domingo, 7 de setembro de 2025

Pensamento do Dia

 


Não chega?

O mundo já foi por tempo demais um hospício

Friedrich Nietzsche

'Meu coração chora por Gaza'

Fadel al-Otol acompanha as notícias de sua cidade natal 24 horas por dia. "Meu coração chora por Gaza . Não sei que destino a aguarda", disse o renomado arqueólogo por telefone, de Genebra.

Ele conseguiu deixar a Cidade de Gaza há apenas alguns meses, mas, como muitos outros moradores de Gaza no exterior, vive grudado nas notícias de sua terra natal. O arqueólogo está profundamente preocupado com sua filha e família, bem como com os outros parentes que ficaram para trás. Ele também se preocupa com os inúmeros sítios arqueológicos que tentou preservar nas últimas décadas, enquanto o ataque israelense à Cidade de Gaza, a maior cidade da Faixa de Gaza, continua.

"Gaza é uma terra de cultura e o berço da civilização", afirma. Mas não são apenas "as antiguidades de uma cidade que existe desde 3500 a.C. que estão sendo destruídas". Ele teme que bairros inteiros e sua história, como o antigo bairro de Zaytoun, em Gaza, com sua antiga mesquita Al Omari e duas igrejas, estejam sendo destruídos.

A Cidade de Gaza é uma das cidades mais antigas do mundo e tem uma longa história de conquistas e ocupação. Hoje, muitos temem que a invasão israelense desta outrora movimentada metrópole mediterrânea possa destruí-la e levar ao deslocamento permanente de sua população.

Grandes áreas da Faixa de Gaza já estão demarcadas como "zonas vermelhas", que o exército israelense ordenou que os palestinos evacuassem. Segundo as Nações Unidas, mais de 80% da área não é mais acessível aos palestinos. Na quinta-feira, o exército israelense anunciou que agora controla 40% da Cidade de Gaza e pretende aumentar a pressão sobre o Hamas, considerado uma organização terrorista por Israel e outros países, incluindo os Estados Unidos, a União Europeia e alguns países muçulmanos. Seus ataques terroristas em 7 de outubro de 2023 desencadearam a atual campanha militar israelense. Agora, os militares estão atacando os últimos arranha-céus remanescentes da cidade.

Na Cidade de Gaza, Amjad Shawa, diretor da PNGO, a rede de ONGs palestinas, avalia a situação diariamente. "As pessoas estão enfrentando decisões impossíveis sobre para onde ir e quando partir", diz ele por telefone, enquanto uma forte explosão ecoa ao fundo.

Shawa e sua família foram deslocados para o sul no início da guerra, em outubro de 2023, quando Israel emitiu suas primeiras ordens de deslocamento. Eles só puderam retornar durante o breve cessar-fogo de janeiro.

"É um momento aterrorizante. Acho que é a pior situação pela qual Gaza já passou. Uma situação deplorável", disse ele, acrescentando que os ataques israelenses vinham de todas as direções. Nos últimos dias, o exército israelense intensificou seus ataques, em uma aparente tentativa de expulsar cerca de um milhão de moradores da cidade, antes de enviar tropas terrestres e avançar para os bairros do norte e do leste, destruindo mais casas ao longo do caminho.
Fome declarada em Gaza

Pelo menos 63.500 palestinos morreram, segundo o Ministério da Saúde de Gaza, e muitos outros provavelmente estão soterrados sob os escombros. O número é do exército liderado pelo Hamas, mas organizações internacionais como a ONU o consideram confiável.

Um número crescente de grupos e especialistas em direitos humanos afirma que Israel está cometendo genocídio em Gaza, incluindo recentemente até autoridades europeias , como o vice-presidente da Comissão. Embora o Tribunal Internacional de Justiça (CIJ) ainda possa levar anos para emitir uma decisão formal sobre o assunto, em 2024 o tribunal decidiu que a alegação de que Israel cometeu atos em Gaza que violavam as Convenções de Genebra sobre genocídio era "plausível".

Enquanto isso, a situação continua a se deteriorar. Trabalhadores humanitários como Shawa dizem que fornecer ajuda se tornou quase impossível, embora cozinhas comunitárias ainda estejam funcionando — às vezes. "Temos capacidade muito limitada para ajudar, pois são principalmente ONGs nacionais trabalhando no local", disse ela.

Isso ocorre depois que o grupo de vigilância global contra a fome, o CPI, apoiado pela ONU, declarou uma situação de fome "totalmente provocada pelo homem" na província de Gaza no final de agosto, devido ao bloqueio israelense e às restrições prolongadas à distribuição de ajuda. Isso também torna a evacuação a pé extremamente difícil devido à exaustão, e ainda mais difícil para crianças, idosos ou pessoas com necessidades especiais.

