segunda-feira, 10 de agosto de 2015

Receita de Lula para salvar Dilma

Está nas mãos da presidente Dilma Rousseff a chance de escapar da degola. Ou da hemorragia que a levará a se esvair até o último dia do seu mandato. Basta que concorde com tudo o que seu Lula mandar.

É assim que pensam os que rodeiam Lula, e ele. Mas que se apresse porque o tempo passa, a Lusitana roda e daqui a pouco nem mesmo Lula, o aspirante a milagreiro, conseguirá operar o milagre prometido.

Dilma-aliados

Esqueçamos que, outro dia, Lula fez pesadas críticas a Dilma. Acusou-a, por exemplo, de ter mentido durante a última campanha eleitoral. Como se ele fizesse política sem mentir.

Acusou-a de fazer um governo de surdos, distante dos chamados movimentos sociais. E de estar, em resumo, no “volume morto”. Assim como o PT estaria abaixo do “volume morto”.

Não quis relembrar as críticas, mas relembrei. Era tentador! Asiante.

Lula ainda vê uma forma de, salvando Dilma – quem sabe? –, salvar o projeto de continuidade do PT no poder. Passaria por uma série de providências.

A primeira: uma reforma ministerial ampla, geral e irrestrita. Para reforçar a presença de partidos aliados no governo, mesmo que à custa do sacrifício do PT.

Sairia Aloizio Mercadante da chefia da Casa Civil da presidência da República. No lugar dele entraria Jaques Wagner, atual ministro da Defesa.

Sairia do Ministério da Justiça José Eduardo Cardoso, e entraria Michel Temer, vice-presidente da República.

Sairia da Secretaria-Geral da presidência da República Miguel Rosseto, e entraria Gilberto Carvalho, amigo de fé, irmão de Lula, camarada.

Sairia Pepe Vargas, ministro da Secretaria de Direitos Humanos do Brasil, para a entrada de qualquer outro.

Eliseu Padilha, ministro da Viação Civil, assumiria o ministério das Relações Institucionais.

O jornalista Franklin Martins substituiria Edinho Silva, ministro da Secretaria de Comunicação Social, ex-tesoureiro da campanha de Dilma no ano passado, e enrolado com a Operação Lava Jato.

Aproximação com o PSDB? Aproxime-se pra lá! O trunfo é pau, ô meu! Nada de demonstrar fraqueza.

Reduzir o número de ministérios? Nem pensar. A economia não significaria grande coisa.

Seria reaberta a temporada de loteamento de cargos no governo e de pagamento de obras construídas nos redutos eleitorais dos parlamentares. Velharia? Mas funciona, não duvide.

Eduardo Cunha: venha para cá, meu velho!

Sinto muito, Dr. Levy, mas o senhor perderia o emprego porque virou o ministro símbolo da rendição do PT ao arrocho.

Entraria outro para manter a mesma política, entendendo, porém, que de nada servirá mantê-la se isso implicar na queda do governo.

Algum dinheiro irrigaria os cofres dos movimentos sociais. E, sem grandes custos, seriam feitos acenos demagógicos para o populacho.

Quanto a Lula...

Em caso extremo, observadas essas e outras condições inconfessáveis de público, ele iria para o sacrifício de assumir algum ministério.

O das Relações Exteriores, não. Ficaria obrigado a viajar muito por aí com a imprensa em seu encalço.

O ministério da Defesa? O lugar seria adequado, sim, para um ex-presidente da República. E o livraria das garras do juiz Sérgio Moro.

Quanto a Dilma...

É para dizer a verdade? Dilma continuaria desempenhando todos os papéis de representação que cabem a um presidente. Aumentaria sua agenda de viagens ao exterior e aos Estados.

Mas na prática deixaria que Lula, com a discrição possível, coordenasse o governo. Ou melhor: governasse.

É pegar ou largar! Se não pegar, olha o Temer aí, gente!

Cuidado para não exagerarem na mão

O senador Aécio Neves é mesmo um moçoilo de bem, aliás como todo o tucanato. Agradam pela elegância no falar e no trajar. Procuram uma política asséptica, higiênica. É o maior pecado. Não saem para o bate-boca nem para a bofetada.

