domingo, 1 de novembro de 2015

Halloween-no-brasil

Lula assume o comando geral

Lula cumpriu o que se propunha a fazer em sua viagem a Brasília na quinta-feira: assumiu de fato o comando do PT e do governo. Para botar tudo em pratos limpos, reuniu-se com o Diretório Nacional do partido e, à noite, no Palácio da Alvorada, com os ministros que colocou no Planalto, mais o seu preposto na presidência do PT. A presidente Dilma Rousseff também estava presente. Diante dos correligionários usou e abusou de seus melhores recursos retóricos para estabelecer as novas diretrizes para tempos de guerra. Fez pose de herói e de vítima, deu conselhos e aplicou reprimendas, divertiu-se com a ironia e o deboche, permitiu-se a modéstia e a humildade, explodiu em ímpetos de valentia, tudo junto e misturado. Nos aplausos que recolheu deve ter encontrado consolo para a decadência de seu prestígio no mundo real, no qual 54% dos brasileiros afirmam que “de jeito nenhum” votariam nele em 2018.


Ordenou Lula ao PT: chega dessa história de falar mal do ministro da Fazenda, Joaquim Levy, e do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Levy, Lula sabe, é necessário para fazer o ajuste fiscal, botar as contas do governo em ordem e dar um jeito na lambança que “Dilminha” promoveu em seus primeiros quatro anos de desgoverno. Assim, conformem-se por enquanto os petistas e filopetistas remanescentes, porque “as coisas estão difíceis, mas vão melhorar”.

Quanto a Eduardo Cunha, Lula também sabe, é importante para evitar que progridam as tentativas das “elites” de promover o impeachment de Dilma. Até hoje a chefe do governo só fez e falou bobagens, mas agora ela está sob controle e é necessário que permaneça onde está para permitir que seu padrinho dê um jeito nas coisas para chegar a 2018 com alguma chance de se candidatar mais uma vez ao posto que nunca deveria ter deixado. Portanto, nada de ficar falando em contas na Suíça e irrelevâncias desse tipo, até porque não se deve “prejulgar” ninguém.

Para dramatizar a necessidade de apoio ao ajuste fiscal e enquadrar o PT, que se inclinava a formalizar um pedido de afastamento de Joaquim Levy e divulgar críticas à “política econômica” de Dilma, na reunião do Diretório Nacional Lula não teve o menor constrangimento de dar o dito por não dito. Ele afirmara, dias antes, que o ministro da Fazenda tinha “prazo de validade”. Também admitiu, pela primeira fez publicamente, o estelionato eleitoral praticado no ano passado: “Ganhamos as eleições com um discurso e, depois, tivemos que mudar o discurso e fazer o que dizíamos que não íamos fazer. E isso é um fato”. Essa confissão dá bem a medida dos extremos a que Lula está disposto a chegar para evitar o naufrágio do projeto de poder do PT, que faz água por todos os lados desde que, ao assumir o segundo mandato, Dilma meteu na cabeça que teria competência para assumir sozinha o comando político do governo.

Falando aos petistas como se já fosse candidato à Presidência, Lula preocupou-se também em minimizar a importância do cerco da Polícia e do Ministério Público Federais a si e a sua família, como consequência do inevitável surgimento de suspeitas a respeito da repentina prosperidade do clã Da Silva. Na falta de melhores argumentos, apelou para o deboche: “Disseram que uma nora minha recebeu R$ 2 milhões. Aí, vão perguntar quem é rico na família. Daqui a pouco uma nora entra com um processo contra a outra para ter o dinheiro repatriado”.

Dilma e Lula

Além da participação na reunião do diretório petista, Lula almoçou com a liderança do PCdoB, a sempre fiel linha auxiliar do PT, onde repetiu os principais pontos de seu pronunciamento aos petistas. À noite, jantou no Palácio da Alvorada com Dilma, os ministros Jaques Wagner, da Casa Civil, e Ricardo Berzoini, da Secretaria de Governo, além do presidente nacional do PT, Rui Falcão. Em todas essas ocasiões ressurgiu em grande estilo a prodigiosa metamorfose ambulante – expressão cunhada por ele próprio para demonstrar que se considera acima do Bem e do Mal. Era o líder populista que não tem o menor escrúpulo de falar apenas o que acredita que as pessoas querem ouvir ou o que as circunstâncias políticas exigem. Está aí o homem que governa de novo o País, agora e mais uma vez sem intermediários.Editorial - Estadão

É a educação, gente!


