quarta-feira, 10 de junho de 2015

Estelionato eleitoral


O governo tomou consciência da gravidade da situação durante a campanha eleitoral. E aí, no meio da eleição, não tem como mudar a política econômica. E nem dá para falar em crise, sendo governo, durante uma campanha eleitoral. Então, eu vejo que se tratou de preparar o país para, logo depois da eleição, adotar uma política para sair da crise.
Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff, e conselheiro informal dela
 

Maus presságios...

Meu Deus, que tempo, este que estamos vivendo... Ainda bem que ninguém está tendo tempo para pensar, já que a inflação e o PT não deixam. Eu nunca fui exemplo de otimismo, mas, agora, sinto um cheiro ruim no ar, como se estivéssemos às vésperas de um cataclismo, como a construção desse “Parlashopping” em Brasília, um verdadeiro pato preto.


Li alhures que alguém disse que “entregar a responsabilidade das reformas de que o Brasil precisa a essa corja de mensaleiros do Congresso é o mesmo que convocar Fernandinho Beira-Mar para relatar a reforma do Código de Processo Penal”.

Os jornais falam de um “piquenique” do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha – que teve minha simpatia quando das eleições para a mesa da Câmara –, e mais uma meia-dúzia de companheiros de “trabalho em prol do povo”, que teria acontecido em Moscou e Israel, nos últimos feriados e dias “imprensados” da semana passada, com diárias por nossa conta. A repercussão negativa talvez seja pela imprudência dessas vilegiaturas. Mas deve ser normal, em se tratando de Congresso Nacional.


Anormal, no meu entendimento, é alguém que exerce um cargo vitalício, como é o de conselheiro do Tribunal de Contas, composto por apenas sete conselheiros, estar autorizado pelo Pleno do Tribunal a estudar em Portugal à custa do TCE pelo prazo de um ano e meio, ganhando vencimentos integrais do cargo de conselheiro e mais diárias por todo o tempo e ainda acumulando o cargo de vice-presidente da Corte de Contas do Estado, eleito que foi em março passado, ou seja, o vice-presidente do TCE-MG reside em Portugal.

Se o Brasil fosse um país sério, como teria dito o grande De Gaulle, isso não aconteceria, mesmo porque o Tribunal de Contas seria, no meu entendimento, e no entendimento do seu mentor, Rui Barbosa, o órgão mais importante da nossa República – isso se nós o constituíssemos como seu fundador pensou. E seria mesmo, posso dizer isso porque lá vivi e conheci suas entranhas. Só existe ladroagem na Petrobras, mensalão e corrupção endêmica no resto do país, porque aos políticos analfabetos e mal-intencionados não interessa uma Corte de Contas com competência para prender ladrões da coisa pública. Rui pensou em um órgão de controle externo, auxiliar de informação “ao” Legislativo, mas a conveniência do Constituinte de 88 o transformou em órgão “do” Legislativo e, assim, criou, essa sinecura que está aí. No TCE-MG está, sem dúvida, o melhor quadro técnico do Estado, são mais de 800 técnicos com pós-graduação lato sensu em controle externo, desperdiçados.

Não estou aqui cuspindo no prato em que comi. Falei isso quando presidente daquela Corte, onde trabalhei decentemente por 14 anos. E continuo pensando que o TCE deveria e deverá ser um dia uma Câmara de Contas do Tribunal de Justiça, composta por desembargadores, à semelhança de suas câmaras cíveis e criminais, deixando, assim de, ser boca para deputado em fim de carreira.

Eu penso e sei que é assim.

Sylo Costa

A história da decadência brasileira


Na sua obra Espanha Invertebrada escreveu José Ortega y Gasset: “A história de uma nação não é somente a do seu período formativo e ascendente, mas também a história de sua decadência”. Tudo indica que entramos na história de nossa decadência desde que o governo petista assumiu o cargo mais alto da República.

Lula da Silva reinou em seu primeiro mandato sobre as águas mansas do Plano Real, das políticas públicas do governo anterior. Viajou muito, tornou-se amigo dos piores ditadores mundiais, gozou como nenhum outro presidente das delícias do poder. Delícias, aliás, compartilhadas com os companheiros cortesãos.

