segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A presidência ditatorial ou a ditadura presidencial

Marcada para o dia 27, terça-feira, a primeira reunião do ministério arrisca-se a ser a última. Pelo menos, com os atuais ministros empossados no primeiro dia do ano, somados aos que permaneceram, no total de 39. Isso porque, depois de conhecida a lista do procurador-geral da República relacionando supostos envolvidos no escândalo da Petrobrás, será possível à presidente Dilma fazer alguns ajustes. Poderá dispensar ministros porventura denunciados, assim como recrutar aliados que ficaram fora da lambança.

De qualquer forma, essas reuniões ministeriais perderam sua razão de ser depois que a equipe inchou. Servem apenas para a presidente dar recados genéricos, quando não passa reprimendas, tornando-se inviável que cada um dos presentes possa sequer dar bom dia aos colegas, quanto mais expor suas metas, suas dificuldades, pedindo e contribuindo   com conselhos para o vizinho do lado. Meia hora que fosse para cada um pronunciar-se e dois dias não seriam suficientes, mesmo sem intervalo para refeições ou para uma soneca.

Não dá para governar em colegiado, ou seja, facultando-se a todos os ministros opinar a respeito de temas comuns ou até colaborando, uns, nas questões dos outros, como já aconteceu no passado. Cada vez mais dividido em compartimentos estanques, pelo número absurdo de participantes, o ministério tornou-se uma entidade insossa, amorfa e inodora, na medida em que todos ouvem a palavra presidencial mas ficam impossibilitados de debater e apresentar opiniões ou discordâncias. Nada diferente daquelas vetustas salas de aula do passado, onde o mestre-escola pontificava e os alunos calavam.

Sequer se torna possível dividir o ministério em grupos determinados, como o político, o econômico, o social e o da infraestrutura. Vigora hoje a ditadura presidencial. Em separado, só poucos ministros conseguem despachar com a presidente. Outros chegarão ao final do ano conhecendo apenas o auditório palaciano, sem ter entrado no gabinete de Dilma, limitados às bissextas reuniões conjuntas. Numa palavra, ministros de primeira e de segunda classe, poucos privilegiados, muitos discriminados, mas todos calados e subservientes.

Cada vez mais o exercício da chefia do governo torna-se tarefa monocrática, especialmente se seu ocupante apresenta temperamento e características monárquicas. Se impõe sua decisão sem admitir ponderações ou sugestões. O resultado é seu isolamento permanente, dentro da concepção de que ministros existem para obedecer e cumprir ordens. Já se foi o período em que tinham condições e coragem para expor roteiros de ação e até correções de rumo. Curvam-se à fala do trono. Precisamente o que assistiremos dia 27.
  

Coincidência não foi a manifestação contra o aumento das tarifas de transporte publico verificada em São Paulo, Rio e Belo Horizonte, na noite de sexta-feira. Até a baderna que se seguiu às passeatas pacificas terá sido minuciosamente programada. Vieram as mesmas depredações de sempre, com personagens encapuzados e organizados. Seria bom prestar atenção. Se a onda de julho de 2013 voltar, será bem mais violenta.

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