segunda-feira, 2 de outubro de 2017

A falsidade de um êxito

O Brasil quer se salvar sem raciocinar, como um aglomerado de náufragos. Uma sequência interminável de festas deu errado e fez regredir nossa moralidade. A honra do líder se concentrou na luxúria certo de que causa justa limpa dinheiro sujo. A polêmica não se dissipa porque ainda é observada do lugar de onde vem a ilusão.

O povo sucumbiu à irrealidade, fustigado por líderes determinados a varrer do chão a racionalidade das realizações e a liberdade de escolha. Outros poderes embarcaram na onda dos arranjos e a insolência de mando se espalhou. Explorar o sentimento popular, através da serpente sagrada da política, tornou-se insuficiente. Era preciso ir além, prender o cidadão no contorno moral do período. Introduzir uma guerra civil no coração das pessoas. Insinuar que idolatria é bom. E liberar cada um para fazer o que bem entender.


O motor de tudo é o falso êxito do passado próximo. E o desejo de ser gado. Percebido o desatino, houve uma fuga em direção a dogmas, fé cega em tudo o que é falado, lido, escutado. O mundo medieval da escritura, superstição, domina. Espíritos insalubres vagueiam pelo ar como amuletos, cão sem cabeça, perigos invisíveis. Por conta de litígios viraram autoridades sem mérito. Fizeram da Constituição uma superstição jurídica. Inaptos para a moralidade coletiva se autorizaram receber acima do que manda a lei. Está profunda a cisão da consciência.

Fora de moda vamos cuspindo na credencial civilizatória. Renda, indenização, dinheiro não são os principais sinais do êxito humano. A autoridade que ordena bondade, tempero pessoal imposto ao paladar do negligenciado, vê o Estado como sua cozinha e a sociedade depósito de restos.

Isolada na mente de dois autoritários, a dinastia popular — um rei, uma regicida — improvisou a honra e impôs uma visão de justiça. A farsa fingiu amparar o pobre sem soerguer a economia. Ficaram visíveis demais nos que nomearam, entupiram o país dos que falam pelo cotovelo. O Ministério Público inventa crime, como o gato toma leite. Faça crime, contrate procurador!, deu no que deu.

O Supremo, agravado pelo problema relacional entre seus membros, reduziu a lei a uma série de astúcias. Confunde o justo com o legal, inadequados moralistas cavam a alma da nação. A inocência que é seguir a lei segue ultrajada pela consciência de se achar melhor do que ela. Tudo está prefixado: pontificar, ou saldar dívida, predispõe um juiz a falsidade.

Qual o significado de vivermos um tempo tão fechado à razão, de tanta inconsciência? Se o Brasil quiser interromper essa viagem segura que faz em direção ao caos, precisa mirar o abismo e decidir não pular.

Olho no mentiroso que encarna a contradição e se irrita com aliado que aponta seu erro. Atenção aos “cheios do gesto, no fundo só fazem é servir a si próprio”. Corra da identidade fraturada do furioso e seus indícios. Não há emissário de anjo: o boato quer circular, não precisa “credibilidade” de pesquisa.

Perca tempo com os capazes de reflexão, alguma modéstia, ceticismo metódico e cujo corpo não esteja inteiramente dedicado a ser fotografado. Da dúvida surgirá a decisão. O verdadeiro êxito ainda não tem rosto.

Paulo Delgado

Normal tropical

Li nas manchetes que voltou tudo ao normal. Abusando de otimismo auto imposto, o corpo da matéria se esforçava para dar a notícia ares de otimismo escorado, naturalmente, em desejo sem a devida contrapartida dos fatos. Tarefa difícil.

Ficou a dúvida sobre o que exatamente o que significa, neste dia e era, estar em situação normal. O que realmente muda? Voltar ao normal é sinal de alguma melhora? Acabou a crise? Ficou mais seguro? Melhorou, enfim?


Nada disso as notícias que chegam parecem responder. Ou mesmo tentar responder. O normal não parece ser mais situação desejada, equilibrada, de onde não se quer sair. Ao contrário, o virou aceitar o inaceitável. E levar a vida pensando que é assim mesmo. Será que alguém ainda acha que as coisas melhoraram?

Depois de tantos anos de sofrimento e mediocridade, a gente já não espera mais nada além da administração do sofrimento em doses intensas, mas toleráveis. Viver e sobreviver parecem cada vez mais serem sinônimos. Ainda existe vida além de fugir de bala perdida, pagar as contas do mês, e sustentar governo com impostos altos e mal distribuídos?

Depois de tantos rios de tinta, pixels e debates, a gente não consegue mesmo trazer um presente descente. Nem produzir a expectativa de melhora. Tudo o que conseguimos é projetar opções futuras dominadas por pesadelos passados. Desistimos de fabricar sonhos. Mastigar indignidades é mais amargo, mas é tudo o que nos restou. Alguém vê o fim do túnel?