O debate político brasileiro está dominado por duas visões maniqueístas: uns não percebem os custos institucionais da derrubada de uma presidente eleita, mesmo dentro da Constituição, nem os riscos dos anos seguintes, mesmo com novo presidente; outros ignoram o esgotamento da credibilidade do atual governo e sua presidente, desmoralizada por falsas promessas, incompetência na gestão da economia e contaminação pela corrupção ao redor.

Ambas visões não percebem os riscos de o Brasil ingressar em um período de decadência, seja em função da continuidade de um governo que já nasceu condenado por seus erros, seja devido a um governo com um nome novo mas sem novidade para os rumos do Brasil.

Este debate imediatista está custando ao Brasil não enfrentar os grandes desafios de um país que, mais uma vez, perde a chance de usar seu maior recurso, sua população educada, para fazer-se uma nação eficiente, justa, democrática, com protagonismo no cenário mundial.

No lugar de avançar, entendendo a realidade do mundo global (economia baseada no conhecimento, limites ao crescimento, cooperação entre setores público e privado, fontes alternativas de energia, responsabilidade fiscal), continuamos no velho modelo — protecionismo fiscal à indústria, desprezo à inovação, consumo em vez de poupança e investimento, ocupação depredadora do território, antagonismo entre Estado e setor privado, governos quebrados. Em consequência, no lugar de enfrentarmos a crise, estamos caminhando para uma decadência histórica.

As indicações dessa decadência estão na violência generalizada que já começa a desagregar o tecido social brasileiro; está em uma política sem partidos, sem propósitos, sem ética, onde a juventude não vê políticos como líderes admirados, mas como aproveitadores de recursos públicos; está em uma economia que se desindustrializa, sem dar os passos para um PIB baseado na alta tecnologia, sem competitividade, produtividade e capacidade de inovação; está nas finanças públicas condenadas pela própria Constituição a gigantescos déficits provocados por gastos com o passado: os pobres que não emancipamos, um sistema de aposentadoria insustentável, uma dívida financeira impagável; um país sem recursos financeiros para construir seu futuro.

Cada um destes problemas exige reformas profundas, mas todos eles dependem de educação de qualidade para todos. Por isso, ao assistirmos ao debate atual entre impeachmistas e antiimpeachmistas, vale a pena lembrar o que disse James Carville, chefe da assessoria do então candidato Bill Clinton, ao interromper a discussão entre assessores sobre qual era o principal problema dos EUA: “É a economia, estúpido!”.

A continuação ou a interrupção do mandato da presidente Dilma não será suficiente para trazer saída à crise e evitar a decadência, se não entendermos que, para o Brasil: “É a educação, gente!”

O PMDB próximo da revogação da Lei Áurea


A semana que passou entrará na crônica política como aquela em que as máscaras caíram. No caso, do PMDB, ao apresentar um elenco de propostas ditas para tirar o país da crise, mas, na verdade, feitas para favorecer os já bem favorecidos, sem a menor intenção de debelar as agruras do trabalhador, a começar pelo desemprego em massa. Pelo contrário, a conta continuará indo para os assalariados, em especial os de baixa renda. Assim como para os sem-renda e sem-salário.

Significará o quê extinguir as indexações ao salário mínimo dos benefícios sociais, inclusive os previdenciários? Apenas, nivelar por baixo a maioria da população já exposta ao aumento de impostos, taxas e tarifas dos serviços públicos, sem falar no custo de vida.

Proibir as aposentadorias para mulheres com menos de 60 anos, e para os homens abaixo dos 65, exprime a imposição do trabalho forçado à legião que no campo e nas cidades começou a ganhar a vida aos doze anos ou menos. Trata-se da revogação da Consolidação das Leis do Trabalho, último refúgio do operário e do camponês.

Outra conquista social vai por água abaixo: a obrigação constitucional de gastos mínimos com Educação e Saúde. Os governos aplicarão o que quiserem nesses dois setores até agora beneficiados com recursos públicos. Quem sabe dessa vez circulará o trem-bala?

Presidentes da Republica, governadores e prefeitos ficarão proibidos de custear suas administrações com recursos superiores ao crescimento do PIB, ou seja, revoga-se o instituto do crédito. Menos, é claro para o sistema financeiro.

Transferir para a iniciativa privada ativos e concessões nas áreas de infraestrutura e logística significa afastar o poder público de suas atribuições, ampliando-se ao infinito as privatizações do patrimônio nacional. Melhor dizendo, naquilo que restou da rapinagem promovida por Fernando Henrique, Lula e mesmo Dilma.

