Uso esse dinheiro para sobreviver. Eu moro sozinha e acordo todo dia às 3h para vender minhas coisas. Coloco pipoca e água em cima de uma mesa com um guarda-sol e ganho cerca de R$ 50 por dia. Eu tenho medo de passar fome. E eu não quero falar mais nada porque senão vou chorar. O resto só Deus proveráLucilene Gervásio Oliveira, de 53 anos, teve o nome retirado do Cadastro Único para Programas Sociais (CadÚnico), busca de se recadastrar no sistema e ter direito ao Auxílio Brasil
segunda-feira, 15 de novembro de 2021
A fome que nos ronda
A moeda divina na compra do poder
Padre Américo Sérgio Maia, antigo vigário de Cajazeiras (PB), teve um dia de viajar 28 quilômetros a cavalo para dar a extrema-unção a um doente. Cansado, apeando do animal logo perguntou: “Minha senhora, por que vocês não fizeram uma casa mais perto da cidade?”. Ouviu a ácida resposta: “Padre, e por que não fizeram a cidade mais perto da gente?”. Essa historinha serve para explicar o distanciamento de fiéis da Igreja Católica e sua perda para credos evangélicos.
O fato é que os evangélicos crescem em ritmo geométrico, enquanto os católicos se expandem de forma aritmética, a denotar que a moeda da fé circula pelos centros e pelas margens, mostrando o pendor e a falta de pudor com que o evangelismo usa a vida divina como chave para entrar no reino dos céus.
Fosse apenas essa a questão, a disputa seria apenas uma soma de números. Não. O problema é de natureza política. Os evangélicos querem ocupar o centro do poder, o que significa montar um partido político (Republicanos), dotá-lo das condições para influir na pauta legislativa, integrar a malha da administração pública por meio de ministros e, claro, culminar com a eleição de um presidente com o qual tenham ligação direta: Jair Bolsonaro. Que luta para inserir um ministro “terrivelmente evangélico” no STF.
A população católica se estreita. Dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram uma fuga média de 465 pessoas por dia. Já os evangélicos perderam a vergonha: falam claramente sobre seu projeto de poder, com seus quadros de comando, como o pastor Silas Malafaia sendo um dos maiores interlocutores de Bolsonaro. A par dessa observação, vem outra: quanto mais crescem mais o tintim da moeda enche os cofres de credos, que continuam a preencher os horários vazios das tevês, inclusive em horário nobre, para exibir discursos, perorações e milagres inventados para engabelar as massas.
Quais as razões que explicam tal fenômeno? O afastamento dos fiéis da política tradicional e a opção por uma nova política, está sob a égide das cortes divinas. É grande o descolamento entre a esfera política e a sociedade. Políticos fecham os ouvidos ao barulho das ruas e menosprezam o sentimento da plebe.
E qual o motivo para tal afastamento, quando se sabe que o mandato não pertence ao eleito, mas ao povo, que apenas lhe transfere temporariamente a representação? A resposta contempla a mudança do conceito de política, de missão para profissão, aquela abrigando o ideário coletivo, está incorporando o interesse individual. O verbo transitivo indireto servir (ao povo) cedeu lugar à forma pronominal servir-se (do povo). A esganiçada luta do poder pelo poder tornou mais ferina a competição política, formando um arsenal de poderosos instrumentos para os guerreiros usarem na arena eleitoral: recursos financeiros, espaços midiáticos, partidos sem doutrina e uma retórica de glorificação personalista, focada na grandeza dos perfis em detrimento das ideias.
Os conjuntos legislativos são vistos como braços políticos do ciclo produção-consumo, cujo foco é o rendimento, o ganho, a concorrência, o jogo de soma zero, no qual a vitória de um se dá graças à derrota de outro.