Quase toda a população de Gaza foi deslocada, muitas vezes várias vezes. "Em termos de abrigo e coisas do tipo, não temos nada a oferecer às pessoas", disse Shawa. "Milhares de famílias estão nas ruas, sem nem mesmo barracas."

Nenhuma das opções é boa, conta Sham Mahmoud, mãe de dois filhos, à DW por telefone. Ela mora atualmente em um bairro no norte da Cidade de Gaza, depois de ter sido deslocada por um ano no sul. Ela não sabe para onde terão que se mudar em seguida. "Alugar uma casa no sul seria impossível", diz ela. "Meu marido não consegue pagar o aluguel, nem mesmo de um quarto individual, que custa pelo menos 1.000 shekels israelenses [US$ 297, 255 euros] por mês."

"Meus filhos vivem aterrorizados, especialmente à noite, com o som das explosões. Mas os bombardeios estão por toda parte, até mesmo no sul", disse o palestino de 30 anos. "Não quero expô-los ao perigo ou à morte."

Nas últimas semanas, muitos evacuaram áreas do norte a oeste da cidade, como Rimal, e montaram acampamentos ou construíram casas improvisadas. Antes da guerra, este bairro exclusivo, que faz fronteira com a longa costa mediterrânea de Gaza, abrigava vários hotéis e restaurantes. Nada resta de sua vibrante vida noturna, que servia de refúgio para as dificuldades após quase duas décadas de governo autoritário do Hamas e o fechamento rigoroso das fronteiras. Nem sua popular praia, agora repleta de barracas.

Não está claro o que acontecerá com aqueles que se recusarem a deixar a Cidade de Gaza. Alguns meios de comunicação israelenses sugerem que aqueles que permanecerem poderão ser vistos como combatentes e, portanto, alvos. Após quase dois anos de guerra, instalou-se uma sensação geral de desesperança e exaustão.

"Ficarei aqui na Cidade de Gaza o máximo que puder. Não quero voltar a viver numa tenda. Os bombardeios estão por toda parte, não há muita diferença", disse Ezzedine Mohammed à DW de lá. O homem de 41 anos foi deslocado à força com sua família para o sul da Faixa de Gaza quando a guerra começou. Eles retornaram ao norte em janeiro.

"A vida é aterrorizante em todos os sentidos. Todos os dias há morte, há medo da morte, e a destruição de lares continua", disse Mohammed.

Amjad Shawa concorda. "Gaza já é um cemitério para nossos entes queridos, nossas memórias e nossos sonhos", lamenta. "Pessoalmente, nunca desistirei. Gaza é Gaza para mim", disse ele. "Mas o que será da próxima geração, dessas crianças que suportaram tanto sofrimento que jamais deveriam ter experimentado?"

Para o arqueólogo Fadel al-Otol, não há dúvida de que ele quer retornar. Mas ele sabe que nada jamais será como antes. "Gaza será uma cidade triste mesmo se for reconstruída", diz ele. "Pedras podem ser reconstruídas, mas construir uma civilização leva muitos anos."

Pandemia de Covid-19: o julgamento que Jair Bolsonaro não enfrentou

Foram 693.853 mortos. Esse era o número de vítimas fatais da pandemia de Covid-19 no Brasil em 31 de dezembro de 2022, último dia do governo de Jair Bolsonaro (PL). Se os planos golpistas do ex-presidente o levaram para o banco dos réus do Supremo Tribunal Federal (STF), o mesmo não pode se dizer de seu comportamento negacionista durante a maior tragédia sanitária do século.

Nenhum dos crimes pelos quais o ex-presidente é acusado no julgamento iniciado na última terça-feira, 2 de setembro, tem relação com as quase 700 mil mortes por Covid-19 que ocorreram ao longo de seu governo, e nenhuma das decisões adotadas pelo ex-mandatário na pandemia foi alvo de processo judicial, mesmo após especialistas e uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) apontarem uma série de crimes.

Relatório final da CPI da Covid, realizada em 2021, imputou dez crimes a Jair Bolsonaro;

Sete indicações de infrações do ex-presidente ao Código Penal também fazem parte do mesmo documento.

Para quem foi diretamente impactado pela condução de Bolsonaro durante a emergência sanitária, o julgamento por tentativa de golpe não aplaca a frustração pela impunidade ainda vigente em relação ao negacionismo pandêmico, não somente do político de extrema direita, mas de seus aliados e de outros atores públicos e privados.

“O ex-presidente está sendo acusado agora de outras questões, mas ele tem uma responsabilidade direta e decisória na condução da pandemia. Eu acho de suma importância que aqueles que foram negligentes, que muitas vezes zombaram da população, sejam responsabilizados”, afirma Rosângela Silva, presidente da Associação de Vítimas e Familiares de Vítimas da Covid-19 (Avico Brasil), que destaca a permanência da inação do Estado brasileiro em relação às vítimas fatais e com sequelas, mesmo após a troca de governo.