Até os entendimentos que garantem a soberania e a independência dos países da América Latina serão extintos, com a imposição de acordos regionais de comércio com as nações ricas do Hemisfério Norte. Volta-se aos tempos do colonialismo.

Pior ficará a vida do trabalhador com a prevalência das convenções coletivas sobre as leis trabalhistas. Não fica difícil prever o resultado dessas convenções onde o peso empresarial sempre será maior do que o operário. Afasta-se conquista que vem dos tempos de Getúlio Vargas, em favor do diálogo entre a guilhotina e o pescoço.

E vão por aí as sugestões do partido que um dia representou a modernidade democrática e social. Estivesse entre nós o Dr. Ulysses e certamente estariam expulsos os autores dessa carta de rendição ao que de mais sórdido apareceu nas relações entre o povo e o partido. Ninguém se espante se a próxima proposta do PMDB vier a ser a revogação da Lei Áurea…

Tão diferentes, tão iguais

Eles são os maiores partidos do país, têm as maiores bancadas no Congresso Nacional, por duas vezes consecutivas emplacaram a mesma dobradinha na Presidência e na vice-presidência da República. Mas vivem às turras. Parceiros de eleição e reeleição, PT e PMDB se diferem e se igualam em quase tudo. São e estão no governo. E se opõem a ele.

Ambos abusam da mania de cobrir com vestes de interesse nacional o olhar fixo que têm em seus próprios umbigos. A “Resolução política sobre a conjuntura”, aprovada pelo Diretório Nacional do PT, dia 29, e o documento “Uma ponte para o futuro”, liberado pelo PMDB na mesma quinta-feira, mais uma vez provam isso.
São textos opostos, impossíveis de conviver sob o mesmo teto. Aplicar qualquer um deles obrigaria o expurgo do outro. Algo que até podem desejar, mas que não está na conta nem do PT – que precisa alucinadamente dos peemedebistas, mesmo que só possa contar com alguns deles -, nem do PMDB, que depois de galgar os melhores postos do primeiro escalão avança ávido sobre os segundo e terceiro.

Na prática, nem o PT pretende aplicar as teses do século XIX expostas em sua resolução, nem o PMDB tem como fazer valer as ideias impressas, a maior parte delas muito semelhantes às expressas por Armínio Fraga, economista que Aécio Neves chegou a anunciar como seu ministro da Fazenda caso vencesse Dilma Rousseff.

Com alarmismo quanto ao avanço das forças retrógradas de direita, que estariam interessadas em desestabilizar o país e, em especial, penalizar o ex Lula, o PT pretende, com a sua resolução, atrair o público que até pouco tempo era cativo e já não lhe é fiel.

Já o PMDB, partido que integrou todos os governos desde a redemocratização, sempre soube quando e a quem apoiar. Mais ainda, a hora precisa do desembarque.

Na campanha de 2014 se postou ao lado de Dilma e, portanto, contra as propostas tucanas que agora defende. Diante do fracasso da presidente, das crises econômica e política, quer sair bem na fita. Posa como salvador da pátria, como agremiação que se preocupa com os destinos do Brasil.

Em seu documento, defende o óbvio – responsabilidade fiscal, controle de gastos e privatização da infraestrutura -, mas fica caladinho quanto aos protagonistas na mais grave crise ética do país. Não dá um pio sobre Eduardo Cunha, atolado até muito acima do pescoço com múltiplas contas na Suíça, sobre Fernando Baiano e a Operação Lava-Jato.

O presidente da Câmara é um caso à parte. Cunha manipula não só a presidente Dilma, a quem pode impor o processo de impedimento do mandato, o PT e o PMDB, mas também a oposição – PSDB e DEM à frente. Hoje, a dinâmica da política está nas mãos dele.

Aqui, mais um traço em comum. Ao PT de Lula, que já deu a ordem para que não mexam com Cunha, e ao PMDB, que finge que não é com ele, nada melhor do que ter a oposição como cúmplice da imoralidade.

PT e PMDB agradecem.

O cerco à corrupção


Ponto um: o Brasil sairá mais limpo da crise. Ponto dois: a semente da ética na política, mesmo sob seca intermitente na roça congressual, vicejará. Ponto três: a tão ansiada renovação de quadros começa a se vislumbrar. Ponto quatro: a gestão pública vai encontrar, mais cedo ou mais tarde, o caminho da eficiência. Ponto cinco: o Brasil tem jeito.