No segundo mandato se iniciará a decadência, desenhando-se o que viria em termos econômicos enquanto escândalos de corrupção aumentavam de volume e velocidade. Entretanto, o endeusamento de Lula da Silva, o inocente que nada via, de nada sabia, se mantinha pela força de sua lábia e ele emplacou o “terceiro mandato” através da eleição de Dilma Rousseff.

Os quatro anos desta senhora podem ser descritos como descalabro total. Sob as ordens de Lula ela quebrou a Petrobras e outras estatais, destruiu a indústria, arrebentou o país como um todo. Mesmo assim, com pequena diferença sobre seu adversário Rousseff foi reeleita pregando que Aécio Neves seria o exterminador do futuro brasileiro.

Logo no início do segundo mandato de Rousseff emerge, porém, o inevitável resultado da incompetência governamental, dos truques contábeis, da distorção dos dados: aumento da inflação, do desemprego, da inadimplência, das contas públicas, dos juros, dos impostos. Situação que Joaquim Levy tenta consertar preparando a volta de Lula, mas jogando o peso dos erros do governo sobre as costas do povo. São tempos duríssimos que não acabarão tão cedo, em que pesem as otimistas e sempre erradas previsões dos economistas.

Mas não é apenas econômica a decadência em que o governo de Lula da Silva nos mergulhou. Houve perda de valores e uma crescente amoralidade.

Aqui darei apenas um exemplo dos muitos que poderiam ser apresentados nesse aspecto. Como atinge a formação de crianças desde a mais tenra idade considero criminosas as tentativas que vem sendo feitas pelo governo de se impor como manipulador educacional sexual. No momento ressurge a ideologia de gênero, elaborada através de documento que servirá para formulação de planos municipais, pelo Fórum Nacional de Educação. Nesta construção arbitrária não existe diferença entre menino ou menina, não são levados em conta dados biológicos e psicológicos da identidade humana. O ser humano é considerado como assexuado e deverá escolher se quer ser masculino ou feminino. Seria como revogar a lei da gravidade.

Em magistral artigo, Educação Sexual Compulsória, publicado no Estado de S. Paulo em 08/06/2015, analisa Carlos Alberto di Franco as distorções dessa, diria eu, deseducação:

1) “A confusão causada nas crianças no processo de formação de sua identidade, fazendo-a perder referências; 2) a sexualização precoce, na medida em que a ideologia de gênero promove a necessidade de uma diversidade de experiências sexuais para a formação do próprio gênero; 3) a abertura de um perigoso caminho para a legitimação da pedofilia, uma vez que a ‘orientação’ pedófila é considerada também um tipo de gênero; 4) a banalização da sexualidade humana, dando ensejo ao aumento da violência sexual, sobretudo contra mulheres e homossexuais; 5) a usurpação da autoridade dos pais em matéria de educação dos filhos, principalmente em temas de moral e sexualidade, já que todas as crianças serão submetidas à influência dessa ideologia, muitas vezes sem o conhecimento ou consentimento dos pais”.

Ao tratar desse grave tema que toda sociedade devia tomar conhecimento fatalmente serei tachada de conservadora, o mais novo xingamento utilizado pelo neoesquerda para desqualificar os que não rezam por sua cartilha. Quero lembrar que a tese conservadora, assim como a progressista evoluiu ao longo do tempo em seu significado, mas, em essência, o conservadorismo se refere à natureza humana não modificável pela ação prática, porquanto mergulha suas raízes em uma realidade sobre-humana, a vontade divina. Em outras palavras, somos dotados de uma consciência e sabemos distinguir o bem do mal, em que pesem as várias noções de moral de cada sociedade.

Ao mesmo tempo, o conservadorismo indica que o poder político confiado ao homem é intrinsecamente tirânico se não for controlado. Daí a constante preocupação dos conservadores com a existência de mecanismos de limitação do poder e, principalmente, pela supremacia da lei.

Nesse sentido assumo ser conservadora, sendo ao mesmo tempo uma entusiasta de todo progresso que traga benefícios à humanidade. Lamentável é a decadência em que os autodenominados progressistas da neoesquerda impingiram à nação brasileira.