Servidora pública da área de saúde, Silva foi infectada pelo vírus em 2020, mesmo ano em que perdeu o pai, em decorrência da doença.


Do início da pandemia até o final da gestão Bolsonaro, o Brasil registrou quase 3,3 mil mortes a cada um milhão de habitantes, a 16ª pior taxa do mundo entre países com mais de 1 milhão de habitantes, segundo a organização Our World in Data. Se o Brasil tivesse se mantido na média mundial, o número de mortos no país teria sido quase quatro vezes menor, com mais de 500 mil vidas poupadas.

“Houve uma estratégia sistemática e coordenada de disseminação da doença no Brasil”, afirma Deisy Ventura, professora da Faculdade de Saúde Pública da Universidade de São Paulo (FSP/USP) e pesquisadora do Centro de Pesquisas em Direito Sanitário (Cepedisa) da USP, que ainda em 2021 traçou uma linha do tempo do comportamento do governo federal na pandemia.

“Se existisse uma investigação, tenho certeza que nós chegaríamos a centenas de pessoas envolvidas nessa estratégia federal de disseminação da Covid-19”, diz a pesquisadora, que ressalta a permanência do impacto na área saúde do comportamento negacionista do governo Bolsonaro, inclusive em relação às vacinas.

A falta de responsabilização de Jair Bolsonaro e seus aliados não foi por falta de tentativa. A CPI da Covid-19, que durou entre março e outubro de 2021, justamente no auge da pandemia, imputou ao ex-presidente uma extensa lista de crimes. Epidemia com resultado morte, infração de medida sanitária preventiva, charlatanismo, incitação ao crime, falsificação de documento particular, emprego irregular de verbas públicas, prevaricação, crimes contra a humanidade, violação de direito social e incompatibilidade com dignidade, honra e decoro do cargo.

O relatório do senador Renan Calheiros (MDB/AL), com quase 1.300 páginas, implicou Bolsonaro e outras 77 pessoas, além de duas empresas. A lista inclui os ex-ministros da Saúde Eduardo Pazuello e Marcelo Queiroga e servidores do alto escalão da pasta, além de outros ministros, parlamentares, médicos, empresários e jornalistas bolsonaristas.

O material foi entregue no final de outubro de 2021 ao chefe da Procuradoria-Geral da República (PGR), à época, Antônio Augusto Brandão de Aras. Parte dos apontamentos foi encaminhada para o Ministério Público Federal (MPF) nos estados e outra parte resultou em 10 petições apresentadas ao STF, envolvendo 35 dos implicados pela CPI, a maioria deles com foro privilegiado.

Augusto Aras, no entanto, afirmou que a CPI não havia entregado provas e as petições foram ignoradas. A vice-procuradora-geral naquele momento, Lindôra Araújo, requereu o arquivamento de nove das petições, alegando “ausência de justa causa para a deflagração de ação penal”. A outra petição segue sob sigilo no STF. Também não ocorreram condenações nas ações movidas nos estados.

Parte dos delitos apontados pela CPI contra Bolsonaro se enquadra como crimes contra a humanidade, e a própria PGR apontou que seria da jurisdição do Tribunal Penal Internacional, corte sediada em Haia, nos Países Baixos. Outras dez pessoas também foram implicadas pela CPI por crimes contra a humanidade, incluindo ex-ministros bolsonaristas e médicos da Prevent Senior. Houve denúncia ao órgão apenas em relação a Bolsonaro, mas o caso não avançou.

Outras ações apresentadas perante o STF contra agentes com foro privilegiado também não resultaram em processo judicial. Segundo um estudo do Cepedisa/USP, com dados de dezembro de 2023, das 58 petições do universo amostral, a PGR havia requerido arquivamento em 46. Ninguém foi condenado por nenhuma delas.

Para Calheiros, relator da Comissão, “as conclusões foram alicerçadas em provas irrefutáveis, que reuniram, nada mais, nada menos, que 9,4 terabytes de documentos”, mas Aras agiu para blindar Bolsonaro. “Tínhamos, à época, um procurador que é um prevaricador e sabotou o relatório final da CPI de olho em uma vaga do STF que nunca veio. A promiscuidade de Aras com o governo anterior era tanta que o delator Mauro Cid informou que ele tinha agendas secretas com o ex-presidente e passava dados sigilosos aos investigados”, afirma o senador alagoano.

Em março do ano passado, ele e outros senadores que participaram da CPI solicitaram ao atual procurador-geral da República, Paulo Gonet, o desarquivamento dos pedidos de indiciamento contra o ex-presidente Bolsonaro e outros agentes públicos e privados que foram implicados pelo relatório. “Nenhum crime contra a humanidade prescreve e, a todo momento, surgem fatos novos que podem reabrir as investigações e eliminar este cenário de impunidade”, diz o senador.

