quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Brasil, pátria educadora

Ao tomar posse no dia 1º de janeiro, Dilma Rousseff anunciou o lema de governo de seu segundo mandato como Presidente da República:“Brasil, pátria educadora”. Para aqueles que, como eu, sonham com um país mais justo e mais digno, no qual a educação tem uma função fundamental de alicerce da cidadania, as palavras poderiam até soar como uma aragem de esperança. Não que confie em discursos de políticos – quaisquer que sejam eles, valem tanto quanto notas de três reais –, mas o desejo de mudança é tão grande que qualquer bafejo reacende a brasa dormida. No entanto, neste caso, sabíamos, “Brasil, pátria educadora” não passava de slogan publicitário, forma sem conteúdo. O desprezo do governo Dilma pela educação não é maior que o de todos os outros que a precederam. A diferença é que nenhum antes havia manifestado tamanho cinismo.
Com o anúncio da substituição de Renato Janine Ribeiro por Aloízio Mercadante, Dilma perfaz quatro diferentes nomes no cargo de ministro da Educação em apenas nove meses de mandato, um recorde. Desde o fim da ditadura, em 1984, passaram pela pasta 19 pessoas – sete apenas sob administração de Dilma Rousseff, ou seja, média de mais de um por ano. Com um histórico destes, torna-se difícil até mesmo formular políticas públicas de curto prazo – e absolutamente impensável elaborar projetos de longo prazo, que é o que necessitamos com urgência. Em maio, o governo já havia anunciado cortes de R$ 9,5 bilhões no orçamento destinado à educação – dois meses depois, a área perdeu outro R$ 1 bilhão, numa clara sinalização de que o setor nunca foi e continua não sendo prioridade do governo.

O Brasil ocupa o vergonhoso 60º lugar, numa lista de 76 países, no ranking de qualidade de educação, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), que avalia o conhecimento de alunos na faixa de 15 anos em matemática, leitura e ciências. O resultado do Enem do ano passado revela a tragédia: 529 mil redações (8,5% do total) tiraram nota zero – e somente 250 de 6,1 milhões de candidatos alcançaram nota máxima (0,004% do total). Calcula-se que 15% dos jovens brasileiros entre 15 e 24 anos sejam analfabetos funcionais – ou seja, não conseguem interpretar textos e limitam-se a compreender operações matemáticas simples. E a tragédia se estende ao ensino superior: o Instituto Paulo Montenegro concluiu que os analfabetos funcionais constituem 38% dos estudantes universitários.

Sucateadas, as universidades federais mantêm-se em greve há mais de quatro meses – nem durante a ditadura militar as instituições federais de ensino superior pararam por tão longo tempo. O Fundo de Financiamento Estudantil (FIES), que custeia bolsas de estudos para alunos carentes em universidades privadas, sofreu uma redução de 50%: o número de novos contratos caiu de 480 mil em 2014 para 252 mil neste ano. E o programa Ciências sem Fronteiras, menina dos olhos do governo Dilma, teve congeladas as vagas: o orçamento para 2016 cobre apenas a manutenção dos estudantes que já se encontram no exterior. O Brasil não possui nenhuma universidade entre as 250 melhores do mundo, segundo ranking elaborado pela Times Higher Education – a primeira que surge, a USP, na faixa de 251º a 300º, é estadual; a primeira federal, a UFRJ, aparece classificada na faixa de 501º a 600º.

Se no topo do sistema educacional – os ensinos médio e superior – nos deparamos com esta desolação, não é melhor a realidade do ensino fundamental. Faltam bibliotecas – presentes em apenas 27,5% das escolas (no estado de São Paulo, o mais rico da federação, 85% das unidades estaduais e municipais não contam com biblioteca). Faltam 1,2 milhão de vagas nas pré-escolas. Os alunos, em todas as etapas do ensino, têm aulas em prédios mal conservados e ambiente pouco estimulante; os professores são em número insuficiente, recebem salários baixos e contam com poucos recursos didáticos — ambos, alunos e professores, são acossados pela violência. Se somarmos o número de analfabetos funcionais (68% da população) aos analfabetos (7% do total), teremos que apenas 25% dos brasileiros, ou seja, um em cada quatro, possuem pleno domínio da leitura, da escrita e das operações matemáticas. É evidente que essa situação é uma herança histórica e não pode e nem deve ser atribuída aos governos tucano e petista que comandaram o país nos últimos 20 anos. Mas também é verdade que nenhum deles fez, efetivamente, nada no sentido de reverter esse quadro.

Você (ainda) tem a força!

O PT – que já andou namorando a idéia de que um impeachment seguido de um governo “de união nacional” chefiado pelo PMDB presidindo a fome que será exigida pelo desastre que contratou para o Brasil daria o álibi perfeito para Lula voltar como salvador da pátria em 2018 – agora está pacificado e firmemente unido em torno da tese do tudo ou nada.

Se ha uma “qualidade” que não pode ser negada ao partido é a sua capacidade de enxergar clara e objetivamente a realidade dos fatos e não discutir com eles quando o que está em jogo é a disputa pelo poder. Quem se engana, quando o acusa de brigar com a realidade, são os críticos que medem as ações do PT pela lógica econômica ou pelo interesse da república que jamais entraram em suas considerações. Para a consecução do único objetivo que lhe interessa o que dizem os fatos é que a via eleitoral está esgotada, tanto mais quanto mais para frente se olhar no horizonte. Não é mais de anos, é de décadas de vacas magérrimas que estamos falando. Eleições, depois da última pela qual passou raspando a custa de quebrar a Petrobras (e não só a ela) para embalar em bilhões o maior conto do vigário a que o eleitorado nacional jamais foi submetido são, doravante e até onde se pode enxergar, o perigo a evitar.