Va lá que existe crise, interesses, complicações, e tudo o mais. Mas nosso buraco foi invenção doméstica. Tao bem bolada que dá até medo de declarar a chegada ao fundo do poço. Vai que aguem se anima e começa a cavar. É muito provável.

Desvia de bala aqui. Toma ônibus lotado lá. Sufoca no transito sempre. E corre atrás para pagar as contas. Suas e dos outros. Sem jamais ver o fim da crise. Ou mesmo esperar que ela termine. Eternamente repetindo a história como farsa. Sem nem mais notar a tragédia. É esse o normal tropical.

Paisagem brasileira

Praia do Cardeiro, Gostoso/RN. Foto por: galeradomar.blogspot.com
Praia do Cardeiro, em São José do Gostoso (RN)

Traição

A carta de Antônio Palocci ao PT, apresentando a sua desfiliação, e a reação dos líderes partidários, acusando-o de “mentiroso” e “traidor”, expõem um certo modo de fazer política que se aparenta ao crime, subvertendo completamente o significado mesmo da moralidade. O avesso da tão anunciada política petista de renovação nacional nada mais foi do que uma demonstração de uma política criminosa. As palavras vieram a perder o seu significado.

Quem é o traidor? Aquele que fala a verdade e confessa os seus crimes? Aquele que rompe a lei do silêncio, não mais seguindo o valor mafioso da “omertà”? Mais vale a coerência com os princípios partidários ou o seu total abandono? É a traição dos princípios?


Um dos maiores ganhos apresentados pelo PT ao País foi o de ter sido criado como um partido munido de um corpo doutrinário que obedecia a alguns princípios básicos, como a luta pela igualdade, a redistribuição de renda e a ética na política. Mostrava também uma feição bolchevique em sua organização partidária que fazia par com os ares mais abertos subsequentes à queda do Muro de Berlim. Tal aspecto foi, porém, relegado pela opinião pública, ávida por mudança. O espírito leninista foi mitigado pela recuperação, embora tímida, de traços social-democratas.

Acontece que o partido terminou por adotar uma outra via, que não era a propriamente revolucionária nem a social-democrata, com aspectos de ambas, porém estando presentes disposições como a relativização do direito de propriedade via invasões dos ditos movimentos sociais e políticas distributivistas que ampliaram as criadas pelo governo social-democrata anterior. O caminho finalmente adotado foi o de cooptação do Estado à maneira de uma organização criminosa, voltada tanto para o enriquecimento pessoal quanto para o fortalecimento das finanças partidárias. Os princípios foram efetivamente traídos!

Como podem, portanto, os líderes petistas acusar Antônio Palocci de traição? Qual é a perspectiva? Por ter desnudado outra traição, a da máquina partidária em relação aos seus próprios princípios? Palocci está sendo acusado de não ser fiel ao partido! Mas o partido foi fiel a si mesmo?

A moralidade, outrora princípio partidário, tornou-se mero instrumento de manipulação, perdeu totalmente sua universalidade. Foi utilizada, retoricamente, para uso dos incautos. Um ex-presidente, já réu e denunciado em vários processos, com provas abundantes contra ele, utiliza o artifício demagógico de se apresentar como o homem mais honesto do País. O que fazem os seus companheiros, na verdade, seus cúmplices? Não coram e o apoiam! Um caro valor partidário foi completamente abandonado em nome da preservação da organização partidária, que surge como valor maior.

O PT revela, nesse episódio, toda uma estrutura partidária de cunho leninista, para não dizer stalinista. O coletivo afirma-se acima de todos os seus membros, cabendo a estes a mera obediência. Não importam o corpo doutrinário, os princípios e os valores, mas o ato de se curvar às diretrizes partidárias. Se o partido praticou crimes, a ordem é: esqueçam e o defendam acima de tudo. Se o partido se desviou de seus princípios, esqueçam e obedeçam-lhe. O partido não é lugar de pensamento e crítica, mas de servidão aos seus dirigentes e ao seu líder maior, Lula.

Note-se que foi aberto um procedimento de natureza “ética” em relação ao ex-ministro. Em vez de a ética significar coerência com valores de natureza universal, em vez de significar a retidão no comportamento pessoal, ela ganha toda uma outra conotação, a da submissão a um comitê partidário cuja função seria apenas determinar a sua punição por não ter seguido a lei do silêncio. A pena seria provavelmente a expulsão. No tempo de Stalin, com o partido gozando de poder absoluto, a pena seria a tortura, a humilhação e a morte, como foi o caso, entre outros, dos célebres Processos de Moscou, que eliminaram a velha-guarda bolchevique.