No fim de semana, Aécio pontificou que "o PT atrasou o Brasil em 20 anos". Descobriu a pólvora sem manipular qualquer de seus elementos e ainda usou mãos enluvadas.

É de se procurar saber por onde andou o senador, e seu partido, nos últimos 13 anos.

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Com a brancura de sua oposição, serviram de escada e praticamente fizeram escadinha para o PT, o mesmo acusado criminalmente de hoje, assumir o governo com tranquilidade por três vezes seguidas. Essa professoral política de barões do café com leite serviu como uma oposição de teatro.

Se o Brasil recuou 20 anos, não foi só por culpa do PT, que teve a maior parcela de culpa no processo. Os outros partidos também são culpados em menor grau, mas principalmente o PSDB, que se arvorou estes anos todos como oposicionista. Se omitiu, cruzou os braços, ficou nos gabinetes refrigerados e deixou o PT mandar e desmandar com a muleta peemedebista.

Se Michel Temer, vice-presidente e articulador do governo Dilma, foi infeliz em dizer na última semana que precisava haver "alguém" para mobilizar o país, não menos infeliz agora foi Aécio ao falar em "chamado para tirar o Brasil da crise gravíssima que o PT criou".

A crise é gravíssima, sem dúvida, mas nenhum político brasileiro, de que partido for, pode se eximir de culpa em levar o Brasil para esta situação, nem mesmo o tucanato café com leite. Ou até sequer Aécio, confiante em seus milhões de votos, pode condenar quem quer que seja, quando participou dessa politicalha subserviente.

Os únicos inocentes, que ainda acreditam no voto como atitude séria, mas infelizmente dão carta branca a uma cambada, são os eleitores. Nenhum político no Brasil hoje pode se eximir de ter metido o país nesta sinuca de bico. 

E mais serão culpados pelas articulações que tramam sem colocar em nenhum momento o que interessa à população, mas a seus interesses carreiristas.

Estão disputando nas armações para ver quem fica com a carcaça do PT. Mas precisam urgentemente deixar de lado as estocadas e pensar no país sem interesses políticos de poder. Se não colocarem o Brasil como 200 milhões de pessoas, vão desandar a receita de ordem e progresso.     

Um cerco de muitos anéis

Estava na Lagoa da Confusão, na cidade do mesmo nome, em Tocantins. José Dirceu foi preso. A televisão do quarto na pousada era cheia de chuviscos, ruídos e fantasmas. Sobretudo fantasmas. Em aparelhos ainda do século passado, acompanho no interior as operações da Lava-Jato. A julgar apenas pelo que vejo nas telas sempre divido o número de presos por dois. José Dirceu preso. Ou foi irmão preso? Ou ambos?

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Vejo esses programas, às vezes, ao lado de cozinheiras, porteiros noturnos, costumo ouvir essa frase: “eles roubaram demais”. É uma expressão comum entre o povo e pressupõe que exista um nível tradicional, moderado e regular de roubo com o que Brasil conviveu.

Vejo aí uma das razões do fracasso do PT ao se defender dizendo que não inventou a corrupção pois ela sempre existiu na política brasileira. Isso é uma espécie de senso comum. O que as pessoas acham é que o PT e aliados ultrapassaram todos os níveis anteriores, fizeram da corrupção uma política de governo, arruinando, simultaneamente, a credibilidade do sistema político e empresas estatais.

Saí da Lagoa em busca de melhor contato com as notícias. Em Palmas, descubro, diante de uma tela bem definida, que desemboquei num mar de confusão. Está tudo desmoronando. Temer acha que o Brasil precisa de alguém que o lidere na crise. Mas e a presidente para quem ele pediu voto? Ele queria dizer que Dilma já era.

De Brasília, recebo mensagem de um deputado: PTB e PDT saem do bloco, governo entrou em fase agônica. É a crônica dessa agonia que começo a escrever ao som das panelas.

No seu patético programa, o PT nos tratou como os portugueses trataram os índios. Estão unidos pela fé na imagem. Os portugueses deram espelhos para os índios maravilhados. O PT nos ofereceu um espelho mágico: as pessoas batem panelas vazias nas ruas, a superfície da tela reflete panelas cheias de alimentos coloridos.