Até o momento, no entanto, não houve movimentação da PGR para desarquivar as petições. A Agência Pública questionou o órgão sobre o assunto, mas não houve resposta até a publicação.

O ex-procurador-geral da República também foi procurado pela reportagem por e-mail, mas não respondeu ao contato.

Para Deisy Ventura, do Cepedisa/USP, é difícil compreender “que não tenha havido a investigação desses crimes”. “Do ponto de vista técnico – não vou nem entrar na questão política –, os pedidos de arquivamento são absolutamente falhos, não se filiam às teses majoritárias do direito penal, não levam em consideração a legislação sanitária. Se prevalecer a técnica, a atual PGR vai tomar providência”, afirma.

Em outubro do ano passado, o Conselho Nacional de Direitos Humanos (CNDH) e o Conselho Nacional de Saúde (CNS), ligados aos ministérios de Direitos Humanos e da Saúde, respectivamente, apresentaram à PGR uma nova representação criminal sobre o tema, ressaltando não haver nenhuma iniciativa de responsabilização criminal pelos crimes cometidos durante a pandemia em andamento na PGR.

“O número exorbitante de casos e óbitos por Covid-19 notificados, sem contar aqueles que não o foram, é notoriamente o resultado da política sanitária adotada pelo governo do ex-presidente da República Jair Messias Bolsonaro, que se posicionou na contramão das orientações da comunidade científica [e] da OMS [Organização Mundial da Saúde]”, afirma a peça.

A representação demanda que o órgão denuncie Bolsonaro, seu ex-ministro da Defesa Walter Braga Netto (atualmente preso por conta da tentativa de golpe) e os ex-ministros da Saúde Marcelo Queiroga e Eduardo Pazuello.

Segundo a assessoria de imprensa do CNS, a representação está em segredo de Justiça e não há informações sobre avanços. A Pública também questionou a PGR sobre a representação, mas não obteve resposta até a publicação.

“No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho”.

A frase dita por Jair Bolsonaro em pronunciamento transmitido em rede nacional, em 24 de março de 2020, minimizando os riscos da Covid-19, foi apenas uma entre as muitas manifestações negacionistas do então presidente. Ele também acumulou declarações “polêmicas”, chegando a afirmar que ‘não era coveiro’ e que o Brasil era ‘um país de maricas’.

Quando os casos e as mortes em decorrência da doença começaram a se acumular e as orientações de especialistas passaram a se centrar no isolamento social e no uso de máscara, Bolsonaro dobrou a aposta, se posicionou contra as medidas e defendeu que “a economia não pode parar”.

“Tivemos a propagação da ideia de imunidade de rebanho, como se a Covid-19 fosse uma doença muito branda, que não mataria pessoas e, por isso, elas poderiam se imunizar se expondo ao vírus – e quando se falava em imunidade de rebanho já se tinha evidência suficiente para saber que poderíamos ter reinfecções”, relembra Letícia Sarturi, pesquisadora de pós-doutorado do Centro de Estudos SoU_Ciência, da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp).

Além de criticar o isolamento social e praticamente todas as medidas de contenção preconizadas por especialistas, Bolsonaro e seu grupo político apostaram no “tratamento precoce”, um kit de medicamentos sem eficácia comprovada, que incluía cloroquina, ivermectina e azitromicina. Movimentos como o “Médicos pela Vida” e outros atores políticos, posteriormente implicados pela CPI da Covid, também se engajaram na defesa do “kit covid”.

Quando o desenvolvimento de vacinas se consolidou, o ex-presidente se aliou a movimentos antivacina, atrasando a compra e, depois, desincentivando a aplicação. Bolsonaro chegou a associar o uso da vacina à Aids e a “virar jacaré”.

O vasto material negacionista produzido por Jair Bolsonaro e seus aliados está reunido no Acervo da Pandemia de Covid-19, uma iniciativa do SoU_Ciência/Unifesp em parceria com a Avico Brasil, o Cepedisa/USP e os grupos de mídia independentes Medo e Delírio em Brasília e Camarote da República.

“O Acervo cumpre o papel de preservar a memória. Mas o mais importante é que haja responsabilização, porque só assim vamos conseguir prevenir que, em novas pandemias, o Estado ou agentes privados abusem do seu poder para criar uma estrutura de desinformação que acaba gerando a morte das pessoas, como a gente viu na pandemia de Covid-19”, afirma Sarturi.

Jair Bolsonaro não é a única figura que escapou de qualquer responsabilização pelas ilegalidades cometidas durante a pandemia. Vários dos implicados pela CPI não só saíram ilesos, como ingressaram na carreira política ou fortaleceram seu capital político.

