quinta-feira, 1 de setembro de 2016
E como fica agora?
O rito da destituição de Dilma foi consumado e o Partido dos Trabalhadores (PT), que a sustentava, passa à oposição, depois de 13 anos no poder. Mas o Senado manteve os direitos políticos dela, o que lhe permitirá se candidatar a cargos eletivos e exercer funções na administração pública.
A saída da presidenta era desejada, segundo as pesquisas, por 61% dos brasileiros, o que não impede que tenha sido uma comoção nacional.
Muitos se perguntarão: e como fica agora?
Talvez esta seja, paradoxalmente, a hora da reflexão e da reconciliação, mais que a de vinganças, já que os povos são sempre maiores que seus governantes. Os presidentes irão passando, e o Brasil continuará vivo, com seus problemas e lutas.
Quando uma cidade é golpeada por um terremoto, nesse momento trágico as pessoas não perguntam a razão da explosão. As pessoas correm para tentar salvar vidas dos escombros e ajudar solidariamente a reconstruir a cidade.
O Brasil sofreu um terremoto político que causou dor e até dividiu a sociedade. Não será esta a hora de se esquecer do que produziu o sismo, para todos junto contribuírem para resolver a crise política, econômica e social sofrida nestes anos de polêmicas?
A responsabilidade é de todos os que de verdade amam o país e o futuro que desejam para seus filhos. É a hora da trégua, como nas guerras do passado, já que no final somos todos filhos de uma mesma esperança de viver em paz e com bem-estar.
Impedir neste momento quem tem a responsabilidade de seguir governando o país até 2018, quando os brasileiros poderão escolher com seu voto por quem desejarão ser governados, equivaleria a voltar a colocar as intrigas políticas acima do bem do país.
Pensar neste momento em paralisar o país provocando novos terremotos e incêndios seria uma grande irresponsabilidade.
Significaria esquecer-se dos milhões sem trabalho, dos que sofrem as consequências de uma inflação disparada que corrói o salário dos mais pobres, dos que entram no inferno das dívidas por causa de juros que são os maiores do mundo.
A nova oposição tem o direito e o dever de vigiar o novo governo, que terá agora de ser julgado por seus atos com a mesma severidade com a que o foi o de Dilma.
O “quanto pior, melhor”, porém, não só nada construiria como também agravaria a forte crise econômica que o país ainda sofre, e pela qual Dilma saiu em definitivo de cena.
Esta é a hora de cada um demonstrar se de verdade se sente empenhado em fazer o Brasil crescer para que volte a ser o que foi e que havia entusiasmado o mundo, ou prefere continuar enredado em seus jogos políticos, se esquecendo dos que trabalham, e com não poucos sacrifícios, para manter o país de pé.
Um pescador semianalfabeto me perguntara esta manhã: “Acha que agora vamos ficar melhor?”. Pode parecer uma pergunta banal. Não é. A grande caravana dos pobres se alimenta da esperança de que, como na canção de Chico Buarque, apesar de tudo e de todos, “amanhã vai ser outro dia”.
Eles sabem pouco de política e muito da dureza da vida.
No final, nós todos não nos alimentamos da mesma esperança do pescador? Sem ela não seríamos capazes nem de nos levantarmos.
Talvez seja ingênuo de minha parte, mas minha esperança para este Brasil, que é também meu, é que nos deixem, e nos deixemos uns aos outros, poder voltar a sonhar.
A saída da presidenta era desejada, segundo as pesquisas, por 61% dos brasileiros, o que não impede que tenha sido uma comoção nacional.
Muitos se perguntarão: e como fica agora?
Talvez esta seja, paradoxalmente, a hora da reflexão e da reconciliação, mais que a de vinganças, já que os povos são sempre maiores que seus governantes. Os presidentes irão passando, e o Brasil continuará vivo, com seus problemas e lutas.
Quando uma cidade é golpeada por um terremoto, nesse momento trágico as pessoas não perguntam a razão da explosão. As pessoas correm para tentar salvar vidas dos escombros e ajudar solidariamente a reconstruir a cidade.
O Brasil sofreu um terremoto político que causou dor e até dividiu a sociedade. Não será esta a hora de se esquecer do que produziu o sismo, para todos junto contribuírem para resolver a crise política, econômica e social sofrida nestes anos de polêmicas?
Pawel Kuczynski |
Impedir neste momento quem tem a responsabilidade de seguir governando o país até 2018, quando os brasileiros poderão escolher com seu voto por quem desejarão ser governados, equivaleria a voltar a colocar as intrigas políticas acima do bem do país.
Pensar neste momento em paralisar o país provocando novos terremotos e incêndios seria uma grande irresponsabilidade.
Significaria esquecer-se dos milhões sem trabalho, dos que sofrem as consequências de uma inflação disparada que corrói o salário dos mais pobres, dos que entram no inferno das dívidas por causa de juros que são os maiores do mundo.
A nova oposição tem o direito e o dever de vigiar o novo governo, que terá agora de ser julgado por seus atos com a mesma severidade com a que o foi o de Dilma.
O “quanto pior, melhor”, porém, não só nada construiria como também agravaria a forte crise econômica que o país ainda sofre, e pela qual Dilma saiu em definitivo de cena.
Esta é a hora de cada um demonstrar se de verdade se sente empenhado em fazer o Brasil crescer para que volte a ser o que foi e que havia entusiasmado o mundo, ou prefere continuar enredado em seus jogos políticos, se esquecendo dos que trabalham, e com não poucos sacrifícios, para manter o país de pé.
Um pescador semianalfabeto me perguntara esta manhã: “Acha que agora vamos ficar melhor?”. Pode parecer uma pergunta banal. Não é. A grande caravana dos pobres se alimenta da esperança de que, como na canção de Chico Buarque, apesar de tudo e de todos, “amanhã vai ser outro dia”.
Eles sabem pouco de política e muito da dureza da vida.
No final, nós todos não nos alimentamos da mesma esperança do pescador? Sem ela não seríamos capazes nem de nos levantarmos.
Talvez seja ingênuo de minha parte, mas minha esperança para este Brasil, que é também meu, é que nos deixem, e nos deixemos uns aos outros, poder voltar a sonhar.
