 2005 a 2013, os "anos dourados" dos governos petistas nesse quesito. Pela Pnad Contínua, o salário médio ainda cresceu 3,3% em 2013, 1,1% em 2014 e por ora está estagnado em 2015.

O número de pessoas que procura trabalho mas não encontra cresceu mais de 33%, na média nacional. Nos maiores Estados, onde vivem 80% dos brasileiros, a população desempregada cresce entre 20% e 50%, grave mesmo em regiões onde a crise ainda é menos forte.

Mais gente procura trabalho por causa de baixas de salário ou desemprego na família: a inflação come os rendimentos, os empregos novos pagam menos. O desemprego cresce mais entre os mais jovens, vários à margem do mercado de trabalho quando os dias eram melhores. Entre os jovens adultos (18 a 24 anos), a taxa de desemprego passou de 14% em 2014 para quase 20% neste ano.

Não há sinais de esperança. A crise é mais acelerada nas regiões metropolitanas maiores e no Sudeste, que dominam a economia e devem arrastar o restante do país. Se por mais não fosse, o tamanho da produção no ano (do PIB) que vem vai diminuir de novo em 2016.

O trabalho se torna mais precário (mais gente faz bicos). A taxa nacional de desemprego subiu de 6,8% em 2014 para 8,9% neste ano. Esta é a média. Em Salvador, o desemprego, habitualmente mais alto, já foi a mais de 16%. A taxa média nacional deve chegar a 10% em 2016, segundo estimativas de economistas mais ponderados e certeiros.

Pode ser pior: não há governo, não há decisão do Congresso, não há propriamente política econômica e a elite política prepara-se para tirar férias e voltar a sua guerrinha particular sórdida depois do Carnaval.

Dona Dilma e a barragem de São Marcos

Contando, ninguém acredita que a presidente da República, que se diz mineira quando convém, diante da maior catástrofe do gênero no mundo, provocada pelo rompimento de barragem da Samarco, tenha vindo a BH para lamentar o desastre da São Marcos. Penso que dona Dilma não bate bem, não é de hoje...


Também, pudera: em tempo e lugar algum, bananeira deu laranja. Dilma é o mais legítimo produto do meio que a elegeu, o mesmo meio que gerou coisas como o ex-Luiz, que, com oratória de bêbado, exige que os detentos do PT, os guerreiros do povo brasileiro – Vaccari, Delúbio, Genoíno, João Paulo Cunha e Zé Dirceu – sejam soltos e enaltecidos por terem sido presos sem prova alguma.

Recebi um vídeo desse artista de circo mambembe, no qual ele, à época do seu único mandato de deputado federal, com aquela voz rouca que parece vir das entranhas, diz para uma plateia atônita, num programa do Sílvio Santos, que seu objetivo, quando tivesse condição, seria colocar na cadeia alguns ladrões que enumera e também um indivíduo que, naquele tempo, “clinicava” no mundo financeiro, de nome Nagi Nahas. Sua vontade, revelada em alto e bom som, era esfregar a cara do tal cidadão.

Nisso, uma mulher da plateia se levanta e pergunta quanto ele ganhava antes e quanto passou a receber como deputado. O auditório fez silêncio para ouvi-lo: “Eu, como todo mundo sabe, sou torneiro mecânico de profissão. Ganhava em torno de 1.600 cruzeiros. Agora, como deputado, ganho 15 mil ou 16 mil cruzeiros”. E esclareceu: “Mas não fico com todo esse dinheiro, não. Não posso e não devo revelar para não parecer demagogia, mas, em particular, se você quiser, direi ao Silvio e ele revelará para você quem é o beneficiário ou os beneficiários que escolhi para partilhar”.

E ficou por isso. Entrou por uma perna e saiu pela outra. Neste mundo de meu Deus, tudo tem limites, inclusive o cinismo...

Mudando de pau pra cavaco, afirmei, há algum tempo, sem nunca ter ouvido falar no deputado Eduardo Cunha, que acabara de ser eleito presidente da Câmara contra o esquema do governo, que ele seria transformado em protagonista da política nacional, para desviar o assunto da cassação de Dona Dilma e da prisão, por excesso de reza, do ex-Luiz. E o que está acontecendo? O Cunha, como popularizado, será cassado, morto e esfarinhado por ter mentido. Bem, mentir é feio e desonesto, concordo. Mas existe aí um monte de poréns: o ex-Luiz não confessou de público que o PT mentiu para eleger Dona Dilma? Não divulgou que o governo obedeceria a tal programa assim, assim, e, após a posse, a presidente fez justamente o contrário?