O ex-ministro da Saúde, general da reserva Ricardo Pazuello, se safou de encarar o Judiciário por sua atuação durante a pandemia, e se tornou o deputado federal mais votado do Rio de Janeiro em 2022. Concorrendo pelo PL de Bolsonaro, foi eleito com mais de 117 mil votos.

Na oposição do governo Lula, Pazuello fez poucos discursos no plenário da Câmara (nenhum em 2025) e aprovou somente um projeto, uma Proposta de Emenda Constitucional (PEC) apresentada em conjunto por deputados da situação e da oposição, que permite destinar emendas para catástrofes e emergências naturais. Boa parte de suas emendas não impositivas e proposições legislativas são relacionadas às Forças Armadas e à Segurança Pública.

A presença de Pazuello na Câmara passaria quase despercebida se até março do ano passado, seu gabinete não abrigasse um outro general da reserva, esse sim prestes a enfrentar a Justiça. Trata-se do ex-assessor de Bolsonaro e integrante dos “kids pretos” Mário Fernandes, que admitiu ter arquitetado plano para matar Lula (PT), o seu vice Geraldo Alckmin (PSB) e o ministro do STF Alexandre de Moraes. Preso preventivamente, ele é parte do “núcleo 2” da trama golpista que está sendo julgada pelo STF. Até a investigação da tentativa de golpe vir à tona, Fernandes ocupava “cargo de natureza especial” no gabinete.

Outro ministro da Saúde de Bolsonaro também escapou de responsabilização por sua conduta na pandemia e tentou alçar voos políticos, mas obteve menos sucesso. Marcelo Queiroga se candidatou a prefeito de João Pessoa (PB) no ano passado, mas acabou derrotado no segundo turno. Pré-candidato a senador na Paraíba, ele é presidente estadual do PL.

Wilson Lima (União), governador do Amazonas durante a crise em Manaus, quando pessoas morreram por falta de oxigênio, chegou a ser denunciado, mas uma das ações foi rejeitada, enquanto a outra ainda aguarda julgamento de mérito, quatro anos depois do caso. Lima foi reeleito com mais de 56,6% dos votos no segundo turno.

Uma ação civil pública movida pelo MPF no Amazonas, por outro lado, conseguiu decisão parcialmente favorável. Em junho, a Justiça Federal determinou que a União, o estado do Amazonas e a prefeitura de Manaus investiguem as violações de direitos humanos ocorridas durante a crise e garantam, entre outras medidas, atenção médica e psicológica para as vítimas. O pedido de indenização de R$ 4 bilhões ainda aguarda julgamento.

Também buscaram carreira política as médicas Nise Yamaguchi, que fazia parte do “gabinete paralelo” que assessorava o governo Bolsonaro durante a pandemia, e Mayra Pinheiro (a “capitã Cloroquina”), que teve cargo no Ministério da Saúde e era uma das mentes por trás do TrateCov, aplicativo que o governo desenvolveu para estimular o uso do “tratamento precoce”. Ambas foram implicadas pela CPI.

Yamaguchi tentou se eleger deputada federal por São Paulo em 2022 pelo PROS e vereadora pelo União Brasil em 2024, mas não conseguiu se eleger.

Já Pinheiro, que havia tentado ser deputada federal e senadora no Ceará pelo PSDB em 2014 e 2018, buscou uma cadeira na Câmara dos Deputados pelo PL em 2022. Recebeu mais de 71 mil votos e ficou com uma suplência, chegando a assumir o cargo por quatro meses, durante a licença do bolsonarista André Fernandes (PL).

Um dos mais destacados membros do “gabinete paralelo” e disseminadores de desinformação durante a pandemia, o deputado federal gaúcho Osmar Terra (PL) não apenas escapou de qualquer responsabilização como também conseguiu a reeleição para seu sexto mandato na Câmara, com mais de 103 mil votos.

Outro deputado federal implicado pela CPI, Ricardo Barros (PP/PR) saiu ileso e conseguiu a reeleição para a Câmara, com 107 mil votos. Barros foi citado no caso da vacina indiana Covaxin, alvo da CPI por conta de denúncias sobre pressões para liberar a transação, que não se efetivou.

Se Barros escapou de responsabilização, a empresa e alguns dos envolvidos na negociação de 20 milhões de doses da vacina indiana receberam punições cíveis ou administrativas.

A Precisa Medicamentos foi multada pela Controladoria-Geral da União (CGU) em R$ 3,8 milhões por fraude (depois reduzida para R$ 2,5 milhões). Dois servidores da alta gestão do Ministério da Saúde envolvidos no caso, Antônio Élcio e Roberto Ferreira Dias, foram destituídos de seus cargos pela CGU, mas escaparam de responsabilização criminal.