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É uma estupidez política ironizar a opinião da maioria do país que os rejeita. Marcham para um processo pessoal doloroso. Outro dia, o senador Delcídio do Amaral foi vaiado numa casa noturna de Fomentera.

Não conheço o lugar, sei apenas, através da canção de Gil, que Fomentera é uma ilha aonde se chega de barco, mãe. Delcídio foi celebrar num lugar onde havia brasileiros. Isso no auge do escândalo na Petrobras. Gritaram “ladrão” e sacaram os celulares.

Ainda é uma sorte frequentar lugares em que, ao grito de ladrão, as pessoas sacam os smartphones. Em outros, sacam objetos mais contundentes.

O juiz Sérgio Moro bloqueou R$ 20 milhões de José Dirceu. Alô, alô, velho guerreiro. Mais grana do que qualquer marechal.

Se roubassem por uma causa e adotassem o estilo de vida de José Mujica, o ex-presidente do Uruguai, já seria condenável, pois seria uma opção autoritária, ilegal e secreta.
Mas para desfrutar o estilo de vida da elite que tanto condenam é uma opção de vida que merece um cerco de vários anéis, grades cada vez mais próximas.
A vaia que Lula e seus amigos levaram no Copacabana Palace é um momento cinematográfico. 

Escolheram os melhores quartos, mas não puderam ocupá-los depois de ouvir os gritos na pérgola.

Não conseguem perceber os anéis do cerco. José Dirceu os viveu nos extremos: preso em casa, terminou na cadeia.

Quando é que o PT vai fazer uma delação premiada? Mercadante desceu um degrau na autoestima e reconheceu que o governo teve erros, como todos os outros. É um pouco como dizer “errar é humano”. E para o Mercadante admitir que é humano foi preciso a maior crise dos últimos 20 anos. Se as coisas se agravarem, acabará admitindo que também é mortal.

Tudo bem, diria a cozinheira na Lagoa da Confusão: “Mas vocês erraram demais, roubaram demais. Quando vão reconhecer isso, assumir as consequências?”

No dia 16 de agosto, o PT verá que o espelho não funcionou. Não há marketing para a desgraça de um projeto político. Na minha experiência de queda em trilhas e barrancos, ao senti-la inevitável, o melhor é cair com jeito. Dói menos.

O PT aprendeu a derrubar, em 1989, precisa agora aprender a cair. A melhor saída é a renúncia de Dilma, a menos traumática. É inacreditável que, num momento agônico, ela ainda pense em governar por três anos. Não há espaço para uma rainha da Inglaterra com o peso de tanta rejeição, cortando fitas simbólicas ao som de panelaços.

O PT usou o programa de televisão pedindo juízo aos opositores. Nesse mar de confusão, o que se espera é que o PT tenha juízo.

Mais uma vez as coisas podem não acontecer como espero. De qualquer forma, continuo cantando na estrada: Cai, cai, balão. Eu não vou te segurar. Cai, cai Dilma. Cai, cai Cunha. Cai, cai Renan, eu não vou te segurar.

O imponderável Curvilíneo da Silva

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Há muita especulação no ar. Que o clima está fervilhando, não há dúvida. Que Dilma é a mais impopular presidente da República da história republicana, também procede. Que Lula tem receio de que as coisas cheguem a seu colo, é bem provável. Que o pacote fiscal do governo, desidratado pelo Congresso, prolongará a recessão econômica, é quase certeza. Que a presidente poderá ser condenada pelo Tribunal de Contas da União pelas “pedaladas” fiscais, é possível. Que o Tribunal Superior Eleitoral tome a decisão de desaprovar as contas de Dilma e Michel Temer, é uma tese a se levar em conta. Que o mesmo TSE possa separar as contas da presidente das contas do vice-presidente, desaprovando uma e aprovando outra, é alternativa viável. Que as delações premiadas continuarão a puxar políticos para o meio do furacão, é uma reta à vista.

Mas a política é balizada, como se sabe, pelo Senhor Imponderável Curvilíneo da Silva. Curvilíneo, em função da montanha de dúvidas que o jogo político oferece, e Silva, pela crença popular na única hipótese que escapa à imponderabilidade: o mar não está prá peixe.

