segunda-feira, 21 de novembro de 2016

Desprezo à população brasileira

No momento em que se aprofundam investigações acerca da corrupção envolvendo prestadoras de serviços à administração pública e agentes políticos de diversas esferas e de diferentes partidos, surgem notícias da criação de anistia a beneficiários de recursos não contabilizados, bem como de propinas e até mesmo daqueles que dissimularam ou ocultaram valores ilicitamente recebidos.

O delito chamado de Caixa 2 está previsto como falsidade ideológica no art. 350 do Código Eleitoral, consistente em deixar de registrar na contabilidade recursos recebidos. Se o legislador optar por melhor redação da figura penal, tal não consiste em apagar o fato delituoso realizado no passado e adequado ao descrito no Código Eleitoral. Muito menos, significa qualquer perdão ou apagamento de corrupção ou lavagem de dinheiro travestida em contribuição eleitoral, por ser depositada na conta de partido político.


Resultado de imagem para legislar em causa própria charge

Constitui um tapa na cara da sofrida população brasileira pretenderem os parlamentares legislar em causa própria, para se auto beneficiar e escapar da justiça penal pela porta dos fundos por via de anistia que concedem a si mesmos.

Há, nesta proposta de lei, uma traição ao compromisso que fazem os deputados ao tomar posse de manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, pois se afronta gravemente o princípio da moralidade, dado elementar de nossa constituição, bem como se atinge o sentimento de honradez do povo brasileiro, cansado da corrupção que destruiu o patrimônio da Nação, criando imenso descrédito para a já abalada democracia brasileira.

Em benefício do nosso povo e para preservação do Estado de Direito Democrático, representantes de entidades da sociedade civil e de movimentos sociais vêm manifestar sua indignação à proposta sibilina, oculta e desonesta de alguns deputados que pretendem, pela anistia, se auto proteger ou proteger políticos correligionários.

Esta iniciativa revela o imenso desprezo que dispensam os parlamentares ao sentimento de justiça vivenciado por toda a população. Deve a sociedade brasileira repudiar esta anistia cozinhada às escondidas por maus brasileiros que se dizem seus representantes.

Documento lançado nesta segunda-feira, no Instituto dos Advogados de São Paulo, por representantes da sociedade civil, como Miguel Reale Jr., e entidades que defendem a democracia brasileira

Sinopse da ópera (bufa)

Um Estado que em seis anos aumenta em 70% o contingente de funcionários para, adiante, não ter como lhes pagar os salários gasta por causa de arrecadação presumida, com sucessivos governos levando um baile da bandidagem com a qual políticos trocam relações amistosas por votos nos territórios dominados, onde policial de alta patente confessa a seus pares que tem medo de chegar à noite ao Aeroporto Tom Jobim e enfrentar o trajeto pela Linha Vermelha por causa dos tiroteios, francamente o Rio não poderia estar em situação diferente.

Tido como síntese do Brasil, sede da cidade (realmente) maravilhosa, o Rio é um retrato dos males que acometem o País desde Cabral (com trocadilho): corrupção a rodo, inépcia administrativa, irresponsabilidade nos gastos, insegurança pública, carência de espírito público e excesso de ganância privada. Nem todos os Estados reúnem todas essas características, mas raro (inexistente?) aquele onde não esteja presente ao menos uma delas. Se houver é a famosa exceção que confirma a regra liderada pela administração federal como vem revelando a tardia, porém bendita, aliança entre Polícia Federal, Ministério Público e Poder Judiciário.

Uma hora essa coisa iria explodir. O padrão perverso que atrela o País ao atraso iria estourar. Provoca surpresa a prisão de dois ex-governadores, Sérgio Cabral e Anthony Garotinho. Surpreendente, contudo, é que tenham - cada qual o seu setor - pintado e bordado durante tanto tempo sem serem importunados. Garotinho é velho freguês da Justiça Eleitoral em decorrência dos métodos para obtenção de votos. Está preso por isso, compra de votos. Já Cabral, acusado de corrupção e lavagem de dinheiro, dá sinais exteriores de riqueza incompatível com os ganhos de suas funções desde que era deputado estadual. Como governador, abusou. De tudo: do excesso de confiança na “proteção” de Lula e Dilma, do deslumbramento, das relações impróprias com fornecedores do governo, da desfaçatez. 

Crítica social e comportamental em desenhos. O inglês John Holcroft cresceu em Lancashire e tinha nove anos quando se mudou para Yorkshire. Passou boa parte da infância desenhando e pintando. Durante a faculdade, se tornou fã de vários artistas como David Cutter, Ian Pollock e Edward Hopper e se graduou em design gráfico. Mas, nos (...):
John Holcroft
Abusos que a Lava Jato revela terem sido corriqueiros e abrangentes desde sempre, embora não tão explícitos como nos governos do PT e aliados. A lamentar os prejuízos, materializados de maneira cruelmente contundente no Rio e demonstrados à farta na dilapidação da Petrobrás. Mas a celebrar o início do desmonte do modelo. Não se trata de festejar a perda de liberdade de quem quer que seja. Melhor que não houvesse motivo para tal ou que ocorressem como casos isolados. Evidente que o processo é sofrido e humilhante para quem é atingido, mas não dá para ser de outra forma. Até daria, se políticos, empresários, funcionários e quem mais se envolver em ilegalidades pensassem antes de fazer em uma máxima do óbvio: as consequências vêm depois.