Muito antes do previsto, portanto, o furacão Dilma combinado com o fim do milagre chinês empurra o PT para a segunda fase do seu projeto hegemônico antes, ainda, que a primeira tivesse sido completada. O marco oficial dessa inflexão está na desistência, sacramentada pela Fundação Perseu Abramo, de tentar curar a economia da doença que o lulopetismo instilou em suas veias para se agarrar à equação que até ha pouco ele próprio tinha admitido insustentável e tentar durar o bastante no poder, com expedientes protelatórios e a quantidade de “diálogo” ($) que for necessária no atacado e no varejo, para que a manobra se torne irreversível e passar, então, a ancorar de peito aberto seu projeto naquilo que seus liderados do Foro de São Paulo já ancoram o seu. É um ato de desespero mas é a direção para a qual apontam os fatos. Da combinação de aparelhamento do Estado e das instituições democráticas com farra fiscal para subsidiar a festa do consumo e derrotar opositores nas urnas, vamos sendo inexoravelmente empurrados para o funil da combinação de instrumentalização da miséria com violência para tirar opositores do caminho a qualquer custo que caracteriza todos os estados bolivarianos com economias agonizantes à nossa volta.

Para tanto será necessário acelerar o que ainda está por fazer da “Fase 1” que é a da ocupação do Estado (já completada) e da desmontagem das defesas democráticas da nação (ainda por completar). É esse o sentido da tentativa de golpe contra o TCU. Mesmo diante da inusitada resistência desse tribunal, porém, nada autoriza subestimar a capacidade do PT de conseguí-lo. O PMDB, por exemplo, acredita piamente nisso. Ao ver Lula assumir o leme e dobrar a aposta em sua inabalável convicção de que todo mundo é podre, bastando, para cavalgá-los, melhorar as condições ambientais para que apodreçam mais rapidamente, a raspa do tacho do partido que dias atrás ainda hesitava diante da perspectiva de tudo se esboroar nas mãos de Dilma entendeu que chegou a hora do “free for all” e perfilou-se, salivante, em ordem unida.

A “reforma ministerial”, que começou a pretexto do “ajuste”, converteu-se oficialmente em mais uma vasta operação de distribuição de postos de tocaia aos dinheiros públicos para os membros das organizações investigadas pelo juiz Moro para tratar de impedir que a lei alcance o PT antes que ele tenha tempo de colocá-la exclusivamente ao seu serviço. A crônica política está reduzida a um relato diário sobre quem comprou quem, por quanto e para quê. As “partes” negociam em público os nacos daquilo que a nenhuma delas pertence ameaçando represálias contra a Nação sequestrada. Cada etapa da farsa é encerrada com a manifestação regulamentar do jurista ou do “especialista” estrelados da vez para, invocando umas e esquecendo outras conforme a conveniência do momento, colocar as leis a serviço do crime e garantir que não ha nenhum “elemento técnico” que permita deter essa mixórdia. Quando até isso falha, recorre-se aos agentes do aparelhamento das instituições para exigir deles mais um passo em direção ao ponto de não retorno.

A capital federal é cada vez mais um gueto que o resto do país repudia. Trancados em suas “dachas”, impedidos de frequentar o Brasil que os brasileiros frequentam, ameaçados de linchamento onde quer que apareçam em público, não ha, porém, instituição que alcance os sócios do assalto ao Brasil. Mas não é mesmo em busca de aprovação que está quem troca abertamente nacos do orçamento público pela vontade manifesta de seus eleitores. Só uma ação decidida das ruas poderá alterar o rumo dos acontecimentos. E não ha nenhum “goplpismo” nisso. Ao contrário, é essa a essência do processo democrático. Nos governos “do povo, pelo povo e para o povo” não ha lei alguma que, legitimamente, possa tornar ilegal a vontade do povo. Ele é a unica fonte de legitimidade de onde, por enquanto até para a nossa “Constituição dos Miseráveis”, emana todo poder.


Não é o Brasil, portanto, que tem de perguntar a Brasília o que ele pode ou não pode fazer com os mandatos que temporaria e condicionalmente concede a seus representantes. É o contrário.

O povo põe; o povo “des-põe”.

Como está absolutamente só, traído por todos os seus representantes eleitos, se quiser manter abertos os canais que restam e alimentar a esperança de reconstituir os que estão obstruídos pela cooptação e pela corrupção, o povo brasileiro terá de demonstrar na rua o tamanho dessa vontade. Conseguirá o que estiver realmente disposto a conseguir pois a democracia brasileira está desorientada e cambaleando mas ainda não está completamente surda.

Portal do inferno

Quem circula pelo mundo da educação sabe da tremenda ressaca que se disseminou entre educadores brasileiros com a recentíssima troca de comando no Ministério da área. Foi a terceira em dez meses.

Com a demissão vexaminosa, foi pelo ralo a última réstia de esperança de surgir algo minimamente substantivo sob a batuta de Renato Janine Ribeiro.

Esqueçam. No governo da presidente Dilma Rousseff nada acontecerá no setor educacional, a não ser andar para trás. Ou para os lados, como caranguejo.

O agora ex-ministro foi recebido, quando de sua nomeação, com extrema boa vontade por educadores de diversos matizes, muito embora sua experiência como gestor público fosse escassa.