A começar pelo Silva do sobrenome do ex-presidente Luiz Inácio. A certeza é que o carismático (?) Lula está nervoso, à procura da melhor saída do atoleiro em que se encontram o PT, o governo Dilma e ele próprio. Quanto a uma eventual cena de Lula com as mãos para trás, embarcando num camburão da PF, trata-se de um desfecho que só o Senhor Curvilíneo explica, a começar pelas circunstâncias, os depoimentos consistentes dos delatores premiados, a efetividade de provas de que circulou pelo propinudoto da Petrobras, a força (?) do carisma, a aprovação/desaprovação das ruas etc.

Sabe-se que, a depender do juiz Sérgio Moro, não haverá argumento que o livre da convicção de que todos os que frequentaram os desvãos da Petrobras deverão atravessar as salas da PF em Curitiba. Quem quiser conhecer o roteiro do juiz Moro, basta ler seu trabalho sobre Considerações sobre a Mani Pulite, onde descreve os passos da Operação italiana, com destaque para a independência e a coragem dos promotores e juízes, a imagem desgastada da esfera política, o apoio da opinião pública, o papel da imprensa, as vantagens da delação premiada, a amplitude da investigação, os resultados alcançados, entre outros vetores. Moro se imbuiu da “missão divina” de limpar o Brasil da sujeira por cima e por baixo do pano. Pelo visto, não fraquejará, indo até o fim e deixando aberta a possibilidade de condenar pessoas do mais alto calibre. Na Mani Pulite, foram condenados quatro ex-primeiros ministros.

Quanto ao impedimento da presidente Dilma, o argumento mais sólido, até o momento, é que falta o leit-motiv, o fato deflagrador para a decisão, algo como a prova concreta de recebimento de propina, coisa desse tipo. O domínio de fato, que inspirou decisões no STF por ocasião do julgamento do mensalão, é afastado do processo do petrolão. E por enquanto, não há indicação do envolvimento pessoal da dirigente na lista de propineiros. Outro argumento de vulto é sobre os atos cometidos no primeiro mandato da presidente. Não poderiam ser transportados para o segundo, apesar de teses contrárias, em menor escala, de que o governante, em dois períodos de quatro anos, é uno, não podendo repartir sua identidade. Mesmo se a situação comportasse tais abordagens, o affaire se prolongaria até o término do mandato na esteira de um denso contencioso jurídico.

Quanto às pedaladas fiscais, que teriam sido por ela cometidos, persiste a informação –procedente – de que outros governos teriam cometido o mesmo erro, particularmente as administrações de FHC e Lula. Ademais, a imagem do TCU, um ente com viés político, padece de corrosão face à suspeição de intermediação envolvendo o filho do presidente Aroldo Cedraz.

Se a questão das contas de campanha entrar na agenda do TSE, haveria duas vertentes a se considerar: uma, que a chapa Dilma/Temer, comprovando-se uso de caixa dois, seria cassada; outra, que as contas da presidente e de seu vice seriam separadas, na medida em que os dois apresentaram contas separadas ao Tribunal, cada qual com doações, receitas e despesas devidamente arroladas. Nesse caso, as contas da presidente, em caso de desaprovação, poderiam ensejar um pedido de impeachment no Parlamento.

Ora, todas as hipóteses baterão nas casas da representação política. Como se sabe, a decisão de afastar um mandatário, em qualquer nível, ingressa na esfera político-parlamentar. Os representantes, porém, costumam atrelar suas decisões ao momento social do país, o que significa avaliar demandas e carências da comunidade, ouvir o grito das ruas, sentir a indignação das massas. Esse poder acabará fazendo eco nas instituições políticas. E como decide o político?

Com um olho no cargo, outro nas ruas. Os postos na administração pública seguram os votos a favor ou contra o governo. Nesse ponto, a dúvida persiste: em tempos de vacas magras, o que o governo pode distribuir? A divisão de comandos na administração saciará o apetite de todos os partidos da base? O governo tem munição para enfrentar a luta por cargos, quando ele mesmo pensa em cortar o número de Ministérios, hoje somando 39? A economia é a locomotiva da política. Se a locomotiva não tem combustível, o trem para. Aos ocupantes dos carros, resta ouvir o clamor da turba. Se o caso for esse, os representantes tomarão distância do Executivo, fazendo fila para contestar a chefe do Executivo. E quando dirigentes das casas representativas entram na lista de suspeitos envolvidos na Mani Pulite brasileira? Eis o imbróglio que dá vida à Sua Excelência, o Senhor Imponderável Curvilíneo da Silva, cujo sobrenome exprime a única certeza que se tem: a crise vai longe. 