Lula foi elevado pelo partido às alturas do púlpito, exigindo de todos a crença absoluta nas suas palavras, como se nelas estivesse presente a fala de um líder religioso. Diz qualquer mentira e recebe em troca não a dúvida e a crítica, mas a devoção. Os militantes tornaram-se devotos de um líder partidário que se apresenta como figura imaculada. Já antes, no exercício do poder, excedia-se em suas bravatas, que eram, porém, cordialmente aceitas como coisa de um retirante bem-sucedido.

Acontece que o sucesso transformou aquela simpática figura do líder sindical num governante que considerou o poder coisa sua, a ser usada a seu bel-prazer, como se limites não existissem. A corrupção tornou-se meio de governo, inclusive sob a forma do enriquecimento pessoal e de seus familiares e amigos. Os históricos líderes comunistas, nessa esfera da corrupção, não ousaram tanto.

Agora, o véu dessa forma esquerdista de fazer política foi levantado. E o que aparece é a corrupção como forma de governo, o desmonte do Estado, a desestruturação da economia e o fortalecimento da desigualdade social. A retórica foi a do engano e da mentira, como se o Brasil se estivesse transformando num país de Primeiro Mundo, socialmente justo. Um líder carismático como Lula conseguiu transmitir a sua mensagem , ao arrepio de qualquer relação com a verdade. A prática era a política criminal e o seu véu, a política distributivista, a qual lhe permitiu a reeleição e a indicação de sua sucessora, que consumou o desastre da experiência petista.

A questão que se coloca aos petistas e seus simpatizantes é a da opção entre a crítica, com a sua subsequente renovação, e a crença na conduta religiosa de seu líder máximo. Devem escolher entre seguir uma seita e orientar-se segundo valores e princípios livremente discutidos e aplicados. Dessa opção, depende a consideração de quem é ou não traidor.

Participação política sem partidos

Quarta-feira, o STF irá decidir se os cidadãos podem se candidatar livremente ou se precisam se filiar aos partidos políticos tradicionais para participar do debate político.

Neste julgamento, o Brasil poderá de vez se afastar do grupo restrito de países, sem qualquer tradição democrática, que ainda proíbem a participação direta dos cidadãos na política. Trata-se da principal medida para a tão esperada renovação dos quadros políticos, acabando com a equivocada ideia de que os partidos têm o monopólio da política brasileira.

A rejeição aos partidos é hoje um fenômeno mundial. No Brasil, além de não possuírem democracia interna e representarem uma forma arcaica de perpetuar as velhas oligarquias no poder, a Lava-Jato mostrou que quase todos os partidos se tornaram verdadeiras organizações criminosas.

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Cabe ao STF reconhecer que a exigência de filiação restou definitivamente afastada quando o Brasil aderiu, quatro anos após a promulgação da Constituição de 88, ao Pacto de São José da Costa Rica (Tratado Interamericano de Direitos Humanos), o qual, em seu artigo 23, proíbe que o direito do cidadão de votar e ser eleito seja condicionado a uma filiação partidária.

Afinal, todo o poder emana do povo e pode ser exercido diretamente pela cidadania brasileira, conforme o primeiro artigo de nossa Constituição. Além disso, a Carta Magna prevê que ninguém pode ser obrigado a associar-se para exercer seus direitos e garantias fundamentais (artigo 5º, XX). É inconcebível que um cidadão que queira contribuir com o país seja obrigado a filiar-se aos atuais partidos, tornando-se cúmplice de todos os crimes cometidos por essas agremiações.

A prevalência do Pacto de São José sobre a Constituição, naquilo que for mais benéfico ao cidadão, está consolidada na Súmula Vinculante 25 do STF. Não há razão para a Corte Suprema alterar sua jurisprudência pacífica justamente em relação ao direito político fundamental por excelência. Esse direito humano de votar e ser votado não poderia jamais ser limitado por uma simples regra de organização eleitoral.

Vale lembrar que a própria Constituição prevê que ela deve ser interpretada no sentido da primazia da dignidade humana e dos direitos e garantias fundamentais (artigo 4º, II), direitos esses que não podem ser revogados nem mesmo por emenda constitucional (artigo 60, §4°).

Por isso, o direito político fundamental de votar e ser eleito tem eficácia inibitória das normas que exigem a filiação partidária. Não há dúvida de que tal exigência fica suspensa diante do direito fundamental de participar, de forma livre e independente, da política.

Por que a “casta política” tem tanto medo dos candidatos independentes? Seria por que recentes pesquisas revelam que 94% dos brasileiros não se sentem representados pelos políticos e não pretendem votar nos partidos tradicionais?

Ora, proibir que membros da sociedade civil se candidatem fora das desgastadas agremiações políticas e, assim, participem do debate político, representaria uma gravíssima afronta aos nossos direitos fundamentais.

A cidadania brasileira aguarda ansiosamente que o STF a liberte dos partidos políticos corruptos, para que, de modo pleno, possa exercer sua liberdade política e retomar o poder de decidir os destinos de nossa Nação.