Para começo de conversa, é oportuno lembrar que a maior herança maldita a que tanto governantes se referem quando iniciam suas administrações é coisa do passado. A diferença é que, hoje, ela é registrada por câmeras em ambientes federais, estaduais e municipais, exibida em documentários com roteiro e atores. De falas comprometedoras a dólares na cueca, já vimos quase tudo.

O fato é que o DNA das 15 capitanias hereditárias em que o Brasil foi dividido, em 1534, por D. João III, ainda se faz presente, hoje, nas 27 unidades federativas e nos mais de 30 entes que povoam a constelação partidária. Ao serem flagrados no mensalão e no petrolão, enfiando propina nas contas (aqui e no exterior) e articulando negócios de grupos, parceiros de alto coturno continuam a transformar o espaço público em extensões de suas cozinhas.

Interessante é observar que os desmandos na administração pública ocorrem sob estruturas e controles desde os tempos da Colônia. Em 1549, o velho Tomé de Souza, ao instalar o governo geral, deu forte demonstração de sua autoridade. Mandou amarrar um índio acusado de assassinar um colono em Salvador (BA) na boca de um canhão, que o fez em pedaços pelos ares. O ato ficou no espetáculo. A criminalidade, em vez de diminuir, se expandiu.

Ao tomar posse como regente do Império, em 1835, Diogo Feijó prometia um governo infatigável na meta de executar as leis penais. Brandia o refrão: "A impunidade deve cessar". Pretendia o regente pôr um fim à cultura do perdão que fincou raízes no País desde os tempos (1534/1536) em que o rei de Portugal, d. João III, para incentivar o povoamento do território, estabelecia que nenhuma pessoa poderia "ser presa, acusada, nem proibida, nem forçada, nem executada de maneira alguma", com exceção de crimes cometidos por heresia, traição, sodomia e moeda falsa.

O esforço de Feijó foi em vão. De lá para cá, o epíteto de "campeão da impunidade" tem sido recorrente para caracterizar os nossos Trópicos.

As tentativas de ajustar os ponteiros da justiça na área criminal se defrontam com obstáculos de difícil travessia, entre os quais se contabilizam mazelas que abrigam o ethos nacional: patriarcalismo, mandonismo, grupismo, familismo.

Dispomos, hoje, de um fato arsenal para combater a corrupção, a partir da Lei de Responsabilidade Fiscal, que proíbe gastos acima dos orçamentos dos entes federativos. Já o art. 37 reza sobre a administração pública direta e indireta nas esferas dos Poderes, pregando os princípios da legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência. Há o Decreto Lei 201/67, que estabelece a responsabilidade de prefeitos e vereadores. A Lei 8.027/90 expõe normas de conduta de servidores públicos civis.

Há ainda a Lei 8.429/92, que regula as sanções aplicáveis aos agentes públicos em casos de enriquecimento ilícito no exercício de mandato, cargo e função na administração pública.

Por último, a Lei 8.730/93, tratando da obrigatoriedade de declaração de bens e ren­das para o exercício do cargo.

Bem, essa é uma parcela do cipoal legal.

Na outra banda, vemos os organismos de controle e investigação. O Ministério Público procura pegar desmandos gerais dos Poderes, fiscalizando o cumprimento das leis e defendendo os interesses da sociedade.

Temos Comissões Parlamentares de Inquérito, sob responsabilidade do Poder Legislativo, instrumento que geralmente acaba contaminado por vieses partidários, servindo de escudo a interesses personalistas. (Veja-se essa CPI da Petrobras, que acabou sem grandes resultados). Já a Polícia Federal, diligente e proativa, mostra disposição para investigar ilícitos, enquanto juízes atentos expendem mandados de busca e apreensão.

Dito isto, vale perguntar: se há leis, entidades respeitáveis para torná-las eficazes e até disposição política para se implantar o império da lei e da responsabilidade, por que a corrupção no País se alastra?
Qual a razão deste fenômeno se abrigar com tanta força nos domínios de um governo de quem se esperava ser o símbolo da ética e da moral? (Não era assim que o PT se apresentava há 30 anos?)

Tentemos responder: a cultura política brasileira acaba driblando a rigidez do estado legal. Há sempre uma saída, uma alternativa, uma composição capaz de abrir os vãos da flexibilidade na interpretação e na aplicação da lei, na punição dos condenados pela justiça e no próprio encaminhamento de processos e recursos. Ademais, só mais recentemente o Judiciário ganhou a admiração social. A justiça ainda é considerada lerda.

