quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

Charge Super 25/01

O presépio da doutora Dilma

O Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social foi criado em 2003 e é composto por 90 membros. Para a reunião de amanhã, dois titulares tiveram que ser substituídos, pois Marcelo Odebrecht e José Carlos Bumlai estão na cadeia. Também estão trancados o ex-conselheiro João Vaccari Neto e José Dirceu, que assinou o ato de criação do organismo. É difícil imaginar outro grupo de 90 pessoas com semelhante desempenho. Para se ter uma ideia do que significa uma porcentagem de 2% de presos, vale lembrar que a taxa de brasileiros encarcerados para cada cem habitantes é de 0,3%.

O Conselhão pretendia ser um foro de debates. Tornou-se um pastel de vento a serviço da propaganda de um governo cuja titular diz que “o Brasil não parou, nem vai parar”. Os pibinhos e a recessão aconteceram no Burundi. É marquetagem tão inútil que desde julho de 2014 a doutora Dilma não o convocava. Uma reunião de 88 pessoas serve apenas para fotografias de um consenso inexistente. A menos que se considere consenso o fato de estarem todas sentadas.

Dilma

Quando o Conselho foi criado, nele estava a atriz Lucélia Santos. Foi substituída por Wagner Moura. Pelo lado dos empresários, lá estará Jorge Paulo Lemann. Certamente, ele tem algo a dizer, mas, da última vez que foi ao Planalto, a doutora deu-lhe um chá de cadeira de mais de uma hora. Até aí pode-se pensar que tenha surgido algum imprevisto. O problema muda de figura quando se sabe que mandaram uma funcionária fazer-lhe sala, e ela dirigiu-se a Lemann em inglês. Coube a ele explicar que foi criado nas ondas de Ipanema. O surfista do século passado tornou-se o homem mais rico do Brasil porque a InBev produz e exporta gestão, exatamente o que falta ao governo da doutora.

Ele acaba de anunciar que adiou o cumprimento da meta anunciada em novembro de visitar todos os domicílios do país até o fim deste mês para combater o mosquito da zika. Lorota. O que houve foi o colapso de uma promessa impossível de ser atingida. Na melhor das hipóteses, foram a 15% das casas. Houve burocrata sugerindo que, para evitar o risco da microcefalia, as mulheres não engravidem. Como o mosquito está no Brasil há mais de um século, a providência extinguiria a população de Pindorama. Depois, veio o ministro da Saúde, torcendo para que as jovens sejam infectadas pelo vírus antes da idade fértil, pois assim adquiririam imunidade.

Como Brasília comanda espetáculos, em dezembro a doutora assinou o Decreto 8.612, criando uma Sala Nacional de Coordenação e Controle, para cuidar do mosquito. Ela funcionaria no Centro Nacional de Gerenciamento de Riscos e Desastres da Secretaria Nacional de Defesa Civil do Ministério da Integração Nacional. A sala mágica seria habitada por representantes de seis ministérios, dentro do Plano Nacional de Enfrentamento à Microcefalia, que, por sua vez tem três “eixos”: “Mobilização e combate ao mosquito, atendimento a pessoas e desenvolvimento tecnológico”.

Aí está a essência da gestão da doutora: havendo um problema (o mosquito), lança-se um plano de enfrentamento, cria-se uma sala de controle anexa a um centro de gerenciamento e, daí em diante, o assunto é dos outros. Se nada der certo, convoca-se uma reunião do Conselhão para mudar de assunto em busca do que o Planalto chama de “agenda positiva”.

2016 não é 2013

A liderança do Movimento Passe Livre ainda não entendeu. A história - como dizia um filósofo alemão - não se repete a não ser como farsa e, definitivamente não estamos em 2013. Naquele ano o MPL foi a faísca que incendiou a pradaria porque havia uma agenda muito mais ampla, aglutinadora de bandeiras tangíveis e transversais.