O acadêmico não disse a que veio, é verdade.

Impotente para fazer frente ao gigantesco corte do orçamento da Educação (o setor foi um dos mais afetados pelo ajuste fiscal de Joaquim Levy) o então titular da pasta assistiu, passivamente, o apagão das universidades federais, a drástica redução das vagas do Pronatec, o fim do Ciência sem Fronteiras, o aumento dos juros do Fies ou o brutal corte de verbas para a compra de livros paradidáticos e de ficção para os alunos do ensino básico das escolas públicas brasileiras.

Sem força política e carente de poder de aglutinação, Renato Janine travou sua batalha de Itararé com o também ex-ministro Mangabeira Unger, da finada Secretária para Assuntos Estratégicos - a Sealopra. Estabeleceu-se, assim, uma política educacional bicéfala, com Janine sendo responsável pelo Plano Nacional da Educação - uma miragem semelhante à Ferrovia Transoceânica e ao Trem-Bala - e Mangabeira por um “plano de concepção” com base em outra peça de ficção, o factoide Pátria Educadora.

Quem estabeleceu essa dualidade? A própria Dilma.

Na sua gestão, o acadêmico pagou outro mico. Anunciados os resultados catastróficos da Avaliação Nacional de Alfabetização de 2014, o Ministério da Educação simplesmente suspendeu o ANA de 2015, numa imitação daquela piada do marido traído e do sofá da sala.

Mas Renato Janine Ribeiro não caiu por qualquer um desses fatos.

O professor de ética e filosofia foi defenestrado precocemente porque a presidente precisava dar um prêmio de consolação a Aloizio Mercadante. E protegê-lo com o foro privilegiado.

O episódio é por si mesmo revelador da improvisação e da pouquíssima importância da educação no governo Dilma.



A descontinuidade e a alta rotatividade no MEC são a marca registrada desses tempos do lulopetismo. Dilma começou com Fernando Haddad que saiu para ser candidato a prefeito de SP. Foi substituído por Aloisio Mercadante que deixou o cargo em menos de dois anos. Veio então, por quase um ano, José Henrique Paim, um tecnocrata com carreira pública construída nas entranhas de governos petistas, que ficou no Ministério da Educação distribuindo vagas -sem transparência, controle ou critério- em cursos técnicos de escolas muitas vezes desconhecidas, e esquentando a cadeira enquanto Mercadante fazia a campanha eleitoral de Dilma Rousseff.

Quem o substituiu em 1º de janeiro de 2015? Cid Gomes, aquele meteorito cuja passagem pelo MEC foi mais célere do que um raio.

Entende-se, portanto, o desalento dos educadores com a dança das cadeiras promovidas pelo governo do PT.

Em uma conjuntura de recursos escassos, de dicotomia entre a demanda da sociedade por uma educação de qualidade e a incompetência governamental para atendê-la, mais do que nunca se exige do Ministro da Educação capacidade de formulação além de habilidade para empolgar corações e mentes; pré-requisitos para comandar um grande pacto nacional, cuja agenda está dada desde o final do século passado e que começa com investimento em políticas públicas para a formação e capacitação permanente de professores.

Aloizio Mercadante é esse homem? Tem esse perfil?

De jeito nenhum. É o que se chama de liderança negativa, aquela que, tal qual Átila, onde pisa não nasce grama.

Como gestor, seu grande traço é a enorme capacidade de desagregar, para não falar de sua inapetência para ouvir, na sua soberba e arrogância. Ou não foram essas características que o levaram a se meter em tantas trapalhadas alopradas e a levar Lula a exigir a cabeça dele?

Nesse governo a educação chegou ao Portal do Inferno.

Nele, não tem mais jeito.

É como dizia Dante: "Deixai toda esperança, ó vos que entrais".

Cleptocracia

Estou estudando português. Preciso, pois o uso inadequado do tempo verbal, virgulas e palavras podem produzir desastres. Não desejo transmitir informações equivocadas, fruto da forma, distorcendo o conteúdo.

Fui aconselhado a ler, ler muito. Machado, Guimarães, Rubem Braga, me trouxeram mais inspiração e menos transpiração, restando a tristeza de ouvir que alguns políticos se orgulharem de jamais terem lido um livro.

Estava construindo o artigo sobre a CPMF - cachaça, politicagem, maconha e fumo -, quando precisei usar a palavra honesto. Recorri ao Aurélio e lá estava o adjetivo que indica qualidade, defeito, estado ou condição de um substantivo. Como exemplo citava governo honesto, político honesto, ato honesto, podendo ser substituído por correto, probo, digno. No entanto, pensei, haveria exceção para alguns governos, políticos ou a Volkswagen alemão, por ter utilizado um software para fraudar a avaliação dos poluentes de seus carros.

A questão na minha CPMF, indigna, improba e incorreta, era discutir como os poderes deveriam tomar decisões substantivas, na essência; pois nosso país cria leis passageiras, as que pegam e as que são esquecidas, nada substantivas, sem adjetivos ou dando margem a tantas interpretações. Ficando preso na legalidade, esquecendo o princípio da moralidade, o termo honesto vive sendo aplicado como um gerúndio: uma ação em movimento, que ainda não terminou, sempre esperando algo, às vezes uma grande surpresa ou decepção. Por mais que tentasse, não conseguia usar o honesto como substantivo, apesar de seu uso consagrado em nosso meio do tipo: “muito honesto” ou “bastante honesto”.

