O próximo presidente já assumirá com a ameaça do impeachment. Não se trata de exagero. As contas públicas estão em frangalhos. O ajuste que Michel Temer prometeu fazer quando assumiu o governo ficou só na promessa. Apesar do aumento das receitas, o deficit público cresceu. Este será o quinto ano das contas no vermelho. Na melhor das hipóteses, as finanças federais só retornarão ao azul em 2021 ou 2022. O eleito em outubro tomará posse com a responsabilidade de cortar pelo menos R$ 60 bilhões dos gastos. Se não fizer isso, correrá o risco de cometer crime fiscal.
Não à toa, nomes descompromissados com reformas e modernização do Estado espantam os agentes econômicos. A principal premissa para que o Brasil possa voltar aos trilhos é o ajuste das contas públicas. Se o futuro presidente não quiser aumentar impostos para tornar a tarefa mais fácil — a carga tributária do Brasil está entre as maiores do mundo —, terá, de imediato, que propor mudanças constitucionais importantes, a começar pela Previdência Social, cujo deficit é explosivo. O desequilíbrio fiscal está na raiz do baixo crescimento econômico e do desemprego nas alturas.
Com as contas no vermelho, o Estado perdeu a capacidade de investir. O Brasil se transformou em um canteiro de obras paradas, de desperdício do dinheiro público. Ante um governo inerte, a iniciativa privada se recusa a retirar da gaveta projetos importantes para impulsionar a produção e o consumo. Nesse marasmo, o país está condenado a crescer pouco. Vamos adiando o futuro e agravando as mazelas que tanto atormentam a população. A saúde está o caos. Doenças que estavam erradicadas retornaram com tudo e, pela primeira vez, desde 1990, a mortalidade infantil voltou a crescer. Na educação, a evasão escolar é gritante. Fora das escolas, os jovens se tornaram presas fáceis para o tráfico, agravando a violência.
Até agora, os candidatados se limitaram a generalidades para tratar de temas relevantes, de grande interesse público. Contudo, confirmados, os postulantes ao Palácio do Planalto não poderão mais fugir do debate. Terão de comprovar aos eleitores que são capazes de tirar o Brasil do atoleiro. Depois de uma das recessões mais severas da história, entre 2014 e 2016, o país deu um suspiro de crescimento. Uma onda de euforia chegou a se instalar no governo e no mercado financeiro. Mas a realidade falou mais alto. O Brasil continua na UTI e somente uma pessoa capacitada e bem-intencionada poderá curá-lo.
A partir da próxima semana, não haverá mais espaço para meias palavras. Aqueles que insistirem em acreditar que os eleitores são burros, que não têm discernimento para saber o que é real e o que é falsa promessa, vão se dar mal. Há hoje uma gama enorme de informações para dar substância às escolhas nas urnas. Não por acaso, há tanto descontentamento na população, e as pesquisas eleitorais apontam os votos brancos e nulos como os vencedores. Está claro, também, que grandes alianças, com bom tempo na tevê, não significam vitória certa. Será preciso um amplo processo de convencimento.
Vamos passar pela campanha eleitoral mais curta da história. Não será isso, porém, que impedirá os eleitores de usarem a razão para limar aventureiros e extremistas do processo de disputa. Dada a falta de perspectiva — a economia só superará os estragos da recessão em 2020 —, o país não poderá errar. Ou damos um passo à frente, ou perderemos o rumo. O desemprego vai aumentar, a disparidade entre ricos e pobres se aprofundará e o projeto de uma nação próspera e repleta de oportunidades ficará na promessa. Ninguém merece esse Brasil fracassado.
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