Como se forma o poder

 

Demissão? De jeito nenhum

Evidência maior de que o governo bate cabeça, com Madame despencando cada vez mais nas profundezas, está na reunião do conselho político por ela convocada para a noite de ontem, no palácio da Alvorada. Além do vice Michel Temer, lá estiveram sete ministros. Todos discutindo soluções para o país sair da crise, mas saltando de banda diante da proposta maior que seria, mas não foi, a completa reformulação e redução do ministério, para a adoção de um plano capaz de recuperar a economia e pacificar a política.

No caso, “farinha pouca, meu pirão primeiro”. Ou máxima ainda mais antiga, do “Mateus primeiro os teus”. À exceção do vice, com mandato fixo, não cogitaram entregar os cargos Aloísio Mercadante, da Casa Civil, José Eduardo Cardozo, da Justiça, Elizeu Padilha, da Aviação Civil, Nelson Barbosa, do Planejamento, Jacques Wagner, da Defesa, Edinho Silva, da Comunicação Social, e Joaquim Levy, da Fazenda – se é que algum outro compareceu e não está referido. Imagine-se os demais integrantes de uma equipe no total com 39 ministros. Com unhas e dentes, agarra-se a equipe posta em frangalhos para encontrar a saída da crise sem abrir mão de seus espaços, quando o primeiro ato dessa novela de horror seria deixar Dilma à vontade para mudar tudo.

Recompor o governo, e até cortar pela metade o número de ministérios, seria o primeiro passo na busca de novas soluções para evitar a bancarrota nacional. Como todos pretendem ficar, julgando-se detentores de programas para a recuperação, esbarra a tentativa em seu primeiro e insuperável obstáculo. Na verdade, mais do que salvar a economia ou salvar a própria Dilma, pretendem salvar-se.

Nem sempre essas mudanças dão certo, mas sem elas o fracasso torna-se inevitável. Nem se fala dos ministros ausentes da reunião de ontem, parte dos quais a presidente nem saberá o nome, quanto mais suas metas, se é que as tem.

Entregues à sanha dos partidos, os ministérios não desenvolvem objetivos para os respectivos setores, senão para garantir seus espaços de poder, quando não para distribuir benesses e propinas. Como faltam coragem e discernimento a Dilma para compor uma nova equipe, o governo continua a girar em círculos. Logo se constatará não haver mais tempo, como não houve para Fernando Collor, anos atrás. Em queda livre para a defenestração, ele compôs o que terá sido o melhor ministério da República. Não adiantou.

Faltam detalhes sobre o encontro da noite passada, mas não errará quem supuser exortações de fidelidade e confiança na superação do caos, por parte dos ministros presentes e na intenção dos ausentes, quando bastaria um pedido de demissão coletiva e irrevogável de todos.

Por que a esquerda enveredou para o crime

O que está acontecendo com o PT não é um fenômeno isolado. Aconteceu com vários grupos da esquerda autocrática depois da queda do muro de Berlim. Sobretudo na América Latina, em que muitos dirigentes de organizações ditas revolucionárias enveredaram para o crime.

Conheci vários desses militantes que viraram bandidos. Daniel Ortega, da Frente Sandinista, hoje presidente da Nicarágua, foi um deles. Me lembro como se fosse hoje. Ele foi convidado de honra no I Congresso do PT (que coordenei), no final de 1991. Chegando lá, no Hotel Pampa, em São Bernardo, Daniel pediu logo ao tesoureiro do PT à época, se não podia arranjar umas prostitutas. Esse Daniel e seu irmão Humberto, eram teleguiados de Fidel, que lhes passava pitos, aos berros. Reuniões decisivas para o futuro da chamada revolução sandinista foram realizadas em Havana, sob o comando de Fidel. E enquanto as bases petistas da Igreja idolatravam por aqui os sandinistas como expoentes de uma nova espiritualidade dos pobres, esses bandidos assaltavam patrimônio público (inclusive passavam para seus nomes propriedades imóveis) do Estado nicaraguense.


