Os fundos de pensão estão no centro da corrupção na política brasileira. O governo Lula descobriu os fundos de pensão. Em vez de demolir o núcleo de corrupção ali já existente, decidiu usá-loRoberto Mangabeira Unger, em 2005, mas depois seria ministro de Lula e agora de Dilma
domingo, 8 de fevereiro de 2015
E ninguém mais fala
Jamais visitou um poço de petróleo
Vamos que na véspera de uma decisão qualquer, o Neymar se contunda ou até se negue a entrar em campo. Caberá ao Dunga encontrar um substituto à altura, mas como reagirá a torcida caso ele convoque o Marcelinho, craque do basquete sem a menor intimidade com o futebol?
É o que acontece com a presidente Dilma no papel de técnico. Para presidir a Petrobrás, foi buscar Aldemir Bendine, presidente do Banco do Brasil. É claro que como no basquete e no futebol, joga-se com uma bola, mas são diversas as regras e características dos dois esportes. No mínimo, o Marcelinho vai querer jogar com as mãos e estranhará o tamanho do gol quando se aproximar da área adversária…
A substituição de Graça Foster na presidência da Petrobrás evidencia, uma vez mais, o descontrole, a falta de critério e a incapacidade do nosso Dunga do palácio do Planalto. Dilma não consegue formar uma equipe, e quando anuncia alguma escalação, deixa óbvia a confusão. Bendine por ser bom na aquisição de bancos estrangeiros, até mesmo na facilitação de crédito para os fregueses do Banco do Brasil, mas, em matéria de petróleo, confunde pré-sal com salamaleque. Terá carta-branca para que? De que forma irá recuperar a imagem da esfrangalhada empresa estatal, se jamais visitou um poço de petróleo?
Mais esse episódio mostra o pantanal em que o governo se meteu sem a menor possibilidade de recuperação. Afunda cada vez mais nas próprias contradições, primeiro comprimindo, depois aumentando preços e impostos. Suprime direitos trabalhistas, entrega-se à chantagem dos partidos e colhe derrotas no Congresso.
Dona das verdades absolutas, a presidente imagina-se imperatriz da nação, instância suprema de todas as decisões. Não consegue dialogar com os sindicatos nem com o empresariado. As bases de seu partido encontram-se em franca rebelião, ao tempo em que as forças aliadas comportam-se como adversárias. A inflação sobe, o PIB desce, ao tempo em que a fatura dos desatinos vai para onde sempre foi: as massas e a classe média. A sombra do racionamento de água e de energia só não assusta mais do que o desemprego. Convenhamos, algo necessita ser feito, mas o quê?
O exemplo do que fazer talvez venha do Vaticano. Diante da inoperância de um Papa sem condições de exercer suas funções, mas sem ânimo para enviá-lo ao Criador mais cedo do que dispõe os Sagrados Desígnios da Providência, os cardeais decidiram eleger outro. Ambos convivem, ainda que apenas um venha tentando, até com sucesso, recolocar a Igreja em seu caminho.
Não há provas?
Errar calado e por calar-se
Avaliação negativa saltou de 24% em dezembro para 44% em fevereiro |
O momento de pôr em curso decisões impopulares é agora, não só porque a conjuntura pede, mas também porque é começo de mandato. Se as coisas melhorarem depois de 2016, terá valido a pena no cômputo eleitoral.
Reclamar da incoerência com o que se vendeu durante a campanha do ano passado é inútil. Compensa mais chorar abraçado ao travesseiro para ver se se conquistam alguns pontos na escala da tosca maturidade política.
Acontece que a situação da presidente está difícil até jogando em casa. Da parte dos tucanos e amigos, que se recusaram ao diálogo e a oferecer a outra face, era de se esperar a postura crítica tão firme como superficial: “Dilma não mudou? Avisamos que as preferências dela tendem a afundar o país”. “Dilma mudou? Estão vendo como ela mentiu na campanha?”