Modesto Carvalhosa

A verdade da mentira

A mentira pode ser tida como verdade e assim permanecer pouco ou muito tempo.
 
Ela depende naturalmente de como se espalha, das expectativas que desperta, ou até mesmo dos seus propagadores - que por vezes terminam convictos de sua veracidade - para se tornar merecedora de crédito e motivar reações na comunidade
Nagib Jorge Neto, "Longe do país dos sonhos"

A arte de furtar

Falo hoje sobre uma obra de 1652, de autoria dominantemente atribuída ao jesuíta Manuel da Costa, “Arte de Furtar”, cujo extenso subtítulo dá notícia do tom de seu conteúdo: “Espelho de enganos, teatro de verdades, mostrador de horas minguadas, gazua geral dos reinos de Portugal”. Por mais de 200 anos, a obra, publicada em Amsterdã, foi atribuída a outro jesuíta, o Padre Antônio Vieira.

Reconhecida hoje como um marco da literatura barroca portuguesa, a “Arte de furtar” pareceu-me de uma atualidade arrebatadora. Em seus mais de 70 capítulos, o autor percorre o densamente povoado mundo dos crimes — este mesmo mundo.

O capítulo 60 trata de como “furtar com unhas políticas”; o 57, de como “furtar com unhas amorosas”; o trigésimo sétimo, sobre aqueles que “furtam com mãos de gato”; o capítulo 45, sobre aqueles “que furtam com unhas domésticas”.

A sátira é, como um todo, um maravilhoso guia sobre a criminalidade: “…e digo que este mundo é um covil de ladrões, porque, se bem o consideramos, não há nele coisa viva que não viva de rapina”.

Contudo, o intento do autor, explícito em suas dedicatórias, não era senão fornecer uma descrição detalhada das figuras típicas da corrupção para o bom discernimento do governante que se vê completamente cercado de suspeitos.

Teria a Vossa Alteza, El-Rei de Portugal, as condições de emitir juízos sobre uma arte da qual desconhece mesmo a superfície? Como ficaria o sereníssimo senhor príncipe atento aos artifícios sobre os quais ignora o método? Diz o tratado: “Não ensina ladrões o meu discurso, ainda que se intitule ‘Arte de furtar’: ensina só a conhecê-los, para os evitar”.

Para além das figuras mais óbvias presentes neste “teatro de verdades”, Manuel da Costa põe em evidência também a ganância dos exploradores europeus, e de como aqueles que perseguiam riquezas não eram diferentes dos que massacravam populações do outro lado do mundo.

Esboça-se quase uma crítica estrutural do poder, e de suas ramificações, no sistema econômico da época. Afinal, para o nosso autor, a arte de furtar é uma ciência verdadeira, quase sempre a serviço do poder.

É quase desnecessário dizer, mas o Brasil colonial aparece em diversos momentos do tratado.


Manuel da Costa, ou Antônio Vieira, nunca conheceram Eduardo Cunha, ex-presidente da Câmara, atualmente encarcerado. Ou Sérgio Cabral, ex-governador do Rio de Janeiro, condenado a mais de 40 anos de prisão. Muito menos Geddel Vieira Lima, peça fundamental no tabuleiro do nem tanto sereníssimo Michel Temer, e seus 51 milhões de reais em notas encontrados em seu bunker na Bahia pela Polícia Federal.

Mas, excetuando-se algumas atualizações e progressos, a ciência da corrupção ainda seria familiar a ambos os jesuítas. Assim como também seriam familiares os esforços de muitos políticos poderosos, e seus cúmplices, de ofuscá-la.

Sem dúvida, muita coisa nos deixaria surpresos, suspeito eu, tanto no lado bom quanto no ruim, visto que as investigações têm sido feitas, e alguns figurões do establishment brasileiro já se encontram na cadeia. Algumas coisas no Brasil acabam mudando, sim, para melhor.

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Aécio, o herói do quadrilhão do Senado

O mineiro Aécio Neves deve estar comovido. De castigo em casa, à noite, sem as baladas que o tornaram tão conhecido no Rio de Janeiro, o neto de Tancredo Neves saboreia o motim do Senado contra o Supremo Tribunal Federal. Um motim em seu nome. Despido mais uma vez de seu mandato, por receber de Joesley Batista malas de dinheiro vivo, numa soma total de R$ 2 milhões, Aécio reza para não ser preso.

Além de contar com Michel Temer, “o presidente dos 3% de aprovação popular”, e com os aliados de sempre, entre eles o ministro do STF Gilmar Mendes, que deseja soltar todo mundo na Lava Jato, o “tucano terrible” ganhou a defesa veemente do PT. Uma defesa enviesada.