O mesmo ocorreu com gente da Frente Farabundo Marti de Libertação Nacional de El Salvador, que também está no governo. Aconteceu com o Mir (e com o Mir Militar) chileno, com alguns Tupamaros, com as FARC colombianas e, é claro, com a nova leva de bolivarianos, que não tinham tanta tradição de esquerda, como Chávez, Maduro e Cabello (mas aí já estamos falando de delinquentes da pior espécie, que inclusive chefiam o narcotráfico na região) e como Rafael Correa e Evo Morales. Bem, para resumir, aconteceu com boa parte das organizações e pessoas que frequentam as reuniões do Foro de São Paulo (fundado, não por acaso, um ano depois da queda do muro - e eu estava presente na reunião de fundação, no Hotel Danúbio).


Não dando certo a revolução pela insurreição, pelo foquismo ou pela guerra popular prolongada, essa galera chegou à conclusão de que seria preciso fazer a revolução pela corrupção. Bastaria adotar a via eleitoral contra a democracia e depois assaltar o Estado para financiar um esquema de poder de longo prazo. O plano era simples: conquistar hegemonia sobre a sociedade a partir do Estado aparelhado pelo partido. O objetivo era claro: chegar ao governo pela via eleitoral, tomar o poder e nunca mais sair do governo. Para isso, entretanto, era necessário, além do tradicional caixa 2, fazer um caixa 3, encarregado de custear ações legais e ilegais, ostensivas e clandestinas, para controlar as instituições, comprar aliados, remover ou neutralizar obstáculos...

Afinal, pensaram eles: as elites não fizeram sempre assim? Para jogar o jogo duro do poder não se pode ter escrúpulos. Foi essa a conclusão de Lula, Dirceu e dos dirigentes petistas que tomaram o mesmo caminho. É claro que, como ninguém é de ferro e como não se pode amarrar a boca do boi que debulha, alguma compensação em vida esses bravos revolucionários mereciam ter. E foi assim que enriqueceram, abriram contas secretas no exterior para guardar os frutos dos seus crimes, adquiriram bens móveis e imóveis em nome próprio ou de terceiros e foram levando a vida numa boa enquanto o paraíso comunista não chegasse.


O ano de 1989 foi decisivo para essa degeneração política e moral da esquerda. Mas o que aconteceu não foi um resultado do somatório de desvios individuais. Não! Eles viram que seria muito difícil conquistar o mundo e assumir o comando de seus próprios países, contrapondo um bloco a outro bloco. O bloco dito comunista se desfez. A União Soviética derreteu em 1991. Ruiu tudo. E agora? Bem, agora - pensaram eles - seria necessário ter uma nova estratégia. E eis que surgiu uma ideologia pervertida, baseada numa fusão escrota de maquiavelismo (realpolitik exacerbada) com gramscismo. Eles, como operadores políticos, conduziriam a realpolitik sem o menor pudor, enquanto que pediriam ajuda aos universitários para dar tratos à bola do gramscismo (e reproduzir mais militantes nas madrassas em que se transformaram as universidades).

No Brasil, porém, parece que erraram no timing. Precisariam de mais uns três ou quatro anos para ter tudo dominado, dos tribunais superiores, passando pelo Congresso, pelo movimento sindical e pelos fundos de pensão, pelos (falsos) movimentos sociais que atuam como correias de transmissão do partido, pela academia colonizada, pelas ONGs que se transformaram em organizações neo-governamentais, por uma blogosfera suja financiada com dinheiro de estatais e por grandes empresas (com destaque para as empreiteiras, atraídas pela promessa de lucros incessantes quase eternos se estivessem aliadas a um sólido projeto de poder de longo prazo).

Não deu tempo. O plano foi descoberto antes que as instituições fossem completamente degeneradas. E chegamos então a este agosto de 2015, ano em que alguns desses dirigentes vão começar a assistir, de seus camarotes na prisão, o desmoronamento do esquema maléfico que urdiram.

Augusto de Franco  (coordenador do primeiro Congresso do PT).