Estão em curso e, por isso, sofrendo ameaça de serem abatidas em pleno voo por um Poder Legislativo eivado de suspeições e localizado na rabeira do ranking de confiabilidade da população nas instituições brasileiras. Câmara e Senado reagem - cada Casa a seu modo - contra o avanço das investigações, tentando aprovar leis que restrinjam a atuação notadamente do Ministério Público, cuja independência foi um dos principais avanços da Constituição de 1988.

O Congresso está diante de uma escolha: fica do lado certo ou estaciona do próprio lado e, com isso, se posiciona contrariamente à vontade da Constituinte que elaborou a Carta atual. Contra a vontade daquele colegiado que há quase 30 anos estabeleceu um novo marco legal no Brasil, onde não cabe a impunidade e que finalmente começa a ser posto em prática.

A opção é de suas excelências: podem escolher ficar ao lado do cidadão ou contra ele. Sem esquecer que as consequências vêm depois. Cedo ou tarde. Não importa, virão. E aí, a cadeia pode ser a única opção.

Muros

Ao longo do tempo, médicos, cirurgiões e boticários disputaram entre si a autoridade sobre a identificação e o tratamento de doenças. Na Inglaterra do século XVII, aos médicos, à aristocracia médica, competia a realização de diagnósticos e prescrições, mas não a dispensação de medicamentos. Os cirurgiões realizavam procedimentos manuais, e os boticários, que se destacaram da Companhia Adorável de Mercearias, deveriam permanecer em seus estabelecimentos e preparar as receitas. Conflitos éticos, profissionais e pecuniários inspiraram diversos personagens da literatura.

Na comédia “Hemorragia de mentiras médicas”, de Thomas Brown, escrita em 1697, tendo Londres como cenário, o médico é arrogante, um tanto hipócrita, e os boticários, gananciosos e desonestos. Poucos anos depois, o Colégio Real de Médicos e a Câmara dos Lordes divergiram sobre o caso Rose, um boticário acusado de exorbitar de suas funções ao prescrever e administrar medicamentos. Os argumentos dos médicos baseados nos danos relacionados com “desencorajar a Medicina e privar a nobreza de uma das profissões por meio da qual seus filhos podem subsistir” foram considerados antes como tentativa de preservação de privilégios do que preocupação do bem-estar dos pacientes. A decisão favorável a Rose constituiu uma das bases para o reconhecimento legal dos modernos médicos generalistas e farmacêuticos.

Lydgate (fictional):
Lydgate (ilustração)
Outros médicos, como o doutor Lydgate criado por George Eliot (Mary Ann Evans) em “Middlemarch”, 1871, também perturbaram cânones profissionais. O jovem sério e talentoso, ao trazer para a província conhecimentos de anatomia e patologia, procura tornar a Medicina mais cientifica e enfatiza os poderes de cura da natureza. O protagonista foi inspirado pelas ideias de Thomas Wakley, fundador do periódico cientifico “The Lancet”, que mantinha críticas permanentes à ganancia, ao nepotismo e aos baixos padrões de formação. O interesse pela política de saúde e pela vida dos médicos contribuiu para retratar oportunistas que, apesar de receberem salário, pretendem complementar a renda mediante casamento com viúva rica. E médicos competentes, mas extremamente pobres, que encontram imensas dificuldades para cursar a faculdade, são presos por dívidas ou embarcam em navios como cirurgiões.

A essa mesma época, o romancista Charles Dickens ficou fascinado com as possibilidades terapêuticas do hipnotismo. Wakley inicialmente manifestou uma curiosa simpatia pela técnica, logo depois, contribuiu para desmistificá-la. “The Lancet” publicou relatos de tentativas de cura, mas realizou avaliações públicas por juntas médicas, demonstrando a inocuidade do método, que foi decisivo para conferir-lhe credibilidade e torná-lo uma das principais publicações científicas do mundo.

No fim do século XIX e ao longo do XX, as sátiras envolvendo médicos e profissionais de saúde não deixaram de destacar a avidez e o despojamento de homens e mulheres dedicados a atender doentes. Atualmente, os elevados preços de determinados medicamentos e dispositivos médicos e comissões desafiam a ficção. Pode-se ganhar muito, não sendo bem formado e atendendo poucos e a assistência à saúde nucleia os negócios de imensos grupos econômicos. Embora não seja incompatível obter elevadas remunerações com o tratamento de pobres e se evidencie facilmente que os atuais médicos não pertencem à nobreza, predomina a seleção dos mais aptos a pagar — a menos que as políticas públicas afirmem direitos sociais. Muros desfeitos por uma história de dedicação a uma medicina e oferta de medicamentos para todos foram reconstruídos.