O desfecho do impeachment
Todo cidadão honesto deste país há de estar estupefato com o desfecho do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. Malgrado o fato de que a petista finalmente teve seu mandato cassado, levando alívio ao País, tão maltratado pela incúria administrativa e pelo desleixo moral da agora ex-presidente e de seu partido, um punhado de notórios personagens da vida política – desses que não se consegue identificar bem na escala biológica, porque são ao mesmo tempo animais de pluma, couro e escama – aproveitou a deixa para urdir uma maracutaia digna de uma república bananeira. O objetivo, claro, foi beneficiar todos os políticos facínoras que a Justiça está por alcançar. Mas o resultado da trama, do qual essa chusma de irresponsáveis talvez nem tenha se dado conta, é que o governo de Michel Temer, do qual vários deles esperam fazer parte e colher seu quinhão, corre o risco de terminar antes mesmo de começar (ver abaixo o editorial Dá para olhar para a frente?).
Como toda maquinação, esta não ficou clara senão pouco a pouco, minuto a minuto, para assombro geral, em meio ao drama da votação que determinou o impeachment de Dilma no Senado. As coisas ficaram meridianamente claras quando a bancada do PT fez ao presidente da sessão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, um pedido de destaque por meio do qual pretendia que houvesse duas votações: uma sobre a perda do mandato e outra sobre a perda dos direitos políticos de Dilma. O argumento, mais um da inesgotável coleção de chicanas petistas, era que não havia vinculação entre a cassação e a inabilitação.
Tivesse o ministro Lewandowski um mínimo de familiaridade com o artigo 52 da Constituição, o pedido teria sido rejeitado sem maiores considerações. Esse artigo, que estabelece a competência do Senado para processar e julgar o presidente, diz em seu parágrafo único que a condenação, proferida por dois terços dos votos dos senadores, será limitada “à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”. Salvo se o uso da preposição “com” ganhou significado oposto ao que manda a boa gramática, não é possível concluir outra coisa desse artigo senão que a inabilitação para o exercício de cargos públicos acompanha, necessariamente, a perda do cargo de presidente.
O fato é que aqueles que tramaram a cavilação estavam no seu dia de sorte. O ministro Lewandowski, não conhecendo o artigo 52, aceitou o destaque que fatiou a votação. E assim, com a inocente anuência do presidente do Supremo Tribunal Federal, a Constituição foi reescrita no joelho.
Adotada a escandalosa manobra, senadores revezaram-se em vexaminoso exercício de caradurismo para dar um mínimo de dignidade à esbórnia. A senadora Kátia Abreu, por exemplo, apelou à piedade dos colegas, ao dizer que Dilma, se ficasse inabilitada, teria de viver com uma aposentadoria de meros R$ 5 mil. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros, cujas digitais estão por toda a parte nesse caso, brandindo um exemplar da Constituição, disse que “não podemos ser desumanos” com Dilma. O ministro Lewandowski, com ternura cristã, alertou os parlamentares que Dilma, se fosse inabilitada, não poderia ser “nem merendeira de escola”.
Assim, o impeachment de Dilma passou, mas seus direitos políticos foram preservados. A punição pela metade não garantirá a Dilma um emprego de merendeira, mas se presta a livrar plumas, couros e escamas de figuras graúdas do Congresso que estão enroladas na Justiça, algumas das quais com assento nas mesas que dirigiram os trabalhos desse processo e que deveriam estar conscientes de sua responsabilidade perante a Nação.
Quarenta e dois senadores que garantiram os direitos políticos da ex-presidente comprovaram que o brasileiro não tem “complexo de vira-latas” por causa das vicissitudes do futebol, mas porque é reduzido a essa condição por políticos agrupados em matilhas.
Essa imoralidade abre precedente para uma catadupa de escândalos. O que aconteceu ontem não foi motivo apenas para que o PSDB e o DEM ameaçassem romper a coalizão com o governo Temer, comprometendo todo o esforço de recuperação nacional. Trata-se de um episódio que expõe a inesgotável capacidade da classe política nacional de trair a confiança dos brasileiros de bem.
Como toda maquinação, esta não ficou clara senão pouco a pouco, minuto a minuto, para assombro geral, em meio ao drama da votação que determinou o impeachment de Dilma no Senado. As coisas ficaram meridianamente claras quando a bancada do PT fez ao presidente da sessão, o presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, um pedido de destaque por meio do qual pretendia que houvesse duas votações: uma sobre a perda do mandato e outra sobre a perda dos direitos políticos de Dilma. O argumento, mais um da inesgotável coleção de chicanas petistas, era que não havia vinculação entre a cassação e a inabilitação.
Tivesse o ministro Lewandowski um mínimo de familiaridade com o artigo 52 da Constituição, o pedido teria sido rejeitado sem maiores considerações. Esse artigo, que estabelece a competência do Senado para processar e julgar o presidente, diz em seu parágrafo único que a condenação, proferida por dois terços dos votos dos senadores, será limitada “à perda do cargo, com inabilitação, por oito anos, para o exercício de função pública, sem prejuízo das demais sanções judiciais cabíveis”. Salvo se o uso da preposição “com” ganhou significado oposto ao que manda a boa gramática, não é possível concluir outra coisa desse artigo senão que a inabilitação para o exercício de cargos públicos acompanha, necessariamente, a perda do cargo de presidente.
O fato é que aqueles que tramaram a cavilação estavam no seu dia de sorte. O ministro Lewandowski, não conhecendo o artigo 52, aceitou o destaque que fatiou a votação. E assim, com a inocente anuência do presidente do Supremo Tribunal Federal, a Constituição foi reescrita no joelho.
Adotada a escandalosa manobra, senadores revezaram-se em vexaminoso exercício de caradurismo para dar um mínimo de dignidade à esbórnia. A senadora Kátia Abreu, por exemplo, apelou à piedade dos colegas, ao dizer que Dilma, se ficasse inabilitada, teria de viver com uma aposentadoria de meros R$ 5 mil. Já o presidente do Senado, Renan Calheiros, cujas digitais estão por toda a parte nesse caso, brandindo um exemplar da Constituição, disse que “não podemos ser desumanos” com Dilma. O ministro Lewandowski, com ternura cristã, alertou os parlamentares que Dilma, se fosse inabilitada, não poderia ser “nem merendeira de escola”.