História mal contada



A História está mal contada. Literalmente. Para subsidiar o relatório final da Comissão Estadual da Verdade do Rio de Janeiro (CEV-RJ), pesquisadores da PUC-Rio se debruçaram sobre 20 de 40 livros da disciplina indicados pelo governo a alunos dos ensinos fundamental e médio. O grupo analisou o conteúdo relacionado ao período da ditadura militar. O resultado decepcionou. A tortura dos presos políticos é abordada superficialmente; as sucessões presidenciais e os Atos Institucionais são enfileiradas em ordem cronológica, sem contextualização; faltam informações sobre o ambiente sociopolítico que antecedeu o golpe de 1964. Não há referência às violações dos direitos humanos nem à luta por anistia e Justiça de transição. São lacunas que explicam muito do Brasil de hoje, três décadas após a redemocratização.

Todas as edições avaliadas pelo grupo coordenado pelo professor José Maria Gomez integram o Programa Nacional do Livro Didático. É via PNLD que o Ministério da Educação influencia o projeto pedagógico das escolas brasileiras. Os vácuos deixados tanto nos livros quanto na formação professores interferem no que os pesquisadores chamam de ferramentas para a não repetição. “A escola tem o papel de analisar de forma exaustiva e pertinente a ditadura e tudo o que ela significou, não só naqueles 21 anos, mas também na História atual do Brasil. Se olharmos os laços do passado com o presente, entenderemos como a violência política da ditadura se relaciona com a violência policial hoje. A compreensão daquele período é fundamental para que experiências autoritárias não se repitam”, explica Gomez.

Nos livros de História, chamou atenção, em particular, a falta de menção aos direitos humanos. O tema só aparece em títulos de Sociologia. Quase nenhuma publicação trata da repressão do regime a trabalhadores, camponeses e indígenas. São raras as referências aos atentados planejados e executados pelas Forças Armadas. Mortes e desaparecimentos de presos políticos são abordados genericamente, embora nos últimos anos a apuração dos crimes tenha avançado. Prova disso são a Comissão Nacional da Verdade, cujo relatório final foi publicado em 2014, e a multiplicação das comissões estaduais.

Os nomes dos livros, segundo o professor Gomez, não serão divulgados, porque a intenção da pesquisa não é constranger os autores, mas fazer recomendações para políticas públicas de educação e memória. Uma delas é ampliar o conteúdo dos livros; outra, incrementar a formação continuada dos professores com resultados de investigações recentes sobre o regime militar. Há a ideia de instituir no Estado do Rio o 28 de março como data dedicada às reflexões sobre violações de direitos humanos. Naquele dia, em 1968, o secundarista Edson Luís de Lima Souto foi assassinado por policiais militares do Rio durante a invasão do Calabouço, um restaurante estudantil da capital.

O projeto “Políticas públicas de memórias para o Estado do Rio: pesquisas e ferramentas de não repetição”, da PUC-Rio com financiamento da Faperj, engloba outras dimensões. Será elaborado um livro com localização e história de 90 pontos de repressão e resistência. Vinte e três espaços de dispositivos repressivos já foram mapeados, entre eles DOI-Codi, DOPS, Casa da Morte (Petrópolis). Ypiranga Futebol Clube (Macaé) e Batalhão de Infantaria Blindada (Volta Redonda). Os pesquisadores vão propor a transformação de alguns em centros de memória. Para ninguém deixar de aprender. Nem esquecer. 

Só a propaganda não resolve a crise nacional

O programa do PT veiculado na última quinta-feira desencadeou reações negativas por todo o país. Panelaços, buzinaços e foguetórios retrataram novamente a crise de popularidade anunciada pelas últimas pesquisas, ratificando o que é, seguramente, o pior momento da presidente Dilma Rousseff e de seu partido. Lula, inclusive, confirma a precária situação da estrela vermelha ao dizer que “nosso pior momento ainda é melhor para o trabalhador”. É uma meia verdade que não funciona bem como uma boa mea culpa.

Talvez tenha sido a melhor inserção que o partido produziu desde os tempos da campanha feita por Duda Mendonça para eleger o Lula “paz e amor”. Foi também um bom material informativo. Traz dados que são verdadeiros e relembra o que de bom o PT conseguiu trazer para o Brasil. Do ponto de vista técnico, portanto, a inserção foi uma excelente peça de publicidade, com objetividade, emoção e plástica irretocável.

Porém, para uma propaganda funcionar, não basta apenas um grande comercial. O bom resultado depende da conjugação de outros fatores, sobretudo os externos, como a disposição do interlocutor em ouvir.

