A cada ano, os pesticidas químicos matam pelo menos três
milhões de camponeses.
A cada dia, os acidentes de trabalho matam pelo menos dez
mil trabalhadores.
A cada minuto, a miséria mata pelo menos dez crianças.
Esses crimes não aparecem nos noticiários. São, como as
guerras, atos normais de canibalismo.
Os criminosos andam soltos. As prisões não foram feitas para
os que estripam multidões. A construção de prisões é o plano de habitação que
os pobres merecem.
Há mais de dois séculos, se perguntava Thomas Paine:
“Por que será que é tão raro que enforquem alguém que não
seja pobre?”
Texas, século XXI: a última ceia delata a clientela do
patíbulo. Ninguém pede lagosta ou filet mignon, embora esses pratos apareçam no
menu de despedida. Os condenados preferem dizer adeus ao mundo comendo
hambúrguer e batata frita, como de costume.
Eduardo Galeano
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