A miséria da educação e a educação da miséria


Todo dia, leitores me enviam relatos sobre a hegemonia marxista nos ambientes acadêmicos. Há exceções, claro, mas são isso mesmo. A coisa funciona mais ou menos assim:

1) cursos voltados para Educação intoxicam universitários com conteúdo marxista e explicações simplistas da realidade;
2) professores licenciados, elevados à condição de intelectuais orgânicos, vão para as salas de aula do ensino fundamental e médio ensinar o que aprenderam.

É a miséria da Educação. Ao longo do curso foram instruídos para serem agentes de uma “educação libertadora”, na qual o adjetivo é muito mais importante do que o substantivo. Aprenderam direitinho a conduzir seus alunos através dos estágios da investigação, da tematização e da problematização, tendo em vista fazê-los protagonistas da transformação da sociedade. Desde essa perspectiva, atividades escolares que enfatizem o conteúdo das disciplinas são uma rendição às “exigências do mercado” e indisfarçada posição de direita, certo? Então, ensinam-se convenientes versões da história, uma geografia política muito política, pouca matemática e se reverencia a linguagem própria do aluno. Consequência: mais de meio milhão tiram zero na redação do ENEM. Tais professores julgam perfeitamente honesto serem pagos para isso. Consideram absurdo que lhes pretendam cobrar desempenho. Julgam-se titulares do direito de fazer a cabeça dos alunos. Desculpem-me se repeti o que todos sabem, mas era necessário ao que segue.

Qual o produto dessa fraude custeada pelos impostos que pagamos como contribuintes à rede pública ou como pais à rede privada de ensino? Se você pensa que seja preparar jovens para realizarem suas potencialidades e sua dignidade, cuidando bem de si mesmos e de suas famílias, numa integração produtiva e competente na vida social, enganou-se. Ou melhor, foi enganado. O objetivo é formar indivíduos com repulsa ao “sistema”, a toda autoridade (inclusive à da própria família) e às “instituições opressoras impostas pelo maldito mercado”. Se possível, recrutar e formar transgressores mediante anos de tolerância e irresponsabilidade legalmente protegida, prontos para fazer revolução com muita pedrada e nenhuma ternura.

Se tudo der certo, o tipo se completa com um boné virado para trás, um baseado na mochila e uma camiseta do Che. A pergunta é: quem quer alguém assim na sua empresa ou local de trabalho? Em poucos meses, essa vítima de seus maus professores, pedagogos e autoridades educacionais terá feito a experiência prática do que lhe foi enfiado na cabeça. Ele estará convencido de que “o sistema” o rejeita de um modo que não aconteceria numa sociedade igualitária, socialista, onde todos, sem distinção de mérito ou talento, sentados no colo do Estado, fazem quase nada e ganham a mesma miséria.

É a educação da miséria. Os intelectuais orgânicos que comandam o processo não se importam com o para-efeito do que fazem. O arremedo de ensino que criaram cristaliza a desigualdade, atrasa o país, frustra o desenvolvimento humano de milhões de jovens e lhes impõe um déficit de formação dificilmente recuperável ao longo da vida. De outro lado, quem escapa à sua rede de captura e vai adiante estudará mais e melhor, lerá mais e melhor, investirá tempo no próprio futuro e, muito certamente, criará prosperidade para si e para a comunidade. O mercado separará o joio do trigo. No tempo presente, as duas maiores causas dos nossos grandes desníveis sociais são: a drenagem de 40% do PIB para o setor público e a incompetência que a tal “educação libertadora” e a respectiva ideologia impuseram ao ensino no Brasil.

Percival Puggina 

Agenda positiva do governo deveria ser 'Vergonha na Cara'

Por incrível que pareça, o governo Dilma Rousseff ainda não desistiu da marquetagem política, continua acreditando que a salvação é fabricar factóides, para criar o que eles chamam de “agenda positiva”.

O primeiro factóide “positivo” foi a compra da bike importada, para a presidente ser fotografada como uma cidadão comum, tipo “vejam, eu sou gente boa, igual a vocês!”, numa imitação do marketing esportivo de Collor, pois só faltou escreverem alguma frase na camiseta.