Quando o PT de outros tempos colocou na televisão a bandeira brasileira sendo consumida por ratos e depois apostou na emoção de dezenas de grávidas descendo um gramado rumo à esperança de um futuro melhor, três aspectos colaboraram para o sucesso da comunicação petista: a população acreditava no PT, sentia que o partido era algo novo para o Brasil e desejava uma mudança. A publicidade despertou uma predisposição já existente na sociedade.

Em meio à tormenta que vivemos agora, os brasileiros, pelo menos em sua grande maioria, não acreditam mais que o PT possa resolver os dramas do país, sentem raiva de suas principais lideranças e, novamente, desejam mudanças em quase tudo o que permeia a vida pública e política de nosso país.

Portanto, pior que ouvir as panelas de quem é contra o governo de Dilma é não ser ouvido. Tudo o que o PT tenta dizer está sendo usado contra ele próprio. Falta a tal predisposição do interlocutor. O acreditar, o sentir e o querer da população não vão mais ao encontro do PT, mas de encontro às políticas que Dilma e sua equipe de governo, inevitavelmente, terão que perseguir para conseguir recuperar a economia.

O discurso da crise política não é o bastante para recuperar a governabilidade. Em outros tempos, falava-se de um “pacote de bondades”. Sem condições para oferecer isso às massas, devido às finanças do país, o melhor que a presidente pode fazer é resistir à tempestade operação Lava Jato atinja sua cabeça. Dessa vez, a propaganda não poderá ajudar muito.
 Heron Guimarães

A farra dos cargos de confiança

A estrutura governamental da administração Dilma, com seus 39 ministérios, custa perto de R$ 500 bilhões por ano aos cofres públicos e possui mais de 100 mil pessoas em cargos de confiança. Este número é um deboche ao trabalhador e contribuinte que não vê nenhum resultado prático dessa gastança desenfreada.

Dentro dessa triste realidade, chama nossa atenção essa imensa quantidade de cargos de confiança e seus valores. Só no Ministério da Educação, temos mais de 50 mil cargos de confiança, fora os cerca de 300 mil efetivos. Vale lembrar que na época de Juscelino Kubitschek tínhamos 13 ministérios.

Durante a Ditadura Militar nunca passamos de 16. José Sarney tinha 25, Fernando Henrique 24, Lula subiu para 35 e Dilma chegou a 39. Países como Alemanha e Estados Unidos têm respectivamente 14 e 15. Isso mostra claramente que a criação de ministérios e cargos de confiança é uma forma de abrigar a corte governamental e sua base aliada. Faltam professores, médicos, policiais, mas sobram assessores para todos os lados. Cada deputado federal pode ter até 25 assessores.

Para a Presidência e Ministérios não há limites de cargos de confiança, bastando que sejam autorizados pela Presidenta. Com tudo isso, temos um dos piores serviços públicos do mundo. Em termos de salários, um motorista ou uma secretária do IPEA ganha mais que um professor com doutorado no magistério público. Cada senador pode contratar até 50 assessores comissionados, cada deputado até 25 e assim por diante. A Presidência da República tem cerca de 7.000 servidores e esses cargos envolvem gastos absurdos.
No final de 2014, o Planalto adquiriu eletrodomésticos, toalhas de banho, aparelhos de ginástica e outros, pela bagatela de R$ 260 milhões, para melhorar o condicionamento físico dos seus servidores e seguranças. Atualmente, pressionada pelos movimentos das ruas e pesquisas que apontam mais de 93% de rejeição ao seu governo, Dilma Roussef deve ser forçada a diminuir a gigantesca máquina de desperdiçar dinheiro público que ajudou a criar e extinguir alguns ministérios que nem deveriam ter sido criados.

 

Ao mesmo tempo em que aumentam impostos, retiram direitos dos trabalhadores, sufocam as empresas e causam recessão e desemprego, o governo continua com uma máquina inchada, ineficiente e que segue gastando sem limites o nosso dinheiro. Até quando o governo vai continuar com essa gastança, vivendo em outro mundo e rindo da nossa cara? Quando vai desmontar essa máquina imoral, parar de criar cargos inúteis e se concentrar no que realmente importa para o país?