Assim, o impeachment de Dilma passou, mas seus direitos políticos foram preservados. A punição pela metade não garantirá a Dilma um emprego de merendeira, mas se presta a livrar plumas, couros e escamas de figuras graúdas do Congresso que estão enroladas na Justiça, algumas das quais com assento nas mesas que dirigiram os trabalhos desse processo e que deveriam estar conscientes de sua responsabilidade perante a Nação.
Quarenta e dois senadores que garantiram os direitos políticos da ex-presidente comprovaram que o brasileiro não tem “complexo de vira-latas” por causa das vicissitudes do futebol, mas porque é reduzido a essa condição por políticos agrupados em matilhas.
Essa imoralidade abre precedente para uma catadupa de escândalos. O que aconteceu ontem não foi motivo apenas para que o PSDB e o DEM ameaçassem romper a coalizão com o governo Temer, comprometendo todo o esforço de recuperação nacional. Trata-se de um episódio que expõe a inesgotável capacidade da classe política nacional de trair a confiança dos brasileiros de bem.
Mudar o governo
Não se pode governar um país como se a política fosse um quintal e a economia fosse um bazar. Ao avaliar um regime de governação precisamos, no entanto, de ir mais fundo e saber se as questões não provêm do regime mas do sistema e a cultura que esse sistema vai gerando. Pode-se mudar o governo e tudo continuará igual se mantivermos intato o sistema de fazer economia, o sistema que administra os recursos da nossa sociedade. Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais.
Afinal, culpar o governo ou o sistema e ficar apenas por aí é fácil. Alguém dizia que "governar é tão fácil que todos o sabem fazer até ao dia em que são governo". A verdade é que muitos dos problemas que nós vivemos resultam da falta de resposta nossa como cidadãos ativos. Resulta de apenas reagirmos no limite quando não há outra resposta senão a violência cega. Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.Mia Couto
O 'acordão' que interessava a Temer, Lula, Dilma, PT e PMDB
Quer dizer que quase todo mundo em Brasília sabia há uma semana que estava em curso um “acordão” para separar o impeachment de Dilma da suspensão por oito anos dos seus direitos políticos e o presidente Michel Temer não sabia, não fazia a mínima ideia?
Quer dizer que ele foi surpreendido quando o ministro Ricardo Lewandowski acatou o pedido do PT para que houvesse duas votações, uma para decidir se Dilma deveria perder o mandato ou não, outra para decidir se os direitos políticos dela deveriam ser preservados?
Quer dizer que Temer desconhecia que Renan Calheiros, presidente do Senado, apelaria em discurso aos colegas para que não tornassem Dilma inelegível uma vez que àquela altura ela já perdera o mandato? E que 12 dos 17 senadores do PMDB atenderiam ao apelo de Renan?
“Estamos juntos”, disse Temer a Renan ao tomar posse como presidente. Para menos de uma hora depois, reunido com seus ministros, criticar o “acordão” que salvou os direitos políticos de Dilma. Antes, autorizara o senador Romero Jucá (PMDB-RR) a recorrer da decisão ao Supremo.
Teatro puro. A ser verdade que Renan, Lewandowski e 12 dos 17 senadores haviam lhe passado a perna, Temer estaria mal, muito mal. Fora traído por seu próprio partido. Perdera para Renan a posição de maior líder do PMDB. E revelara-se um presidente, no mínimo, inepto.
Não há no Congresso uma única ingênua alma capaz de acreditar que Temer estava por fora do acordo. Estava por dentro, sim. E o acordo não interessava somente a Dilma e ao PT, consultados há mais de 15 dias a respeito. Interessava também a Temer.
Por temperamento, estilo e gosto, Temer prefere a conciliação ao confronto. Sempre foi assim – e nisso se parece com Lula. Dilma está mais para José Dirceu – não sabe viver sem uma boa briga. Prefere pegar em armas a gastar saliva em conversas com adversários.
Temer quer ser visto como o presidente que pacificou o país. Ou que tentou pacificar. Suará a camisa para desarmar os espíritos – inclusive os do PT. E precisa de um Congresso calmo, cooperativo, para aprovar ali as reformas que Fernando Henrique, Lula e até Dilma imaginaram aprovar.
Por um voto apenas, Fernando Henrique perdeu no Congresso a batalha pela reforma da Previdência. Lula desistiu da reforma por falta de condições de obtê-la do Congresso. Em compensação, fez tudo para manter o imposto do cheque – e acabou derrotado.
Movimentos sociais foram às ruas em várias cidades protestar contra o impeachment de Dilma, mas o PT, oficialmente, não foi. Bom sinal para Temer. Na sua posse, não se viu uma só bandeira vermelha no Congresso, uma faixa, um grito de protesto. Bom sinal para Temer.
Um dia desses, Temer revelou que cogitava a ideia de convidar Lula para um encontro. Poderá não fazê-lo tão cedo. Poderá nunca fazê-lo. Mas a ideia continua na cabeça dele. Os dois sempre se deram bem. Lula ficou rouco de tanto aconselhar Dilma a prestigiar Temer. Em vão.
Se dependesse de Temer, Lula jamais seria preso. Muito menos condenado e banido da vida política. Em 2010, Temer foi a Lula sugerir a montagem de uma chapa à eleição presidencial daquele ano com Serra na cabeça e Dilma de vice. Lula foi que não quis. Serra topava.
De volta ao “acordão”: ele não é garantia de que Dilma poderá se candidatar em breve ou mais tarde. Caso ela queira, o Supremo é quem irá decidir. E não é certo que decidirá a favor dela. É provável que decida contra. Assim, o “acordão” não terá saído tão caro a Temer.
Quer dizer que ele foi surpreendido quando o ministro Ricardo Lewandowski acatou o pedido do PT para que houvesse duas votações, uma para decidir se Dilma deveria perder o mandato ou não, outra para decidir se os direitos políticos dela deveriam ser preservados?
Quer dizer que Temer desconhecia que Renan Calheiros, presidente do Senado, apelaria em discurso aos colegas para que não tornassem Dilma inelegível uma vez que àquela altura ela já perdera o mandato? E que 12 dos 17 senadores do PMDB atenderiam ao apelo de Renan?
Teatro puro. A ser verdade que Renan, Lewandowski e 12 dos 17 senadores haviam lhe passado a perna, Temer estaria mal, muito mal. Fora traído por seu próprio partido. Perdera para Renan a posição de maior líder do PMDB. E revelara-se um presidente, no mínimo, inepto.