A horizontalidade das jornadas também contribuiu para seu sucesso. As manifestações multitudinárias não foram produto da ação de um pequeno grupo, de uma vanguarda iluminada, mas da identificação de milhões e milhões de brasileiros com uma pauta de reinvindicações factíveis, que diziam de perto às suas angústias, como o clamor por serviços públicos de qualidade.

Movimento Passe Livre (Foto: Arquivo Google)
Houve, claro, a ação ensandecida dos black blocs, mas descoladas das massas. Só na cabeça de alguns malucos as manifestações se voltavam contra a “ordem burguesa”, contra a “exploração capitalista”. Registre-se: esses lunáticos foram minoria, não deram o tom de um ano tão marcante como 2013. E quanto mais pacífica as manifestações, mais adesão e simpatia granjearam.

Aí vem a farsa. Sem ter a menor capilaridade na sociedade e com objetivo tão demagógico como pueril – a tarifa zero nos transportes urbanos - o MPL promove agora um simulacro de 2013, numa reedição tosca das concepções de Auguste Blanqui, do século XIX. Blanqui acreditava, piamente, que a história se movia pela ação vanguardista de um punhado de abnegados.

Se fosse apenas um blanquismo tardio, seria menos nefasto.

O problema é que a forma primitiva de luta adotada pelo MPL volta-se na verdade contra os trabalhadores, os principais usuários do sistema de transportes públicos. Qual o sentido, por exemplo, de se realizar uma manifestação na Estação da Luz, em São Paulo, no horário de pico? Quem pega o trem para chegar até a sua casa na periferia? É a tão odiada burguesia?

Os ventos mudaram e o MPL não percebeu. Em 2013 havia uma pré-disposição dos brasileiros para apoiar as manifestações, se solidarizar com quem foi alvo de uma repressão desproporcional. A crise ética, econômica e política do governo Dilma Rousseff mudou o humor das pessoas, deixando-as muito mais irritadas. E com razão. Já tem problemas suficientes, por que vai ser tolerante com quem atormenta mais ainda suas vidas?

Em vez de ganhar a opinião pública e construir uma imagem favorável à sua bandeira, as lideranças do movimento vão na direção contrária. Utilizam-se da violência de forma generalizada contra representantes públicos, contra o patrimônio público e privado. Convivem muito bem com black blocs, como se fossem almas gêmeas.

Estranhamente, contam com a complacência de setores de nossa intelligentsia e da dita esquerda. Talvez tais segmentos ainda se deixem encantar pela tese de que a “violência é a parteira da história”. Só isto explica tanta omissão e conivência.

Não percebem, contudo, de onde vem o tiro e nem o calibre do perigo, para usar um verso genial dos Paralamas do Sucesso.

As manifestações selvagens alimentam ainda mais o caldo de cultura do autoritarismo que vai se espraiando pela sociedade. A cada depredação, a cada vandalismo, também cresce o número de pessoas que clama pelo fim da baderna.

É bom o MPL tomar juízo. 2016 não é 2013.

Campeão de honestidade

Neste verão chuvoso, de tempo ameno durante o dia e frio à noite, o ambiente fica propício a voos de tanajuras e aparecimento de bichos estranhos, como gongolos e besouros de chifres, principalmente quando chega o estio do veranico.

É fácil notar também a influência desse tempo na vida das pessoas. E depois do Carnaval, que este ano acontece mais cedo, vem a Quaresma, tempo de lobisomem e de mula sem cabeça. Mas já se pode notar o aparecimento de homens descabeçados e de mentirosos de ocasião, além de políticos desmiolados e mistificadores, que se julgam, descaradamente, enviados de forças do além ou mais virtuosos e honestos que qualquer um dos seus semelhantes.