Agora, surge a segunda peça de marquetagem política visando a transformar num fato positivo a corrupção que corrói o governo, vejam a que nível de desfaçatez chegamos. A manobra começou com a criação de mais um órgão governamental, reunindo representantes de Executivo, Legislativo e Judiciário, com denominação tão extensa que não deu para formar uma sigla – o Gabinete de Gestão Integrada da Estratégia Nacional de Combate à Corrupção e à Lavagem de Dinheiro.

E este tal gabinete já criou um grupo de trabalho, formado por representantes do Conselho Nacional de Justiça, do Conselho Nacional do Ministério Público, do Ministério da Justiça, da Controladoria-Geral da União, da Advocacia-Geral da União e da Ordem dos Advogados do Brasil, vejam como este povo não tem mais o que fazer, mas para participar do troféu Piada do Ano fingem que vão acabar com a corrupção.

Numa demonstração pública de que o governo não sabe como combater a corrupção, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que comanda o tal gabinete e o tal grupo de trabalho, acaba de lançar uma consulta pública, aberta a todos os cidadãos, para receber até o dia 8 de julho sugestões pelo e-mail http://participacao.mj.gov.br/anticorrupcao:

Bem, já que é assim, vamos fazer algumas propostas:

1) Não haverá prescrição para crimes de corrupção.

2) Os inquéritos e processos envolvendo em corrupção e lavagem de dinheiros os políticos, governantes e dirigentes de estatais serão feitos em rito sumário e terão penas superiores aos de crimes comuns.

3) Os processos para bloqueio de bens e ressarcimento do erário também tramitarão em rito sumário.

4) Haverá investigações rigorosas e com rito sumário para qualquer cidadão que demonstre enriquecimento ilícito sem comprovação.

5) Para maior eficiência do combate à corrupção e lavagem de dinheiro, haverá entrosamento e trabalho conjunto da Polícia Federal, Ministério Público e Receita Federal, com apoio dos órgãos especializados dos governos estaduais e municipais.

6) Para ocupar cargos técnicos, o governo deve nomear especialistas e não apadrinhados políticos.

7) Os partidos não podem receber doações de pessoas físicas ou jurídicas. Devem se manter com os repasses do Fundo Partidário, sem gastar fortunas em campanhas eleitorais.

8) As campanhas eleitorais passarão a ser feitas exclusivamente pelo rádio e televisão, nos horários gratuitos, mas com igualdade de oportunidades e de tempo de exposição, para que cada candidato se apresente ao eleitorado de forma simples e direta, sem produções de alto custo, sem gravações externas e efeitos especiais.

9) Haverá realização de debates obrigatórios para eleições majoritárias, transmitidos por rádio e TV, simultaneamente.

Por fim, lembremos a lição imortal de Capistrano de Abreu, um dos maiores historiadores brasileiros: “Eu proporia que se substituíssem todos os capítulos da Constituição por este artigo único: Todo brasileiro fica obrigado a ter vergonha na cara.”

Rejeição ao PT


O governo encomendou pesquisas para entender a enorme rejeição atual que o povo brasileiro tem pelo PT. Alguns marqueteiros do governo dizem que é preciso “desconstruir” o discurso da oposição. Ora, não é preciso gastar mais do nosso dinheiro para ver o óbvio.

O PT traiu seus próprios ideais ao longo do tempo, quando permitiu que a maior onda de corrupção tomasse contra do país. Um partido que se dizia contra os corruptos não poderia nunca agir dessa forma e, hoje, é muito pior do que todos aqueles que ele combatia no seu início, para decepção de muita gente que acreditou no partido.

Alguns dizem que uma parte da sociedade (elites) tem ódio do PT; na verdade, grande parte da sociedade não tem ódio, e sim, indignação contra um bando de corruptos que montou um plano para sugar ao máximo as riquezas do Brasil.


Quem tenta dividir o país pelo ódio na verdade é o PT, com seus discursos absurdos, como o caso da filósofa petista Marilena Chauí que, perante uma assembleia do PT, berrou sob os aplausos de Lula: “odeio a classe média, pois é o que tem de pior, reacionário, conservador, ignorante, petulante, arrogante”.

Da mesma forma, o próprio Lula fala toda hora sobre uma “herança maldita” quando se refere ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e se esquece de mencionar alguns de seus grandes feitos na economia do país, como o controle da inflação. Esse mesmo Lula que joga pobres contra ricos, empregados contra patrões, tentando dividir o país, quando é perguntado sobre roubos e corrupção dentro do seu partido, aí não sabe de nada.

