segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Por que o humor nos liberta dos fantasmas


A sátira não mata, liberta. Os dogmas, religiosos ou políticos, é que têm semeado cadáveres ao longo da História.
O humor e a sátira, que implicam sempre uma crítica ao poder, foram ensanguentados nestes dias na França, salpicando todos nós. Sobre as implicações do assassinado de humoristas irreverentes (que verdadeiro humorista não é assim?), já se escreveu quase tudo.

Mas talvez um aspecto tenha sido menos lembrado: o da força que esse gênero literário de sátira possui para libertar os seres humanos dos fantasmas que os angustiam desde o tempo das cavernas.

Se há algo tipicamente humano, é o humor. Não os medos, nem a violência, que também existem no reino animal. Uma das manifestações artísticas que enobrecem a capacidade intelectual do Homo sapiens é a possibilidade de ridicularizar o poder – e a nós mesmos – como antídoto para as tentações de onipotência.

Todos os poderes odeiam os humoristas e satíricos. Quanto mais tiranos os poderes se revelam, mais os odeiam

A sátira dói porque nos desnuda, revela nossos limites, castiga nossa pretensão de acreditar que sejamos importantes e intocáveis.

Ela ameaça o poder porque o coloca em seus limites, já que os que o detêm, seja no âmbito político, religioso ou cultural, podem escorregar na tentação de se considerar intocáveis. E, ao mesmo tempo, liberta a todos nós dos fantasmas aninhados em nossos genes. Fantasmas que afligem e às vezes tiram o sono de grandes e pequenos.

Nada liberta mais nossas crianças dos fantasmas que povoam seus sonhos e suas vigílias do que ridicularizar as bruxas e os super-homens. As crianças adoram quando rimos dos adultos, nós, que constituímos para elas o medo ao poder que castiga ou castra seus melhores sonhos de liberdade.

Poucas coisas são tão libertadoras, em todos os âmbitos, como uma ilustração inteligentemente sarcástica sobre qualquer poder político ou religioso.

Todos os poderes odeiam os humoristas e satíricos. Quanto mais tiranos os poderes se revelam, mais os odeiam. Não há nenhum teste melhor para medir o grau de democracia de uma pessoa ou instituição do que sua capacidade de aceitar a ironia sobre ela e o que ela representa.

Se o humor nos desnuda e remove o falso brilho do poder, não faz mais do que nos trazer de volta às nossas origens, já que todos, desde o início dos tempos, nascemos nus, desvalidos, necessitados de tudo. Nascemos sem poder. Chorando, não rindo.

O humor nos liberta das estruturas com as quais os mantos do poder nos vão revestindo e cobrindo. Devolve nossa essência.

Bastaria essa força de libertação de nossos medos, de nossas estúpidas crenças de superioridade, para defendermos os gênios do humor e sua força criativa.

Democracia não se perverte

Democracia não pode ser pervertida para combater o terror
Deputado do Partido Socialista francês, Eduardo Rikhan Cypel, brasileiro radicalizado na França


A semana de terror assistida por milhões em todo o mundo tem muito a ensinar sobre democracia. Em particular àquele ao qual o ex-presidente francês, general Charles de Gualle, como "não é um país sério".
Em nenhum momento, nenhuma voz por lá se levantou em um gesto antidemocrático. Em uníssono, o país quis uma resposta séria e dentro da legalidade para combater o terrorismo, o que só pode acontecer em democracias estabelecidas.
Democracias há por todo o mundo, e nem adianta encher a boca para se proclamar que vive numa delas, porque raríssimas respeitam os princípios de liberdade e de direitos.
Na França, para combater o radicalismo de bandidos, travestidos de seguidores do Islã, não se reduziu a democracia. Nem através de decretos ou outras ações, o governo feriu princípios, maquiou aqui e ali. Sabem muito bem que não se pode ostentar a democracia com demagogia ou marketing de discursos faraônicos, muitas vezes eivados de totalitarismo.

Tem-se democracia, e devemos respeito a ela, ou apenas somos mascarados para ocultar a face verdadeira de uma republiqueta. Os franceses são definitivamente sérios que não se deixarem levar por malandragem de picaretas sempre dispostos a empurrar com a barriga uma democracia de fachada.
Tem que existir em todos os momentos de uma nação que a queira na íntegra. Perverter a democracia para se manter no poder a qualquer custo, mesmo que a vaca tussa, pintando o diabo, é fazer terror com o próprio povo.

Governo massacra aposentados e pensionistas

Circula na internet, causando desapontamento e revolta a aposentados e pensionistas, uma tabela contendo um quadro comparativo de benefícios pagos pelo INSS entre 1997 e 2014.

O gráfico mostra que os benefícios equivalentes ao salário mínimo subiram 503,25% de 1997 a 2014, enquanto o reajuste para que aposentados e pensionistas que recebem mais de um mínimo foi de apenas 199,07%.