Não há no Congresso uma única ingênua alma capaz de acreditar que Temer estava por fora do acordo. Estava por dentro, sim. E o acordo não interessava somente a Dilma e ao PT, consultados há mais de 15 dias a respeito. Interessava também a Temer.
Por temperamento, estilo e gosto, Temer prefere a conciliação ao confronto. Sempre foi assim – e nisso se parece com Lula. Dilma está mais para José Dirceu – não sabe viver sem uma boa briga. Prefere pegar em armas a gastar saliva em conversas com adversários.
Temer quer ser visto como o presidente que pacificou o país. Ou que tentou pacificar. Suará a camisa para desarmar os espíritos – inclusive os do PT. E precisa de um Congresso calmo, cooperativo, para aprovar ali as reformas que Fernando Henrique, Lula e até Dilma imaginaram aprovar.
Por um voto apenas, Fernando Henrique perdeu no Congresso a batalha pela reforma da Previdência. Lula desistiu da reforma por falta de condições de obtê-la do Congresso. Em compensação, fez tudo para manter o imposto do cheque – e acabou derrotado.
Movimentos sociais foram às ruas em várias cidades protestar contra o impeachment de Dilma, mas o PT, oficialmente, não foi. Bom sinal para Temer. Na sua posse, não se viu uma só bandeira vermelha no Congresso, uma faixa, um grito de protesto. Bom sinal para Temer.
Um dia desses, Temer revelou que cogitava a ideia de convidar Lula para um encontro. Poderá não fazê-lo tão cedo. Poderá nunca fazê-lo. Mas a ideia continua na cabeça dele. Os dois sempre se deram bem. Lula ficou rouco de tanto aconselhar Dilma a prestigiar Temer. Em vão.
Se dependesse de Temer, Lula jamais seria preso. Muito menos condenado e banido da vida política. Em 2010, Temer foi a Lula sugerir a montagem de uma chapa à eleição presidencial daquele ano com Serra na cabeça e Dilma de vice. Lula foi que não quis. Serra topava.
De volta ao “acordão”: ele não é garantia de que Dilma poderá se candidatar em breve ou mais tarde. Caso ela queira, o Supremo é quem irá decidir. E não é certo que decidirá a favor dela. É provável que decida contra. Assim, o “acordão” não terá saído tão caro a Temer.
Já vai tarde
Dilma foi a última vítima da maldição de Santo André que atingiu Lula. Todos aqueles que estiveram ao lado dele nos últimos anos foram amaldiçoados. Políticos, empresários, amigos e até seus familiares vivem dias de desespero e de angústia. Tudo começou com a morte de Celso Daniel, em 2002, sacrificado para que os petistas chegassem ao poder sem arranhões. Depois da tragédia do prefeito da cidade paulista, nada deu certo na vida dos petistas: prisões, mortes e doenças ruins. E, agora, o Brasil assiste a derrocada final do partido com a destituição da Dilma, que será lembrada como a presidente mais atrapalhada da história do país. A queda da Dilma deixou o país menos corrupto. E menos esquizofrênico, é verdade.
Existe um ditado que diz: “Aqui se faz, aqui se paga”. E o PT está pagando caro pelos crimes de lesa pátria que cometeu. Paga um preço alto pelas mentiras, pela corrupção e pela roubalheira generalizada. Muitos de seus personagens, que ajudaram o Lula ao chegar ao poder, hoje vivem nos presídios, a exemplo dos três tesoureiros do partido e do seu principal ministro, o ideólogo Zé Dirceu, um homem amargurado, desolado na cadeia. Outros, como os empreiteiros Leo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht pagam caro pela amizade com Lula que não só envolveu seus amigos nas maracutaias como também deixou que os filhos e a mulher virassem alvos da polícia e da justiça. Quem esteve ao seu lado nas últimas décadas experimentou o fogo voraz do purgatório.
A presidente também foi vítima dessa maldição que pulverizou seus companheiros. Antes de ser candidata teve que se curar de uma grave enfermidade. Elegeu-se à sombra de Lula para que ele governasse o país pela terceira vez. No segundo mandato, quando tentou carreira solo, foi atropelada pelo companheiro que mudou o status do seu governo e a obrigou a seguir suas orientações. Lula nomeou os corruptos da sua lista para as empresas públicas com a recomendação de fazer caixa para manter o partido no poder mesmo que para isso derretesse o patrimônio da Petrobrás.
Durante o mandato, Dilma não passou de uma marionete manipulada por ele.
A presidente bem que poderia ter desconfiado das intenções de Lula, quando saiu das trevas da burocracia para virar candidata à presidente. Sabia das suas limitações e da sua incapacidade para tal tarefa, mas foi sacudida pela vaidade e pela sede de poder mesmo consciente de que seria uma coadjuvante no processo político do PT. Deixou-se levar pelos parasitas sindicais, saqueadores dos cofres públicos, e virou cúmplice da bandalheira. Não adianta, portanto, dizer que é honesta. Ao ser banida do cargo, deixa o país na mais profunda crise moral e econômica. Acumpliciou-se com os corruptos petistas e com eles governou até ser tragada pela maldição de Sano André.
A Dilma é o tipo da burocrata que se deixou ser usada pelos políticos vivaldinos. Lula tinha outros pretendentes dentro do partido, até mais qualificados, para sucedê-lo. Mas preferiu levá-la ao poder para continuar liderando a organização criminosa junto com empresários e políticos parceiros. Sabia que teria na Dilma total e absoluta submissão às suas ordens por tê-la chefiado. Por isso, contrariou o partido quando a escolheu como sucessora. Por tal ousadia, hoje paga um preço caro: perdeu a sua presidente, está indiciado pela Polícia Federal e destruiu o partido que criou sob a égide da ética. Paga o preço da suprema arrogância e do egocentrismo.
Lula levou à sepultura todos que o acompanharam até hoje. Conduz também para a cova rasa o povo brasileiro ao enganá-lo com seus arroubos de honestidade. Enganou os mais necessitados com pão e circo para depois jogá-los na miséria quando aprofundou o país na mais aguda recessão econômica em parceria com a sua sucessora e ao liderar o maior assalto aos cofres públicos.