Existe, sim, muita indignação no país. Indignação contra a arrogância dos governantes, contra a incompetência, corrupção e a mania de sempre querer transferir a culpa para o outro. O PT fez de tudo para ganhar as eleições para, em seguida, fazer exatamente o contrário do que pregou durante sua campanha e mergulhar o país numa economia caótica. De quem é a culpa? Será que vão gastar mais dinheiro com marqueteiros e mídia tentando enganar o povo e dizendo que são vítimas e não culpados?

Quem viu o Lula debochando dos pastores, dizendo que a culpa de todos os males é o diabo, e a resposta do pastor Silas Malafaia, entende quem é o grande vilão da história.

Plano não tem força para levantar o PIB neste mandato


O esforço do governo em impulsionar as concessões é válido não só porque esse é um grande gargalo da economia, mas também porque é uma das poucas formas de tentar impulsionar o crescimento do país.

Como os investimentos demoram a se consolidar, seus principais efeitos não serão sentidos nos próximos quatro anos, nem mesmo que o plano dê certo.

Segundo o próprio ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, dos R$ 198,4 bilhões de investimentos previstos, apenas R$ 69 bilhões devem acontecer até 2018. O resto fica para depois.

Uma conta simples dá uma melhor dimensão do que esse investimento corresponde em relação ao nosso PIB, que chegou a R$ 5,5 trilhões no ano passado, segundo o IBGE.

Os R$ 69 bilhões previstos até 2018 correspondem a cerca de 1,2% do PIB. Se esse valor for diluído pelos próximos três anos, serão R$ 23 bilhões por ano. Ou seja o impulso do programa seria de 0,4 ponto do PIB por ano.

O principal efeito do programa é tentar reverter a confiança, principalmente dos empresários. Mas ele sozinho não resolve nosso problema do baixo crescimento.
Míriam Leitão

O escândalo é um só

O mensalão é apenas uma parte — e uma das menores, hoje se sabe — do plano de assalto ao Estado protagonizado pelo condomínio que o lulopetismo instalou no poder em 2003. Assim, dez anos passados daquele famigerado escândalo, que mobilizou o País por vários meses e terminou com a prisão de um punhado de réus poderosos, fica muito claro que o episódio não passou de um esquema marginal dentro de uma sofisticada estrutura montada para rapinar bens públicos, em escala nunca vista na história brasileira.

Portanto, pouco há a comemorar, pois, com o mensalão, se foi rompida parcialmente a lógica da impunidade, nenhuma página foi, de fato, virada. A cada nova descoberta das autoridades policiais e judiciais no caso do petrolão e de outros esquemas comprova-se que nada, nessas investigações, pode ser tomado de forma isolada. Todos esses escândalos são, na verdade, um só – o escândalo de uma quadrilha que transformou partidos políticos em máquinas para exaurir os recursos do Estado de diversas maneiras, em favor de projetos pessoais e de poder de seus dirigentes.


O mensalão chegou ao conhecimento público com esse nome em junho de 2005, graças a acusações feitas na ocasião pelo então deputado petebista Roberto Jefferson. Segundo o parlamentar, o então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, pagava mesadas de R$ 30 mil a deputados do PL e do PP em troca de apoio no Congresso.

Como costumam fazer sempre que são acuados por denúncias, os petistas reagiram insultando a inteligência dos brasileiros. Em nota oficial, garantiram que o relacionamento do PT com os demais partidos da base aliada se assentava “em pressupostos políticos e programáticos”, descartando qualquer forma de corrupção.

Com o passar do tempo e o surgimento de evidências de um crime muito maior do que o denunciado por Jefferson, a narrativa petista foi mudando. Primeiro, quando sua reeleição parecia sob ameaça, o então presidente, Luiz Inácio Lula da Silva, se disse “indignado” e afirmou que o PT precisava “pedir desculpas”. Nessa mesma toada, Delúbio admitiu que as campanhas eleitorais do partido usaram “recursos não contabilizados”, mas os petistas, Lula inclusive, atribuíram essa prática a um mero esquema de caixa 2, do qual, segundo essa versão, todos os partidos lançam mão.