As vitórias eleitorais da rejeição ao Obamacare e das propostas de filas especiais para pacientes em várias cidades no Brasil servirão como material de edificação de barreiras mais sólidas de acesso, inclusive a pesquisas e inovação. Certamente, a natureza política do “enorme, bonito e poderoso muro na fronteira sul”, prometido por Trump, seja como metáfora ou ação concreta, é distinta das propostas brasileiras de tratamento de saúde diferenciado para os pobres. Sobre os cinco milhões de mexicanos ilegais pesa a ameaça de deportação imediata. Aqui está valendo a promessa de resolução dos longos tempos de espera para consultas, exames e internações.

Pelo sim ou não, um ponto comum a muitos dos defensores de levantamento de muros na saúde é o modelo Lydgate. Pretendem que reais médicos, bem formados praticantes da Medicina baseada em evidências deem um jeito de consertar a bagunça no lado rico e no pobre. Fica assim: médicos-cirurgiões-boticários, julgados como responsáveis individualmente por produzir intervenções desnecessárias e receber percentagens de prescrições, seriam controlados ou estimulados a seguir bons exemplos dos que retornaram à boa e velha clínica. Caricaturas de Lydgate, estão à frente de grandes negócios movidos pela interação entre os planos de pré-pagamento, os fundos de investimentos e os médicos intervencionistas. As contraditórias tentativas de aproximação do mundo empresarial à imagem do médico idealista são dignas de nota, mas não fazem jus ao personagem. Sem drama, sem a luta contra a pobreza, a compreensão dos processos saúde-doença e possibilidades de interrompê-los, sem a perspectiva de superar as injustiças na saúde, não haveria Lydgate na ficção e Wakley e seus sucessores na realidade.

Ligia Bahia

O STF no bordel brasileiro

Enquanto petistas, tucanos e peemedebistas dançam juntos, de rostinhos colados no ménage à trois da degradação final do sistema político brasileiro, vemos que também o “Poder Judiciário” se vai ensopando de merda.

A mídia divulgou que, nos últimos dez anos, boa parte das ações penais que ingressaram no STF – desde que tratassem de bandidos com foro privilegiado, é claro – foram simplesmente “prescritas”. Vale dizer: apagadas da memória judiciária nacional.

Resultado de imagem para stf e o bordel charge


Ou – o que realmente importa – os bandidos continuaram soltos em seus palácios, posando calhordamente de impolutos, tripudiando de todos e impondo sacrifícios pesados à maioria da população brasileira.

Argumenta-se que isto acontece em consequência de atrasos nas chamadas “instâncias inferiores”, feudos dos juizecos, para usar a gíria da moda. Vá lá, mas só em parte. O STF também tem a sua culpa no cartório. E não é pouca.

Precisa provar? Tudo bem: quem adiou o recente julgamento sobre réus e linha sucessória presidencial, que atingiria Renan Canalha, não fui eu, nem foram vocês. Foram os boçais de toga da doutora Cármen Lúcia.

O jeitinho pouco judiciário de empurrar com a barriga o caso de Renan, somando-se a tantas outras coisas – como a jogada de Lewandowski fatiando a punição a Dilma Rousseff –, conduz a uma só coisa: a crescente desmoralização da Justiça diante do conjunto da sociedade brasileira.

Desse jeito, vamos acabar respeitando mais – muito mais – a Polícia Federal do que o STF. Fica bonito para a cara engomada de vossas excelências? Claro que não. Mas, pelo visto, não é outra coisa o que os nossos magistrados-celebridades estão pedindo que aconteça.

Não vai demorar a aparecer quem diga que aquelas togas de excelência servem, na verdade, para disfarçar ou esconder as excelentes cagadas das tribunícias excelências federais.

Quanto a nós, meros cidadãos brasileiros sujeitos a arbitrariedades de todo tipo, o que mais vai cansando é essa história de político só ser preso depois que perde o mandato e/ou cai em desgraça.

O que nos resta, portanto, a não ser o caminho das ruas? Dar uma banana solene para o STF e despachar pedradas em direção às vidraças do Congresso?

É o que nos perguntamos, mais e mais. E a verdade é que já passou da hora de os cidadãos articularem um movimento público para escorraçar Renan Canalha do cenário político-institucional do país.

Depois que esse patife for destronado e conduzido à cela que o espera, será possível cuidar de liquidar outros gângsters.

Uma velha e inesquecível canção

Kathryn Grayson (1922 - 2010) soprano norte-americana

'Governar é escolher prioridades'

A frase do título é atribuída ao presidente John F. Kennedy, em plena crise dos mísseis cubanos (1962), que quase levou os Estados Unidos e a União Soviética a uma guerra nuclear. A habilidade do jovem presidente americano permitiu uma solução negociada com os soviéticos, que retiraram seus mísseis nucleares de Cuba em troca da preservação de Fidel Castro no poder.