Precisava explicar que não é a honestidade da justiça curitibana, que está paralisando o país, ao desconsiderar as graduações e sofismas de nossa cultura em relação ao termo. Além disso há a questão da lei aprovada pelo legislativo, aplicada pelo executivo, com os conflitos arbitrados pelo judiciário. Seria simples se no Brasil não se buscasse o equilíbrio entre os três poderes, de forma fantasiosa, na figura de uma balança com três pratos, três pesos e três medidas.

Acabei capitulando na busca de uma construção elegante.

A maioria dos brasileiros sabe o que é honesto, paga 37% de sua renda em impostos e recebe migalhas para educação, saúde e segurança pública. Desconhece o nome do deputado ou senador que votou, passado um ano da eleição, apesar dos custos das campanhas. Mas esse mesmo eleitor é capaz de cantar a nova música de seu cantor eleito, assim como se lembrar dos títulos do seu time de futebol. É raríssimo um eleitor mudar de time de futebol, assim como votar no mesmo político.

Honesto é um adjetivo que falta aos políticos que alegam desconhecer que não existe almoço gratuito e que caixa-dois é crime. Deveriam estar presos, até por “incompetência criminosa”, pois mesmo gastando fortunas em marketing, continuam anônimos, fora do ritmo e jogando contra.

Chega de gastança para manter a cleptocracia.

A farra das fraudes fiscais dos ratos roendo os rotos

Ulula o óbvio de que a situação desesperadora pela qual passam trabalhadores perdendo os empregos e empresas prestes a fechar as portas só terá alívio quando se mudar o nome que há na placa que indica a usuária do gabinete mais importante do Palácio do Planalto, senha dos resquícios de poder que paralisam e empobrecem o País. Mas isso está a depender agora de alguns poucos fatores: a capacidade de praticar lambanças da gerenta inconsequenta e incompetenta; agentes policiais federais, procuradores da República e juízes honrados e preparados; além de profissionais de comunicação probos, corajosos e independentes.


Tudo o que de horripilante e nauseabundo a Nação vem tomando conhecimento nos últimos 20 meses, até agora, independeu de qualquer iniciativa da soit-disantoposição formal. O chefe dela, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), tem sido merecedor de piadas como a publicada por Jorge Bastos Moreno em sua coluna no Globo sábado passado: ele a exerce no horário comercial das terças às quintas-feiras, quando esporadicamente dá à Nação aflita a subida honra de ouvir sua voz. Mais frequente do que ele na tribuna na anterior gestão da presidente foi o tucano paranaense Álvaro Dias, que jogou no lixo seu cacife ao aderir freneticamente à candidatura de Edson Fachin ao Supremo Tribunal Federal (STF). E também o paulista Aloysio Nunes Ferreira, vice derrotado na eleição, agora investigado juntamente com governistas, velhos comparsas de luta armada contra a ditadura, no maior assalto a cofres públicos do mundo em qualquer época.

O escândalo que corroeu os pés de barro do mito do socialismo honesto do Partido dos Trabalhadores (PT) não foi revelado pela oposição. Mas pela mui pouco arguta gerenta deficienta que o padim Lula Romão Batista nos impingiu, levando-a ao citado gabinete da plaquinha. Foi ela que chamou a atenção para o caso ao inculpar Nestor Cerveró, meliante feito diretor da Petrobrás por esse padroeiro, pela compra da tal “ruivinha” em Pasadena.

Ao sincericídio de Dilma acrescentou-se, durante esse período, a diligente investigação do lava jato de dinheiro sujo do propinoduto da Petrobrás num posto de gasolina em Brasília por Polícia Federal (PF), Ministério Público Federal (MPF) e Justiça do Paraná, na pessoa do novo herói nacional, Sergio Moro. E isso só foi possível mercê de divisões inconciliáveis na PF; da honestidade e do preparo dos procuradores; e da expertise do juiz, enfronhado em práticas contemporâneas do crime organizado e que tinha prestado excelentes serviços ao assessorar a ministra Rosa Weber, no STF, durante o julgamento do processo conhecido como mensalão. E o tsunami de lama foi sendo publicado a conta-gotas.

O extenso aparelhamento da máquina pública federal e dos três Poderes, empreendido pelo trabalho efetuado “diuturnamente e noturnamente” (como diria a atual responsável por desligar e religar seus interruptores) por Zé Dirceu, já valeu a este uma condenação pelo STF no mensalão. E novos processos no que agora se convencionou chamar de petrolão. Uma sólida camada de teflon, contudo, ainda protege o grande chefe de todos, e sua sucessora, de algum constrangimento. Esta continua impávida no poder, sendo até, vez por outra, agraciada com definições de “honesta” pelos tucanos Fernando Henrique Cardoso e Aloysio Nunes Ferreira, dados como de oposição.

Com obsequiosa costura efetuada por Nelson Jobim, que na presidência do STF engavetou pedido de habeas corpus do acusado de mandante da execução de Celso Daniel, Sérgio Gomes da Silva, o máximo que se conseguiu em relação ao ex foi chamá-lo para se explicar na PF na condição de informante – nem acusado nem testemunha. Isso só lhe causa desconforto semântico, pois Romeu Tuma Jr. assegura, em Assassinato de Reputações, que ele foi o agente Barba de seu pai no Dops. E ninguém contestou.