Essa porcariada que está a nos sufocar a todos é consequência da roubalheira e da falta de tudo dos governos do PT, que garante sua existência com bolsas, cotas e coisas tipo Minha Casa, Minha Vida, como quem diz “pra quem é, bacalhau basta”. Então, tá...

Sylo Costa

Marxismo cultural, a jihad vermelha

A atração da peça, por falta de coisa melhor a apresentar, é proporcionada pela nudez dos atores, dedicados a entreveros e diversidades... Eles giram pelo palco, se enroscam e desenroscam, se movimentam em círculos e chegam ao clímax: o círculo se fecha e os "atores", uns nos outros, metem o dedo exatamente lá onde você está pensando. E esse "lá" é o sentido de todas as cenas. A mais recente apresentação do dito espetáculo ocorreu na 17ª Mostra Sesc Cariri Culturas, em Juazeiro do Norte, no último dia 18.


A apresentação contou com patrocínio do Sesc, que recebe recursos do governo federal, que se lambuza com os frutos do suor do nosso rosto. Chamado às falas, o Sesc cearense informou que a peça, em virtude de seu conteúdo sexual, foi interditada para menores. Pela linguagem da manifestação se pode identificar a ideologia de quem aprovou e promoveu o evento. A nota oficial - veja só, leitor - informa que o entidade tem como seu dever o incentivo ao "fazer artístico, respeitando a pluralidade e a formação crítica e autônoma do ser”. Fazer cultural, formação crítica e autonomia do ser, aplicados a Macaquinhos, valem por assinatura da jihad cultural vermelha que assola o país.

Há mais informações no jornal A Tribuna do Ceará. Recomendo a leitura da matéria com imagem para saber até onde vai o deboche. Também vale buscar alguns registros no Google sobre a apresentação da peça durante o Festival Mix Brasil, ao custo de R$ 1,00, no centro municipal de cultura de São Paulo, em 2011, gestão Haddad.

A ostentação pública do despudor, a vulgarização do humano, a tentativa de tomar os valores pelo avesso e a estratégia que transforma aberrações em atos de exaltação da liberdade, estão a serviço de uma causa: destruição das barreiras que esses valores ainda antepõem à penetração do movimento comunista internacional no Ocidente. É o humanismo desumano do materialismo e do relativismo. Eles podem existir por si mesmos, claro. No entanto, quando se transformam em "causa" e ocupam espaços públicos, é porque estão alinhados com algum objetivo político, com algum projeto de poder.

Não é apenas o terrorismo islâmico que pretende destruir o Ocidente. Também o marxismo cultural tem sua jihad. O fato de que ela, politicamente, vá noutra direção, não lhe reduz a periculosidade. Afinal, seu longo braço, em nome do "fazer cultural", não poupa nem a terra do Padre Cícero.

Percival Puggina

Fábula dos dois leões

Diz que eram dois leões que fugiram do Jardim Zoológico. Na hora da fuga cada um tomou um rumo, para despistar os perseguidores. Um dos leões foi para as matas da Tijuca e outro foi para o centro da cidade. Procuraram os leões de todo jeito mas ninguém encontrou. Tinham sumido, que nem o leite.

Vai daí, depois de uma semana, para surpresa geral, o leão que voltou foi justamente o que fugira para as matas da Tijuca. Voltou magro, faminto e alquebrado. Foi preciso pedir a um deputado do PTB que arranjasse vaga para ele no Jardim Zoológico outra vez, porque ninguém via vantagem em reintegrar um leão tão carcomido assim. E, como deputado do PTB arranja sempre colocação para quem não interessa colocar, o leão foi reconduzido à sua jaula.

Passaram-se oito meses e ninguém mais se lembrava do leão que fugira para o centro da cidade quando, lá um dia, o bruto foi recapturado. Voltou para o Jardim Zoológico gordo, sadio, vendendo saúde. Apresentava aquele ar próspero do Augusto Frederico Schmidt que, para certas coisas, também é leão.