A nota do PT chama Aécio de “hipócrita” e “falso moralista”. Mas condena a decisão do Supremo de punir o mineirinho. E instiga o Senado a confrontar o STF por “violar a autonomia e a soberania” do Congresso, em “desrespeito à Constituição”. O PT quer salvar o mandato de Aécio, quer o companheiro de volta às tucanagens noturnas, livre, leve e solto. Bonito isso, não? Comovente.

Numa semana em que Antonio Palocci, ex-ideólogo do petismo e um dos ex-amigos mais próximos e leais de Lula, divulga uma carta arrasadora indagando se PT é “partido ou seita” e “até quando vamos fingir acreditar” na honestidade de Lula...Numa semana em que filhos e enteadas do senador Romero Jucá, um dos maiores amigos e conselheiros de Temer, são indiciados por roubar R$ 32 milhões do programa Minha Casa Minha Vida... Numa semana em que se escolhe um deputado tucano pró-governo para relatar a segunda denúncia da Procuradoria-Geral contra Temer, “o presidente dos 3% de aprovação”, o mais impopular desde a ditadura militar...


Numa semana dessas, o Senado decide se insurgir contra o STF para proteger o mandato de Aécio. O Senado, unido, jamais será vencido? Já vimos muitos exemplos de corporativismo explícito. Testemunhamos. Criticamos. Nos revoltamos. Mas agora a paciência da sociedade se esgotou. Os políticos – além de gravados, vigiados e detidos pela Polícia Federal – hoje deparam com a enorme animosidade que despertam no eleitor. Por mordomias, privilégios, incompetência, inapetência para o trabalho e falta de espírito público. Principalmente, por roubos estratosféricos de clãs familiares.

De longe, nos Estados Unidos, Fernando Henrique Cardoso diz em palestra que “o Supremo decide, e é isso”. Não gostou? Recorre. Que Aécio recorra. Que senadores inseguros e investigados recorram. A decisão da Primeira Turma do STF não viola a Constituição. Apenas a interpreta a sua maneira – e por 3 votos a 2, dando espaço ao contraditório.

Aécio Neves talvez seja, ao lado de Sérgio Cabral, um dos que mais destruíram capital político no Brasil. Aquele que já foi uma das maiores promessas nacionais do PSDB, que poderia ter herdado a sabedoria do avô, meteu os pés pelas mãos, meteu as mãos onde não devia, meteu processos contra quem ousava criticá-lo – muitos jornalistas se queixam de intervenções e atos de censura –, meteu a vida particular numa fileira de atos incompatíveis com um homem público.

E, enfim, quando se julgava imune, foi acusado de mandar o primo pegar as malas de dinheiro de Joesley Batista. No telefonema gravado, não perdeu a chance de zoar, dizendo a Joesley que mandaria matar o emissário antes de ele fazer delação. Aécio alega que “não era dinheiro de corrupção”, era só um empréstimo particular, de amigo empresário para amigo político, para ele poder pagar seus advogados na Lava Jato. Vamos então combinar que Aécio não tinha dinheiro de família ou dele próprio para pagar sua defesa. Dá vontade de reagir como Palocci, na carta aberta, mudando apenas o personagem central. “Até quando vamos fingir acreditar” na honestidade de Aécio Neves?

A sociedade compara, em nível de crueldade, as quadrilhas de políticos corruptos aos bandos do narcotráfico, todos sanguessugas de pobres e carentes. Como se pode usar um mandato para tirar proveito de obras públicas e enriquecer a si próprio e à prole engomadinha e herdeira de votos? Já deu.

Todo dia vemos cenas dolorosas na TV. Nossa gente sem esgoto, sem água encanada, sem asfalto, sem transporte, sem segurança, sem saúde, sem escolas, sem oportunidade, pagando dívidas no meio do tiroteio da crise, enquanto engravatados indiciados por crimes cochicham nas sessões do Congresso, exalam prosperidade e trabalham só três dias na semana. Por que não acabamos de uma vez por todas com o Fundo Partidário, que financia uma das campanhas eleitorais mais caras do Universo?

Velas para Lula e a esquerda no escuro

A pichação velha diz "R$ 3,20, jamais". Está lá desde junho de 2013, no cruzamento da avenida Paulista com a rua da Consolação, centro de São Paulo. Era um mote contra o aumento de vinte centavos das passagens.

O "pixo" tem efeito hipnótico. Sempre me faz perguntar que fim levou tudo isso. Nesta semana, me lembrou dos secundaristas que ocupavam escolas em protesto contra a reforma do ensino médio, a PEC do teto de gastos etc. Quanto tempo faz isso? Dois, três anos?

Faz apenas um ano, neste outubro. A greve grande de abril, contra a mudança na Previdência, parece igualmente remota. Ajudou a plasmar a péssima imagem pública das reformas e a assustar parlamentares, que assim arrumaram um pretexto quase final para não bulir com as aposentadorias. Desde então, a esquerda entrou de vez em coma, no hospício ou fugiu para as montanhas.

