quinta-feira, 2 de agosto de 2018
Deu ruim
Quando se chega a esse nível de desastre, morre qualquer conversa de “política econômica” ─ e, mais ainda, a costumeira fraude de “discutir com a sociedade” as soluções a tomar. Não tem de conversar nada, e muito menos perguntar para o doente qual o tratamento que ele prefere. A única saída racional é apagar o incêndio que está rolando aí, e para apagar o incêndio utiliza-se os meios conhecidos desde sempre ─ como, por exemplo, jogar água em cima do fogo. Depois, quando não houver mais risco de morte, talvez venha ao caso debater se o melhor é tratar a economia assim ou assado. Mas o que se vê todos os dias no Brasil é a cegueira coletiva diante do fogaréu. Discute-se fórmulas, em vez de se trazer o caminhão pipa. Ou, então, não se discute coisa nenhuma a sério ─ só despejam mais gasolina sobre as chamas.
Estamos em plena campanha presidencial e até agora nenhum dos candidatos, seus partidos e os sistemas que os apoiam deram o mais remoto sinal de que pretendem trazer água para apagar o incêndio que está queimando o país. Ao contrário: falam de tudo, menos disso. Estão diariamente na mídia, mostrando-se escandalizados e indignados com os horrendos problemas à vista de todos, mas não lhes passa pela cabeça comprometer-se com nenhuma das providências mais elementares, todas elas conhecidas desde a Arca de Noé, para enfrentar a emergência. Pior: nem sequer percebem que eles próprios, com a sua maneira de pensar e de praticar política, fazem parte do problema, e não da solução. Propor o que, então, se o problema são eles? Ninguém diz que não há nenhuma possibilidade, mas nenhuma mesmo, de se chegar a algum lugar enquanto o Brasil tiver, como tem no momento, mais de 700.000 funcionários públicos que jamais fizeram concurso para ocuparem seus cargos. Ninguém lembra que é inviável, simplesmente, um país onde o Senado tem uma gráfica própria. Ninguém percebe que é impossível melhorar alguma coisa enquanto o governo usar o dinheiro da população para manter no ar um canal de televisão que jamais saiu da casa dos 0% de audiência desde que existe.
O último magnata a falar sobre “projeto econômico” foi o suposto candidato por procuração do PT, Fernando Haddad ─ dos outros minions do ex-presidente Lula é melhor nem dizer nada. As propostas de Haddad, em sua aparente função de Guia Econômico da Esquerda Nacional, seriam ouvidas com algum interesse, talvez, no tempo do faraó Ramsés II. De lá para cá, ele parece não ter adquirido consciência de que surgiram economias modernas e que elas têm elementos mínimos de funcionamento. Não é só que Haddad desconheça a existência do capitalismo; o real problema é que desconhece o que vem acontecendo na economia do mundo nos últimos dez anos. Sua grande ideia: usar o dinheiro das reservas internacionais para “investir” e “criar empregos”. Por que não tentar descobrir uma mina de ouro no semiárido do Nordeste? Por que não trazer professores cubanos para melhorar o ensino da matemática? Por que não mandar uma expedição à Marte?
O Brasil, às vezes, parece que não tem conserto.
A hora da razão nas eleições
O próximo presidente já assumirá com a ameaça do impeachment. Não se trata de exagero. As contas públicas estão em frangalhos. O ajuste que Michel Temer prometeu fazer quando assumiu o governo ficou só na promessa. Apesar do aumento das receitas, o deficit público cresceu. Este será o quinto ano das contas no vermelho. Na melhor das hipóteses, as finanças federais só retornarão ao azul em 2021 ou 2022. O eleito em outubro tomará posse com a responsabilidade de cortar pelo menos R$ 60 bilhões dos gastos. Se não fizer isso, correrá o risco de cometer crime fiscal.
Não à toa, nomes descompromissados com reformas e modernização do Estado espantam os agentes econômicos. A principal premissa para que o Brasil possa voltar aos trilhos é o ajuste das contas públicas. Se o futuro presidente não quiser aumentar impostos para tornar a tarefa mais fácil — a carga tributária do Brasil está entre as maiores do mundo —, terá, de imediato, que propor mudanças constitucionais importantes, a começar pela Previdência Social, cujo deficit é explosivo. O desequilíbrio fiscal está na raiz do baixo crescimento econômico e do desemprego nas alturas.