Mal ficaram juntos de novo, o leão que fugira para as florestas da Tijuca disse pro coleguinha: – Puxa, rapaz, como é que você conseguiu ficar na cidade esse tempo todo e ainda voltar com essa saúde? Eu, que fugi para as matas da Tijuca, tive que pedir arreglo, porque quase não encontrava o que comer, como é então que você… vá, diz como foi.

O outro leão então explicou: – Eu meti os peitos e fui me esconder numa repartição pública. Cada dia eu comia um funcionário e ninguém dava por falta dele.

– E por que voltou pra cá? Tinham acabado os funcionários?

– Nada disso. O que não acaba no Brasil é funcionário público. É que eu cometi um erro gravíssimo. Comi o diretor, idem um chefe de seção, funcionários diversos, ninguém dava por falta. No dia em que eu comi o cara que servia o cafezinho… me apanharam.
Sérgio Porto (Stanislaw Ponte Preta)

A presidente é Dilma mas quem governa é Lula

É coisa sabida há muito tempo que o Brasil, depois de todos os tipos de experiência, vive agora um novo modelo de organização política – a República sem presidente. No Diário Oficial, o cargo é atribuído à cidadã Dilma Rousseff, que vai a assembleias-gerais da ONU, por exemplo, ou a outros eventos sociais em que é requerida a presença de algum tipo de presidente da República, mas no mundo dos fatos concretos ela não preside nada há mais de um ano, pelo menos.

Deixou de exercer as funções de chefe do governo e da nação em algum momento de sua inesquecível campanha eleitoral de 2014, quando reduziu a Presidência a uma operação de marketing destinada unicamente à sua própria reeleição — junto com isso, usou sem a menor cerimônia o Tesouro Nacional para ganhar votos e terceirizou o governo para todos os diabos que lhe financiaram os 300 milhões de reais gastos em sua campanha. Depois de empossada no segundo mandato, e preocupada apenas em não ser deposta, nunca chegou de fato a governar; até hoje ninguém sabe o que Dilma quer, nem ouviu dela nada que pudesse ser chamado de “ideia”. De uns tempos para cá, enfim, deixou caracterizado o abandono de cargo — hoje não é ela quem demite e nomeia sequer os próprios ministros. “Fora Dilma”? Ela já foi. Ainda está lá de corpo presente, mas não está. Quem está é o ex-presidente Lula.

Um dos primeiros resultados desta situação já é bem visível para o público em geral: é nele, Lula, que vale a pena prestar atenção quando se pensa em governo no presente momento. Não resolve tudo sozinho, claro, mesmo porque ninguém resolve, e não pode resolver tudo como quer, mas não há nenhuma outra força maior do que a sua neste infeliz segundo mandato de Dilma Rousseff; é pura perda de tempo, no fundo, ficar procurando razões junto a uma presidente cujo impeachment já foi virtualmente aplicado por seu criador. Tudo bem, mas acompanhar os movimentos de Lula não parece estar sendo muito útil para se ver a situação com mais clareza, a começar pela economia. O que o ex-presidente pretende fazer? O mais provável é que nem ele saiba direito — ou melhor, até sabe o que quer, mas em termos concretos ainda não sabe como chegar lá.

Lula (e mais um monte de gente) tem certeza de que não dá para ficar olhando passivamente uma recessão de 3% ao ano, como está acontecendo em 2015 — um desastre de tamanho inédito que não pode ser aceito para 2016, 2017 e sabe-se lá quanto tempo mais. Não pode ser aceito, sobretudo, pelo próprio Lula. Seria um veneno provavelmente fatal para o projeto mais importante, talvez o único, que tem: voltar à Presidência da República nas eleições de 2018, pois está convencido de que nem ele, nem o PT conseguirão sobreviver politicamente fora da máquina do governo. Seu retorno ao Palácio do Planalto seria também o atalho mais eficaz, aparentemente, para ele se livrar de sua atual coleção de problemas potenciais perante a Justiça Penal. Assim estamos, portanto: a economia tem de se recuperar com urgência, pois com recessão não existe Lula em 2018.