Outra resposta: os governos não têm podido conter a avalanche que inunda os currais do presidencialismo de coalizão. Soçobrariam caso continuassem fechados. Veja-se a situação atual. O governo abriu flancos e escancarou alianças. Os sôfregos partidos aliados, aproveitando-se da inapetência política da governante, passaram a reivindicar espaços maiores. O descontrole impera.

A res publica torna-se coisa repartida entre aliados. A corrupção avança. E, de tão flagrante, deixa-se mostrar. Descobre-se gigantesca rede de corrupção solapando as bases do Estado.

Impressiona a desfaçatez com que dirigentes querem se livrar dos malfeitos.

Para alguns, nunca o Brasil foi tão ético e moral. A dirigente exclama: “em meu governo não há corrupção”. Se ocorriam escândalos, não eram do conhecimento do governo.

Mas, e as licitações realizadas, a teia de negócios, as operações verticais mostrando o fluxo hierárquico da gatunagem, ocorreram ou não na esfera da administração? É crível supor que nada disso era do conhecimento do governo?

O sábio Millor

Malabaristas de esterco

Da oposição em Brasília aos líderes de protestos, nenhum adversário relevante do PT denuncia que o grande problema de Dilma não é gerencial ou administrativo, mas mental.

Em 2003, Jair Bolsonaro concedia entrevista à RedeTV!, no Salão Verde do Congresso. Defendia a redução da maioridade penal e a prisão dos menores Champinha e Pernambuco, que mataram um jovem e estupraram a namorada dele durante mais de três dias, antes de esfaquear e degolar a menina.

Em uma inversão psicótica, que só mesmo um esquerdista seria capaz de fazer, Maria do Rosário, que no plenário defendia um bom tratamento do Estado à dupla Champinha e Pernambuco, aproxima-se de Bolsonaro e da equipe da RedeTV! e começa a dizer que o deputado carioca promovia o estupro. Bolsonaro pede para o cinegrafista filmar a deputada e pergunta:

– Eu sou estuprador agora?

Ao que Maria do Rosário responde:

– É. É.

A réplica de Bolsonaro vem num sarcasmo hiperbólico:

– Eu não ia estuprar você porque você não merece.

A partir daí, Maria do Rosário, após apresentar-se como uma provocadora das mais ralés, dispara sua já conhecidíssima metralhadora de lamúrias e auto-vitimização.

Desde então, tem-se feito de tudo para colar em Bolsonaro a pecha de apologista do estupro, machista etc. Sabe-se que ele jamais chegou perto de estuprar alguém e que ele disse que não estupraria Maria do Rosário. Mas pouco importa o que dizem ou fazem os inimigos da esquerda. Dispondo dos mais potentes veículos de comunicação do país, os histéricos esquerdistas não se constrangem em proceder com malabarismos lingüísticos quando o negócio é detonar um adversário – ou proteger um aliado. Como exemplo desse outro extremo a que vão os malabaristas da esquerda, pensemos nos duplo-twist-carpados de articulistas de Zero Hora, Folha, Estadão, Globo, Globo News, enfim, de toda grande mídia, quando o assunto é amenizar as insanidades ditas por Dilma Rousseff.

* * *

Recentemente, a presidente sugeriu que se estocasse vento, a fim de obter energia elétrica. Imediatamente, o exército da relativização esquerdista tratou de atenuar a besteira dita por Dilma. A mesma trupe que viu todo tipo de intenções escusas e mal-disfarçadas no deboche grosseiro de Bolsonaro enxergou uma profunda compreensão científica e tecnológica na sugestão da ex-guerrilheira. E este é apenas um exemplo; a cada estupidez dílmica, os artistas circenses da insanidade disparam seu arsenal de relativizações.


A trupe tem sugerido que Dilma pode estar certa, pois é possível mesmo reservar energia eólica, ou mesmo gerar energia com ar comprimido estocado... Sim, tudo isso é possível, mas Dilma não faz a menor idéia disso; aliás, Dilma não faz idéia de como se começa e termina uma oração em seu próprio idioma. A fala da presidente deixa claro que ela sugere literalmente a captação de vento para uso posterior; a comparação que ela faz com a energia hidrelétrica acaba com qualquer dúvida. Todavia, assumamos a mesma bondade dos malabaristas lingüísticos (que, não por acaso, são também defensores das maquiagens contábeis, das pedaladas fiscais) e consideremos que Dilma tenha pensado em dizer o que eles explicam: o simples fato de ela articular a proposição com menos habilidade do que um papagaio o faria já é vexame suficiente.