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O movimento dos secundaristas virou fumaça, como se esvaneceram no ar os jovens do MPL, Movimento Passe Livre, o dos vinte centavos, que riscou o fósforo na casa cheia de gás sem cheiro que era o junho de 2013.

Em outubro, os secundaristas ocupavam mil escolas pelo país, a maioria no Paraná. O movimento pipocava desde o fim de 2015, quando estudantes paulistas tomaram umas 200 escolas, derrubaram um secretário da Educação e o prestígio de Geraldo Alckmin. A história, porém, não poderia render nem rendeu mais do que autocongratulações esquerdistas iludidas sobre o renascimento do movimento estudantil e louvações do idealismo renovado da "garotada", essas cafonices.

As centrais sindicais tentaram reviver a greve de abril nos meses seguintes, o que deu em grande fiasco. A reforma trabalhista passou sem um pio das ruas. Os sindicatos ora se limitam a pedir um capilé a Michel Temer, a volta de alguma contribuição sindical. As centrais se tornaram o Centrão do que um dia foi o movimento dos trabalhadores.

Os trabalhadores se viram. Em 2016, houve mais de 2.000 greves, segundo o Dieese, inédito desde FHC 1. As paralisações haviam minguado para 400 ao ano sob Lula e voltaram a crescer em 2010.

Nos tempos idos da alegria petista, até 2013, a maioria das greves reivindicava reajuste de salário. No ano passado, a maioria cobrava salários atrasados. No entanto, mal se ouviu falar dessas greves de 2016, mesmo da boca de sindicalistas. Para espanto de gente com ideias antigas, a esquerda se divorcia do trabalho.

O PT, entre a rua do hospício e a praça da cadeia, passou os meses recentes a bajular o ditador do horror venezuelano, Nicolás Maduro, e no mais limita a Lula lá sua esperança de evitar ruína ainda maior nas eleições de 2018. Seus parlamentares negociam acordões, como a reforma política salafrária.

Amigos abnegados da militância de esquerda contam que coletivos de periferia e outros movimentos novos estão vivos, embora pequenos, mas se articulando, evoluindo nos casulos para emergirem depois do fim do período de trevas, quem sabe em meia dúzia de anos. Por ora, parecem mesmo na periferia, à margem.

Do centro à extrema-direita, articulam-se novidades ou a ressuscitação de frankensteins das trevas do inferno. A esquerda oficial acende velas para seu morto vivo, Lula. No mais, escuridão.

Acorda, Rio!

Chore por ti, cidade maravilhosa. Mas saibas que se Rogério 157 voltar à Rocinha, as Forças Armadas também voltarão como anunciou impávido colosso o ministro da Defesa, Raul Jungmann, no ato de retirada de 950 militares que patrulharam durante uma semana uma das maiores favelas do país. Horas antes, um tiroteio resultara em mais uma morte. E dois jovens foram torturados por traficantes. Normal.

“Nós falávamos aqui de uma guerra entre gangues, de uma população aterrorizada, presa em suas casas. Isso não está acontecendo. A questão de tiroteios é policial e deve ser resolvida no âmbito das polícias”, justificou o ministro.

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Em outras palavras: com a intervenção militar cessou a guerra entre gangues e a população recobrou a paz. Ou então ela foi desnecessária porque não havia guerra nem clima de terror. Escolha.

Napoleão Bonaparte, um dos maiores gênios militares da humanidade, disse certa vez: “Primeiro a gente ganha. Depois a gente vê”. Esqueço o nome do general – ou do estadista cínico – que ensinou a propósito de guerras perdidas: “A gente proclama a vitória e sai rapidinho”.

A guerra contra o tráfico no Rio jamais será vencida por um Exército que não quer lutar, por uma policia sócia do crime e por uma população anestesiada.

Razão não falta aos generais que se recusam a fazer o que não lhes cabe. Exército existe para matar – não para patrulhar cidades. Como enfrentar bandidos numa emergência sem um prévio e confiável trabalho de inteligência que a polícia não entrega?

De resto, a presença ostensiva do Exército é um estorvo para quem mais lucra com os negócios milionários do tráfico. E não é gente de favela.

Quem mais lucra tem passaporte válido, voa para o exterior de primeira classe e circula com desenvoltura no grande mundo onde se compram e vendem armas modernas e drogas de qualquer natureza.

É festejado e repousa em sossego enquanto seus prepostos se matam. Em parte alguma, o distinto público consumidor de droga sobe morros. No máximo, frequenta suas franjas.

Havia 15 mil fuzis nas mãos de bandidos do Rio antes da invasão recente da Rocinha. Como 26 foram apreendidos, restam 14.974. Desconhece-se o número de granadas, mas 19 foram confiscadas.