Quando ficou evidente que o Brasil estava diante de “um dos episódios mais vergonhosos da história política de nosso país”, como o qualificou o ministro Celso de Mello, decano do Supremo Tribunal Federal, em seu histórico voto pela condenação desse “grupo de delinquentes que degradou a atividade política”, os petistas passaram a se dizer vítimas de um “julgamento de exceção”.


Desde então, os documentos produzidos pelo partido para reagir às seguidas denúncias de malfeitos – como os petistas apelidaram crimes capitulados em lei – respeitaram a gramática da vitimização. A palavra “golpe” passou a ser usada profusamente pelos dirigentes petistas, inclusive, e em mais de uma ocasião, pela presidente da República, Dilma Rousseff. Junte-se a isso a cantilena de que os escândalos só vêm à luz porque o governo petista permite que sejam investigados, como “nunca antes na história deste país”, e tem-se uma impostura completa.

Digam o que disserem os líderes petistas, porém, vale o que está nos autos do mensalão – e lá está claro que o PT transformou os ganhos oriundos da corrupção na própria razão de ser de sua prática política. Os escândalos depois desvendados são consequência dessa opção.

Nos dez anos do mensalão, e atordoado diante da constatação de que ainda estamos longe de conhecer a totalidade dos malfeitos cometidos nesse período, o País já percebeu que os governos lulopetistas são verdadeiras caixas-pretas, a guardar sombrios segredos, escondidos pela blindagem do populismo e da demagogia, que transforma os críticos do modus operandi petista em inimigos dos pobres. Nem o mensalão nem o petrolão são capazes de resumir essa história de corrupção e desfaçatez da qual, infelizmente, temos apenas um pálido vislumbre. 

Coxinha!


Por aqui, a gente fica feliz quando recebe visita dos conterrâneos. Amizade verdadeira ignora fronteiras e despreza distancia. Receber amigos no aeroporto vale a pena. Sempre. E muito.

Naturalmente, o primeiro assunto da conversa, ainda no saguão da saída, é como estão as coisas na terrinha. E, nestes tempos bicudos, as noticias, parece, não são boas. Otimismo é coisa rara, alegria difícil. A realidade não tem cooperado.

E foi neste momento que aconteceu. Um desconhecido, também conterrâneo, tendo também chegando a Vancouver, nos abordou para, (segundo ele) com todo o respeito, discordar do pessimismo.

Tudo indica não se tratava de um otimista desavisado. Na melhor das hipóteses, alguém cujas crenças são tão fortes que a realidade deixou de lhe interessar faz muito tempo. Na pior das hipóteses, sua falta de contato com o mundo real era resultado de algum tipo de loucura no sentido clinico da palavra.

Descrevia um lugar onde a perfeição, embora ainda não atingida, era apenas uma questão de tempo. Orgulhosamente, dizia que, nestes dias, o surto de prisões e indiciamento é resultado de vontade genuína dos governantes de combater os malfeitos (até hoje não entendi porque se usa esta palavra).

Neste paraíso terreno, os governantes elevaram a integração vertical no combate a malfeitos (somente para a gente não mudar a terminologia) ao estado da arte. O mesmo grupo fornece os malfeitores, supervisiona a execução dos malfeitos, providencia a prisão, e se orgulha de todo o processo.

Os problemas, dizia, tinham sua origem em uma combinação de fatores pouco definidos coordenados por um grupo de pessoas para proteger interesses estrangeiros. A crise, enfim, é culpa dos outros. De preferencia dos outros países.

Queixou-se da intolerância. Falava sem parar. Sem pontos ou vírgulas. Disse que o governo é vitima de campanhas baseadas em ódio, preconceito e intolerância. Perseguição sem razão, devido apenas a uma mistura de ignorância e conspiração internacional.

A situação pedia fuga rápida. Mas nosso interlocutor, prevenido, tinha o habito de segurar suas vitimas pelo braço. Provavelmente para prevenir a fuga das vitimas de suas palavras. Nós, afinal, certamente não éramos suas primeiras vitimas. Outras no passado lhe devem ter escapado.

Em momento de distração, soltou meu braço. Aproveitei a deixa, me desculpei e me despedi. Tenho que ir, disse. Andei alguns metros. Ouvi o grito: “Coxinha! ”.