Toda e qualquer argumentação em defesa de Dilma Rousseff esbarra no fato incontestável e aterrador de que ela não sabe falar. Não me refiro a erros gramaticais ou equívocos semânticos. Isso eu, você, o Lula – especialmente o Lula –, enfim, todos nós cometemos. Refiro-me à comunicação mais básica, simples e direta possível. Quando fala, Dilma parece uma mistura do E.T. do filme com um índio em recente contato com a civilização, após abusar do cachimbo da paz.

Se o indivíduo não apresenta nenhuma deficiência fonoaudiológica e, ainda assim, é incapaz de comunicar-se da forma mais elementar possível, resta claro que sua deficiência é mental. Os deficientes mentais devem ser tratados com amor e respeito, mas isso não significa que devemos ceder-lhes cargos por pura compaixão. “Oh, pobrezinha, não sabe comunicar-se... Vamos fazê-la presidente da República, para compensar seu sofrimento mental.” Não!

De burro, ingênuo, cúmplice, quadrilheiro em potencial e sociopata todo esquerdista tem um pouco. Já a deficiência mental meramente neurológica não é tão recorrente. Bem é verdade que a longa e continuada exposição às inversões psicóticas do esquerdismo podem, sim, prejudicar a saúde mental. Contudo, Dilma Rousseff, infelizmente, está em outra categoria. Ela não é apenas o resultado da psicopatia esquerdista, como o são os pretensos heróis José Dirceu e José Genoíno, por exemplo, ou como o é Lula, que se vangloria de ser analfabeto e se compara a Jesus Cristo. Como petista, Dilma abunda em defeitos éticos e morais, mas seu principal problema é cognitivo – e aí não há retórica que defenda.

Sinto até alguma pena de Rousseff. Só não me dôo em comiseração por que ela é descarada o suficiente para achar que pode liderar qualquer coisa. A estupidez pode ser inata, mas abusar dela é uma opção – e Dilma não respeita suas limitações. Mesmo após falir uma lojinha de R$ 1,99 (no auge desses empreendimentos), aceitou candidatar-se ao cargo máximo da nação; e, depois, à reeleição.

Da minha parte, rogo por urgentes medidas sanitárias. Que nossos impostos sirvam para amparar os hipossuficientes e incapazes, como Dilma Rousseff. Falo sério, de coração na mão. Que deficientes mentais sejam tratados devidamente, mas sem exageros, fora do gabinete da presidência da república.

Aliás, basta sabermos que uma pessoa com evidentes deficiências cognitivas acedeu ao cargo máximo da nação e é defendida por um exército tão ou mais insano para diagnosticarmos a insuficiência moral e intelectual do Brasil. Mas aí percebemos que, da oposição em Brasília aos líderes de protestos, nenhum adversário relevante do PT denuncia que o grande problema de Dilma não é gerencial ou administrativo, mas mental. Não denunciam nem por dever (em defesa da nação), nem por simples, óbvia e honesta estratégia político-eleitoral – uma atitude que alia irresponsabilidade, inépcia, estupidez, covardia e subserviência ao politicamente correto esquerdista.

Ainda tem pior




O pior (para o Brasil) é não acontecer nada
Fernando Henrique Cardozo, em entrevista na tevê

'Anoiteceu, o sino gemeu'

Estamos em outubro mas Papai Noel está sobrevoando com o trenó os céus do Brasil da crise. Não só se enfeitam as lojas. O espírito natalino faz bimbalhar os sinos em Brasília. E o cheiro desse espírito fede longe.

A pacificação entre Dilma e Cunha é a maior mostra de que Natal vai descendo sobre Brasilía. Quem sabe, talvez os dois troquem presentes de amigo oculto de tão imbuídos com os ares de confraternização que envolvem a capital.

Com a cabeça na guilhotina, conseguiram um adiamento da degola. O presidente da Câmara vai empurrando com a barriga e a legião evangélica uma possível queda por falta de decoro. Dilma foi mais longe, com poder maior, conseguindo que as pedaladas de 20124 só cheguem ao Congresso no príximo ano.

Lula, o chefe de quadrilha mais procurado nestes tempos, depois de meses enfim será ouvido pela Polícia Federal, mas como "informante" - de volta a velhos tempos ditatoriais, segundo as más línguas. Ou seja, nenhum risco de prisão quando revelar que não sabe, não viu nada, não ouviu nada.

Também muitos políticos, principalmente de PP e PT, suspiraram aliviados quando o relator da CPI, Luiz Sérgio, distribuiu antecipadamente uma gigantesca pizza da paz. Nenhum foi citado pelo deputado, que seguiu à risca o roteiro das histórias policiais de quinta categoria. O Sherlock Holmes de bigodes descobriu que o culpado pelo petrolão é o mordomo, ou seja, o ex-tesoureiro do partido, João Vaccari.