Escolher prioridades é o que fazem o tempo todo os governantes em todos os níveis, desde o prefeito de um pequeno município até governadores, ministros e o próprio presidente da República. Quando acertam na escolha são aplaudidos, quando erram são execrados e até perdem suas posições, como aconteceu recentemente no País.

Geralmente as pessoas fazem o que pretendem fazer. Se suas atitudes não são compatíveis com seus desejos, avalie suas prioridades antes de responsabilizar a má sorte pelos seus resultados.:
Estamos agora diante de uma situação em que a responsabilidade fiscal, negligenciada nos últimos dez anos, precisa ser restabelecida para que o País volte à normalidade. A adoção de um limite para os gastos públicos vai exigir, mais do que nunca, escolher prioridades. E haverá, portanto, como resultado, ganhadores e perdedores.

É nestas situações que emergem líderes com visão de estadista, como já tivemos no passado, e demagogos, como também já tivemos.

A PEC do Teto limita os gastos públicos no seu conjunto, sem especificar quais setores serão preservados. Mas é evidente que os recursos destinados a educação e saúde não poderão ser reduzidos, por duas razões. Em primeiro lugar, porque já são hoje, de modo geral, insuficientes e, em segundo, porque gastos nessas áreas não podem ser postergados. Fazê-lo no caso de saúde pode significar deixar pacientes morrer. Na educação, não se pode “hibernar”, como fazem os ursos no inverno nas regiões frias do globo. Se as crianças não forem alfabetizadas aos 7 anos de idade, correm o sério risco de se tornar analfabetas reais ou funcionais pelo resto da sua vida. Se não aprenderem matemática, ciências naturais e humanidades, não serão preparadas para o mercado de trabalho.

Há outros setores, em compensação, nos quais os investimentos, e até a manutenção, podem ser adiados e reprogramados, como é o caso de estradas, portos, aeroportos, conservação de edifícios e até aumento de salários. As escolhas podem ser difíceis e existem inúmeras reivindicações de todos os setores que se consideram prioritárias, apesar de algumas delas representarem demandas corporativistas.

Outros projetos, porém, não podem ser interrompidos, a exemplo do que acontece com a saúde; o governo precisa identificá-los com clareza e dar-lhes a atenção devida. Cortes lineares em todas as atividades não fazem sentido, isso é o que diferencia governantes lúcidos de burocratas de plantão.

Um dos casos que não admitem esse tipo de corte indiscriminado é a área de ciência e tecnologia, praticamente ausente das discussões no nível federal.

O que é mais importante: desenvolver a área espacial ou a produção de energia nuclear? Quais as melhores políticas e ações que poderão reduzir as emissões de gases que provocam o aquecimento global? Esses são exemplos das questões que precisam ser discutidas.

Ciência e tecnologia jamais tiveram tanto impacto na vida da humanidade como no século 20. Esse foi o “século de ouro”, em que inúmeras doenças foram eliminadas, a eletricidade foi estendida a todos os cantos da Terra, a população cresceu extraordinariamente e a vida média das pessoas subiu de 35 para 70 anos. Rádio, televisão e internet foram desenvolvidos e são agora usados em todos os pontos do planeta. Ferrovias, automóveis, caminhões e aviões revolucionaram a área de transportes.

Discute-se hoje ativamente se esse “século de ouro” acabou e se novas descobertas e progressos tecnológicos não serão feitos para permitir não só melhorar a qualidade de vida, mas eliminar também o subdesenvolvimento. A revolução no setor de informática é uma das áreas em que isso já está sendo realizado.

O que é preciso entender, portanto, é que o progresso na ciência e tecnologia é um processo contínuo, que precisa ser alimentado o tempo todo, tal como o oxigênio do ar que respiramos e nos mantém vivos. Nessa área não é possível “hibernar”.

É a exigência de continuidade que distingue ciência e tecnologia de outros setores. Seus resultados podem aparecer somente em longo prazo, mas podem ser fundamentais na eliminação de doenças ou no aumento da produtividade econômica.

O imediatismo não existe nessa área e governos esclarecidos já se convenceram disso há muito tempo. Apenas para dar um exemplo, essa é a razão por que o assessor de ciência e tecnologia do presidente dos Estados Unidos (entre os inúmeros assessores) tem o seu escritório na própria Casa Branca, sede da Presidência da República. Além de aconselhar o presidente e o seu Ministério em assuntos de ciência e tecnologia, o assessor especial nos Estados Unidos também tem a missão de coordenar todos os esforços dessa área desenvolvidos nos diversos órgãos da administração federal.

Foi pela mesma razão que Josef Stalin, na União Soviética, deu status especial aos cientistas – incluindo dissidentes políticos, como Andrei Sakharov – que tiveram um papel especial em levar o país à vitória na 2.ª Guerra Mundial. É por isso, ainda, que em países como o Reino Unido todos os ministérios têm um “cientista chefe”.

Na escolha de estratégias de desenvolvimento econômico no nível mais alto de governo, ciência e tecnologia precisam estar presentes o tempo todo, apontando os melhores caminhos a seguir e suas consequências. Essa é a razão para preservar o apoio a essas atividades em condições normais, especialmente em tempos de crise.