Dos 54 mandados de prisão expedidos, 11 foram cumpridos. Nos sete dias de cerco à favela, Rogério 157 fugiu, fez acordo com o Comando Vermelho, sequestrou um táxi, reapareceu na Rocinha e fugiu de novo. Ai dele se voltar!

Foi a quarta – ou quinta - megaoperação deflagrada no Rio desde que o presidente Temer, em maio último, balançou, quase caiu, mas se manteve firme para alívio dos que apostam na estabilidade do país.

Temer amarga a segunda denúncia por corrupção e uma popularidade próxima do zero. Nada, porém, incapaz de ser compensado pelo apoio de um Congresso repleto de criminosos.

O Rock in Rio escapou incólume – menos grave. O que não diriam do Brasil lá fora se uma das atrações do festival tivesse tombado vítima de bala perdida?

Por medo que a intervenção militar na Rocinha em dia de rock pusesse em risco a vida de um grande número de cariocas, o governador Luiz Fernando Pezão, sabiamente, evitou pedir a ajuda do Exército. Mais tarde, sabiamente, mudou de opinião.

“Os militares conheceram o terreno. Se precisar, eles vão voltar", promete Pezão. Se depender da Polícia Militar, não. Ao Exército, ela prefere dinheiro para se financiar.

Portanto, chore por ti, Rio! Ou então, acorde.

Gente fora do mapa

Envers du Decor

A sorte de não ter um vice

Em setembro de 2015, Michel Temer estava ansioso para mudar de cadeira. Eleito na chapa de Dilma Rousseff, o vice-presidente circulava por salões em que se pregava abertamente a derrubada do governo. Num desses encontros, organizado por uma socialite paulistana, ele comentou que a aprovação da presidente estava abaixo do “razoável”.

“Hoje realmente o índice é muito baixo. Ninguém vai resistir três anos e meio com esse índice baixo”, previu. “Se continuar assim, [com] 7%, 8% de popularidade, de fato é difícil passar por três anos e meio”, acrescentou, referindo-se ao tempo que faltava para o fim do mandato.


Dois anos depois, Temer é quem rasteja nas pesquisas de opinião. No papel de presidente, ele faz pensar que a avaliação de Dilma não era tão ruim assim. A nova rodada do Datafolha mostra que o peemedebista é aprovado por apenas 5% dos brasileiros. Ao ser afastada, a petista ostentava 14% de “bom” e “ótimo”.

Aos olhos dos eleitores, o governo Temer é o pior da história recente. Ele conseguiu igualar o recorde negativo de José Sarney, registrado em 1989, no auge da hiperinflação.

Há pouco tempo, o presidente desdenhava o mau desempenho nas pesquisas. Ele chegou a descrever os números como um salvo-conduto para tocar projetos rejeitados pela população. “Estou aproveitando a suposta impopularidade para tomar medidas impopulares”, disse, quando era aprovado por 10%. Agora que o índice caiu à metade, a única medida impopular na pauta é barrar a nova denúncia na Câmara.

Um dos fatores que seguram o presidente é a sorte de não ter um conspirador na cadeira de vice. O deputado Rodrigo Maia, primeiro na linha sucessória, recusa-se a ser o Temer de Temer.

“Não fiz com eles o que eles fizeram com a Dilma”, disse, em entrevista ao “Valor Econômico”. “Meu padrão não é o mesmo daqueles que, em torno do presidente, comandaram o impeachment”, acrescentou.

A morte do afeto, vitimado pelos graves erros do pensar

Tá lá um corpo estendido na cama. Inerte, pálido, num quadro em preto e branco, quase sem vida. Vegeta, torturado pelo silêncio estridente de pensamentos ruinosos, de culpas carrascas, de baixa autoestima, que aprisiona virtudes no porão da alma. Nesta mente mórbida, moribunda e trôpega, faltam cor, calor, luz, energia, pois afeto é, em síntese, o que nos anima. “Animus” é alma em latim.

Vivemos o tempo da falência do afeto, das doenças afetivas. O cardápio é vasto: depressão, síndrome do pânico, fobia, transtornos bipolares, obsessivo-compulsivo, de ansiedade generalizada e um leque de variáveis. Mas soam as trombetas: doenças do afeto? Essa coisa arcaica, que passeia na Terra desde que um tipo de animal resolveu dar de mamar a sua cria e, ao extrair do próprio corpo um alimento, superou e dominou a face do planeta? Isso há quase 200 milhões de anos? Por que esses mamíferos mascarados, metidos a bestas, pequeninos, que raciocinam, dominaram o fogo, lascaram pedras, poliram bronze, ergueram casas, criaram pólvora, domesticaram outros mamíferos, plantaram, fizeram meios de transporte... ufa... mataram uns aos outros, escravizaram-se, chegaram à Lua, inventaram comunicação a distância, inventaram cérebros e inteligência artificial e...