Com as contas no vermelho, o Estado perdeu a capacidade de investir. O Brasil se transformou em um canteiro de obras paradas, de desperdício do dinheiro público. Ante um governo inerte, a iniciativa privada se recusa a retirar da gaveta projetos importantes para impulsionar a produção e o consumo. Nesse marasmo, o país está condenado a crescer pouco. Vamos adiando o futuro e agravando as mazelas que tanto atormentam a população. A saúde está o caos. Doenças que estavam erradicadas retornaram com tudo e, pela primeira vez, desde 1990, a mortalidade infantil voltou a crescer. Na educação, a evasão escolar é gritante. Fora das escolas, os jovens se tornaram presas fáceis para o tráfico, agravando a violência.
Até agora, os candidatados se limitaram a generalidades para tratar de temas relevantes, de grande interesse público. Contudo, confirmados, os postulantes ao Palácio do Planalto não poderão mais fugir do debate. Terão de comprovar aos eleitores que são capazes de tirar o Brasil do atoleiro. Depois de uma das recessões mais severas da história, entre 2014 e 2016, o país deu um suspiro de crescimento. Uma onda de euforia chegou a se instalar no governo e no mercado financeiro. Mas a realidade falou mais alto. O Brasil continua na UTI e somente uma pessoa capacitada e bem-intencionada poderá curá-lo.
A partir da próxima semana, não haverá mais espaço para meias palavras. Aqueles que insistirem em acreditar que os eleitores são burros, que não têm discernimento para saber o que é real e o que é falsa promessa, vão se dar mal. Há hoje uma gama enorme de informações para dar substância às escolhas nas urnas. Não por acaso, há tanto descontentamento na população, e as pesquisas eleitorais apontam os votos brancos e nulos como os vencedores. Está claro, também, que grandes alianças, com bom tempo na tevê, não significam vitória certa. Será preciso um amplo processo de convencimento.
Vamos passar pela campanha eleitoral mais curta da história. Não será isso, porém, que impedirá os eleitores de usarem a razão para limar aventureiros e extremistas do processo de disputa. Dada a falta de perspectiva — a economia só superará os estragos da recessão em 2020 —, o país não poderá errar. Ou damos um passo à frente, ou perderemos o rumo. O desemprego vai aumentar, a disparidade entre ricos e pobres se aprofundará e o projeto de uma nação próspera e repleta de oportunidades ficará na promessa. Ninguém merece esse Brasil fracassado.
O grande derrotado
Não se sabe quem vencerá, mas parece evidente que o Brasil já perdeuHelio Gurovitz
A incrível coragem daqueles que se dispõem a governar nosso país
Desculpe-me, mas o que estou dizendo neste princípio de desabafo foi ditado, com razões de sobra, em boa parte, pela angústia que hoje me domina, aliada a um medo difuso que tenta tomar conta de mim, na tentativa de me corroer por dentro e me deixar, ao lado de tantos amigos, totalmente desanimado, senão irremediavelmente pessimista.
Luto, bravamente, para que não feneça a esperança que ainda tenho em nosso país. Mas é assim, sinceramente, que por enquanto encaro os candidatos à Presidência da República que aos poucos vão sendo escolhidos. Nada do que dizem me convence de que estejam preocupados com o país ou com o esfarrapado bem comum.
Para todos eles, os quesitos mais importantes, até agora, são a escolha do vice e o apoio do tal “centrão” – um verdadeiro monstro de mil cabeças, criado de propósito pelos que tomaram conta do Congresso Nacional. Uma super-hidra, que caiu nas mãos de Geraldo Alckmin, mas foi acalentada por Ciro Gomes e Jair Bolsonaro. Que serviu e serve a gregos e troianos, incluídos aí petistas e tucanos. Todos eles precisam demais dela e de suas traquinagens, auxiliadas pelo dinheiro do Fundo Partidário a sua disposição. Querem ser novamente eleitos. Estão interessados, tão somente, em sua recondução ao Congresso e, mais que tudo, na firme manutenção do chamado “status quo” vigente.