No Tribunal Superior Eleitoral, ex-advogadas do PT não impediram a discussão sobre a existência de provas de uso de gráficas fantasmas e de suspeitas de financiamento do propinoduto à campanha da reeleição. Mas pedem vista ou fogem das sessões para interromper o julgamento. A julgar por fatos recentes, as suspeitas serão julgadas nas calendas, depois de o alvo das suspeições ter decidido se sairá pela porta da frente da História com a renúncia ou despejada por um processo legal, nada golpista.

Dilma, que não se destaca pelo excesso de inteligência, mas também não é tolinha, trata de ganhar tempo no TCU. Ali, como se diz em linguagem vulgar, o buraco é mais embaixo. O procurador Júlio Marcelo de Oliveira foi à Comissão de Assuntos Econômicos do Senado descrever evidências técnicas de com quantas “pedaladas” a candidata disposta a fazer o diabo para ganhar uma eleição pôde levar a cabo esse feito. No entanto, o trio Panela Batida – Adams, Cardozo e Barbosa – anunciou que se propõe a anular o relatório de Augusto Nardes, que lista 18 infrações à lei nas contas federais de 2014. Nunca ninguém antes foi tão cínico na História deste país, diria Lula se fosse da oposição.

Para ganhar tempo no poder, este indicou a Dilma no pré-sal do baixo clero do Congresso quem a ajudará a adiar o impeachment. Um, Celso Pansera, o dono do quilão Barganha, vizinho do Sacana’s, que fez ameaças ao contador da lavanderia do PT, Alberto Youssef, é pau-mandado do ex-sócio e hoje pseudodesafeto dela Eduardo Cunha. Outro, Marcelo Castro, ignoto psiquiatra do Piauí, escreveu o relatório da reforma política, recusado pelo mesmo mandante, Cunha, e assumirá o caos da saúde pública nacional. Com cúmplices no governo e na oposição, que lhe concede o benefício da dúvida, segue Cunha incólume.

No Gabinete Ouro Preto, o baile da Ilha Fiscal prenunciou a queda do Império. O Gabinete do Doutor Picciani vem aí para garantir a farra das fraudes fiscais dos ratos que roem a roupa dos rotos. Amém!

Aquela praça, aquele banco...

Os tribunais de Contas, mesmo com a castração imposta pela Constituinte de 1988, que os classificou como órgãos auxiliares “do” Legislativo, em vez de órgãos auxiliares de informação “ao” Legislativo, ainda detêm alguma competência legal, desde que conselheiros e ministros, no caso do Tribunal de Contas da União (TCU), queiram trabalhar, o que não é comum nem fácil. Conselheiros viajam...


Quando trabalham, acontece o que está acontecendo no TCU. Dona Dilma pintou e bordou no ano passado com o dinheiro público, tomou emprestado dinheiro do próprio governo (sem devolvê-lo “oportuno tempore”), o que a Constituição Federal proíbe. Resultado: o ministro relator do TCU apontou o rombo e já anunciou que seu parecer sobre as contas da ilustre “doutora da Unicamp” será pela rejeição, um desviozinho de aproximadamente R$ 80 bilhões, e, por isso, Dona Dilma quer substituir o ministro relator porque ele teria vazado seu voto antes do julgamento, entendimento de terroristas... O ministro relator, ao abrir vista para a defesa, não tem como não dar publicidade do seu parecer. O Tribunal de Contas, Dona Dilma, não é órgão do Judiciário, é de instância administrativa. Assim, essa sua posição não pode ser de uma “mulher sapiens”, melhor é segurar o tcham ou perguntar o que fazer em algum posto Ipiranga...

E o que representa a rejeição das contas pelo TCU? Representa pouco, só o motivo para instruir o pedido de impeachment...

A reeleição também tem lá suas vantagens: paga quem gastou. Dona Dilma diz que todo mundo faz assim, e nunca o TCU rejeitou as contas de um presidente. Sim, azar o dela se topou com um ministro que estava a fim de trabalhar e meteu o fumo. Agora não adianta chorar. O Executivo da União e o do nosso Estado, colegas de assaltos a bancos em priscas eras, combinaram um procedimento maluco, talvez para mostrar poder: elaboraram seus Orçamentos com déficit, como se isso fosse legal e diferente. Não é nem uma coisa, nem outra... O procedimento teve repercussão negativa e serviu para mostrar que o ex-Luiz, que ainda está solto, não é o único analfabeto do pedaço.

Votei no Aécio sabendo que, dos males, o menor. Mas já imaginaram se ele tivesse sido eleito? Vejam o buraco de tatu em que teria entrado... Estou certo de que Aécio, perdendo a eleição, ganhou. Digo mais, se o país não tem dinheiro, por que patrocinar Olimpíadas?

Agora mesmo, a nossa augusta Assembleia vai inaugurar, com um mês de festas, uma praça pública que deveria ser obra da prefeitura. Será que Dona Dilma não acha estranho a Assembleia construir praça para fazer palanque para lançamento de futuras candidaturas? Eu acho.

Candidaturas a tudo, até a papa, se o Chico bobear, estão a pulular pelas praças públicas e nelas corrutelas das Gerais. Nem parece que os mandatos mal começaram.

Sei não, Dona Dilma, abra os olhos, não fique enxergando cachorro sempre que vê uma criança, lembre-se de que o lobisomem que persegue a senhora tem nove dedos e enxerga de noite o que malandro não vê de dia...