Com a excomunhão do PT, Dilma vive agora seus dias de agonia. Apeada do trono, começa a botar os pés no chão e volta abrir a maçaneta da porta, deferência até então a cargo do séquito que a acompanhava. Sem a imunidade presidencial, passará os dias atormentada à espera da intimação que a levará a presença de Sergio Moro para responder pelos crimes da Lava Jato. O juiz vai exigir explicações dela sobre os 4,5 milhões de dólares que o marqueteiro João Santana recebeu da sua campanha e que, segundo o próprio denunciou em delação premiada, teriam sido roubados da Petrobrás.
Em outro processo, a ex-presidente também terá que explicar por que autorizou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, por mais de 1 bilhão de dólares, uma sucata que não valia nada. Ao depor na operação Lava Jato, Nestor Cerveró, o diretor internacional da Petrobrás, disse com todas as letras que ela sabia da negociata que mergulhou a estatal em um prejuízo monumental. A Dilma, portanto, deve responder por essas ações nefastas que afundaram o país e dilapidaram o patrimônio das empresas estatais.
Dilma deslumbrou-se com o poder ao se aproximar de Lula que a prestigiou com todos os cargos no seu governo. Maquiavelicamente a manteve sob o seu domínio para tentar se perpetuar no comando do país, pois ameaçava voltar à presidência para sucedê-la depois. No cargo de presidente, Dilma logo botou as unhas de fora. No tratamento com os funcionários mais humildes, seus auxiliares, mostrava-se arrogante, prepotente e grosseira. Diante de Lula, curvava-se à submissão. Não contrariava o chefe por temê-lo. Achou que o poder era eterno. Agora, quando deixa a presidência, ouve a torcida silenciosa de seus ex-auxiliares fazer o coro do “já vai tarde”.
Os brasileiros não sentirão saudades da Dilma. Não têm motivo para isso. Nem a história deverá ser generosa com ela. Será reconhecida pelas futuras gerações como a presidente que “foi sem ser”. Que sentou na cadeira da presidência como uma auxiliar do antecessor, que fechou os olhos para a quadrilha de assaltantes petistas que depenou as principais empresas púbicas, que provocou o maior dano à economia do país e praticou o maior estelionato eleitoral de que se tem notícia na república.
Dilma passará para história como personagem do anedotário popular. O brasileiro nunca fez tanta piada com um presidente da república como fez com ela. Seus pronunciamentos à nação, quando não escritos por seus assessores, eram verdadeiros esquetes que faziam a felicidade dos nossos humoristas. Pedalava nas ruas e dentro do governo. Virou personagem de livro. Escritores e pesquisadores até hoje tentam decifrar seu pensamento turvo e nebuloso. Suas frases delirantes e incompreensíveis estão catalogadas hoje no folclore político. Quando viajava para o exterior deixava os brasileiros sobressaltados e envergonhados com os seus factoides alucinógenos e extemporâneos, características de quem certamente tinha um desarranjo mental.
Com o afastamento definitivo dela do poder, depois de seis anos de escândalos, que me desculpem os dilmistas, mas aqui faço coro com os ex-auxiliares humilhados e desrespeitados pela ex-presidente: já vai tarde.
Jorge Oliveira
Existe um ditado que diz: “Aqui se faz, aqui se paga”. E o PT está pagando caro pelos crimes de lesa pátria que cometeu. Paga um preço alto pelas mentiras, pela corrupção e pela roubalheira generalizada. Muitos de seus personagens, que ajudaram o Lula ao chegar ao poder, hoje vivem nos presídios, a exemplo dos três tesoureiros do partido e do seu principal ministro, o ideólogo Zé Dirceu, um homem amargurado, desolado na cadeia. Outros, como os empreiteiros Leo Pinheiro, da OAS, e Marcelo Odebrecht pagam caro pela amizade com Lula que não só envolveu seus amigos nas maracutaias como também deixou que os filhos e a mulher virassem alvos da polícia e da justiça. Quem esteve ao seu lado nas últimas décadas experimentou o fogo voraz do purgatório.
A presidente também foi vítima dessa maldição que pulverizou seus companheiros. Antes de ser candidata teve que se curar de uma grave enfermidade. Elegeu-se à sombra de Lula para que ele governasse o país pela terceira vez. No segundo mandato, quando tentou carreira solo, foi atropelada pelo companheiro que mudou o status do seu governo e a obrigou a seguir suas orientações. Lula nomeou os corruptos da sua lista para as empresas públicas com a recomendação de fazer caixa para manter o partido no poder mesmo que para isso derretesse o patrimônio da Petrobrás.
Durante o mandato, Dilma não passou de uma marionete manipulada por ele.
A presidente bem que poderia ter desconfiado das intenções de Lula, quando saiu das trevas da burocracia para virar candidata à presidente. Sabia das suas limitações e da sua incapacidade para tal tarefa, mas foi sacudida pela vaidade e pela sede de poder mesmo consciente de que seria uma coadjuvante no processo político do PT. Deixou-se levar pelos parasitas sindicais, saqueadores dos cofres públicos, e virou cúmplice da bandalheira. Não adianta, portanto, dizer que é honesta. Ao ser banida do cargo, deixa o país na mais profunda crise moral e econômica. Acumpliciou-se com os corruptos petistas e com eles governou até ser tragada pela maldição de Sano André.
A Dilma é o tipo da burocrata que se deixou ser usada pelos políticos vivaldinos. Lula tinha outros pretendentes dentro do partido, até mais qualificados, para sucedê-lo. Mas preferiu levá-la ao poder para continuar liderando a organização criminosa junto com empresários e políticos parceiros. Sabia que teria na Dilma total e absoluta submissão às suas ordens por tê-la chefiado. Por isso, contrariou o partido quando a escolheu como sucessora. Por tal ousadia, hoje paga um preço caro: perdeu a sua presidente, está indiciado pela Polícia Federal e destruiu o partido que criou sob a égide da ética. Paga o preço da suprema arrogância e do egocentrismo.
Lula levou à sepultura todos que o acompanharam até hoje. Conduz também para a cova rasa o povo brasileiro ao enganá-lo com seus arroubos de honestidade. Enganou os mais necessitados com pão e circo para depois jogá-los na miséria quando aprofundou o país na mais aguda recessão econômica em parceria com a sua sucessora e ao liderar o maior assalto aos cofres públicos.