migueljc
Libório, aquele alfaiate lá do distrito da Cachoeira que tem mania de ser candidato a vice qualquer coisa, apareceu empoeirado das terras vermelhas da sua região, que beiradeia a serra do Anastácio, e, alegre e despachado como sempre, e como qualquer baianeiro, foi logo dizendo: “Ei, Dota, vim aqui ajudar meu cumpadre, que tá com um probrema difice de resorvê. A filha mais nova dele, teimosa que só égua de chapada, ficô embuchada e diz que é virge e que nunca andou se metendo com home nenhum. Mentira dela, já que seu namorado aparece sempre nas época de festa, como Carnaval e São João. Mas ela jura de pé junto qui nunca ‘comé qui chamô’ com ninguém. E nós veio acompanhando ela e seus pai, que, além de amigos, nós é cumpadre de fé e de pulá fogueira. Deixei eles cuns médico e o subdelegado de lá do povoado e vim aqui tomá a bênça e tomem sabê do amigo o que é um tal de ‘hime cumpracente’ q’ueles fala qui é mais ô menos embuchada. É que um médico baiano lá da Conquista disse que ela é virge mesmo, mais tá embuchada, e isso num é nem pode sê milagre... Será que isso pode se assucedê?” Ô Liba, esse problema é incomum, mas existe. O que não é possível é ela engravidar sem “comé qui chamá”. Se ela tem hímen complacente está explicada a gravidez sendo ela virgem. “Ô lá-lá! Entonce nem é mais ô menos?” Claro que não, uai... Com um abraço, lá se foi o Libório contar ao compadre nossa conversa. “Deve que” deu certo...

Na semana passada, num arroubo de consciência e ignorância ao mesmo tempo, o ex-Luiz, do alto de sua prosopopeia, declarou: “Não tem uma viva alma mais honesta do que eu”. Pensei nas palavras do Cristo crucificado, pedindo a Deus que relevasse a ignorância daqueles que O crucificaram: “Pai, perdoai-os, eles não sabem o que fazem”...

Ex-Luiz, preste atenção: honestidade é virtude que se constata exclusivamente pela formação moral do homem e que, assim como gravidez, não existe “mais ou menos”. Se você me entende, não existe honestidade complacente como o hímen da filha do compadre do Libório. E como as virtudes não podem ser medidas, o homem é ou não é honesto. No seu caso, que é duvidoso, você vai ter que provar, e aí é que está o bedelis...

Se tudo vai mal, logo ...

A lógica nacional sempre foi sensata. Ela rezava assim: se tudo vai mal e, se o Brasil também vai mal, então tudo vai bem. Este princípio — hoje em suspeição — permeia o nosso pensamento. Está tão dentro de nós quanto o melado que nos lambuza. Prestigiado, ele foi encampado pela esquerda como um valor. O roubo dos outros, vociferam, legitima o nosso. Ademais, roubar aquilo que seria de todos para ajudar os pobres não é safadagem porque, até o advento desta desagradável era de transparência e de liberalismo golpista, o que era de todos não era de ninguém.

Pertencia aos que “subiam” e controlavam a “República”. Aliás, devo lembrar o nosso desgosto por tudo o que é “re-pública” (coisa pública), pois, sendo mais filhos de família do que cidadãos, temos horror à impessoalidade e ao anonimato, esses irmãos da igualdade. No país das celebridades e dos queridinhos, todo mundo quer, além da conta bancária na Suíça, uma coleção de carros de luxo ou um quarto secreto cheio de quadros tão falsos quanto o dono. Roubar para ostentar é um ato falho do nosso inconsciente aristocrático.

O de “todos” é negativo. Ou alguém vai casar com uma “mulher pública”? Não estaria aí o temor que, ao lado do nosso machismo, afasta as mulheres da política?

O fato é que a indiferença a “tudo que é de todos” define o que nós, brasileiros, entendemos por “política”. Para nós, a política é o túmulo do que não gostamos. Como nada temos a ver com ela, tudo o que diz respeito ao gerenciamento público é entregue aos políticos, que fazem o que bem entendem, desde que atendam aos nossos pleitos. Ou não nos perturbem com muitos deveres e impostos.