O rosário de virtudes desfiado pelo papa Francisco para revitalizar a Igreja Católica e resgatar a fé de rebanhos desgarrados não deixa de ser sábia contribuição para oxigenar a política. O pontífice usa as chaves da Igreja de Roma para abrir portas, mas a resposta tem sido pequena ao seu. O papa parece querer nos deixar um legado valorativo, algo como um manual de conduta política, tão franciscano quanto ele, contraponto ao Breviário dos Políticos, aquele manuscrito que o cardeal Mazarino produziu nos tempos dos Luíses XIII e XIV da França, pregando a desconfiança, a emboscada, a simulação e a dissimulação.
O livrinho do papa argentino alinha preceitos inerentes ao escopo da Política (com P maiúsculo), seja para uso da Igreja, seja para a vida partidária. E, ao contrário aos políticos, não aprecia esse marketing que espetaculariza eventos. Simplicidade, exibir um perfil sem máscaras, despojado, transparente. Simplicidade não usada pela liturgia pirotécnica dos evangélicos. Como lembra André Comte-Sponville, “simplicidade é ter a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos”.
Gaudêncio Torquato
O fato é que os evangélicos crescem em ritmo geométrico, enquanto os católicos se expandem de forma aritmética, a denotar que a moeda da fé circula pelos centros e pelas margens, mostrando o pendor e a falta de pudor com que o evangelismo usa a vida divina como chave para entrar no reino dos céus.
Fosse apenas essa a questão, a disputa seria apenas uma soma de números. Não. O problema é de natureza política. Os evangélicos querem ocupar o centro do poder, o que significa montar um partido político (Republicanos), dotá-lo das condições para influir na pauta legislativa, integrar a malha da administração pública por meio de ministros e, claro, culminar com a eleição de um presidente com o qual tenham ligação direta: Jair Bolsonaro. Que luta para inserir um ministro “terrivelmente evangélico” no STF.
A população católica se estreita. Dados do Censo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostram uma fuga média de 465 pessoas por dia. Já os evangélicos perderam a vergonha: falam claramente sobre seu projeto de poder, com seus quadros de comando, como o pastor Silas Malafaia sendo um dos maiores interlocutores de Bolsonaro. A par dessa observação, vem outra: quanto mais crescem mais o tintim da moeda enche os cofres de credos, que continuam a preencher os horários vazios das tevês, inclusive em horário nobre, para exibir discursos, perorações e milagres inventados para engabelar as massas.
Quais as razões que explicam tal fenômeno? O afastamento dos fiéis da política tradicional e a opção por uma nova política, está sob a égide das cortes divinas. É grande o descolamento entre a esfera política e a sociedade. Políticos fecham os ouvidos ao barulho das ruas e menosprezam o sentimento da plebe.
E qual o motivo para tal afastamento, quando se sabe que o mandato não pertence ao eleito, mas ao povo, que apenas lhe transfere temporariamente a representação? A resposta contempla a mudança do conceito de política, de missão para profissão, aquela abrigando o ideário coletivo, está incorporando o interesse individual. O verbo transitivo indireto servir (ao povo) cedeu lugar à forma pronominal servir-se (do povo). A esganiçada luta do poder pelo poder tornou mais ferina a competição política, formando um arsenal de poderosos instrumentos para os guerreiros usarem na arena eleitoral: recursos financeiros, espaços midiáticos, partidos sem doutrina e uma retórica de glorificação personalista, focada na grandeza dos perfis em detrimento das ideias.
Os conjuntos legislativos são vistos como braços políticos do ciclo produção-consumo, cujo foco é o rendimento, o ganho, a concorrência, o jogo de soma zero, no qual a vitória de um se dá graças à derrota de outro.
O rosário de virtudes desfiado pelo papa Francisco para revitalizar a Igreja Católica e resgatar a fé de rebanhos desgarrados não deixa de ser sábia contribuição para oxigenar a política. O pontífice usa as chaves da Igreja de Roma para abrir portas, mas a resposta tem sido pequena ao seu. O papa parece querer nos deixar um legado valorativo, algo como um manual de conduta política, tão franciscano quanto ele, contraponto ao Breviário dos Políticos, aquele manuscrito que o cardeal Mazarino produziu nos tempos dos Luíses XIII e XIV da França, pregando a desconfiança, a emboscada, a simulação e a dissimulação.