A complicação é de bom tamanho, pois as estratégias do ex-presidente para reagir às calamidades fabricadas por sua criatura não inspiram maior confiança, pelo menos até agora. Lula parece acreditar que, demitindo o ministro Joaquim Levy e colocando algum outro em seu lugar (tem se falado muito em seu velho parceiro Henrique Meirelles), o grosso do problema vai embora. Imagina, também, que o governo pode liquidar a recessão assinando medidas administrativas — menos juro, mais crédito, menos competição, mais favores a empresas que prometem “empregos”, menos saneamento fiscal, mais gasto público, mais dívida, mais imposto. Acha que resultados duvidosos do passado são garantia de sucesso futuro — e continua convencido de que, no fundo, tudo se resolve com “comunicação” e “imagem”.

Sai Dilma e entra Lula, pelo que se vê — mas, na prática, o que isso pode resolver? Vai ser preciso combinar com a realidade, e aí sempre fica difícil.
J. R. Guzzo

A greve geral como solução para o desemprego

O desemprego, na realidade, já chegou aos dois dígitos. Mais ainda: anda em torno dos 15%, apesar de os números do governo teimarem em ficar nos 8%. A pergunta vai para a presidente Dilma, não como responsável única pelo descalabro, mas porque insistiu em recandidatar-se, ganhou, e agora não sabe o que fazer. Mas há outros culpados, a começar pelo empresariado, cuja primeira reação diante de queda no faturamento é mandar embora parte de sua força de trabalho. Em vez de aumentar a produtividade, usar a imaginação para buscar novos negócios, aceitar redução temporária nos lucros e abrir mão de vantagens pessoais, os donos do capital optam pelo caminho mais fácil: demitir. Os demitidos que se arrumem.

Megasena acumulada 2015 200 milhoes emprego B

Já os detentores do poder político se omitem, deixando de procurar alternativas como a abertura de frentes públicas de trabalho. Aumentam impostos, estendendo-os a todos, sem selecionar os que podem e os que não podem pagar. Pelo contrário, o sacrifício é maior para os menos favorecidos, impossibilitados de financiar mecanismos para reduzir a carga sobre seus ombros.

É para esse nó que deveriam estar voltados governo e empresários, mas deles nada deve ser esperado a frio.

Sendo assim... Sendo assim, sobra o trabalhador, para solucionar seus próprios problemas. Torna-se necessária a união do desempregado de hoje e o de amanhã. Adianta pouco argumentar com eleições para mudar a equação, dada a incapacidade dos eleitos, quaisquer que sejam. Muito menos imaginar que pela educação as coisas venham a ser diferentes. Se a fórmula fosse eficaz, e não é, levaria tempo para produzir efeito, quando na realidade o desemprego precisa ser combatido já. Ontem, se fosse possível.

Então, resta apenas uma saída, por mais amarga que venha a ser: a reação dos que ainda mantém seus empregos com os desem pregados, através da greve geral. A paralisação do trabalho em todas as suas atividades. O alerta, transformado em ameaça, levaria governo e empresários ao raciocínio de que, sem mudanças, também eles serão levados de roldão para as profundezas. Só assim o poder político e o poder econômico adotariam as reformas tanto de ação quanto de mentalidade.

Com o país parado, mesmo a contragosto, os esforços se somariam e as soluções apareceriam.

Peruano processa empresa alemã por degelo nos Andes

Um pequeno agricultor peruano entrou nesta terça-feira com uma ação contra a empresa alemã de energia RWE no tribunal da cidade de Essen. Saúl Luciano Lliuya afirmou ser vítima dos efeitos das mudanças climáticas na região onde vive e pede uma reparação da empresa alemã, considerada uma das maiores emissoras de gases poluentes da Europa.

O agricultor disse que não esperava que sua causa fosse chegar tão longe quando entrou em contato com a ONG alemã Germanwatch durante a Conferência do Clima da ONU (COP20) em dezembro de 2014, em Lima. "Não esperava tanta repercussão, mas as mudanças climáticas interessam a todos", declarou.

O agricultor e guia de montanha vive e trabalha em Huaraz, uma cidade cerca de 450 quilômetros ao norte de Lima e localizada na Cordilheira Branca, no norte dos Andes peruanos.

Depois de ver com seus próprios olhos como o volume do lago glacial de Palcacocha aumenta gradualmente por causa do degelo, e preocupado com as consequências trágicas – como inundações – que o transbordamento ou rompimento da barragem poderiam acarretar para sua cidade, Lliuya decidiu pedir ajuda para a ONG especializada em mudanças climáticas.

