segunda-feira, 1 de dezembro de 2014
A obsessão do PT
Ao fim e ao cabo, até para controlar a mídia, o maior entre
todos os desejos, o PT mantém a marca da esquizofrenia.
É uma obsessão, uma doença crônica. Não há encontro do PT ou
de maioria petista que a tal da regulação da mídia não seja um dos eixos
estruturantes das discussões, para não fugir à linguagem que faz sucesso entre
esta turma.
No primeiro encontro do Diretório Nacional do PT depois das
eleições, encerrado ontem, o tema esteve lá o tempo todo, desde a abertura. “A
presidenta já fez menção sobre a regulação da mídia e deve lançar uma consulta
pública sobre essa questão em 2015”, garantiu Rui Falcão, que dirige a sigla.
Apareceu ainda espalhada em documentos diversos. Neles, a
diaba da mídia é acusada de todos os males – especialmente de divulgar as
denúncias de corrupção que quebraram de vez o encanto do partido que se dizia
guardião da moralidade.
Sob os domínios do ex Lula, o PT tentou aprovar a criação de
um órgão regulador, o Conselho Nacional de Comunicação, e de mecanismos de
controle da mídia. Foi rechaçado. No Congresso Nacional e fora dele.
Em 2009 a tese do cabresto emergiu com força a partir do
“clamor” de centenas de representantes da autoproclamada mídia independente
reunida na Conferência Nacional de Comunicação (Confecom), integralmente
patrocinada pelo governo – da organização ao resultado. No ano seguinte, pás de
cal foram despejadas sobre a questão.
Ainda que refutada por Dilma Rousseff no primeiro mandado, a
regulação nunca deixou de ser crucial ao projeto de hegemonia do PT. E o
partido já avisou a presidente que não pretende abrir mão dela. Topa até
engolir alguns ministros-sapo, mas exigirá que o projeto regulatório
avance. Afinal, 2018 está logo ali.
Para amenizar o tom, o PT usa diabruras do dialeto. Controle
virou “regulação econômica” na boca de Dilma e é “democratização dos meios” na
galera que não consegue esconder o desejo expresso de dominar a mídia.
Leia mais o artigo de Mary ZaidanCriminologia
A cada ano, os pesticidas químicos matam pelo menos três
milhões de camponeses.
A cada dia, os acidentes de trabalho matam pelo menos dez
mil trabalhadores.
A cada minuto, a miséria mata pelo menos dez crianças.
Esses crimes não aparecem nos noticiários. São, como as
guerras, atos normais de canibalismo.
Os criminosos andam soltos. As prisões não foram feitas para
os que estripam multidões. A construção de prisões é o plano de habitação que
os pobres merecem.
Há mais de dois séculos, se perguntava Thomas Paine:
“Por que será que é tão raro que enforquem alguém que não
seja pobre?”
Texas, século XXI: a última ceia delata a clientela do
patíbulo. Ninguém pede lagosta ou filet mignon, embora esses pratos apareçam no
menu de despedida. Os condenados preferem dizer adeus ao mundo comendo
hambúrguer e batata frita, como de costume.
Eduardo Galeano
Francis e o Petrolinho
Naquele outubro de 1996, no café da manhã antes da gravação,
Francis estava de mau humor. Era normal. Acabava de sair da cama.
Meia hora depois ele estava de bom humor. Era normal. Nossa
conversa na copa antes de gravar era fiada. Francis não falou em Petrobras. No
meio do programa, ele jorrou denúncia e transcrevo a gravação:
Francis: "Os diretores da Petrobras todos põe o
dinheiro lá...(Suíça) tem conta de 60 milhões de dólares..."
Lucas: "Olha que isso vai dar processo..."
Francis: "É...um amigo meu advogado almoçou com um
banqueiro suíço e eles falaram que bom mesmo é brasileiro (…) que coloca 50
milhões de dólares e deixa lá".
Lucas: "Os diretores da Petrobras tem 50 milhões de
dólares?"
Francis: "Ahh é claro... imaginem... roubam...
superfaturamento...é a maior quadrilha que já existiu no Brasil".
Foi além, mas não deu nomes dos diretores. Nem citou fontes.
No próprio programa, o número variou de US$ 50 milhões para 60 milhões.
Preocupado, perguntei se queria que cortasse a denúncia, embora o programa,
depois de gravado, só sofra cortes por tempo. Francis disse que não.
Na imprensa, numa escala de 1 a 10 em repercussão, a
denúncia do Francis mal registrou uns 2 pontinhos. Saíram notas em colunas.
Ninguém cobrou da Petrobras. Não sei por que o Francis nunca levou a denúncia
para os poderosos Globo, Estadão e Jornal da Globo, onde trabalhava, além do
Manhattan Connection, e tinham calibre muito mais grosso do que o GNT.
Seria o poder da Petrobras de silenciar a mídia com sua
publicidade? Ou sua reputação na época estava acima de qualquer suspeita? A
limitada audiência do canal?
Em novembro, Francis anunciou no programa, também sem aviso
prévio, que estava sendo processado pelos diretores da Petrobras, que "queriam
US$ 100 milhões de indenização". Na primeira página da carta de intimação
dos advogados dos diretores aparecem sete nomes, mas não há este número.
Ainda não descobri de onde saiu. Estes valores quase nunca
constam da primeira comunicação entre o processador e o processado.
E pagou sete mil...
Francis entrou num inferno legal. Por sugestão do amigo
Ronald Levinsohn, contratou uma advogada e pagou US$ 7 mil. Quando comentei que
não era muito, o Francis ficou furioso. Disse que eu não sabia das finanças
dele. Até que sabia, porque ele me contava, mas uma só defesa num processo
grande poderia destruir a poupança dele. Se perdesse, ficaria arruinado por
muito menos do que US$ 100 milhões.
Repercussão na imprensa sobre o processo? Mínima. Saíram
notas sobre os assombrosos US$ 100 milhões.
Crônica (atual) de velhos tempos
“A nobreza e a lacaiada não são as únicas salsas dos assaltos e roubos que vos deixam desolado”
Os homens fizeram os reis para os homens e não para os reis;
colocaram chefes à sua frente para que pudessem viver comodamente ao abrigo das
violências e dos ultrajes; o dever mais sagrado do príncipe é velar pela
felicidade do povo antes de velar pela sua própria; como um pastor fiel, deve
dedicar-se a seu rebanho, e conduzi-lo às pastagens mais férteis.
Sustentar a miséria pública é a melhor salva-guarda da
monarquia, é sustentar um erro grosseiro e evidente; onde se veem mais querelas
e rixas do que entre os mendigos?
Qual o homem que mais deseja uma revolução? Não será aquele
cuja existência atual é miserável? Qual Estado? Não será aquele que com isso só
pode ganhar por nada ter a perder?
Um rei que provocasse o ódio e o desprezo dos cidadãos e
cujo governo não pudesse se manter senão pelas vexações, pela pilhagem, pelo
confisco e pela miséria universal, deveria descer do trono e depor o poder
supremo. Empregando estes meios tirânicos, talvez pudesse conservar o nome de
rei, mas de rei não teria mais nem o ânimo nem a majestade. A dignidade real
não consiste em reinar sobre mendigos, mas sobre homens ricos e felizes”
Thomas Morus (1478-1535)
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