Lula, o entreguista

À medida que o tempo passa, mais se sabe quem é, de fato, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O exemplo mais recente data da última segunda-feira, quando, em palestra em São Paulo para uma plateia formada por partidos de esquerda, ele abertamente confessou ter “doado” para a Bolívia as instalações que a Petrobras mantinha naquele país para extração de gás. A camaradagem já havia sido combinada com o ainda então candidato à presidência boliviana, Evo Morales – que, eleito, meses depois de sua posse pôs suas tropas para confiscar o patrimônio brasileiro, em maio de 2006.
Foi bem simples, segundo relato do próprio Lula: “O Evo me perguntou: ‘como vocês ficarão se nós nacionalizarmos a Petrobras?’ Respondi: ‘o gás é de vocês’. E foi assim que nos comportamos, respeitando a soberania da Bolívia”. O presente que Lula deu à Bolívia valia nada menos do que US$ 1,5 bilhão. E agora se sabe também que a ocupação militar das refinarias não passou de uma patética encenação para dar pretexto à colossal e despropositada oferenda.

É tosco o raciocínio de Lula para justificar a doação. Ele não tinha o direito, senão pisando sobre a soberania do país que governava, de alienar um bem do Estado. É de se perguntar: a seguir seu entendimento, bastaria deslocar nossos navios de guerra para tomar dos estrangeiros as plataformas instaladas para explorar o “nosso” petróleo? Evidentemente, nenhuma das opções pode nem sequer ser aventada por um chefe de Estado. No mundo civilizado devem prevalecer regras contratuais de direitos e deveres que regulam as relações entre nações.

O ex-presidente foi além em suas tardias confissões ao falar para o Foro de São Paulo, organização que reúne representantes de esquerda da América Latina. Ele deixou patente que, ao colaborar com o arroubo de Morales, sua pretensão era a de fortalecer os regimes bolivarianos que floresciam no continente – isto é, Lula foi movido por uma causa ideológica e, em nome dela, transferiu a outro país um patrimônio de que ele não podia dispor como se fosse sua propriedade particular.

Absolutamente nada autoriza um presidente da República a usar desta forma um patrimônio do Estado, dando sinal verde informal – como Lula atesta com suas próprias palavras – a um ato de expropriação por parte de um governo estrangeiro. Na verdade, ele confessou ter sido cúmplice de um atentado à soberania nacional, preferindo o interesse boliviano ao interesse brasileiro. A esquerda – nela incluída o próprio Lula – adora repetir que estatais são “do povo brasileiro”. Segundo a lógica das esquerdas, então, a conclusão é evidente: Lula entregou à Bolívia algo que era “do povo brasileiro”. Claro, sabemos que na realidade estatais pertencem ao Estado, e não ao povo. Mesmo assim, isso não autoriza o mandatário de plantão a dispor dos bens do Estado como bem lhe aprouver, especialmente quando isso significa um ataque à soberania brasileira.

Não causa surpresa, porém, o desdém que Lula dedicou à Petrobras no caso boliviano. A estatal foi contínua e permanentemente pilhada ao longo de seu governo e do mandato da presidente Dilma Rousseff, como bem demonstra a Operação Lava Jato. Fez-se dela, durante esse período, um caixa livre para abastecer partidos e enriquecer políticos, diretores e operadores que se fartaram de propinas. A empresa também foi sangrada como instrumento de política econômica; represava-se sua rentabilidade para conter a pressão inflacionária, impunham-se à estatal prejuízos reais ou tolhia-se sua capacidade de investimentos.

A Petrobras encontra-se, na prática, privatizada: foi transformada em propriedade do PT para fins partidários e eleitorais. E, agora, ficamos sabendo pela boca do próprio Lula que ela também foi usada para camaradagens ideológicas. Não por outras razões a empresa que já foi uma das maiores do mundo frequenta hoje posições muito mais modestas no ranking – liderança global, agora, só em endividamento.

Analisando apenas os valores, a “doação” de parte do seu patrimônio para o amigo Evo Morales poderia até ser considerada um “mal menor” diante de tudo quanto se fez para levar a Petrobras ao triste estágio em que hoje se encontra. Mas o significado do episódio vai muito além das cifras. Ele mostra como, desmoralizada e desvalorizada, a Petrobras se tornou o retrato pronto e acabado da ideologização irresponsável da administração petista.

O diário de um monarca

Os trechos do diário do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso publicados na última edição da revista "Piauí" são uma aula de vida, política e história. Mostram suas alegrias e ansiedades entre novembro de 1995 a abril do ano seguinte. Retratam um país que, visto do trono, parece ter mudado pouco. Visto da rua, mudou muito, em grande parte graças a ele. FHC conviveu com escândalos, teve medo de CPI, lidou com um PMDB rebelde, loteou ministérios, ouviu a maldita palavra "impeachment" e, por fim, aturou a imprensa fofoqueira.

Há duas semanas, FHC disse que a doutora Dilma "vai fazer um pacto com o demônio o tempo todo". No dia 25 de abril de 1996, ele ouviu de Dorothea Werneck, a ministra da Indústria e Comércio que dispensara para abrigar um acerto partidário que "estamos fazendo um pacto com o Diabo". Nessa penosa conversa, ambos choraram. "Fui ficando com raiva de mim mesmo", registrou horas depois.

Dois presidentes mantiveram diários. Getúlio Vargas falava consigo mesmo, com magistral precisão e sinceridade. Juscelino Kubitschek, proscrito pela ditadura, listava prazeres e penares pessoais. Fernando Henrique Cardoso escreveu para ser lido, como se à meia-noite ligasse o gravador, jogando confidências ao futuro. Foi ao mesmo tempo protagonista e observador. Um negociava ministérios, o outro sentia "o travo amargo do poder, no seu aspecto mais podre do toma lá, dá cá". Reconhecia, contudo, que "este é o Brasil de hoje, onde a modernização se faz com a podridão, a velharia".