Lago  Palcacocha
"Todos os anos eu subo [nas montanhas] Alpamayo, Chupicalqui e Huascarán e vejo que o degelo está cada vez mais preocupante, razão pela qual me atrevo a entrar com a ação. É algo injusto: os que menos poluem são os mais afetados pela mudanças climáticas", afirmou Lliuya.

Depois de analisar quais são as 50 empresas que mais poluem em nível mundial, a ONG alemã aconselhou Lliuya a apresentar uma ação individual contra a RWE para obter fundos para a construção de um dique que possa prevenir uma possível inundação da cidade e garantir a segurança dos turistas europeus e americanos que visitam a região caso haja o colapso da represa do lago de Palcacocha.

De acordo com a Germanwatch, tendo em conta que a RWE é a principal emissora de CO2 em nível europeu e responsável por 0,5% das emissões em nível mundial desde o início da Revolução Industrial – segundo um estudo publicado em 2014 –, ela teria que disponibilizar cerca de 17 mil dos 3,5 milhões de euros que deveriam ser investidos para evitar o possível colapso do lago glacial. Um valor simbólico, mas que, segundo a ONG, "seria um primeiro passo importante para a causa".

Injustiça social


Para a concepção crítica, o analfabetismo nem é uma ‘chaga’, nem uma ‘erva daninha’ a ser erradicada (...), mas uma das expressões concretas de uma realidade social injusta
Paulo Freire

Valor anual por aluno no Brasil está entre os cinco piores

Apesar de o Brasil ter investido 17,2% de todo o orçamento de 2012 apenas em educação, porcentagem muito superior a da Noruega (14%) e a do Canadá (12%), a desigualdade dentro deste investimento pesa. O Brasil assume as últimas posições quando o assunto é valor investido anualmente por aluno. Enquanto a média dos 34 países que compõem a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é de US$ 9.317 (R$ 34.619), o valor investido no estudante da rede pública brasileira, do ensino básico ao superior, é de US$ 3.441 (R$ 12.785).

Os dados fazem parte do relatório Education at a glance 2015, elaborado pela entidade para avaliar diversos aspectos da educação no mundo entre países da OCDE e parceiros. A pesquisa, divulgada nesta terça-feira, 24, apresenta os valores de investimento em dólar americano convertido pela metodologia de paridade do poder de compra. Ou seja, as moedas são equalizadas via poder aquisitivo e não pela taxa de câmbio.

O ranking de investimento anual por aluno é liderado por Luxemburgo (US$ 21.998), Suíça (US$ 15.859), Noruega (US$ 15.393), Áustria (US$ 13.297) e Bélgica (US$ 12.936). O Brasil entra na lista dos cinco piores países: Brasil (US$3.441), México (US$3.233), Turquia (US$3.072), Colômbia (US$2.898) e Indonésia (US$1809). Os dois últimos, assim como o Brasil, não são membros da OCDE, mas parceiros.

“O Brasil ainda tem uma demanda educacional enorme, precisamos incluir muita gente. O que significa que, se incluir mais alunos sem aumentar o investimento em relação ao PIB, o custo por estudante vai diminuir. Por isso, a luta pelos 10% do PIB para educação é importante, para que tenhamos um investimento que garanta padrão mínimo de qualidade”, diz o coordenador-geral da Campanha Nacional pelo Direito à Educação, Daniel Cara. “Mesmo se resolvêssemos os problemas de gestão, o investimento por aluno que temos hoje não garante a educação. E, com a corrupção, isso é pior ainda.”

No entanto, para o presidente do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Tixeira (Inep), Chico Soares, o Brasil está melhorando. “É impossível pegarmos um dado e levá-lo para o primeiro mundo. Não posso querer gastar na educação o mesmo que a Áustria gasta. E a saúde, o saneamento, o transporte, a segurança? Estamos gastando um terço [da média dos países da OCDE] porque isso corresponde à nossa situação. Em termos de esforço, estamos avançando.”

Além disso, o relatório ressalta uma desigualdade na aplicação do dinheiro. O ensino superior brasileiro recebe 3,4 vezes mais recursos que os anos iniciais do ensino fundamental.

Enquanto a média de remuneração anual de professores em início de carreira de países da OCDE é de US$29,8 mil (R$ 110,8 mil), o valor pago a este mesmo docente no Brasil é de US$12 mil (R$44.588). 
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