Enquanto isso, nós jogamos o nosso lixo na rua certos de que cabe ao “governo” resolver o assunto, mas a maldita “política” não deixa. Tudo vai bem até o dia em que descobrimos que o descaso em massa, ao lado de incompetência administrativa e da má-fé ideológica, levam o país à ruína.


E se países não são empresas, eles só prestam quando gastam menos do que arrecadam. Mas se a nossa utopia é todo mundo virar funcionário público, bolsista ou aposentado e, como prêmio, todo “político” ter o direito de roubar sem ser punido, então o Brasil vai pro brejo!

E, se ele não é de ninguém, hoje nós temos certeza que ele não pode mais ser de Lula, do PT, da dona Dilma e do lambuzado Jaques Wagner.

Há uma cadeia. A indiferença que é o maior fosso entre o Estado e a sociedade começa a acabar quando o colapso da saúde, da segurança e da educação vira calamidades. Ao lado das catástrofes climáticas e dos abismos sociais ainda puerilmente tratados como dependentes de “vontade política”, e não de uma moralidade engendrada pela escravidão negra, comandada por uma aristocracia branca, entramos no vermelho.

Mas, se somarmos a tudo isso a incompetência e a roubalheira, temos o nó de porco perfeito.

O que me intriga, porém, não é somente o roubo; é achar que há roubo de direita e roubo de esquerda. O primeiro é errado, o segundo é certo. Curiosa essa inversão carnavalesca já anunciada quando o líder do partido e um dos que mais lucraram com a ladroagem — Lula, o probo — desafia-nos publicamente afirmando que não há “viva alma” mais honesta que ele. Só mesmo pensando no carnaval pode-se ouvir essa bazófia de um sujeito capaz de desconstruir-se com tanta competência.

Eis o operário pobre que virou o presidente mais amigo dos ricos da história deste país. E, não satisfeito com essa mascarada, deu aos seus novos amigos mais que dinheiro, pois num feito digno de sua patológica onipotência, entregou-lhes o Brasil. Para tanto, tornou-se um misto de presidente-garoto-propaganda e criou uma rede de favores nacionais e internacionais com todo tipo de gente, preferencialmente com “pluto-cleptocratas”. Seu governo criou uma imensa e incompetente máquina estatal voltada para a reação anti-igualitária, com o devido abandono dos idiotas que, por amor, esperança, honestidade, ideologia e utopia, o elegeram. Voltado para o poder do dinheiro, o lulopetismo fabricou uma nova elite e um novo discurso, não mais baseado no velho marxismo libertador da Guerra Fria, mas num populismo de massa unipartidário, capaz de comprar legislação e legisladores, no que se transformou na mais grave roubalheira da história do capitalismo: o assalto que arruinou a Petrobras.

A parceria de um partido dito revolucionário com setores tradicionais do empresariado resultou em ganhos eleitorais, num fardo impossível de administrar e num incrível embaralhamento institucional. Hoje, ser de esquerda é impedir o funcionamento da Justiça. Hoje, buscar o rumo é ser golpista.

Criamos mais um brasileirismo: o “capitalismo de esquerda”. Aquele que rouba e não faz. Ao fim e ao cabo, quem paga somos nós. Mas, como tais arranjos ocorrem em toda parte e, além disso, como disse a presidenta, todo mundo erra, se tudo vai mal, logo...

Mudar o governo

Não se pode governar um país como se a política fosse um quintal e a economia fosse um bazar. Ao avaliar um regime de governação precisamos, no entanto, de ir mais fundo e saber se as questões não provêm do regime mas do sistema e a cultura que esse sistema vai gerando. Pode-se mudar o governo e tudo continuará igual se mantivermos intacto o sistema de fazer economia, o sistema que administra os recursos da nossa sociedade. Nós temos hoje gente com dinheiro. Isso em si mesmo não é mau. Mas esses endinheirados não são ricos. Ser rico é outra coisa. Ser rico é produzir emprego. Ser rico é produzir riqueza. Os nossos novos-ricos são quase sempre predadores, vivem da venda e revenda de recursos nacionais. 

