quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Nada é para sempre

Nenhuma onda é definitiva. Mais dia, menos dia, todas elas passam, como acaba de descobrir a presidente da Argentina, Cristina Kirchner. Na América do Sul foi sempre assim. Tivemos a época dos grandes caudilhos – Getúlio e Peron, entre outros -, das ditaduras militares, da redemocratização e, por último, a onda do bolivarianismo nas suas variadas vertentes – chavismo, kirchnerismo e sua face mais moderada, o lulopetismo.

Uma onda que começou a bater nas pedras, entrar em refluxo, como já indicou a disputa presidencial brasileira do ano passado e confirma agora o resultado eleitoral da Argentina.


Cada caso é um caso, ou melhor, cada crise tem a sua própria história. Mas o esgotamento da atual fase do populismo na Argentina, Brasil e Venezuela tem um mesmo pano de fundo: o fim da bolha das commodities. Foram as exportações de bens primários que financiaram os modelos econômicos e políticos destes três países.

Como eles não aproveitaram o bom momento para trilhar o crescimento sustentado ruíram as próprias bases objetivas de uma via que se anunciava como salvacionista, mas que, ao final, aprofundou o atraso da América Latina.

O populismo - fórmula equivocada de responder à secular desigualdade social que a globalização não equacionou -, obviamente deixou de entregar a prosperidade prometida, muito menos criou condições para a emancipação social e a universalização dos direitos básicos do cidadão.

Ao contrário, ampliou a dependência das massas em relação ao Estado, criou currais e bolsões facilmente manipuláveis, muitas vezes por projetos autoritários, como aconteceu com maior agudez na Venezuela. Quando veio a crise econômica, a pobreza voltou com toda a força.

É sobre as costas dos pobres que hoje recai o fardo pesado da recessão, do desemprego, da inflação, da violência. Aqui, na Argentina ou na Venezuela.

A onda populista parece então estar perdendo seu charme. Mas seu fetiche dura a um bom tempo, embalado por um verniz ideológico de uma esquerda que sempre cultivou um anti-imperialismo pueril e viu-se órfã, de uma hora para a outra, de muitos de seus ideais, depois da queda do muro de Berlim, do fim da União Soviética e da virada da China. Parte desta esquerda, registre-se, mandou os princípios às favas e chafurdou-se na lama, ora em nome da causa, ora para usufruir benefícios pessoais.

Deixando o jurássico de lado é possível mirar no futuro. Felizmente a Argentina, com a eleição de Maurício Macri, dá sinais de que uma nova brisa pode soprar sobre “nuestra América”. Ela pode romper a camisa de força do Mercosul e permitir a superação do terceiro-mundismo que nos levou a ficar de costas para o mundo.

Vivemos o tempo das cadeias produtivas globais. Quem nelas não se integrar ficará para trás, perderá o bonde da história. O Chile, a Colômbia e o Peru entenderam muito bem a direção dos ventos e buscam sua integração em megablocos como o Transpacífico. Tão somente por aí se pode conquistar o verdadeiro crescimento, condição indispensável para a justiça social.

Neste novo tempo que se anuncia, o populismo não será apenas um anacronismo. Será uma aberração. Os argentinos parecem ter entendido isto, com seu recado das urnas. Quem sabe os venezuelanos não serão os próximos?

As ondas são assim. Vem e passam. Para o alívio da maioria dos brasileiros e dos demais sul-americanos, delas, nem o bolivarianismo escapa.

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