Os 11 empresários e médicos ligados ao plano de saúde Prevent Senior também não sofreram condenações até o momento. Segundo um dossiê, o plano teria forçado profissionais de saúde a utilizar o “kit covid” e feito testes sem autorização. A Prevent também foi alvo de CPI na cidade de São Paulo e de denúncia do MPF-SP, mas os processos não avançaram.

Não foram processados criminalmente os médicos e cientistas implicados pela CPI da Covid como disseminadores do “tratamento precoce”. A lista inclui o virologista Paolo Zanotto, o anestesista Luciano Dias Azevedo e o oftalmologista Antônio Jordão, do “Médicos pela Vida”. O movimento pró-“kit covid” coordenado por Jordão, porém, foi condenado em primeira instância a pagar indenização de R$ 55 milhões por danos coletivos.

O presidente do Conselho Federal de Medicina (CFM) à época da pandemia, Mauro Ribeiro, implicado pela CPI por conta da postura do órgão na pandemia, não foi levado à Justiça e se elegeu novamente para a diretoria do CFM, desta vez como tesoureiro.

O relatório da CPI também cita o nome de outro médico, Anthony Wong, como um dos membros do “gabinete paralelo”. Wong, no entanto, não foi implicado pela CPI oficialmente porque morreu em janeiro de 2021. A causa da morte, ocultada por meses, até ser revelada pela revista piauí, foi Covid-19.

O tempo da Maria Cachucha não é para nós

Há dois homens em primeiro plano. Chapéus de abas na cabeça, rostos vincados. Mas são as duas mulheres logo atrás deles que chamam a atenção. Uma traz três dedos sobre a cara, a mão apoiando o rosto. A face, com a boca contorcida num esgar e os olhos encovados e sombrios, mal se vê. Toda ela está coberta por um manto escuro. Atrás dela há outra mulher, mais jovem, também ela toda tapada com o mesmo tipo de véu preto. Todas as outras mulheres que aparecem na imagem têm a cabeça coberta por lenços. Esta fotografia é de 1975 e foi tirada no Baleizão, no Alentejo, para mostrar uma das filas que se formaram por todo o País naquelas que foram as primeiras eleições livres da História.


Era muito fácil, sem o saber, dizer que a fotografia tinha sido tirada num qualquer país muçulmano. Mas foi assim que a democracia encontrou as mulheres em Portugal. Tapadas, caladas, sem direitos, submissas aos maridos ou aos pais. Diminuídas nas escolhas, tolhidas nas vontades, oprimidas nos desejos. Até ao 25 de Abril, as portuguesas não podiam viajar para fora do País sem a autorização do marido ou do pai (se fossem solteiras) e era mesmo possível terem de deixar de trabalhar, caso o marido ou o pai entendessem que elas não deviam fazê-lo. Bastava-lhes ir ao local de trabalho dizer que não concordavam com a contratação.

Não era uma singularidade portuguesa. Em 1951, Encarna tinha acabado de se casar, trabalhava e estava a montar casa. Um dia, dirigiu-se a um armazém para comprar um sofá. Escolheu o que lhe parecia melhor e que podia pagar e dirigiu-se ao balcão. Do outro lado, perguntaram-lhe se tinha autorização do marido para o comprar. “Como assim? Tenho aqui o dinheiro. Eu trabalho”, respondeu, incrédula. “É a lei”, ripostaram do outro lado. E era. A história está contada num episódio do podcast Un Tema Al Día”do jornal espanhol El Diário, que serve para lembrar que até 1975 as espanholas não podiam fazer grandes compras, abrir contas no banco ou trabalhar sem o que por lá se chamava “licencia marital”.

Esta semana, tropecei num vídeo, gravado talvez no final dos anos 70, inícios dos 80, em Itália, onde são entrevistados marido e mulher. O homem diz que a mulher deve obedecer-lhe e, apesar da muita insistência do entrevistador – que lhe lembra que há uma igualdade à luz da lei –, não consegue explicar porque é que a mulher deve aceitar e perdoar as infidelidades do homem, mas nunca pode acontecer o contrário. “É uma coisa que não se consegue digerir.”

Cada um sabe aquilo que consegue engolir. Mas a nós, mulheres, andaram milhares de anos a enfiar-nos coisas pela goela abaixo. E agora são os mesmos que querem convencer-nos da grande superioridade do Ocidente em relação aos direitos das mulheres que nos explicam (cheios de boas intenções) que “a energia da mulher não combina com o trabalho” ou que o feminismo nos oprime e persegue os homens (coitados). “Eu cá não sou feminista”, dizem algumas, horrorizadas com a ideia de um movimento que nunca retirou direitos a nenhum ser humano nem procura impor a superioridade de um género sobre o outro. Não, minhas senhoras, o movimento que faz isso chama-se “machismo”. O feminismo serve para outra coisa: serve para que haja direitos iguais, respeitando as diferenças, para que haja escolhas, para que cada um e cada uma encontre as formas de vida que mais lhe convêm, em liberdade e respeito mútuo.

