Quanto mais agressiva se mostra, ou finge se mostrar, mais a esquerda brasileira aparece à luz do sol como ela realmente é. Já faz muito tempo que se transformou numa espécie de Federação Nacional das Ideias Mortas. Agora, com as desventuras do ex-presidente Lula e as incertezas quanto ao seu futuro próximo, está se tornando apenas absurda. Seus líderes gritam em público que não existe uma democracia no Brasil no momento, mas escondem-se no Senado Federal e na Câmara dos Deputados para desfrutar das “imunidades parlamentares” que os protegem do Código Penal. Falam em exterminar os adversários, mas na vida real ficam do lado do senador Aécio Neves para impedir que ele seja processado por extorsão; em troca, recebem o apoio de sua turma. Dizem que a Justiça brasileira vendeu-se para permitir a fabricação de provas falsas contra Lula ─ mas continuam entupindo os tribunais com recursos, ameaças e advogados caros. Convocam a população para ir às “ruas” e ali mesmo derrubar o regime. Não reconhecem mais “as instituições”. Propõem que o povo brasileiro, em pessoa, assuma o governo daqui para frente. Nada disso, naturalmente, faz o menor nexo. O resultado prático é que acabam provando, a cada dia mais, que viraram uma contrafação ─ são dinheiro falso, pura e simplesmente, embora não exista nada de simples, e muito menos de puro, em qualquer coisa que façam.
De onde está vindo essa gente que se vê por aí no papel de “homem de esquerda”? Teoricamente, um agrupamento político com a fúria exibida hoje nos palanques pelo PT e seus satélites, deveria produzir, se não uma revolução, pelo menos uns revolucionários ─ ou, vá lá, uma imitação decente do guerreiro-fantasia das lutas populares, capaz de ter ficha na polícia secreta e assustar um pouco a burguesia. Mas os revolucionários que estão saindo atualmente do forno da esquerda brasileira são uma lástima. Vivem de verbas d
o governo e de instituições internacionais de caridade política. Traficam com cestas básicas, casas populares construídas com dinheiro do erário e financiamentos do Banco do Brasil. Têm direitos e garantias legais ─ que dizem não existir no país, mas usam em seu favor todos os dias. Precisam de ônibus fretados, lanche e pagamento de diária para juntar gente na rua. Atacam propriedades indefesas. Querem criar no Brasil a “Ditadura dos Oprimidos”, como diz o professor Luiz Felipe Pondé, mas estão toda hora correndo para o colo do Ministério Público, atrás de algum tipo de proteção legal.
O grande problema da esquerda brasileira, no fundo, é que seus guerrilheiros têm medo de bala de borracha. O que poderia representar melhor que isso a situação a que chegaram ─ ou o déficit de fibra, têmpera e coragem militar demonstrado por seus movimentos? Um revolucionário com um mínimo de respeito por si próprio não pode exigir, principalmente do governo que pretende “derrubar”, o direito de ser tratado com gentileza pela polícia. Não pode pedir que a autoridade pública elimine qualquer risco de dor física para ele quando vai invadir terrenos, quebrar vidraças ou bloquear a livre passagem dos cidadãos por estradas ou avenidas. O que diria de uma coisa dessas um Lênin, ou mesmo um mero Fidel Castro? Iam para a luta cientes de que o inimigo estava armado, e que faria uso de toda a munição que tivesse; jamais lhes passou pela cabeça requerer ao governo a proibição do uso de algum tipo de bala. Aqui é uma tristeza. Se a esquerda tem medo da bala de borracha, o que dizer, então, da bala de chumbo? Assim não há revolução que aguente.
A força da esquerda nacional, hoje em dia, é unicamente a que lhe é dada pela covardia das autoridades, que morrem de medo dela e de sua presença na mídia. Suas lideranças e “militantes” não existem porque têm por trás de si o apoio das “massas populares”, como dizem. Só existem porque têm, na prática, a permissão do governo para agredirem o direito de ir e vir, cultivarem a baderna como método natural de ação política e destruírem propriedade privada ─ inclusive centros de pesquisa, quando não gostam do objeto das pesquisas. A autoridade, em vez de aplicar a lei, se intimida com as ameaças e concorda em “dialogar”. Na verdade, está protegendo a liberdade de praticar delitos. Nega ao cidadão comum, que tem os seus direitos legais desrespeitados pelos “movimentos sociais”, a proteção permanente que fornece à “militância” da esquerda. É isso. Nossos esquerdistas, no fim das contas, fazem parte do Brasil que dá errado. São o dínamo do atraso. Não vão sair daí nunca.
Caminha para desaguar no brejo – assim como a Reforma da Previdência, afogada pela intervenção militar e a indicação do General Walter Braga Neto para mandar, de fato, no estado do Rio de Janeiro-, a manobra desastrada (ou desesperada?) tocada pelo novo chefe da Polícia Federal, Fernando Segovia, com o infeliz propósito de abafar ou fulminar de vez as investigações que envolvem o mandatário atual da República, Michel Temer, no rumoroso caso do Porto de Santos.
Pior, mesmo, só o desastre e o quadro indecente de terra arrasada – sem governantes, sem lei, sem segurança e sem perspectivas – que o Rio apresentou ao mundo nos dias do carnaval. Agravado, na madrugada da quinta-feira, deste início da Quaresma , pelo temporal que caiu por lá, em meio às mazelas e omissões de governador e prefeito, trêfegos e ausentes. E, desde sexta-feira,16, sob imprevisível mando militar .