Afinal, culpar o governo ou o sistema e ficar apenas por aí é fácil. Alguém dizia que «governar é tão fácil que todos o sabem fazer até ao dia em que são governo». A verdade é que muitos dos problemas que nós vivemos resultam da falta de resposta nossa como cidadãos activos. Resulta de apenas reagirmos no limite quando não há outra resposta senão a violência cega. Grande parte dos problemas resulta de ficarmos calados quando podemos pensar e falar.

Mia Couto

A grande reforma

Já estamos no caos. Quem precisa de reforma é o governo como um todo que perdeu a credibilidade, não tem a confiança da sociedade. A primeira reforma é a troca do governo
Cássio Cunha Lima

Corrupção

Quem paga propina a servidores é bandido, não lobista


Ora, ora, ora… Os criminosos agora resolveram optar pela ousadia retórica. Assim como Delúbio Soares, o caixa do mensalão, inventou a tese de que o dinheiro público roubado pela quadrilha era só “caixa dois de campanha” — crime, sim, mas, digamos, menor no cotejo com a safadeza que de fato se praticava —, presos da Operação Zelotes se dizem agora “lobistas” perseguidos. É uma saída marota, claro! Só é crime o que a lei define como tal, e nós, os cidadãos, podemos fazer o que não é proibido. Sem regulamentação, crime o lobby não é. Assim, todos os presos da Operação Zelotes seriam inocentes.

Seria uma boa rota de fuga se alguns dos presos não tivessem sido flagrados corrompendo servidores públicos. Uma coisa é um escritório especializado num determinado tema se organizar para pressionar parlamentares em favor de uma determinada tese. Qual é o caminho? Produzem-se estudos, seminários, encontros de debates. Representantes de determinado setor marcam audiências com parlamentares, expõem seu ponto de vista, alertam para dificuldades caso suas teses não triunfem. Assessorias de imprensa contratadas tentam emplacar artigos nos veículos de comunicação em defesa de uma tese, convidam jornalistas para jantar com seus clientes, levam-nos para visitar a redação de jornais e revistas etc.

Isso é lobby. Parlamentares e jornalistas honestos conversam com todo mundo, mas exercem o seu trabalho com independência. As evidências que existem contra presos da Operação Zelotes são outras. Funcionários públicos do Carf (Conselho Administrativo de Recursos Fiscais) eram literalmente comprados por escritórios de advocacia para deixar de cumprir a sua função e aliviar o peso da multa de pessoas em dívida com a Receita. O nome disso? Crime!

Querem um exemplo eloquente, noticiado no Painel da Folha desta terça? Erenice Guerra, ex-braço-direito de Dilma Rousseff e depois ela própria ministra da Casa Civil, admitiu em depoimento à Polícia Federal ter firmado uma parceria com José Ricardo da Silva, que está preso, para resolver uma grande dívida tributária com empresa chinesa Huawei. Mas quem era o tal José Ricardo? Ora, conselheiro do Carf. Assim, dona Erenice não via mal nenhum em que aquele senhor atuasse como advogado contra o próprio órgão público no qual trabalhava. Não parece que isso seja lobby. O nome disso é crime.

Um dos presos da Operação Zelotes é o notório — procurem a ficha dele na Internet — Alexandre Paes dos Santos, conhecidos como APS. A defesa chamou como testemunha a própria mulher, Maura Lúcia Montella de Carvalho. Cheia de si e de convicção, acusou o Ministério Público de praticar um desserviço à nação — imaginem vocês! — e ainda tentou teorizar: disse que o lobby “faz parte da economia, é uma das condições, uma das estruturas do mercado”. Sim, ela está certa. Mas lobistas não compram funcionários públicos e não praticam corrupção ativa com quem se dispõe a praticar a passiva.