Com a excomunhão do PT, Dilma vive agora seus dias de agonia. Apeada do trono, começa a botar os pés no chão e volta abrir a maçaneta da porta, deferência até então a cargo do séquito que a acompanhava. Sem a imunidade presidencial, passará os dias atormentada à espera da intimação que a levará a presença de Sergio Moro para responder pelos crimes da Lava Jato. O juiz vai exigir explicações dela sobre os 4,5 milhões de dólares que o marqueteiro João Santana recebeu da sua campanha e que, segundo o próprio denunciou em delação premiada, teriam sido roubados da Petrobrás.
Em outro processo, a ex-presidente também terá que explicar por que autorizou a compra da refinaria de Pasadena, no Texas, por mais de 1 bilhão de dólares, uma sucata que não valia nada. Ao depor na operação Lava Jato, Nestor Cerveró, o diretor internacional da Petrobrás, disse com todas as letras que ela sabia da negociata que mergulhou a estatal em um prejuízo monumental. A Dilma, portanto, deve responder por essas ações nefastas que afundaram o país e dilapidaram o patrimônio das empresas estatais.
Dilma deslumbrou-se com o poder ao se aproximar de Lula que a prestigiou com todos os cargos no seu governo. Maquiavelicamente a manteve sob o seu domínio para tentar se perpetuar no comando do país, pois ameaçava voltar à presidência para sucedê-la depois. No cargo de presidente, Dilma logo botou as unhas de fora. No tratamento com os funcionários mais humildes, seus auxiliares, mostrava-se arrogante, prepotente e grosseira. Diante de Lula, curvava-se à submissão. Não contrariava o chefe por temê-lo. Achou que o poder era eterno. Agora, quando deixa a presidência, ouve a torcida silenciosa de seus ex-auxiliares fazer o coro do “já vai tarde”.
Os brasileiros não sentirão saudades da Dilma. Não têm motivo para isso. Nem a história deverá ser generosa com ela. Será reconhecida pelas futuras gerações como a presidente que “foi sem ser”. Que sentou na cadeira da presidência como uma auxiliar do antecessor, que fechou os olhos para a quadrilha de assaltantes petistas que depenou as principais empresas púbicas, que provocou o maior dano à economia do país e praticou o maior estelionato eleitoral de que se tem notícia na república.
Dilma passará para história como personagem do anedotário popular. O brasileiro nunca fez tanta piada com um presidente da república como fez com ela. Seus pronunciamentos à nação, quando não escritos por seus assessores, eram verdadeiros esquetes que faziam a felicidade dos nossos humoristas. Pedalava nas ruas e dentro do governo. Virou personagem de livro. Escritores e pesquisadores até hoje tentam decifrar seu pensamento turvo e nebuloso. Suas frases delirantes e incompreensíveis estão catalogadas hoje no folclore político. Quando viajava para o exterior deixava os brasileiros sobressaltados e envergonhados com os seus factoides alucinógenos e extemporâneos, características de quem certamente tinha um desarranjo mental.
Com o afastamento definitivo dela do poder, depois de seis anos de escândalos, que me desculpem os dilmistas, mas aqui faço coro com os ex-auxiliares humilhados e desrespeitados pela ex-presidente: já vai tarde.
Jorge Oliveira
Nada de novo sob o sol
Quem abrir a janela, hoje de manhã, verá a mesma luz do sol, se não estiver chovendo, e a mesma balbúrdia proveniente do trânsito, das crianças indo para a escola e das donas de casa apressadas para as compras de sempre. Numa palavra, nada terá mudado. O gosto da pasta de dentes, do café e o frio do chuveiro serão iguais.
Sendo assim, melhor ninguém se entusiasmar com os editoriais dos jornais ou a euforia dos locutores e comentaristas de rádio e televisão, a respeito de o Brasil ter amanhecido outro, diferente e promissor, por conta da deposição de Dilma Rousseff na véspera. Ou por dispormos de um novo presidente, senão cheio de promessas, ao menos disposto a minorar os efeitos da crise econômica.
É verdade que Michel Temer mandou-se para a China, quando deveria estar se mostrando por aqui, ou melhor, começando a trabalhar. Mas é preciso insistir: o país não mudou um milímetro, exceção de Madame ter sido afastada e seu substituto ter assumido, apesar de há mais de cem dias estar nas telinhas e nas primeiras páginas como interino.
Sendo assim, melhor ninguém se entusiasmar com os editoriais dos jornais ou a euforia dos locutores e comentaristas de rádio e televisão, a respeito de o Brasil ter amanhecido outro, diferente e promissor, por conta da deposição de Dilma Rousseff na véspera. Ou por dispormos de um novo presidente, senão cheio de promessas, ao menos disposto a minorar os efeitos da crise econômica.
É verdade que Michel Temer mandou-se para a China, quando deveria estar se mostrando por aqui, ou melhor, começando a trabalhar. Mas é preciso insistir: o país não mudou um milímetro, exceção de Madame ter sido afastada e seu substituto ter assumido, apesar de há mais de cem dias estar nas telinhas e nas primeiras páginas como interino.
Temer fica devendo uma apresentação por inteiro, em especial sobre os sacrifícios que exigirá da população e com quem espera contar para eles. Itamar Franco, na mesma situação, reuniu os líderes de todos os partidos e disse que renunciaria caso não dispusesse da boa vontade de todos na busca de soluções para os graves problemas nacionais. Só o PT saltou de banda, colhendo depois duas derrotas do Lula para Fernando Henrique. Bem feito, mas a perspectiva, para agora, parece igual.
Ficam o vazio e a interrogação: como conter o desemprego que ultrapassou doze milhões de trabalhadores? De que maneira retomar o crescimento econômico reduzindo conquistas sociais e abrindo maiores espaços para os privilégios das elites.
Ficam o vazio e a interrogação: como conter o desemprego que ultrapassou doze milhões de trabalhadores? De que maneira retomar o crescimento econômico reduzindo conquistas sociais e abrindo maiores espaços para os privilégios das elites.
Dilma foi ao Senado, mas não conseguiu esconder a arrogância
Ouvi, no rádio, e vi, na televisão, desde segunda-feira, 25 de agosto (que dia, hein, leitor!), durante horas a fio, até quase a exaustão física e mental, o espetáculo, transcorrido no Senado Federal, do afastamento definitivo (pela segunda vez no país) de um presidente da República, desta vez eleito com mais de 54 milhões de votos. Para 20 senadores – pois esse deve ser o resultado depois de 11 meses de sofrimento –, um golpe; para 61, uma solução esperada. Constitucional.