A decepção dos aposentados e pensionistas é mais do que procedente. Esta política é massacrante e não pode ser mantida eternamente, pois tende a nivelar por baixo todos os benefícios, o que representa uma inominável injustiça àqueles que mais contribuíram para manter a Previdência Social.

E com um detalhe deplorável: muitos desses aposentados passaram anos e anos contribuindo sobre 20 salários de referência, que com a reforma da previdência foram reduzidos para apenas 10 salários de referência, sem que essas contribuições a mais tivessem sido devolvidas, numa flagrante apropriação indébita de recursos do contribuinte.

Cabe aqui uma observação importante. A tabela que circula na internet está equivocada, porque se baseou nos valores do salário mínimo vigente no país, que não serve para cálculo dos benefícios do INSS, embora seja considerado piso. Quando o INSS fala em 10 salários, refere-se sempre a salário de referência ou salário de contribuição, e não ao salário mínimo.

Mesmo assim, a tabela serve para demonstrar os prejuízos de quem recebe mais de um salário mínimo. Em 1997, por exemplo, o salário mínimo era de R$ 120,00 e o teto do INSS estava em R$ 1.031,87. Ou seja, era de 8,59 salários mínimos. Em 2014, o mínimo passou a R$ 724 e o valor máximo dos benefícios para R$ 4.390,24, equivalentes a apenas 6,06 salários mínimos. E a queda é progressiva.

O pior de tudo isso é saber que o reajuste das pensões e aposentadorias vem sendo baseado num índice de inflação subavaliado, que não condiz com o verdadeiro aumento do custo de vida, circunstância que aumenta ainda mais os prejuízos dos brasileiros da terceira idade. É revoltante ou não?

Carlos Newton

Cumpra a lei

Um governo que é incapaz de fazer cumprir sua própria lei deixa de ser governo
John Steinbeck

A presidência ditatorial ou a ditadura presidencial

Marcada para o dia 27, terça-feira, a primeira reunião do ministério arrisca-se a ser a última. Pelo menos, com os atuais ministros empossados no primeiro dia do ano, somados aos que permaneceram, no total de 39. Isso porque, depois de conhecida a lista do procurador-geral da República relacionando supostos envolvidos no escândalo da Petrobrás, será possível à presidente Dilma fazer alguns ajustes. Poderá dispensar ministros porventura denunciados, assim como recrutar aliados que ficaram fora da lambança.

De qualquer forma, essas reuniões ministeriais perderam sua razão de ser depois que a equipe inchou. Servem apenas para a presidente dar recados genéricos, quando não passa reprimendas, tornando-se inviável que cada um dos presentes possa sequer dar bom dia aos colegas, quanto mais expor suas metas, suas dificuldades, pedindo e contribuindo   com conselhos para o vizinho do lado. Meia hora que fosse para cada um pronunciar-se e dois dias não seriam suficientes, mesmo sem intervalo para refeições ou para uma soneca.

Não dá para governar em colegiado, ou seja, facultando-se a todos os ministros opinar a respeito de temas comuns ou até colaborando, uns, nas questões dos outros, como já aconteceu no passado. Cada vez mais dividido em compartimentos estanques, pelo número absurdo de participantes, o ministério tornou-se uma entidade insossa, amorfa e inodora, na medida em que todos ouvem a palavra presidencial mas ficam impossibilitados de debater e apresentar opiniões ou discordâncias. Nada diferente daquelas vetustas salas de aula do passado, onde o mestre-escola pontificava e os alunos calavam.

Sequer se torna possível dividir o ministério em grupos determinados, como o político, o econômico, o social e o da infraestrutura. Vigora hoje a ditadura presidencial. Em separado, só poucos ministros conseguem despachar com a presidente. Outros chegarão ao final do ano conhecendo apenas o auditório palaciano, sem ter entrado no gabinete de Dilma, limitados às bissextas reuniões conjuntas. Numa palavra, ministros de primeira e de segunda classe, poucos privilegiados, muitos discriminados, mas todos calados e subservientes.

Cada vez mais o exercício da chefia do governo torna-se tarefa monocrática, especialmente se seu ocupante apresenta temperamento e características monárquicas. Se impõe sua decisão sem admitir ponderações ou sugestões. O resultado é seu isolamento permanente, dentro da concepção de que ministros existem para obedecer e cumprir ordens. Já se foi o período em que tinham condições e coragem para expor roteiros de ação e até correções de rumo. Curvam-se à fala do trono. Precisamente o que assistiremos dia 27.
  

Coincidência não foi a manifestação contra o aumento das tarifas de transporte publico verificada em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, na noite de sexta-feira. Até a baderna que se seguiu às passeatas pacificas terá sido minuciosamente programada. Vieram as mesmas depredações de sempre, com personagens encapuzados e organizados. Seria bom prestar atenção. Se a onda de julho de 2013 voltar, será bem mais violenta.