quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Dilma foi ao Senado, mas não conseguiu esconder a arrogância

Ouvi, no rádio, e vi, na televisão, desde segunda-feira, 25 de agosto (que dia, hein, leitor!), durante horas a fio, até quase a exaustão física e mental, o espetáculo, transcorrido no Senado Federal, do afastamento definitivo (pela segunda vez no país) de um presidente da República, desta vez eleito com mais de 54 milhões de votos. Para 20 senadores – pois esse deve ser o resultado depois de 11 meses de sofrimento –, um golpe; para 61, uma solução esperada. Constitucional.

Agora, precisamos pensar em nosso país. E, no meu caso, o faço com uma ponta de amargura, que me segue pela vida afora.

Será que, para o PT (ou para o lulopetismo), a luta em favor de um governo preocupado, sobretudo, com as questões sociais (inseridas aí a educação, a saúde, o emprego, a segurança, a inclusão, a habitação etc.), única maneira de se promover a justiça social e a paz em nosso país, terá que estar centrada na célebre expressão “nós contra eles”? Nós, os pobres; eles, as elites. Essa frase, leitor, perpassada de ressentimento, só poderá conduzir ao ódio; inventada e, muitas vezes, pronunciada por seu maior líder (hoje, um real integrante das elites), transformou-se em princípio político tanto para um quanto para o outro.

Pois não foi ele quem disse a Dilma, referindo-se mais uma vez às elites, que “eles não sabem o que seremos capazes de fazer, democraticamente, para fazer com que você seja nossa presidenta por mais quatro anos neste país”? E que lição de democracia ele nos deu?

Nenhuma. Na realidade, a frase nada tem a ver com os 13 anos e o pico de Lula e Dilma, cujos governos serviram muito mais a nossas “zelites” (como dizia o escritor e jornalista João Ubaldo Ribeiro) do que ao sofrido povo brasileiro. Isso ficou mais claro quando, por meio do processo de impeachment da presidente, com certeza, soube-se, hoje, o que ela fez com nosso suado dinheirinho.

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Respiraríamos todos bem melhor se nossos políticos entendessem, daqui pra frente, que ninguém governará este país nem jamais conseguirá promover as transformações de que necessita com urgência começando por dividi-lo. Será tão difícil entender isso, Lula?

O discurso da então presidente afastada, na segunda-feira, no Senado Federal, bem como suas respostas às indagações dos senadores, nada disse a favor de sua defesa nem em defesa do país. Constituiu-se num verdadeiro desastre. Quis ser – em algumas oportunidades – cordial e amena, mas mostrou logo arrogância e tibieza. Deixou-se levar pelos maus conselheiros, enrolou-se em suas falas e, por isso, perdeu uma oportunidade histórica – a de aceitar que errou e, com dignidade, afastar-se do cargo para o qual foi eleita, de vez que não daria mais conta, nem por hipótese, de exercê-lo em sua integralidade.

Cabe-nos agora, a todos os brasileiros, e não só aos políticos, não só torcer, mas trabalhar com afinco para que essa equivocada narrativa de golpe seja arquivada. Mas cabe ao presidente, que ora se torna definitivo, Michel Temer, em primeiríssimo lugar, uma missão histórica, talvez acima de sua capacidade – a de pacificar o país não só jurídica, como disse ontem em entrevista à jornalista Miriam Leitão, mas política e socialmente. A humildade deverá ser sua arma.

Só assim, governando para os mais pobres e fincando bases para a justiça social, este país será retirado da lama em que está.

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