Agora, precisamos pensar em nosso país. E, no meu caso, o faço com uma ponta de amargura, que me segue pela vida afora.
Será que, para o PT (ou para o lulopetismo), a luta em favor de um governo preocupado, sobretudo, com as questões sociais (inseridas aí a educação, a saúde, o emprego, a segurança, a inclusão, a habitação etc.), única maneira de se promover a justiça social e a paz em nosso país, terá que estar centrada na célebre expressão “nós contra eles”? Nós, os pobres; eles, as elites. Essa frase, leitor, perpassada de ressentimento, só poderá conduzir ao ódio; inventada e, muitas vezes, pronunciada por seu maior líder (hoje, um real integrante das elites), transformou-se em princípio político tanto para um quanto para o outro.
Pois não foi ele quem disse a Dilma, referindo-se mais uma vez às elites, que “eles não sabem o que seremos capazes de fazer, democraticamente, para fazer com que você seja nossa presidenta por mais quatro anos neste país”? E que lição de democracia ele nos deu?
Nenhuma. Na realidade, a frase nada tem a ver com os 13 anos e o pico de Lula e Dilma, cujos governos serviram muito mais a nossas “zelites” (como dizia o escritor e jornalista João Ubaldo Ribeiro) do que ao sofrido povo brasileiro. Isso ficou mais claro quando, por meio do processo de impeachment da presidente, com certeza, soube-se, hoje, o que ela fez com nosso suado dinheirinho.
Respiraríamos todos bem melhor se nossos políticos entendessem, daqui pra frente, que ninguém governará este país nem jamais conseguirá promover as transformações de que necessita com urgência começando por dividi-lo. Será tão difícil entender isso, Lula?
O discurso da então presidente afastada, na segunda-feira, no Senado Federal, bem como suas respostas às indagações dos senadores, nada disse a favor de sua defesa nem em defesa do país. Constituiu-se num verdadeiro desastre. Quis ser – em algumas oportunidades – cordial e amena, mas mostrou logo arrogância e tibieza. Deixou-se levar pelos maus conselheiros, enrolou-se em suas falas e, por isso, perdeu uma oportunidade histórica – a de aceitar que errou e, com dignidade, afastar-se do cargo para o qual foi eleita, de vez que não daria mais conta, nem por hipótese, de exercê-lo em sua integralidade.
Cabe-nos agora, a todos os brasileiros, e não só aos políticos, não só torcer, mas trabalhar com afinco para que essa equivocada narrativa de golpe seja arquivada. Mas cabe ao presidente, que ora se torna definitivo, Michel Temer, em primeiríssimo lugar, uma missão histórica, talvez acima de sua capacidade – a de pacificar o país não só jurídica, como disse ontem em entrevista à jornalista Miriam Leitão, mas política e socialmente. A humildade deverá ser sua arma.
Só assim, governando para os mais pobres e fincando bases para a justiça social, este país será retirado da lama em que está.
Agora, precisamos pensar em nosso país. E, no meu caso, o faço com uma ponta de amargura, que me segue pela vida afora.
Será que, para o PT (ou para o lulopetismo), a luta em favor de um governo preocupado, sobretudo, com as questões sociais (inseridas aí a educação, a saúde, o emprego, a segurança, a inclusão, a habitação etc.), única maneira de se promover a justiça social e a paz em nosso país, terá que estar centrada na célebre expressão “nós contra eles”? Nós, os pobres; eles, as elites. Essa frase, leitor, perpassada de ressentimento, só poderá conduzir ao ódio; inventada e, muitas vezes, pronunciada por seu maior líder (hoje, um real integrante das elites), transformou-se em princípio político tanto para um quanto para o outro.
Pois não foi ele quem disse a Dilma, referindo-se mais uma vez às elites, que “eles não sabem o que seremos capazes de fazer, democraticamente, para fazer com que você seja nossa presidenta por mais quatro anos neste país”? E que lição de democracia ele nos deu?
Nenhuma. Na realidade, a frase nada tem a ver com os 13 anos e o pico de Lula e Dilma, cujos governos serviram muito mais a nossas “zelites” (como dizia o escritor e jornalista João Ubaldo Ribeiro) do que ao sofrido povo brasileiro. Isso ficou mais claro quando, por meio do processo de impeachment da presidente, com certeza, soube-se, hoje, o que ela fez com nosso suado dinheirinho.
Respiraríamos todos bem melhor se nossos políticos entendessem, daqui pra frente, que ninguém governará este país nem jamais conseguirá promover as transformações de que necessita com urgência começando por dividi-lo. Será tão difícil entender isso, Lula?
O discurso da então presidente afastada, na segunda-feira, no Senado Federal, bem como suas respostas às indagações dos senadores, nada disse a favor de sua defesa nem em defesa do país. Constituiu-se num verdadeiro desastre. Quis ser – em algumas oportunidades – cordial e amena, mas mostrou logo arrogância e tibieza. Deixou-se levar pelos maus conselheiros, enrolou-se em suas falas e, por isso, perdeu uma oportunidade histórica – a de aceitar que errou e, com dignidade, afastar-se do cargo para o qual foi eleita, de vez que não daria mais conta, nem por hipótese, de exercê-lo em sua integralidade.
Cabe-nos agora, a todos os brasileiros, e não só aos políticos, não só torcer, mas trabalhar com afinco para que essa equivocada narrativa de golpe seja arquivada. Mas cabe ao presidente, que ora se torna definitivo, Michel Temer, em primeiríssimo lugar, uma missão histórica, talvez acima de sua capacidade – a de pacificar o país não só jurídica, como disse ontem em entrevista à jornalista Miriam Leitão, mas política e socialmente. A humildade deverá ser sua arma.
Só assim, governando para os mais pobres e fincando bases para a justiça social, este país será retirado da lama em que está.
Foi golpe
Cassada por 61 dos senadores, sete a mais do que Constituição determina, Dilma Rousseff não preside mais o Brasil. Tudo dentro dos conformes. Ou nem tanto. Por 36 votos foram mantidos os seus direitos políticos, possibilidade aberta por decisão mais do que polêmica do presidente da Suprema Corte, Ricardo Lewandowski. Algo digerível na política, acostumada a negociatas aqui e acolá, mas que causa espanto jurídico. E consequências nefastas.