A misteriosa afinidade entre a mulher e os felinos

Volta a ressuscitar a discussão sobre a preferência das mulheres pelos felinos, enquanto os homens escolheriam os cachorros. Os gatos, além disso, se entenderiam melhor com as mulheres, e os cães, com os varões.

Ignoro se alguns experimentos universitários realizados sobre o tema possuem valor científico. Há quem, para explicar isso, recorra ao fato de, desde tempos remotos, os cães terem sido usados pelos homens para a caça, com os gatos ficando em casa, perto da mulher.

Só isso?

O que é certo é que há mais de 5.000 anos nenhum outro animal foi tão divinizado e associado ao mistério e à mulher quanto o gato. Ainda hoje se discute em psicologia a simbologia do gato associado à mulher.

Seguimos nos perguntando por que os gatos são relacionados à independência, e os cachorros, à submissão. Isso tornaria os cães sempre amados, e os gatos, há séculos seriam divinizados, mas também execrados e amaldiçoados.

Como a mulher?

Nenhum animal teve uma trajetória tão tortuosa em seus simbolismos, medos e atração quanto o felino. No Egito fazia parte da divindade, personalizada na figura da egípcia Bastet, a deusa gata mulher, que protegia a felicidade das pessoas. Talvez por isso o gato seja um dos poucos animais nunca mencionados na Bíblia.

Alma Felina                                                                                                                                                                                 Mais:
Na Índia simbolizava a sabedoria, com a gata sendo a deusa sábia, rainha da fertilidade. A Igreja, mais tarde, satanizou os felinos ao mesmo tempo que apresentou a mulher como obstáculo à virtude e mais facilmente possuída pelo demônio que os homens.

Nos séculos sombrios da Idade Média os gatos, por influência da Igreja, passaram a ser o símbolo do demoníaco e da maldade. Como a mulher? Foram perseguidos, esfolados vivos, queimados nas fogueiras, junto com as mulheres.

Foi o papa Inocêncio VIII, em 1484, que lançou a primeira perseguição contra os gatos, que foram sacrificados aos milhões. A vingança por aquela matança e aquela loucura religiosa foi em parte a chegada da peste negra à Europa, dizimando sua população, transmitida pelos ratos, que proliferaram com o desaparecimento de seus caçadores.

De inocente, aquele Papa culpado pelo massacre dos gatos, que já tinham sido divinos em outras religiões e culturas, tinha só o nome. Enfermo, por medo de ter que deixar o papado aos cardeais que suspiravam por vê-lo morrer para substituí-lo, tentou se curar com leite humano, mamando de uma jovem ama de leite e exigindo transfusões de sangue de crianças.

Tudo inútil. Aquele Papa se foi sem ser chorado.

Maldição dos gatos e das mulheres?

Hoje, envergonhado daquele seu antecessor, o papa Francisco faz diversas declarações a favor dos gatos: “São os animais mais inteligentes. Sempre gostei deles e conversava com eles”, disse a um jornalista francês que lhe perguntou se ele também considerava os gatos como demônios.

O grande artista Leonardo da Vinci chegou a considerar o gato como a “melhor obra de arte”. A mais bela.

Verdade ou não que as mulheres de hoje continuem preferindo os felinos como nos tempos antigos, em que eram vistos como deuses, é certeza que, em meio a tantas vicissitudes o gato, desde a mais remota antiguidade, foi visto como mais próximo do universo feminino.

Cleópatra se pintava imitando a linha curva dos olhos de uma gata. Desse animal se diz que não tem, nem nas horas de sono, uma postura que não reflita elegância.

A escritora italiana Camilla Cederna escreveu que “o gato, como a mulher, é quem escolhe a pessoa, não o contrário”.

Condenadas historicamente a ser dependentes dos homens, as mulheres, como aparece na literatura, talvez tenham visto na liberdade dos gatos um sonho secreto contra sua forçada dependência do varão.

Os gatos não precisam de nome. Não adianta chamá-los. Vêm quando querem, como escreveu em seu diário Marguerite Yourcenar. Eles decidem sempre o que querem fazer.

Os gatos amam estar limpos, são curiosos, independentes, solitários, ternos e selvagens ao mesmo tempo. Como a mulher?

São desconfiados. Preferem a solidão. Comedidos em seus afetos, sinuosos ao ponto de que não gostam de caminhar em linha reta. Margeiam com tato e delicadeza os objetos. São silenciosos e decidem quando receber e dar afeto. É difícil dominá-los e de nada adianta ralhar com eles. Olham para você, dão a volta e seguem seu caminho.

Nunca são óbvios e evidentes e possuem um toque de indiferença.

São introspectivos e sensíveis, aristocráticos e aguçados.

Os gatos são difíceis de entender. É preciso saber interpretá-los.

Escondem uma parte de seu mistério ancestral. E um bocado de seu instinto selvagem. Parecem-se com a mulher?

Entendem nossa linguagem? Minha gata Nana, sim. Posso dizer isso porque tenho minha mulher de testemunha. A gata, de rua, tem o costume de se aboletar nas minhas pernas quando leio ou assisto TV.