Os advogados têm o direito de defender seus clientes como lhes parecer melhor. E a gente tem o direito de não cair na conversa. Acho que já passou da hora de o lobby ser devidamente regulamentado no Brasil, como é nas mais sólidas democracias do mundo. Mas não venham chamar criminosos de lobistas. Criminosos são bandidos.

A Petrobras já vale menos que o Whatsapp e deve meio Facebook


E agora a Petrobras já vale menos que o WhatsApp. Com a ação a R$ 4,45, o valor de mercado da empresa está em US$ 18 bilhões. O Facebook pagou US$ 19 bilhões pelo Whats em 2014.

O WhatsApp ainda não tem um modelo de negócio para produzir receita de verdade. A Petrobras tem, desde o governo Vargas. O problema é que a nossa petroleira tem outra coisa que o Whats não tem: uma dívida de US$ 128 bilhões. Isso dá 50% de todo o valor de mercado do Facebook (ou 100% da Volkswagen global, se você preferir um exemplo da velha economia). Pior: só os juros dessa dívida, a maior do mundo, comem tudo o que a empresa tira de lucro.

Se você fosse a Petrobras, estaria trabalhando só para pagar os juros do cartão de crédito, e precisaria ir tirando cartões novos para pagar as contas de casa. Por mais que você trabalhasse, sua conta continuaria vazia, igual o caixa da Petrobras.

Sim, toda empresa grande tem dívida. Mas Petrobras joga em outro campeonato, sozinha. A Shell, por exemplo, deve US$ 45 bilhões, mas produz o dobro da Petrobras, e também tem seus projetos caríssimos, e também sofre com a baixa recorde do petróleo. O buraco da Petrobras é único.

E fica mais embaixo. Dos quaquilhões que a nossa petroleira deve, US$ 24 bilhões são para agora – a empresa precisa quitar em dois anos, se não vira calote. US$ 24 bilhões é o valor de mercado do Carrefour (ou da Netflix, se você preferir algo da nova economia). Ou seja: a Petrobras precisa achar um Carrefour de dinheiro em dois anos para continuar viva.

Pense nisso quando alguém te aconselhar a comprar ações da Petro porque elas estão “baratas” demais. Diante da situação da empresa, nenhum valor é barato demais. O governo, principal acionista da coisa, provavelmente vai ter que arranjar os caminhões de dinheiro que a empresa precisa para quitar pelo menos uma parte desses US$ 24 bi que vencem até o final de 2017. Mas quem se complica aí são os outros acionistas. Se o governo fizer isso, será em troca de uma fatia ainda maior das ações da empresa – num processo cujo nome técnico é “capitalização”. Hoje o governo é dono de 8 bilhões de ações da Petrobras. Como existem 13 bilhões de ações da Petrobras, o Estado é dono de 60% da companhia. Isso dá 60% da empresa. Um sujeito que tenha um lote de 100 ações é dono de 7,7 bilionésimos.

Agora vem a sacanagem. Se o governo colocar, tipo, US$ 10 bilhões na Petrobras a título de “capitalização” a empresa vai “pagar o governo” emitindo ações novas e dando para ele. Isso cria uma “inflação acionária”. O total de ações cresce, mas sem que a empresa tenha aumentado de valor. Vamos dizer que cresça de 13 bilhões para 20 bilhões de papeis. O dono de todas as ações novas, como a gente viu, é o governo. Nisso, o Estado passaria a ter 15 bilhões de ações (8 bi das velhas + 7 das novas). Ou seja: passaria a ser dono de 75% da companhia.

Dinamarca: Oito lições de combate à corrupção

A Dinamarca colhe hoje os frutos de mais de 350 anos de empenho contra a corrupção no setor público e privado e, mais uma vez, figura no topo do ranking de 168 países da ONG Transparência Internacional, o principal indicador global de corrupção.

Desde que o índice foi criado, em 1995, o país está nas primeiras posições - em que estão as nações vistas como menos corruptas. Nos últimos cinco anos, só não esteve no primeiro lugar em 2011, que ficou com a Nova Zelândia. Esse é o segundo ano consecutivo em que está sozinha no topo.