Os mesmos que se horrorizam com a ideia da opressão do feminismo, os que querem “proteger as nossas mulheres”, os que se indignam com as burkas, ficam num silêncio estranho enquanto na televisão e nas redes sociais se repetem uma e outra vez as imagens de um homem enfurecido a espancar a mulher em frente ao filho de 9 anos, no Machico, na Madeira.

“Vi umas mensagens e fiquei cego, foi isso que aconteceu”, disse ele ao Diário de Notícias da Madeira. Os homens não digerem, já se sabe. E deixam de ver, diz este. São uns seres superiormente racionais, a quem a lei em tempos já serviu para isentar de culpas quando ficam tomados pelas emoções. Era o tempo dos crimes “passionais”. Lembram-se? Mas é ela quem, segundo as notícias, pode mesmo ficar cega para sempre, na sequência das agressões. E sou eu que não tenho estômago para ouvir os gritos da mulher e as súplicas da criança, enquanto ele a desfazia a murros e pontapés, porque viu “umas mensagens” e ficou “cego”.

Ainda cresci a ouvir a minha mãe contar como lhe mediam com uma régua o comprimento da saia no colégio ou a proibiam de usar calças. Lembro-me de como lhe foi ensinado que “uma senhora não anda pelos cafés”. E tenho muito presente o momento em que, com 13 ou 14 anos, entrei num café de uma freguesia rural de Gaia e os olhares masculinos me atingiram como pedras, até me fazerem recuar por aquele não ser o meu lugar.

O lugar das mulheres é conquistado a cada instante. Não nos é dado. Nem em casa, nem na rua, nem no trabalho. E o que é preciso não esquecermos é que cada uma das coisas que hoje nos parece normal, como o direito de viajar, trabalhar, gerir as próprias finanças e ter uma palavra nas escolhas que afetam as vidas dos nossos filhos, são conquistas ganhas a custo e sempre precárias.

A civilização ocidental viveu muito bem, durante milhares de anos, com o apagamento, a opressão, a exploração das mulheres. Se não tivessem sido as próprias a lutar para se libertarem, provavelmente ainda hoje estaríamos de lenços sobre a cabeça, fechadas em casa, sem outra função que não procriar e cuidar da casa e dos filhos. Temos de ter consciência disso para não nos deixarmos enredar nas conversas dos que querem salvar-nos de nós próprias ou dos que acham que estávamos mesmo a pedi-las.

Nós andamos a fazer corridas de obstáculos, para conseguir ser tudo o que se espera de nós. Mas a culpa não é do feminismo, que nos derrubou muros. É de um sistema feito para funcionar com todo o trabalho que fazemos em casa sem recebermos nada em troca, um sistema que precisa dos filhos que geramos, mas que nos priva de usufruir deles sem culpa. Um sistema que quer pôr-nos a consumir aquilo de que não precisamos e nos deixa sozinhas e exaustas a responder às exigências da família e do trabalho.

Do que precisamos é de dar as mãos umas às outras e deixar bem claro que aqui ninguém está disponível para andar para trás. O tempo da Maria Cachucha não é para nós. E também não será para as nossas filhas.

Salvou a sexta

Há dias que o trabalho é inaceitável, faz jus à etimologia da palavra, tortura, um mal-estar que atravessa a mente e ataca os músculos com indignação e desânimo. Mas as contas começam a levitar frente aos olhos, em uma realidade aumentada que nada tem de virtual. A sobrevivência e o medo, essa força incomum, impera. Ligo o computador. Quando o mundo acabar, só sobrarão baratas e boletos.

Vejo os melhores momentos da vitória da seleção brasileira contra o Chile. Vejo a despedida de Messi em jogos oficiais na Argentina. Vejo as semifinais femininas do US Open. O esporte é minha fofoca, minha página de celebridades onde pouco sei de vida pessoais, pois me concentro nesse itinerário de vitórias e derrotas que tanto ensinam sobre a vida e negócios bilionários. Escrevo um texto e vou à cozinha fazer mais um café.

Uma lâmpada queimada na sala desata um desejo de zelo, e mergulho no clichê de quem cuida de sua casa, cuida de si mesmo. Poderia concluir que é mais um adiamento, mas essa pequena ação aquece o peito, lavo a louça, troco os lixos e limpo o banheiro, cuja saudade de desinfetantes já envergonhava. Faço uma pesquisa e organizo uma entrevista domado por certa dopamina.

Acelero, termino o possível e sem arrependimento corro até o Cinesesc, tradicional cinema de rua na Augusta, em São Paulo. Fica até o dia 11 de setembro a 4a. edição do OJU – Rodas de Cinema Negro. Confira a programação em várias unidades do Sesc. Vou assistir a Três Obás de Xangô, documentário de Sérgio Machado sobre a amizade entre Carybé, Jorge Amado e Dorival Caymmi, suas artes, suas visões de mundo e seus abraços ao Candomblé.