Durante alguns dias preferiu dormir numa poltrona a alguns metros de distância. Numa destas noites, enquanto Nada dormia profundamente, disse à minha mulher: “Que estranho a Nana não vir mais ficar comigo!”. Não se passou um segundo. Abriu os olhos, olhou pra mim, deu um salto e veio se acomodar nas minhas pernas.

Minha mulher não conseguiu acreditar.

Os gatos são assim. É inútil querermos entendê-los muito. Como a mulher?

São pequenos deuses ou demônios?

Ou são simplesmente felinos, o que não é pouco?

"Ler um gato é muito diferente do que ler um cachorro. O gato é um texto que se esquiva, se esconde entre duas auroras, na fronteira entre o mágico e o irreal. O gato é sinuoso, seu texto é macio, é poesia, nunca se deixa apreender por inteiro. O gato é escorregadio, vive nas entrelinhas.
Para ler um cachorro não se precisa de óculos especiais. Seu texto é escrito em maiúscula, diz claro e em bom tom o que pensa e a que veio.
O cachorro é prosa, o gato é música, é poesia".
(De Cachorros e Gatos, da poeta brasileira Roseana Murray)
Juan Arias

Falta o torpedo final para acabar com o PT

Cada vez que a Operação Lava Jato manda prender um dos marechais do PT, quantos companheiros desistem e se desligam da legenda, formal ou informalmente? Milhares ou milhões?

A degola de Antônio Palocci constitui-se numa explosão de profundas consequências para o partido, menos porque o ex-ministro será condenado à prisão por longo período, mais porque, depois dele, só resta mesmo disparar o torpedo final sobre o Lula. Nessa hora, estará acabado o PT.

Esse golpe de graça ou petardo definitivo, porém, exige tornar o ex-presidente inelegível por via judicial.


Por enquanto, a sobrevivência do PT liga-se à sorte do Lula. Procuradores, Polícia Federal, Ministério Público e Receita atuam para levar o combate às últimas consequências, ou seja, ao afastamento do Lula da vida política. É o embate derradeiro, ainda de resultado inconcluso.
Afinal, as acusações contra o primeiro-companheiro, por enquanto costeando o alambrado, restringem-se a um apartamento triplex cuja propriedade ele nega, e ao armazenamento de presentes recebidos durante seus dois mandatos na presidência da República. Crimes, é claro, mas nada parecido com os praticados por Antônio Palocci, orçados em mais de uma centena de milhões carreados para seu bolso. Daí para trás, até chegar a José Dirceu, há munição capaz de implodir o Partido dos Trabalhadores, desde que disparado o último torpedo para atingir o Lula.

Os petistas aferram-se à possibilidade de blindar seu chefe maior para levá-lo até a próxima sucessão presidencial. Difícil é, mas impossível, não será.

Paisagem brasileira

Paraty, Edy Gomes Carollo 

Uma salvadora de camponesas

A menina de jeans tinha mais ou menos a sua idade, 17 anos. Um homem a agarrava na beira da estrada e a arrastava entre a mata da caatinga. Na manhã seguinte, a calça e a camiseta de cor clara estavam rasgadas, penduradas em um arbusto, como restos obscenos de uma refeição criminosa.

Naquela noite, Erbênia viu a jovem desaparecendo no matagal e correu para o vilarejo em busca de socorro. "É uma prostituta, o que você quer?", foi a reação, unânime, das pessoas. E aquela menina, totalmente desfigurada pelo pavor, cuja morte ela não conseguira evitar, visitou-a em pesadelos ao longo de muitos anos. Mas a decisão já tinha sido tomada: abandonar tudo – família, namorado, uma vida tranquila - para se tornar freira e ajudar as mulheres que sofrem, curando-se, ela própria, do trauma da impotência.

Resultado de imagem para caritas em crateús

Erbênia de Souza tem 50 anos, mas parece não ter idade alguma. É uma pessoa de corpo miúdo, com um sorriso radiante, que usa roupas normais e não um hábito religioso, além de trazer um pequeno sol pendurado no pescoço. Vive no Nordeste brasileiro, em Crateús, uma cidade com 74.000 habitantes no coração da zona semiárida mais povoada do mundo, o sertão do qual se fala nos livros de João Guimarães Rosa, o Céline brasileiro. Aqui, a seca crônica causa prejuízos para os camponeses já afetados pelo monopólio dos latifundiários; e, quando chega a chuva, ela é violenta, superficial, incapaz de se acumular mais profundamente no solo, que é vocacionado para ser um deserto.

Crateús fica no Ceará, um dos Estados mais pobres do Brasil. Para a população local, os Jogos Olímpicos do Rio são como um universo a anos-luz de distância, assim como a crise política que culminou com a destituição da presidenta Dilma Rousseff, aprovada pelo Senado Federal em agosto passado. No Ceará, 18% da população vivem em situação de extrema pobreza, ante uma média nacional de 6%. Nas zonas rurais do interior, vive mais da metade dos habitantes mais pobres de todo o Brasil.