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Continuam cada vez mais infelizes, suicidando, deprimindo, carentes, conflitando, insatisfeitos? Sofrem por antecipação, morrem de medo, são apegados, vaidosos, mas, acima de tudo, carentes. Não se reconhecem como raça, odeiam cor de pele diferente, religião distinta, origem social não compatível. Precisam acasalar, mas nada entendem de gênero. Têm cria, mas perecem que gestam futuros ETs.

Anestesiam suas angústias e frustrações com químicas lícitas ou ilícitas. Ressacam-se para a inevitável realidade. Costumam odiar o que fazem, estudar, trabalhar, voltar para a casa. Nem sempre, nem todos.

Mas são humanos; por natureza, imperfeitos. Paradoxalmente, dizem-se criados à semelhança do Pai. Sei lá. Onde estiver, e deve estar em todos os lugares, Deus deve estar em cima da prancheta: “Até os símios tudo bem, mas cadê o protótipo do Adão?” Essa é a visão dos otimistas.

Já os pessimistas acham que Ele é o personagem do início do texto. Meio que desistiu. Resolveu esperar o apocalipse e deu uma forcinha pro Trump e pro tal Kim, da Coreia do Norte, trocarem afetos por meio de torpedos atômicos. Principalmente quando Ele recebeu visita do Temer, do Gilmar, do Toffoli, do Lewandowisk. Aécio de helicóptero, Maluf de jatinho, Renan de trenó e Lula de pau de arara, elogiando a honestidade do Pai, quase igual à dele. Não havia dúvida: era o fim do mundo!

PS: Ando cansado do politicamente correto, vivendo num mundo fake e covarde!

Fala aí, chefia!

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O que tem a ver com a Língua Portuguesa a crise de instituições outrora referenciais da qualidade dos serviços públicos, comunitários ou privados?

Diz a mídia que nos Correios há um chefe para cada dois servidores. A qualidade dos serviços desabou nos últimos tempos. A derrocada coincidiu com a explosão dos cargos de chefia.

Porém, sob a estrutura profunda do descalabro das instituições em crise jaz uma situação paradoxal: os chefes não são chefes. Não raro eles atuam como cúmplices ou reféns, mas chefes, não.

Vejamos. Tradicionalmente, o Português do Brasil usa o imperativo para pedir, e o subjuntivo para mandar. A expressão das rezas “rogai por nós” pede ou manda? “Publique-se” é uma ordem? Mudando o verbo, poder-se-ia mandar ou pedir na lanchonete “faça-se um sanduíche”?

O poeta Luís Vaz de Camões deu ordens precisas a ninguém menos que o todo-poderoso rei de Portugal: “Tomai conselho só de experimentados,/ Que viram largos anos, largos meses,/ Que, posto que em cientes muito cabe,/ Mais em particular o experto sabe”.

Mas, então, ele mandava no rei, uma vez que usou o imperativo? E note-se que usou “experto” e não “esperto”, de onde derivaram esperteza e espertalhão, que hoje sobram no Brasil, enquanto a expertise cai. O Português do Brasil reluta em aportuguesar o Inglês expertise.

Estudando as complexas sutilezas destas variações, de acordo com o contexto em que as ordens são dadas, João Malaca Casteleiro, professor catedrático aposentado da Universidade de Lisboa, publicou um livro saboroso cujo título, A arte de mandar em português (Editora Lexikon), mede a frequência com que alternamos estas formas verbais para dar ordens e preferimos ordens afirmativas em vez de ordens proibitivas.

Nos exemplos que ele colheu, o Português do Brasil em 64,49% dos casos prefere o subjuntivo para ordenar, e usa o imperativo em apenas 19,2% deles.

Em Portugal, a língua é a mesma, assim como em toda a África portuguesa e em outros países que integram a comunidade lusófona, mas o português europeu usa o imperativo em 42,25% dos casos para dar ordens, e o subjuntivo em apenas 43,49% deles, uma diferença de 21% no interior da mesma língua.

Podemos concluir que Portugal manda de um modo bem diferente do que se manda no Brasil. Já quando se mede a porcentagem entre ordens afirmativas (faça isso) e ordens negativas (não faça isso), o equilíbrio é perfeito: 68,49% para o Português europeu, e 68,53% para o Português do Brasil nas ordens afirmativas, e 15,25% e 15,12% respectivamente nas ordens negativas.

Pode ser que o Brasil tenha excessivos cuidados ao dar ordens, tão excessivos que raramente elas são cumpridas. E isso afetou os órgãos públicos numa escalada jamais vista nas últimas décadas, em proporção a ser analisada à luz deste livro interessantíssimo e revelador, que poderá servir de ferramenta para melhor entendermos o binômio empresa pública x empresa privada.

E o autor nem pensou nisso quando defendeu este livro como tese, no longínquo 1961, na Universidade de Lisboa.

Deonísio da Silva