A obra começa essa reflexão: “Liturgia significa o poder do povo enquanto consenso; política significa o poder do povo enquanto diferença. Os Obás de Xangô são um ordenamento político-litúrgico” Instituído por Mãe Aninha, o corpo de Obás (que os três amigos integravam) mediava a relação entre o terreiro de candomblé e a sociedade. Em trinta segundos, já oferece uma hora e meia de debate no boteco.

A narrativa entrelaça a história do Candomblé em Salvador, os personagens do Pelourinho presentes na obra de Jorge Amado, o mar, os barcos, os pescadores e o vento amados por Caymmi, essa cidade, essas pessoas, um mistura de invenção e fotografia da Bahia cujos traços de Carybé parecem sintetizar. Engraçadíssimas as troças entre os três. Amado repete algumas vezes: “A amizade é sal da vida”. Não vou me alongar, só recomendar o longa.

Tomei uma cerveja para me preparar para o filme seguinte: “Brasiliana: o musical negro que apresentou o Brasil ao mundo”, do fundamental Joel Zito Araújo. Dissidência do Teatro Experimental do Negro e capitaneada por Haroldo Costa (o Brasil precisa render mais homenagens a esse homem), a companhia de dança celebrava as matrizes africanas de nossa cultura e era composta por músicos e dançarinos negros. A música sob a batuta do maestro José Prates, outro ilustre desconhecido para mim. Destaque para os arranjos do musical Navio Negreiro.

Joel Zito fez uma escolha arriscada ao decidir celebrar a trajetória desses artistas. Ficam em segundo plano o racismo, a exploração da imagem sexualizada de homens e mulheres negras que resumiu o Brasil for Export, o enriquecimento do empresário Miécio Askanasy, que comandou o grupo após um racha com Haroldo Costa, em detrimento dos baixos salários dos artistas – só o café e o transporte eram garantidos, o que obrigava a almoços e jantares improvisados em quartos de hotel.

O diretor está mais preocupado em mostrar a história das pessoas, artistas que, apesar dos problemas, viram na companhia a oportunidade de uma vida, viajar, ao se apresentar e fazer sucesso nos palcos europeus entre os anos 1960 e 1970, deixando um Brasil que pouco valor e espaço oferecia para seus talentos. A obra apresenta também as idiossincrasias do machismo e do racismo para essa geração.

Os dois filmes salvaram minha sexta. Saí do Cinesesc ávido para pesquisar sobre tudo, ler mais Amado, ouvir mais Caymmi e José Prates. É isso que muitas vezes faz a Cultura, faz da busca um sentido para a vida.

Veredito sobre o futuro

Na trajetória de tentativas e de golpes executados que acossa o Brasil desde a inauguração da República, todos foram agraciados com o perdão. Por ato presidencial ou por negociação política avalizada pelo Congresso.

A hipótese de anistia agora ronda o julgamento de um ex-presidente e de parte da cúpula do governo de Jair Bolsonaro (PL), nela incluídos militares de altas e médias patentes.


Repetiremos a história ou colocaremos um ponto final naquele itinerário, sinalizando que daqui para frente tudo será diferente? Eis uma questão a ser sopesada por aqueles que se utilizam do argumento da página virada em nome de uma aludida pacificação.

A tese é compartilhada por uma minoria de desavisados e pela maioria dos mal-intencionados que se travestem de cordeiros no intuito de deixar aberta a porta para novas sedições. Vitoriosos, voltarão à refrega.

Perdoar os já condenados pelo 8 de Janeiro, mais os que vierem a ser sentenciados pela urdidura da trama, equivalerá a dizer-lhes que as instituições estavam erradas ao reagir com rigor, que fiquem à vontade para repetir, pois não damos valor ao Estado de Direito. Podem agredi-lo sem receio, porque aqui tudo haverá de ser como antes.

O pior é ver governadores que se acham aptos a presidir a República envolvidos num acordo que distorce o conceito de anistia, condicionando-o a acertos eleitorais de natureza puramente casuística. Defendem o perdão a Jair Bolsonaro em troca do apoio dele às suas candidaturas.

Posição em que se coloca o governador de São Paulo, na prática desmentindo as próprias palavras em prol da reeleição. Tarcísio de Freitas (Republicanos) promete indulto ao ex-presidente caso ascenda ao Planalto, mas antes disso precisaria passar pelo crivo do eleitorado que talvez não concorde com essa bandeira na campanha.

O trato com Bolsonaro pode lhe garantir a simpatia da direita extremada, mas implicará compromissos que devem lhe custar a rejeição dos moderados, sem os quais ninguém ganha a eleição.