Filha desta terra rancorosa, Erbênia se tornou, à sua revela, um símbolo. Desde 2005, ela dirige a Cáritas local, uma associação ligada à diocese, embora o Vaticano já não reconheça a sua congregação religiosa, as Irmãs Missionárias de Jesus –algo semelhante ao que aconteceu, também no Brasil, com algumas organizações da Teologia da Libertação, consideradas excessivamente revolucionárias e comunistas. Mas Erbênia continua se sentindo uma irmã, vive em uma comunidade dedicada a ajudar os mais carentes. Mais do que como revolucionária, ela prefere ser definida como uma aventureira: apoia o Movimento dos Sem Terra nas ocupações de áreas improdutivas dos grandes latifundiários, assim como os acampamentos urbanos de movimentos que reivindicam moradia, como as 175 pessoas encurraladas na periferia de Crateús em um assentamento ilegal que leva o nome do padre Gérard Marie Fabert, um sacerdote francês que dedicou a sua vida aos mais pobres, também no Brasil. Elas ocuparam o terreno há quatro anos e cobram da Prefeitura que esta lhes forneça eletricidade, água e saneamento básico, já que não podem arcar com aluguel em outros lugares. Até o momento, porém, suas reivindicações permanecem atoladas na lama da burocracia.

Fica evidente que um temperamento como o de Erbênia, que não se dobra diante das ameaças dos políticos locais e dos latifundiários, não estava destinado a uma vida comum: "Veja só, o meu namorado na juventude volta a aparecer de vez em quando", confessa rindo, "e me pergunta: 'Ainda continua obcecada pelos pobres?". Ele continua esperando por ela, "mas agora eu sou mulher e mãe dessas pessoas".

Esta freira inconformada não demorou muito a perceber que, para evitar que as mulheres fossem vítimas da exploração e da violência, seria necessário primeiro conseguir fazer com que fossem realmente livres; acompanhá-las para fora da miséria e dos túneis sufocantes de uma sociedade machista, partindo justamente da "vocação pela terra" que impregna, aqui, cada projeto e cada esperança. "Construímos escolas para ensinar como fazer para as hortas serem produtivas, inclusive as menores, cultivando milho, mandioca e produtos locais como a castanha de caju, com bons frutos e outros alimentos. Estamos convencendo as pessoas de que a terra não é um lugar apenas de sofrimento e que elas não devem se sentir inferiores por serem trabalhadoras rurais. Ao contrário, a dedicação à terra deve ser motivo de orgulho".

A filosofia é a de Paulo Freire, educador brasileiro da classe trabalhadora. O apoio chega da ONG italiana WeWorld, que trabalha no Nordeste do Brasil com projetos de segurança alimentar. O método é a agricultura familiar biológica, oposta à intensiva e química dos latifundiários, que coloca o Brasil entre os primeiros países do mundo no uso de pesticidas e sementes modificadas geneticamente. As camponesas de Erbênia, no entanto, praticam o respeito à natureza e a si próprias, à espera da reforma agrária que nem mesmo o ex-presidente sindicalista Lula foi capaz de colocar em prática em seus felizes anos de proximidade aos mais pobres.

"Também somos contra o negócio da seca", acrescenta Erbênia. "Os fabricantes de tanques de água mantêm laços com políticos locais, que impõem tanques de plástico de 5.000 reais. Nós fabricamos tanques de cimento, mais ecológicos, a um terço do preço. E, assim, bloqueamos os que querem especular com os pobres. Por isso, chegam as ameaças".

Leia mais 

Duas opções

 quinho
(...) ou Temer é mesmo refém dos caciques do PMDB ou se tornou o chefe da quadrilha. Não há qualquer dúvida, é uma coisa ou outra
Carlos Newton

Caso Geddel mostra o que é normal sob Temer

Nos momentos mais decisivos, a tendência do ser humano é procurar a sua turma. Foi o que fez Michel Temer quando teve que montar sua equipe ministerial. Para o time palaciano, o presidente escalou apenas amigos. É compreensível. Temer tem afinidade com sua turma. Se não há concordância em tudo, ao menos não existe discordância no essencial.

Numa reunião realizada em São Paulo, ficou combinado que, ao menor sinal de anormalidade, os integrantes da turma de Temer desocupariam os cargos. Os amigos não ousariam constranger o presidente. O caso que envolve o ministro Geddel Vieira Lima servirá para mostrar até onde vai a fronteira da normalidade no governo Temer.

jarbas

Marcelo Calero demitiu-se do posto de ministro da Cultura chutando a porta. Acusou Geddel de pressioná-lo para rever decisão do Iphan que embargou a construção de um prédio de apartamentos de luxo com 30 andares, em Salvador. O edifício não pode ter mais do que 13 andares, decidiram os técnicos do Iphan, órgão que zela pelo patrimônio histórico e artístico do país.