O Brasil foi um dos países que registrou a maior queda no ranking neste ano: caiu sete posições, para o 76º lugar. A ONG liga a queda ao escândalo da Petrobras.

(Foto: Flávia Milhorance/BBC Brasil)
Peder Udengaard, reeleito do conselho municipal (o equivalente a vereador) de Aarhus, segunda maior cidade da Dinamarca, com cerca de 300 mil habitantes, não tem sequer carro próprio e volta a pé para casa
O Índice de Percepção de Corrupção é baseado em entrevistas com especialistas - em geral, membros de instituições internacionais como bancos e fóruns globais - que avaliam a corrupção no setor público de cada país.

Na raiz do bom desempenho dinamarquês estão iniciativas de meados do século 17, quando a Dinamarca perdia parte de seu reinado para a Suécia e via que era preciso ter uma administração mais eficiente para coletar impostos e financiar batalhas em curso.

Numa época em que a nobreza gozava de vários privilégios, o rei Frederik III proibiu que se recebessem ou oferecessem propinas e presentes, sob pena até de morte. E instituiu regras para contratar servidores públicos com base em mérito, não no título. A partir de então, novas medidas foram sendo instituídas período a período.

Peter Varga, coordenador regional da Transparência Internacional para Europa e Ásia Central, alerta, entretanto, que "países que estão no topo do ranking naturalmente não estão livres de corrupção", pondera

Casos envolvendo empresas e políticos vez ou outra ganham destaque na Dinamarca. Há dois anos, a empresa dinamarquesa Maersk foi apontada na Operação Lava Jato como possível autora de pagamento de propinas a ex-executivos da Petrobras. E a falta de controle nos financiamentos de campanha é bastante criticada.

"Entretanto, neles isto é uma exceção, não a regra", complementa o representante da Transparência Internacional.

Embora não esteja imune ao problema, a Dinamarca traz alguns bons exemplos que podem servir de inspiração para se combater a corrupção em países como o Brasil. 

Realiza-se o projeto de se equiparar Brasil à Venezuela

Com sólidos motivos, o Brasil se firma, na América Latina, como um dos casos mais graves na onda de desaceleração econômica que atinge a região. Dado o tamanho do país, a média da evolução do PIB do continente é negativa: de acordo com o Fundo Monetário Internacional, há uma retração prevista para este ano de 0,3%, idêntica à verificada em 2015. Os 3,5% negativos do Brasil em 2015 e a repetição de dose semelhante neste ano são muito responsáveis pelo mau desempenho.

Além do Brasil, contribui para o resultado negativo latino-americano a Venezuela, pela exuberância de sua recessão: de 10% no ano passado, e 8% em 2016. Se os dois países forem retirados dos cálculos, o continente não aparece em recessão. Cai a média do crescimento, mas ele não fica negativo.

Realiza-se, então, por ironia, o sonho de bolivarianos que trabalham em Brasília: Venezuela e Brasil, enfim, juntos. Como exemplos a não serem seguidos. Juntos num desastre econômico, político e com impiedosos reflexos sociais. É certo que há diferenças marcantes entre os dois países, e a favor do Brasil. A principal delas a solidez das instituições republicanas. Estas foram destroçadas pelo chavismo bolivariano. Haja vista a enorme crise político-institucional em que se encontra a Venezuela de Nicólas Maduro, ungido pelo próprio Hugo Chávez seu sucessor: o governo se recusa a aceitar a vitória da aliança oposicionista nas eleições parlamentares, e para isso usa os aparelhos chavistas que foram instalados no Judiciário e em todo o Estado.
O aparelhamento do setor público, incluindo estatais, é lição da cartilha chavista de tomada do poder sob um simulacro de democracia. O lulopetismo tentou aplicar a mesma tática no Brasil, mas foi em parte frustrado pelas instituições.

