A ironia demolidora de Oscar Wilde pregava: “Não sou suficientemente jovem para saber tudo”. O meu caso é cruel: sou suficientemente velho para esquecer tudo. Acrescento um “quase” para não parecer autoflagelação.
Curiosamente, uma das primeiras coisas que aprendi e não esqueci foi o valor das vacinas para a saúde das pessoas.
Nascido e criado na minha querida Vitória de Santo Antão (1946), atrevessei a precariedade da época, a partir da expectativa de vida ao nascer entre 45,5 e 48 anos. Minha família vivia dos modestos recursos de um jovem e principiante dentista. Enquanto isso, minha mãe tomava conta da economia (etimologicamente “regra da casa” por isso elas são as maiores “ministras da fazenda” do mundo), segurando custos, reciclando roupas, livros, cadernos, desperdício zero, receita e despesa equilibradas.
Quando olho pelo retrovisor, compreendo que eles construíram sólidos pilares de uma educação para a vida.
Certa vez, fui ao comércio com meu pai e, ao passar pela farmácia, cumprimentou Dr. Arnaud Gurgel, a quem dirigiu uma pergunta, no mínimo, insólita: “Gurgel, quando chega uma vacina contra queda?” O farmacêutico abriu um largo sorriso, confirmando a fama de gozador de meu pai e, antes de qualquer resposta, veio a justificativa “meus filhos, Gurgel, já caíram do muro, brincando de equilibrista, da furtiva visita à mangueira da vizinha, haja topada, braço quebrado”. “Coisa de menino, Krause – Dr. Gurgel era cerimonioso, não usava apelidos – a medicina vai avançar, mas vacina para queda é coisa de sua cabeça”.
Perguntei na bucha: “Pai, o que é vacina?” “Remédio que evita doenças, outros remédios e protege a saúde de todo mundo. O Governo paga”.
Graças a Deus, aos avanços da ciência médica e à cultura familiar da prevenção faz tempo que estou na prorrogação, e, ainda mais agora, sob a ameaça real de uma Pandemia, tragédia de proporções globais cujas consequências materiais e emocionais rivalizam com os efeitos das guerras mundiais.
Mais uma vez a Ciência vem se mostrando ágil e eficaz; a Política, revelando o lado sombrio de lideranças que coloca interesses imediatos e pessoais no lugar sagrado do interesse público e abraça a irracionalidade em troca da oportunidade de construir elos de união e solidariedade nacional e internacional.
Comprovada a eficácia, respeitável público tome a vacina! e, juntos, roguemos a Papai Noel que faça chegar aos sem sapatos o presente da dose que salva.
A vacina acima de todos!Gustavo Krause