Depois de ser elogiado nos meios jurídicos e políticos pela condução impecável da sessão do impeachment iniciada na quinta-feira, Lewandowski cedeu a um acordo bem tramado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e o PT. Turvou o processo que tão bem havia conduzido. E maculou a sua história.
De Lewandowski, e só dele, pode ser cobrada a estapafúrdia permissão de que fosse apreciada uma modificação na Constituição sem quórum qualificado, sem convocação para tal e em votação única.
Em sua defesa, nem mesmo poderá dizer que foi surpreendido pela questão de ordem feita pelo PT durante a sessão. A peça que preparou para autorizar o estupro à Constituição havia sido cuidadosamente elaborada. Tinha páginas e páginas, referências, citações. Uma indecência.
Com isso, pela primeira vez na História, um dispositivo constitucional foi alterado pelo voto de menos da metade dos senadores, abrindo-se precedentes perigosíssimos. Não só para futuras cassações – a bancada pró Eduardo Cunha que o diga --, mas também ao rito de alterações na Carta Magna, que exige aprovação em comissão especial e de dois terços da Câmara e do Senado em duas votações.
Na sessão do dia 31 de agosto, o Senado cassou Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Constitucionalmente. E, irresponsavelmente, afrontou a lei maior do país com o aval e estímulo do presidente da mais alta Corte. Atentou contra a Constituição. Golpeou-a.
Depois de ser elogiado nos meios jurídicos e políticos pela condução impecável da sessão do impeachment iniciada na quinta-feira, Lewandowski cedeu a um acordo bem tramado pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, e o PT. Turvou o processo que tão bem havia conduzido. E maculou a sua história.
De Lewandowski, e só dele, pode ser cobrada a estapafúrdia permissão de que fosse apreciada uma modificação na Constituição sem quórum qualificado, sem convocação para tal e em votação única.
Com isso, pela primeira vez na História, um dispositivo constitucional foi alterado pelo voto de menos da metade dos senadores, abrindo-se precedentes perigosíssimos. Não só para futuras cassações – a bancada pró Eduardo Cunha que o diga --, mas também ao rito de alterações na Carta Magna, que exige aprovação em comissão especial e de dois terços da Câmara e do Senado em duas votações.
Na sessão do dia 31 de agosto, o Senado cassou Dilma Rousseff por crime de responsabilidade. Constitucionalmente. E, irresponsavelmente, afrontou a lei maior do país com o aval e estímulo do presidente da mais alta Corte. Atentou contra a Constituição. Golpeou-a.
Preventiva para os marqueteiros
Fernando Collor e Dilma Rousseff possuem mais em comum que o destino de terem sofrido um impeachment previsto na Constituição brasileira. Não só o final, mas o início. Compartilham o surgimento na cena política nacional. Suas aparições foram tão fulminantes que cabe perguntar: como os dois terminaram no Palácio do Planalto?
Sabemos por que Fernando Henrique e Lula foram eleitos: ambos tinham sólidas trajetórias políticas, um como respeitado sociólogo, outro como vitorioso líder operário. Sabemos por que Fernando Henrique e Lula foram reeleitos: ambos fizeram primeiros governos eficientes, costurando inteligência política e bons resultados econômicos.
Collor vendia a juventude dos 40 anos e a fama de ser “o caçador de marajás”. Dilma vendia o avanço de ser nossa primeira mulher presidente e a fama de ser “a mãe do PAC” (Programa de Aceleração do Crescimento). Os candidatos eram mais símbolos do que realidades. No caso de Dilma, a transferência de votos de Lula explica a eleição.
Contudo, e esta é a pergunta de um milhão de acarajés, o que explica a sua reeleição?
Em 2010, ainda não se sabia que Dilma era Dilma. Em 2014, já. Como Collor, ela demonstrara ser duplamente incapaz: de fazer política e de conduzir a economia. Mostrassem habilidade para uma ou outra coisa, teriam permanecido no cargo, mesmo sendo procedentes as acusações de corrupção e de fraude fiscal que serviram de base para os respectivos afastamentos. No de Dilma, o “algoz” Eduardo Cunha selecionou, dentre os pedidos de impeachment, uma acusação que não respingasse nele mesmo.
Collor e Dilma foram produtos da mesma ilusão. Há uma perversão perigosa da democracia quando candidatos são fabricados por marqueteiros pagos graças ao abuso do poder econômico, seja o dinheiro arrecadado legal ou ilegalmente.
Pelo bem daquele que o ex-primeiro-ministro britânico Churchill chamou de o pior sistema político com exceção de todos os outros, talvez fosse o caso de se pensar em prisão preventiva para os marqueteiros durante a campanha eleitoral de 2018.
Arthur Dapieve
Sabemos por que Fernando Henrique e Lula foram eleitos: ambos tinham sólidas trajetórias políticas, um como respeitado sociólogo, outro como vitorioso líder operário. Sabemos por que Fernando Henrique e Lula foram reeleitos: ambos fizeram primeiros governos eficientes, costurando inteligência política e bons resultados econômicos.
Contudo, e esta é a pergunta de um milhão de acarajés, o que explica a sua reeleição?
Em 2010, ainda não se sabia que Dilma era Dilma. Em 2014, já. Como Collor, ela demonstrara ser duplamente incapaz: de fazer política e de conduzir a economia. Mostrassem habilidade para uma ou outra coisa, teriam permanecido no cargo, mesmo sendo procedentes as acusações de corrupção e de fraude fiscal que serviram de base para os respectivos afastamentos. No de Dilma, o “algoz” Eduardo Cunha selecionou, dentre os pedidos de impeachment, uma acusação que não respingasse nele mesmo.
Collor e Dilma foram produtos da mesma ilusão. Há uma perversão perigosa da democracia quando candidatos são fabricados por marqueteiros pagos graças ao abuso do poder econômico, seja o dinheiro arrecadado legal ou ilegalmente.
Pelo bem daquele que o ex-primeiro-ministro britânico Churchill chamou de o pior sistema político com exceção de todos os outros, talvez fosse o caso de se pensar em prisão preventiva para os marqueteiros durante a campanha eleitoral de 2018.
Arthur Dapieve
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