A Petrobras é o mais dramático exemplo deste aparelhamento. Executado, inclusive, com funcionários de carreira cooptados. Saqueada para sustentar o projeto de poder lulopetista e de aliados, e usada para projetos megalomaníacos no estilo do “Brasil Grande” da ditadura militar, a estatal passa pela maior crise de sua história.

A Operação Lava-Jato, de combate ao esquema de corrupção montado na estatal, mas não só nela, em que atuam o Ministério Público, a Polícia Federal e a Justiça, não aconteceria na Venezuela.

Outra diferença é que Chávez, vitorioso nas eleições de 1999, aproveitou a popularidade e conseguiu convocar uma Constituinte, pela qual moldou um Estado autoritário, com um regime de democracia direta populista, a base da tragédia política venezuelana. Já no Brasil as instituições barram toda vez que lulopetistas tentam avançar com o Cavalo de Troia das “Constituintes exclusivas". O mesmo ocorre quando tentam controlar a imprensa profissional. Sorte do Brasil.

Mas os dois países, sob o chavismo e o lulopetismo, comungam ações intervencionistas na economia. E por isso dividem a responsabilidade em jogar a América Latina na recessão
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Editorial - O Globo

E ainda não está completa

Brasil tem 21 das 50 cidades mais violentas do mundo

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Um estudo anual realizado pela ONG mexicana Conselho Cidadão para a Segurança Pública e a Justiça Penal relaciona 21 cidades brasileiras entre as 50 mais violentas em todo o mundo em 2015.

No primeiro lugar do ranking, que analisa cidades com mais de 300 mil habitantes e foi divulgado nesta semana, está a capital venezuelana Caracas, com índice de 119,87 homicídios dolosos por cada 100 mil pessoas.

San Pedro Sula, em Honduras, que ocupava o primeiro lugar por quatro anos seguidos, conseguiu reduzir o número de homicídios e passou para o segundo lugar, com índice de 111,03. San Salvador, capital de El Salvador, ficou em terceiro (108,54), seguido de Acapulco, no México (104,73).

Além das 21 cidades brasileiras relacionadas no ranking, estão oito venezuelanas, cinco mexicanas, quatro sul-africanas, quatro americanas, três colombianas e duas hondurenhas. El Salvador, Guatemala e Jamaica aparecem com uma cidade cada.

Em comparação ao ranking do ano anterior, oito cidades deixaram de figurar entre as mais violentas, entre elas Belo Horizonte, a colombiana Medelín e a mexicana Juárez. O México, que chegou a ter 12 cidades relacionadas no estudo de 2011, aparece na relação de 2015 com cinco.

Entre as cidades que entraram na listagem do ano passado estão as brasileiras Campos dos Goytacazes, Feira de Santana e Vitória da Conquista, além da sul-africana Johanesburgo e outras quatro venezuelanas. A América Latina domina o ranking, com 41 cidades.

Entre as brasileiras, a primeira no ranking é Fortaleza, em 12º lugar, seguida de Natal, em 13º, Salvador e região metropolitana, em 14º, e João Pessoa (conurbação), em 16º.

Em seguida, aparecem Maceió (18º lugar), São Luís (21º), Cuiabá (22º), Manaus (23º), Belém (26º), Goiânia e Aparecida de Goiânia (29º), Teresina (30º), Vitória (31º), Recife (37º), Aracaju (38º), Campina Grande (40º), Porto Alegre (43º), Curitiba (44º) e Macapá (48º).

Somadas todas as 50 cidades, a média dos índices de assassinatos dolosos por cada 100 mil habitantes é de 53,08 (41.338 homicídios dolosos entre 77.878.896 habitantes). Apenas as primeiras 20 cidades relacionadas superam essa média.

Apesar de o Brasil superar a Venezuela em quantidade de cidades no ranking, o nível de violência no país vizinho é maior. O índice de homicídios no Brasil é de 46,31 por cada 100 mil habitantes, enquanto nas cidades venezuelanas é de 74,65.