Lulinhazinho é outro que parece abençoado pelas graças natalinas. Agora ganhou definitivamente a blindagem governamental, a pedido desesperado do paizão Pìxuleco, que deve ser estendida também a Lulinha. Pixulequinho passou para o rol dos protegidos pelo governo como os filhos de ditaduras num flagrante e criminoso rasgar da Constituição. Passa a vigorar no país, o v elho lema: Quem tem progenitor na "famiglia" não morre pagão.
Com tão farta distribuição de benesesses natalinas para os alcunhados poderosos, há de se suspeitar seriamente do grande benemérito. Papai Noel, com aquela roupa vermelha, não engana mais ninguém e descaradamente presenteia seus cumpañeros.

Resta-nos cantar: 
"Já faz tempo que pedi
Mas o meu papai noel não vem
Com certeza já morreu
Ou então felicidade
É brinquedo que não tem...

Plantação de bananeiras

Há poucos dias, ao ler que a churrascaria Plataforma está fechando, me veio uma lembrança de Tom Jobim, que durante muito tempo ia lá quase todo dia, fazendo do local uma extensão de sua casa. Adorado pelos garçons (e por qualquer pessoa que o conhecesse de perto), o maestro gostava de ficar um tempão sentado à mesa, bebericando e conversando.

Nesses bate-papos, dizia coisas provocadoras e divertidíssimas. Fazia diagnósticos originais sobre o Brasil, que amava com toda a dor de seu coração. Dizia, por exemplo, que o Brasil não é para principiantes. Ou que é um país úmido demais, e nele tudo se estraga fácil, mais depressa que qualquer fruta: pode às vezes passar logo do promissor para o podre, sem chegar a amadurecer. Ou constatava que no Brasil fazer sucesso é ofensa pessoal.


Uma dessas frases vinha acompanhada do gesto de mostrar as colunas do salão, que ostentavam uma estranha pintura a subir e se ramificar pelo teto, como se fossem galhos se espalhando lá em cima, mas sem a correspondente folhagem que constituiria a copa da eventual árvore. Acabavam parecendo raízes que buscavam o alto, em vez de se aprofundarem no solo. Tom apontava e dizia:

— Igualzinho ao Brasil, olha só.

Para quem estranhasse, explicava melhor:

— O Brasil é um país de cabeça pra baixo. É só olhar no mapa pra ver. Aquela coisa enorme, tentando se equilibrar numa pontinha fina.

Enquanto a gente imaginava a base de um triângulo com a Amazônia imensa, ligada a todo o Nordeste, pesando sobre o pobre Arroio Chuí, na pontinha do Rio Grande do Sul, ele repetia:

— Um país de cabeça para baixo. Fica difícil...

Se fosse paulista, talvez falasse num país de ponta cabeça. De qualquer jeito, de pernas para o ar. Plantando bananeira. Algo como uma realidade invertida, um outro lado do espelho. Um negativo da foto. Uma sociedade pelo avesso.

A toda hora os fatos comprovam que o maestro tinha razão. Passemos por cima das críticas de Lula e do PT ao ajuste fiscal necessário, proposto pelo ministro da Fazenda de seu próprio governo. E da certeza de contarem com os votos da oposição, nesse afã destruidor. Tudo ao contrário do que deveria.

Ainda esta semana, a divulgação do depoimento de um colaborador da Lava-Jato confirma essa plantação de bananeiras: uma reunião com Eduardo Cunha para tratar da cobrança de propina teve de ser interrompida porque colidia com a agenda do deputado que, naquele momento, teria um compromisso religioso. Pasmos, aprendemos ainda que o presidente da Câmara não apenas é um homem com Jesus, mas também põe seus carros de luxo em nome da empresa Jesus.com. Que fim levou o mandamento de não usar Seu santo nome em vão?

E como é que a oposição o apoia, e não toma conhecimento dos documentos arrolados pelo Ministério Público, incluindo as contas não declaradas na Suíça? Como os tucanos não se envergonham de estar entre os aliados do presidente da Câmara? Como explicar que o projeto do mesmo Cunha restringindo o direito ao aborto em caso de estupro seja defendido pelo deputado Evandro Gussi, do PV, partido que se orgulhava de ter a cidadania feminina entre seus valores? E ainda negue que mãe solteira constitui família com seus filhos...