Vamos por parte, para não transformar em caos definitivo, incluído no rol do “sem jeito”, a situação já suficientemente grave . O JN (TV Globo) divulgou o memorando dos delegados da Polícia Federal do Grupo de Inquéritos do STFl, responsáveis pela investigação de detentores de foro privilegiado. “Em face dos recentes acontecimentos amplamente divulgados pela imprensa, os delegados integrantes deste Grupo de Inquéritos junto ao STF vêm a dar conhecimento de que, no exercício das atividades da Polícia Judiciária naquela Suprema Corte […], não admitirão, nos autos do inquérito 4621/STF ou em outro procedimento em trâmite nesta unidade, qualquer ato que atente contra a autonomia técnica e funcional de seus integrantes, assim como atos que descaracterizem a neutralidade político-partidária de nossas atuações”, diz o memorando em recado duro, direto e de certeira pontaria, em seguida à entrevista de Segóvia, distribuída pela Reuters.
Resta saber se alguém (e quem) vai pagar para ver. Porque se for levada a fundo investigação sobre malfeitos no Porto de Santos – não só neste caso nebuloso da Rodrimar, mas também no largo período de controle do PMDB (Temer à frente) sobre o mais importante complexo portuário do Brasil-, a terra vai tremer. Em 1999, quando presidia o Senado e emendou os bigodes com o atual mandatário , Antonio Carlos Magalhães afirmou, de público: “As coisas morais nunca foram o forte do senhor Temer. Se abrir um inquérito no Porto de Santos, ele ficará péssimo”, disparou ACM.
Portos escondem segredos em suas docas, em seus navios, em seus contêiners e em suas águas. Roberto Saviano – jornalista infiltrado na máfia napolitana -, fala sobre o Porto de Nápoles, no capítulo inicial de seu livro-reportagem, “Gomorra”.: “O contêiner balançava enquanto a grua o deslocava para o navio. Como se estivesse flutuando sozinho no ar, o sprider, gancho que prendia a grua, não conseguia domar o movimento. Suas portas mal fechadas se abriram bruscamente e dezenas de corpos começaram a cair”… Não deve ser a mesma coisa por aqui. Mas há quem desconfie – e até aposte – , que há segredos e esqueletos escondidos também nos contêiners do Porto de Santos. Metaforicamente ou não. Agora é aguardar, para ver onde os delegados da PF vã o chegar.Vitor Hugo Soares
Sair do País por um tempo, ainda que breve, sempre é bom. Em especial para nos desintoxicarmos das narrativas que circulam intensamente no Brasil. O Brasil de hoje vive uma guerra de narrativas. Membros do Ministério Público anunciam, a cada instante, que a Operação Lava Jato pode acabar por isso e por aquilo. Outros dizem que as eleições presidenciais só serão legítimas com a participação do ex-presidente Lula na disputa. Ou que a democracia brasileira caminha para o abismo porque o 4º Tribunal Regional Federal confirmou a condenação de Lula e ainda aumentou a pena estipulada na primeira instância. Pelo seu lado, o juiz Sérgio Moro justifica receber auxílio-moradia dizendo que o benefício compensa a falta de reajuste salarial entre a classe, mesmo sendo dono de apartamento na cidade em que vive.
Adversários da Reforma da Previdência afirmam que não existem privilégios a serem combatidos no sistema previdenciário brasileiro. Outros apregoam a impossibilidade de votá-la, embora o tema esteja na pauta. O que será que vai acontecer? Apesar do alarmismo de alguns, a Lava-Jato não morreu nem vai morrer sem antes causar mais estragos na política nacional.
Lula será ficha-suja e nem por isso a democracia brasileira irá para o abismo. Com ou sem Lula, as eleições serão legítimas. Aliás, mais legítimas do que as últimas, turbinadas pelo doping ilegal e imoral das doações por dentro e por fora (via caixa dois). A reforma da Previdência, apesar de ir contra os interesses das corporações, será aprovada, nem que seja aos poucos e em fatias. Moro e os demais juízes continuarão a receber auxílios diversificados mesmo obtendo reajustes salariais.
A guerra de narrativas sempre fez parte da realidade humana. A questão atual é a sua intensidade, por conta dos avanços tecnológicos. Qualquer um pode se inserir no mundo midiático com suas narrativas pessoais. Daí surgirem, do nada, blogueiros e youtubers a caminho da consagração. Em sendo uma guerra, quem é a vítima? Basicamente, a verdade. O que fazer?
Ter uma postura cética acerca de tudo o que é dito é uma boa decisão. Sabemos que a verdade está contaminada. Aliás, sempre esteve. É preciso filtrar o que é dito. Devemos também desenvolver mecanismos de validação sobre quem diz o quê e como. Afinal, não podemos duvidar de tudo e de todos a todo o momento. Paradoxalmente, duvidar e ter confiança são os melhores caminhos para bem viver no mundo de hoje. A questão é saber como. A saída é a reflexão. Como disse Virginia Wolf, o único conselho que uma pessoa pode dar para outra sobre ler notícias “é não seguir conselho de ninguém, seguir seus instintos, usar sua razão e chegar às suas próprias conclusões”.
Vale para a guerra de narrativas dos tempos atuais.