O livrinho do papa argentino alinha preceitos inerentes ao escopo da Política (com P maiúsculo), seja para uso da Igreja, seja para a vida partidária. E, ao contrário aos políticos, não aprecia esse marketing que espetaculariza eventos. Simplicidade, exibir um perfil sem máscaras, despojado, transparente. Simplicidade não usada pela liturgia pirotécnica dos evangélicos. Como lembra André Comte-Sponville, “simplicidade é ter a virtude dos sábios e a sabedoria dos santos”.
Gaudêncio Torquato
O que aprendemos com a pandemia
Primeiro de tudo que esse governo é responsável por pelo menos a metade dos mortos pela Covid- 19. Estimulou o não uso de máscara, a aglomeração e a negação da vacina. Agora se diz responsável pela vacinação intensa. Mentira. Foi a ciência e o povo brasileiro que foi se vacinar. Essa carona e perversa. Aprendemos também que este governo não engana mais ninguém, só quem não precisa mais ser enganado. Pensa como ele e eles existem. Estão aí desde sempre só que agora o presidente da república abriu a porteira e eles saíram. Mas o povo não é bobo. Vai usar este aprendizado para dar um novo destino ao país.
Aprendemos a um duro custo que o isolamento às vezes salva-vidas. Pode salvar também o contágio de más companhias apesar de ameaçar nossa saúde mental. Precisamos de companhia, mas essa companhia tem que ter significado de vida.
Neste isolamento que fomos obrigados a viver aprendemos o valor dos livros, do conhecimento através da leitura e da troca de experiências com nossos pares também interessados através dos grupos de WhatsApp. As conversas às vezes são excessivas, mas o ganho é enorme. Nesses grupos trocamos também informações fundamentais sobre séries e filmes nas plataformas de streaming. A Netflix e outras quase foram beatificadas apesar das dúvidas sobre os milagres que causam. A Netflix é a mais bem estruturada, a que funciona melhor. Tem bons filmes e produções locais. Também tem muita bobagem, mas onde não tem?
As outras, apesar dos bons catálogos sofrem de falta tecnológica para fazerem mais sucesso. Esse aprendizado todo também se deve ao tempo que passamos diante dos celulares, computadores e televisores. Nossos olhos devem ter se comprometido com tantas horas diante dessa luz eletrônica que ainda desconhecemos. Mas muita companhia foi feita nas madrugadas insones. Outras pessoas devem ter dedicado seu tempo aos jogos eletrônicos. Não sou um desses, mas reconheço a importância que tiveram neste período.
As relações foram mexidas de modo radical. Muita gente se separou, mas achou melhor continuar morando junto. Medida de economia e de precaução sanitária. Alguns casamentos até foram reatados, outros se acabaram definitivamente. Acho que poucos novos começaram. Daqui pra frente, talvez, mas esse sossego forçado nos fez refletir sobre a vida, o que vale a pena ou não. Deve ter sido importante pra muita gente assim como acho que deve ter acontecido o contrário, um desbunde mais sério, um “desmadre”, como diriam os argentinos. Difícil manter a saúde mental ou o (des) equilíbrio sem um auxílio luxuoso, pelo preço, e nocivo pelos efeitos. Mas aconteceu, certamente. Muitos amigos e conhecidos morreram de covid. Nunca convivemos tanto com a morte como nesse período. Foi duro, dramático e revoltante. No início por desconhecimento e despreparo, mas depois por negação ou má- intenção. Foram muitas as perdas, algumas nunca mais vamos recuperar. A falta é enorme e ainda temos que acordar todos os dias, com um pouco de esperança renovada pelo avanço da vacinação, mas com a ameaça constante dessa presidência que persiste. Fruta ruim não cai do pé. Verdade. Mas também não aprende lições. Nós aprendemos e as conclusões que eu chego não conto pra eles. Uso como energia e combustível ainda a um preço controlável para seguirmos em direção ao futuro, e aí esse aprendizado vai ficar eternizado na nossa memória. Essa não morre. Resiste e vira História.
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