Comprador de uma unidade assentada no que viria a ser o 23º andar do prédio cuja altura o Iphan encurtou, Geddel reconhece que procurou Calero. Mas nega ter feito pressão. Acha que se comportou dentro da normalidade ao defender junto ao colega da Cultura a revisão do parecer técnico de um órgão público que contraria o seu interesse privado.

“Em 2015, eu fiz uma promessa de compra e venda de uma unidade que estava lançada, sem nenhum problema, com todas as licenças colocadas e que vários outros adquiriram uma unidade de apartamento”, disse Geddel em entrevista.

Calero declarou que Geddel o procurou cinco vezes. Disse ter ouvido perguntas como esta: ''E aí, como é que eu fico nessa história?'' Classificou a abordagem de Geddel de ''truculenta e assertiva''. Relatou a ameaça do amigo de Temer de trocar o comando do Iphan. ''Se for o caso eu falo até com o presidente da República'', teria dito Geddel.

O coordenador político do Planalto sustenta que o relato de Calero contém “inverdades”. Entre elas a acusação de ameaça. De resto, Geddel diz que o fato de ter sido prejudicado pela decisão do Iphan, em vez de tirar, reforça sua “legitimidade” para se meter nos assuntos da pasta Cultura. Fez isso “por conhecer o que estava ocorrendo, estar preocupado, como todo cidadão fica preocupado em uma situação dessa.”

A encrenca do prédio de Salvador já virou processo judicial. Compreende-se que vendedores e compradores de apartamentos avaliados em cifras que roçam a casa dos R$ 3 milhões constituam advogados para guerrear contra a avaliação técnica do Iphan. É do jogo. O que deixa “todo cidadão preocupado” é o fato de um integrante da turma de Temer achar normal a tentativa, ainda que frustrada, de usar o prestígio do cargo público para defender interesse privado.

Retorne-se, por oportuno, ao primeiro parágrafo. É natural que Temer tenha afinidade com sua turma. Se não concordam em tudo, ao menos não discordam no essencial. Resta agora saber qual é a opinião do presidente da República sobre o caso específico.

Dependendo do modo como reagir, Temer pode aproximar seu governo do bom senso ou reforçar a sensação de que também acha natural que a essência de sua turma seja uma ideia qualquer de excepcionalidade que faz dos amigos do poder seres superiores à turma dos sem-turma.

Trump será o Lula da direita, com rugidos na campanha e miados no poder

O que teria acontecido caso Lula houvesse sido eleito em 1989? Alguém acredita que, realmente, 800 mil empresários fariam as malas para deixar o país, de acordo com o prognóstico alarmista do então presidente da Fiesp, Mário Amato?

Nem a pau, Juvenal! O poder econômico trataria é de iniciar logo o enquadramento do Lula que, a julgar pela maneira como procedeu ao finalmente chegar lá, não oporia muita resistência ao descarte das bandeiras utilizadas para ganhar a eleição.

Desde o sindicalismo, sua trajetória era feita de acordos, com uma greve aqui e ali para que as montadoras, alegando aumento de custos com a mão-de-obra, pudessem contornar os congelamentos de preços impostos pelos ministros da ditadura; se em 1989 os mandachuvas do mercado houvessem sentado com o Zé Dirceu para acertar os ponteiros, como fizeram em 2002, nossa História teria avançado mais depressa… Para o mesmo lugar.
O Brasil não se tornou comunista sob Lula, a Itália não voltou ao fascismo sob Berlusconi e é quase impossível os Estados Unidos serem piores sob Trump do que foram durante a guerra ao terror de Bush, quando justiça, direitos humanos e respeito à soberania das nações viraram balelas no país que mais prega a democracia.

Nos três casos, vale ressaltar, os negócios continuaram sendo tocados conforme a lógica férrea do neoliberalismo dominante, pois há bom tempo o que realmente importa na economia deixou de ser decidido pelos chamados dirigentes políticos, hoje reduzidos a meros fantoches do poder econômico.

As extravagâncias de certos presidentes e premiês se limitam ao varejo, já que no atacado eles não têm permissão para botar as patas. Ou alguém acredita que Trump conseguirá ressuscitar o protecionismo de mercado num país que tanto lucra com o livre comércio, correndo o risco de que ele venha a isolar-se juntamente com o Reino Unido, enquanto Europa e Ásia estariam deitando e rolando?

Por que supormos que, com Donald Trump, virá o apocalipse? Bem mais plausível é que, tendo atingido o objetivo de chegar à Casa Branca, ele tire o macacão de palhaço e volte a se comportar como quem veste terno de empresário.

Parece que, lembrando o grande Shakespeare, continuamos obnubilados pelas tempestades de som e fúria significando nada com que nos hipnotiza a indústria cultural.

A embalagem do capitalismo nos EUA vai mudar um tantinho, mas o produto continuará igual. E o que realmente importa é o seguinte: seu prazo de validade já expirou. Está na hora de deixarmos de desperdiçar tempo com bobagens e encararmos nosso verdadeiro problema, qual seja, o de evitarmos que a agonia do capitalismo, com sua degringolada econômica e catástrofes ambientais, arraste a espécie humana para a extinção.