E como o relatório final da CPI da Petrobras, depois de desperdiçar um tempão e um dinheirão, desmoraliza o Congresso e recusa analisar a conduta de parlamentares? Como alega que não é Conselho de Ética, e ainda tem a desfaçatez de atacar o instituto jurídico da colaboração premiada, responsabilizar os investigadores e propor o indiciamento de pessoas que nem sequer foram nominadas? Isso tudo depois de contratar a Kroll por um milhão e mandar parlamentares a Londres pagos pelos nossos impostos.

São infindáveis os exemplos desse país de pernas pro ar. Como frisou o secretário José Mariano Beltrame, é impressionante constatar a indiferença geral diante de tortura e morte de policiais, banalizadas, sem provocar indignação na sociedade, como se devessem ser rotina. Espantoso. Igual ao roubo de armas da polícia dentro de sua própria casa, inclusive o quartel-general e o palácio do governo.

De tanto plantar bananeira, vamos acabar virando uma triste Banana Republic. Acreditando piamente que isso é solução. Afinal, aprendemos no carnaval: banana engorda e faz crescer.
* * *

Não chega a ser de pernas para o ar, mas é uma reviravolta. Quando a presidente Dilma assumiu, no primeiro mandato, a elogiei de público, pela coragem em romper o silêncio do governo Lula e se manifestar contra a sentença de morte por apedrejamento da iraniana Sakineh Ashtiani, condenada por adultério. Agora, quando quem ocupa a Presidência é Dilma, que mostra respeitar a liberdade de expressão no Brasil, ela bem que podia ter uma palavra em defesa do escritor angolano Luaty Beirão, em greve de fome, preso em Luanda com outros, por ativismo contra o regime de José Eduardo dos Santos — no poder desde 1979, propiciando que sua filha Isabel encabece a lista da “Forbes” de hipermilionários africanos.
Ana Maria Machado 

Cardozo acha que Lula tem direito de escolher hora para ser intimado

No último dia do governo Lula, o chanceler Celso Amorim presenteou com passaportes diplomáticos quatro filhos e três netos do chefe. Para justificar a sabujice ilegal, que atendeu a um pedido verbal do pai amantíssimo e avô extremoso, Amorim invocou uma norma que permite ao ministro das Relações Exteriores premiar com o documento “pessoas que devam portá-lo em função do interesse do país”.

Passados quase cinco anos, José Eduardo Cardozo reiterou nesta quinta-feira que também os ministros de Dilma acreditam que todos são iguais perante a lei, mas Lula e seus descendentes são mais iguais que os outros. Num país governado por gente séria, o Ministério da Justiça teria tanto a ver com enrascadas em que se metem parentes de um ex-presidente da República quanto a torcida do Flamengo com a seleção de hóquei sobre a grama do Paquistão.


No grotão desgovernado pelo lulopetismo, Cardozo mandou às favas a altivez, curvou-se à vontade do chefão e interpelou o diretor-geral da Polícia Federal, Leandro Daiello, por ter perturbado numa hora imprópria o sossego do caçula envolvido em histórias muito mal contadas. De joelhos, o campeão do servilismo quer saber por que Luís Cláudio Lula da Silva recebeu às 11 da noite a intimação para abrir o bico sobre o caso da compra de uma medida provisória.

O ministro acha que a PF agiu “fora do procedimento usual”. Poderia ter feito a gentileza de traduzir o besteirol em juridiquês: “fora do procedimento usual” quer dizer “fora do horário de expediente (e sem a autorização do intimado)”. Todos os cidadãos podem receber essa espécie de visita indesejada a qualquer momento. Menos os Lula da Silva: tal sobrenome exige que os tiras solicitem uma audiência (com pelo menos uma semana de antecedência) e torçam para que a agenda do intimado não esteja atulhada de reuniões suspeitas.

Essa gente precisa estudar Processo Penal urgentemente, sugere o comentarista Nobile, que oferece aos bacharéis de quinta categoria a seguinte lição: “No procedimento criminal, que envolve desde a fase de investigação e inquérito, as intimações podem ser feitas a qualquer hora do dia e da noite, inclusive aos domingos e feriados. É no processo civil que há restrições de horário (das seis às vinte horas), salvo autorização judicial expressa (artigo 172, parágrafo II, do Código de Processo Civil). Portanto, os agentes federais agiram rigorosamente dentro da lei”.

Se subserviência descarada algum dia virar crime, Cardozo não escapará de uma intimação. Tomara que a PF marque a entrega para o meio da madrugada. Ele receberá os agentes da lei com as mesuras de quem sabe que tem culpa no cartório.