Nos períodos publicados pela "Piauí", FHC vivia a primeira grande crise de seu governo. Sua maior realização, o Plano Real, tinha pouco mais de um ano e o sistema financeiro estava em crise. Haviam quebrado os bancos Econômico e Nacional. Uma pasta encontrada no arquivo do dono do Econômico revelava, pela primeira vez, o esquema de financiamento ilegal de campanhas eleitorais (dos outros) pela banca. Se isso fosse pouco, o presidente do INCRA, ex-chefe do seu gabinete pessoal, fora apanhado com gravações dos telefones do chefe do cerimonial do Planalto, metido em conversas impróprias sobre a compra de um sistema de vigilância eletrônica para a Amazônia. FHC dizia que "democracia não é fazer chacina pública". Queixava-se para o diário do que seriam "fofocas", mas reconhecia que "cai lama no governo". Caíram todos os envolvidos, inclusive o ministro da Aeronáutica. Escrevendo em 1995, FHC parece falar para a doutora Dilma de 2015: "Estou cansado de ser, digamos, atacado por força dos meus amigos do círculo íntimo. Esse circulo íntimo tem que ser quebrado. Tenho que nomear alguém no Palácio que não pertença a ele".

No Brasil de 2015, brilhou sua revelação de que se recusou a nomear Eduardo Cunha para uma diretoria da Petrobras. Tudo bem, mas a empresa continuou presidida por Joel Rennó, de quem só se livraria mais tarde, nomeando um substituto exemplar. Passados 20 anos, no Brasil de hoje, FHC dedica obsequioso silêncio à contabilidade financeira do atual presidente da Câmara.

Lutando para impedir uma CPI, diante do boato de que um banqueiro ameaçava contar tudo o que sabia sobre campanhas eleitorais, advertiu: "Esta gente está brincando com fogo"
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Honestidade intelectual faz falta para olhar a realidaded

Muito já foi escrito de 2 de outubro para cá sobre a reforma ministerial efetivada pela presidente Dilma Rousseff. E antes também, sobre quem ficaria e quem sairia, referente a ministérios e a quem ocuparia as pastas remanescentes.

Muito choro e ranger de dentes, desesperança e desânimo entre pessoas que apoiam o governo. Li bastante sobre o assunto, declarações favoráveis e desfavoráveis, para embasar a minha opinião na presente tentativa de análise de perdas e ganhos, ainda inicial e sem pretensões de esgotar o tema, que é vasto, complexo e eivado de paixões.

Tentei manter algum distanciamento das áreas nas quais tenho uma história militante: opressão da mulher, opressão racial/étnica e saúde, sobretudo a defesa do SUS – as mais ceifadas, inegavelmente, pela reforma ministerial. Parecia um pesadelo, mas era realidade, e ela se impôs.

A entrega do Ministério da Saúde (de porteira fechada?) a quem nunca deu um prego numa barra de sabão em defesa do SUS, ao contrário, é surreal! Considero fora de propósito e um equívoco ideológico e político a junção da Secretaria da Mulher com a Secretaria de Promoção da Igualdade Racial e a Secretaria de Direitos Humanos, configurando o Ministério das Mulheres, Igualdade Racial e Direitos Humanos, que vejo como um ministério mala e, como tal, de pouca serventia, mas ter Nilma Lino como ministra é um alento.

Desanquei o patriarcado, que está vivíssimo e mostrou bem suas garras; o racismo é uma fé bandida e se mostrou de dentes arreganhados; e repeti à exaustão que saúde não é moeda de troca, mas foi, e para mãos não confiáveis! Quer mais? Não vou enumerar tudo para não sangrar mais minhas feridas. Me poupe: “Tire o seu sorriso do caminho/ Que eu quero passar com a minha dor” (“A Flor e o Espinho”, de Nelson Cavaquinho, Guilherme de Brito, Alcides Caminha).

Estou desde sexta-feira passada dando chiliques e pedindo “meus sais”! Maldisse Altamiro Borges, que teve o topete de escrever “Reforma ministerial desanima os golpistas”; maldisse Ricardo Kotscho e seu lúcido “Dilma sai das cordas; oposição apoia Cunha”; e maldisse o editorial do Portal Vermelho, que, com serenidade irritante, diz, sob o título “Reforma ministerial e a nova maioria pelo desenvolvimento”: “A reforma ministerial foi uma importante vitória do governo liderado pela presidente Dilma... Uma reforma da administração e uma recomposição do ministério, dentre outras medidas importantes”.

Um esforço que faço quando estou numa encruzilhada política é ter como guia uma visão panorâmica, no caso a conjuntura brasileira. Para tanto, recorro à metáfora de uma árvore que plantei – ela é minha – numa floresta pegando fogo!

A conjuntura nacional é uma floresta ameaçada pelo fogo, e as minhas áreas de militância são as minhas árvores que estão na floresta ameaçada de virar cinza. Lembrem-se de que, naquela floresta, eu tenho três árvores, a saber: as lutas pelos direitos da mulher, pela igualdade racial e pelo SUS! O que fazer?

É evidente que, se eu desejar preservar tão somente as “minhas árvores”, sem a preocupação de defender toda a floresta, corro o risco de perder as “minhas árvores” e toda a floresta!... De modo que urge que eu tenha honestidade intelectual de ver as “minhas árvores” como parte da floresta que está em chamas.