E é ela, leitor, a eleição parlamentar ou proporcional, a mais importante para todos nós, e, obviamente, para o país. Vamos, então, surpreendê-los submetendo nossos votos, tanto para deputados estaduais quanto para federais ou senadores, a critérios rigorosos. Se é que desejamos preservar, aperfeiçoar e, afinal, consolidar o regime democrático e a liberdade – o maior bem de que dispõe o ser humano.
Na última segunda-feira, dando seguimento ao que vinha fazendo, a TV Cultura, que saiu na frente no programa “Roda Viva”, entrevistou o candidato Jair Bolsonaro. Enquanto ocorria a entrevista, a TV Globo iniciava, com o candidato Alvaro Dias, seu programa de entrevistas de duas horas. Assisti ao primeiro e a um pedaço do segundo. O primeiro, exibindo despreparo, prega a volta ao passado; o outro, com o jogador Romário, a refundação da República…
Se não surgir, leitor, um candidato a presidente capaz de evitar que este país termine como tantos outros da América Latina, nossa salvação, enfim, poderá estar num Congresso Nacional reformista.
Por Lula, o PT ficou só
Resultado até aqui da estratégia do PT de manter a candidatura de mentira de Lula para mais adiante trocá-la por um avatar: o partido ficou isolado, e isolado deverá disputar o primeiro turno da eleição presidencial de outubro próximo.
O PDT deu-lhe as costas e irá com Ciro Gomes. O PSOL, com Guilherme Boulos. Hoje, a convenção do PC do B lançará a candidatura de Manuela d’Ávila. O PV deverá ir com Marina Silva. O PSB está cada vez mais distante do PT.
Nos Estados, o PT enfrenta sérias dificuldades para fechar coligações. E por causa disso, admite compor-se até mesmo com quem acusou de ser golpista. Rendeu-se a Renan Calheiros (PMDB) em Alagoas, por exemplo. E a Ciro Nogueira (PP) no Piauí.
No Ceará, foi obrigado a rifar a candidatura à reeleição do senador José Pimentel (PT) para aliar-se ao senador Eunício Oliveira (PMDB). A revolta por lá foi tão grande que a direção nacional do PT passou a renegar a aliança que, por ora, permanece de pé.
Entre os deputados federais e os senadores do PT, o clima é de aflição com o possível enfraquecimento do partido no Congresso. Senadores como Gleisi Hoffman (PR), Lindberg Farias (RJ) e Humberto Costa (PE) pensam em disputar uma vaga na Câmara.
Enquanto isso, no cárcere de Curitiba, escasseia as esperanças do preso mais ilustre do país de ser mandado para casa antes da chegada do Ano Novo.
Ricardo Noblat
O PDT deu-lhe as costas e irá com Ciro Gomes. O PSOL, com Guilherme Boulos. Hoje, a convenção do PC do B lançará a candidatura de Manuela d’Ávila. O PV deverá ir com Marina Silva. O PSB está cada vez mais distante do PT.
Nos Estados, o PT enfrenta sérias dificuldades para fechar coligações. E por causa disso, admite compor-se até mesmo com quem acusou de ser golpista. Rendeu-se a Renan Calheiros (PMDB) em Alagoas, por exemplo. E a Ciro Nogueira (PP) no Piauí.
No Ceará, foi obrigado a rifar a candidatura à reeleição do senador José Pimentel (PT) para aliar-se ao senador Eunício Oliveira (PMDB). A revolta por lá foi tão grande que a direção nacional do PT passou a renegar a aliança que, por ora, permanece de pé.
Entre os deputados federais e os senadores do PT, o clima é de aflição com o possível enfraquecimento do partido no Congresso. Senadores como Gleisi Hoffman (PR), Lindberg Farias (RJ) e Humberto Costa (PE) pensam em disputar uma vaga na Câmara.
Enquanto isso, no cárcere de Curitiba, escasseia as esperanças do preso mais ilustre do país de ser mandado para casa antes da chegada do Ano Novo.
Ricardo Noblat
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