Já do seio petista vem o jato de impopularidade mais importante. A escolha de ministros como Joaquim Levy e Kátia Abreu abriu feridas no partido, somando-se a esses perfis pouco afeitos aos companheiros a decisão de pôr o pessoal do Lula para fora do Planalto. Foi Marta quem pôs a boca no mundo e expôs o cisma.
Na economia, o fato de Levy ser e agir como um “Chicago Boy” de pedigree não surpreende, assim como a repercussão de sua ortodoxia dentro do “PT de raiz”. Novidade é termos um ministro da Fazenda com, aparentemente, autonomia para além de mero agente da “chefa”. A que distância irá essa corda?
Entre os petistas que andam torcendo o nariz, Levy é comparado à gestão Palocci no primeiro ano do governo Lula. Quando 2003 ainda estava pela metade, foram lançados livros, artigos e manifestos de intelectuais e militantes insatisfeitos com a condução da Fazenda e frustrados diante das imensas expectativas inspiradas pela ascensão do líder operário. A diferença para a situação de agora é que, na circunstância passada, as esperanças eram realmente enormes. Já hoje a falta de expectativas é que pode sentenciar um futuro menos próspero.
O que Dilma precisa para que alguma coisa que faça seja encarada como positiva é se comunicar. Quando ela venceu, em 26 de outubro, discursou pregando a reconciliação. Parecia o primeiro passo para um novo ciclo, uma transição da gerente para a estadista. Ficou só parecendo, e a impressão só se esmaece.
O país enfrentará dias difíceis, de racionamento, escassez, talvez de desemprego. É papel do chefe de Estado vir a público nesses casos e falar, justificar suas escolhas, explicar por que um passo supostamente para, trás é o melhor caminho para dar dois a frente depois. Se ela não fizer isso, mais do que a suspeita de soberba, estará confirmada sua inaptidão em fazer política aos melhores modos republicanos.
João Gualberto Jr.
'Na dúvida, fique com o companheiro'
Lula busca reabilitar lealdades valendo-se do credo que sempre inspirou o PT. Nele, os companheiros pairam acima de tudo. Da verdade, da Justiça, do paísA prática não começou na Presidência da República. Desde sempre, ainda quando o voo de alcance máximo eram as prefeituras, o PT tratou o Estado como uma ação entre amigos. No Planalto, a coisa descambou: ampliou-se a rede de companheiros, multiplicaram-se os esquemas de financiamento, pulou-se de milhares para milhões.
Sem o charme de outrora e vendo tudo desmoronar, o partido agarra-se ao desgastado chavão do perseguido. Difícil que dê certo diante do poço sem fundo de lama em que se meteu.
Nem Lula garante o êxito da estratégia.
Ainda que encante o público interno com a sua fala sempre sedutora, Lula não consegue mais transformar água em vinho.
Transfere para os adversários os pecados cometidos pelos governos petistas e repete a ladainha de atribuir denúncias que enojam o país e escancaram os métodos espúrios do partido a uma tentativa da mídia de criminalizar o PT. Na comemoração dos 35 anos da legenda, chegou ao desplante de indicar um “ritual” da mídia contra o partido: na quinta-feira, boato; na sexta, denúncia; no domingo, massacre.
Fala como se a delação premiada de ex-diretores da Petrobras indicados por seu governo, dando conta de que o PT abocanhou nada menos de US$ 200 milhões da estatal, fosse invenção da imprensa. Como se partisse da mídia a negativa de auditores externos de assinar o balanço da petroleira, tamanho o rombo. Como se os condenados no Mensalão fossem inocentes.
Nega fatos como o crescimento do país perto de zero - até negativo no caso da indústria - ou a inflação de 7,14% nos últimos 12 meses. Meras invencionices de jornalistas.
Sem qualquer pudor, Lula compara medidas duras que terão de ser tomadas para tirar o país da UTI à quimioterapia e radioterapia às quais foi submetido. Como se a doença da economia não tivesse sido provocada pelo governo Dilma Rousseff, mas por um câncer de origem desconhecida.
A galera vai ao delírio. Mas Lula e o PT precisam mais do que isso. Necessitam da mágica, do condão que o ex não mais tem.
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