Maldisse todos que li e que me forçaram a ver a floresta que estava pegando fogo e um incêndio sendo contido. Resta-me o consolo dos versos de Brecht (1898-1956): “Fôssemos infinitos/ Tudo mudaria/ Como somos finitos/ Muito permanece”.

Matrioshka à brasileira

 De nada adianta expulsar José Dirceu do PT, porque há um José Dirceu dentro de cada petista, e um Lula dentro de cada José Dirceu, e um Marcelo Odebrecht dentro de cada Lula. 

A minha fundação

O Projeto do Memorial da Democracia, criado pelo Instituto Lula, que teve vetada a cessão do terreno pela Prefeitura paulista 

Ocorreu uma mudança significativa nessas organizações que funcionavam como bibliotecas e museus, parques temáticos do orgulho nacional


Desaprenda, se quer fugir ao desamparo e à profanação da politica. Afetado por uma espécie de paranoia branda no presente, com discurso desprovido de afeto, o político teme o esquecimento do futuro. E constrói uma saída para sua falta de recolhimento. A glória de imperar sem a economia, a benemérita fórmula de manejá-la: causa justa limpa dinheiro sujo.

As fundações, originadas da preocupação de ordens religiosas em preservar seu acervo, tradicionalmente homenageavam os santos. Do ramo da filantropia e fora do campo tributário, tais instituições não lembravam o mundo da economia. Até que chegaram os ex-presidentes.

O mais elogiado exemplo de ex-presidente operando entre um mundo e outro é o de Jimmy Carter. Embora tenha feito tais fundações adquirirem esse caráter de escritório que funciona como partido da pessoa, se dedicou a empunhar bandeiras humanistas. Ganhou o Nobel da Paz com sua agenda de pouco zelo lucrativo.

Para contornar desconfiança, o criativo Obama quer dar a largada em sua fundação ainda no governo e arrecadar mais do que seus dois antecessores. É inclusive uma sugestão pessoal do enrolado Clinton: angarie logo de uma vez o máximo de fundos para tocar seus projetos e, assim, enquanto é mais fiscalizado pelos poderes do Estado que dirige, se protege das críticas de que anda cobrando faturas atrasadas quando deixar a Presidência. Fuja da propina pós-paga, invenção supraideológica da periferia.

O fato é que ocorreu uma mudança significativa nessas organizações que funcionavam como bibliotecas e museus, parques temáticos do orgulho nacional. Época em que, o melhor do líder, era ser um polo do desapego diante da atividade lucrativa. Mas a vitória total do capitalismo foi assimilada com rapidez pelo sistema financeiro que formulou respostas habilidosas para os que queriam liderar o novo mundo. Ocuparam os governos, assessorando e financiando os eleitos. No Brasil, se uniram aos empreiteiros entusiasmados com a eloquente simpatia de Lula pela amizade prática dos ricos.

A realidade tumultuada de Clinton só existe por via de sua atuação extra, bolada pelos ideólogos do mundo sem ideologia. Avançou o sinal em direção ao lobby, fazendo tais fundações funcionarem como governo paralelo. Embaraçou a candidatura de Hillary.

A criatividade brasileira inventou o casamento do apetite neoliberal com o discurso da responsabilidade social. Mirou em Blair e seu mundo de negócios pós-políticos.

O caso de Blair é o mais sintomático. Seu escritório é um guarda-chuva de várias fundações e de uma multimilionária empresa de consultoria, a Tony Blair Associates. O financiamento da reconciliação politica é o principal ramo de negócio criado pelas fundações. Com sua ação, elas ajudam a consolidar um tipo de controle que faz a maioria, inclusive o líder, mero consumidor, espectador, assinante, ouvinte, apoiador: o mundo de quem sonha ter o status do outro.
Paulo Delgado

Estudantes brasileiros criam projeto para atender população do Camboja

Projeto poderá atender cambojanos que vivem em um lago cujo volume aumenta no período das chuvas
Um grupo de estudantes de arquitetura de universidades públicas brasileiras concorre a um prêmio concedido pela revista britânica “Eleven Magazine”, com um projeto para atender a demandas da população do Camboja que são bem familiares a parte dos brasileiros, especialmente na região Norte do país.

O trabalho foi produzido como projeto final de intercâmbio de três estudantes, pelo Programa Ciência sem Fronteiras, na Universidade de Liverpool, na Inglaterra, e prevê a construção de módulos flutuantes e navegáveis para levar saúde, educação e pesquisa a comunidades que habitam o Tonle Sap, um lago no Camboja. Com mais de 2 mil quilômetros quadrados de extensão, o lago multiplica seu tamanho durante o período das monções, fortes chuvas que atingem o Sudeste da Ásia, o que desafia a construção de prédios em seu entorno e incentiva a adoção de estruturas capazes de boiar.

Da Universidade Federal de Viçosa, o estudante Humberto Amorim conta que o grupo se inspirou nas embarcações militares que atendem à população na Amazônia. Ele acredita que o trabalho poderia ser aproveitado no Brasil.

- A gente gostou do tema porque é um lugar tropical, um lago grande e uma população carente. Poderia ser adaptado para regiões com rios enormes no Brasil. Os materiais teriam que ser diferentes, mas não haveria problema em substituir - conta ele, satisfeito pelo trabalho ter dado uma resposta "plausível e realista" a problemas sociais.