terça-feira, 15 de outubro de 2024
O poderoso chefão
É mais proveitoso para o detentor do poder se suas vítimas são inimigos; de qualquer modo, os amigos produzem resultado semelhante. Em nome de virtudes varonis, exigirá o mais difícil, o impossível, de seus súditos. Não lhe importa que estes sucumbam na execução da tarefa. É capaz de convencê-los de que é uma honra fazê-lo por ele. Através de rapinagens, cujo produto permite-lhes de início desfrutar, ele os ata a si. Servir-se-á então da voz de comando, a qual foi como que talhada para seus objetivos (não podemos, contudo, encetar aqui uma discussão detalhada dessa voz de comando, que é de extrema importância). É assim que, se entende do que faz, fará deles massas belicosas, incutindo-lhes ideias sobre a existência de tantos inimigos perigosos que, por fim, seus seguidores não poderão mais abandonar a massa de guerra que compõem.
Mas a real intenção de um verdadeiro detentor do poder é tão grotesca quanto inacreditável: ele quer ser o único. Quer sobreviver a todos, para que ninguém sobreviva a ele. Quer furtar-se à morte a todo custo; assim, não deve haver ninguém, absolutamente ninguém, que possa matá-lo. Jamais se sentirá seguro enquanto homens, quaisquer que sejam, continuarem existindo. Mesmo seu corpo de guarda, que o protege dos inimigos, pode voltar-se contra ele. Não é difícil provar que sempre teme secretamente aqueles a quem dá ordens. Sempre o assalta, também, o medo dos que lhe estão mais próximos.
Elias Canetti, "A consciência das palavras"
Mas a real intenção de um verdadeiro detentor do poder é tão grotesca quanto inacreditável: ele quer ser o único. Quer sobreviver a todos, para que ninguém sobreviva a ele. Quer furtar-se à morte a todo custo; assim, não deve haver ninguém, absolutamente ninguém, que possa matá-lo. Jamais se sentirá seguro enquanto homens, quaisquer que sejam, continuarem existindo. Mesmo seu corpo de guarda, que o protege dos inimigos, pode voltar-se contra ele. Não é difícil provar que sempre teme secretamente aqueles a quem dá ordens. Sempre o assalta, também, o medo dos que lhe estão mais próximos.
Elias Canetti, "A consciência das palavras"
Emissões de metano da carne e lacticínios rivaliza com 100 maiores empresas de combustíveis fósseis
Um novo relatório publicado pelo Greenpeace Nórdico estimou que as emissões de metano de 29 empresas do setor da carne e lacticínios rivalizam com as das 100 maiores empresas mundiais do setor dos combustíveis fósseis para a emissão do gás. E aponta que mudanças sistemáticas na produção e no consumo em países de renda média e alta poderiam proporcionar um efeito de arrefecimento significativo até 2050, com alguns resultados positivos já em 2030.
Em contrapartida, se não for regulamentado, a projeção é que o setor de produção de carne e lacticínios, sozinho, aqueça o mundo em mais 0,32°C até 2050. As novas projeções baseiam-se no cenário da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) para uma trajetória de manutenção do ritmo atual de produção até 2050.
Atualmente, os cinco maiores emissores de metano do setor da carne e lacticínios são JBS, Marfrig, Minerva, Cargill e Dairy Farmers da América, segundo o relatório. As emissões dessas empresas superam as emissões combinadas de metano dos grandes gigantes dos combustíveis fósseis como a ExxonMobil, Shell, Total Energies, Chevron e BP.
A produção global de carne e lacticínios é impulsionada por uma série de grandes empresas e segue crescendo como se não existisse amanhã. No Brasil, pastagens ocupam cerca de 90% da área desmatada na Amazônia até 2023, segundo o Mapbiomas, e o relatório do Greenpeace Nórdico mostrou como as emissões de metano da pecuária rivalizam com as da indústria de combustíveis fósseis (para metano).
Segundo o relatório, a JBS, o maior produtor de carne do mundo, e conhecida por seu péssimo histórico de envolvimento com o desmatamento, é responsável por mais emissões de metano do que a ExxonMobil e Shell juntas. De fato, a empresa ocuparia o 5º lugar em comparação com as maiores empresas emissoras de metano no setor de fósseis.
Mudanças na forma e intensidade da produção de carne e laticínios é um passo crucial para mitigar as emissões de metano e desacelerar o aquecimento global – e a maneira mais eficaz de fazer isso é fazer a transição para um sistema de produção de alimentos que seja muito mais justo para nós, os animais e o planeta.
Portanto, precisamos cortar o metano tanto das grandes empresas de criação de animais, como das grandes empresas petrolíferas. Embora a diminuição das emissões de metano possa reduzir o ritmo do aquecimento global, segue sendo essencial eliminar gradualmente a emissão de CO2 , produzido em grande parte devido ao uso de combustíveis fósseis. Só assim poderemos para lidar com o caos climático e estabilizar o clima.
O agronegócio, que inclui a indústria de carnes e laticínios, vem deixando um rasto de destruição em todo o planeta, contribuindo fortemente para a crise climática, sendo as emissões de metano uma parte significativa do problema. Na questão do clima, o setor agropecuário precisa ser visto também como parte do problema, e ser chamado a reduzir drasticamente suas emissões.
Neste sentido, governos ao redor do mundo (incluindo o Brasil) devem: a) atuar a partir de leis e metas oficiais para reduzir as emissões da agropecuária, incluindo o gás metano; b)obrigar as empresas a reportar publicamente sobre suas emissões; c) introduzir políticas para reduzir o consumo exagerado de proteína animal incentivando dietas mais sustentáveis, d) fomentar uma transição ecológica justa, e dentre as ações, deve estar o redirecionamento de fundos.
A dança da chuva
Era uma vez um nativo, à bordo do seu carrinho, às margens da estrada Manaus-Manacapuru, vendo um esquadrão de bombeiros assistindo, todos perplexos, à floresta amazônica começar a pegar fogo… sozinha! “Combustão espontânea?”, gritou um bombeiro. “Isso só acontece em filmes!”, disse outro. Mas ali estava ela, a floresta um dia chamada de úmida, agora se incendiando do nada. Os bombeiros, impotentes, sugeriram ligar para as universidades. “Precisamos da ajuda científica in-ter-na-ci-o-nal!” Um pesquisador respondeu: “Se tivermos mais dois verões assim, nem restará floresta para nós estudarmos!” O esquadrão, atônito, concordou. Restava apenas torcer, orar e fazer a Dança da Chuva, dos índios americanos….
E não me venham com a velha lenga-lenga de que o caboclo está tocando fogo para plantar ou fazer campo pra gado.
A floresta, antes conhecida por sua umidade constante e por abrigar uma biodiversidade incomparável, agora está se tornando mais seca a cada ano, com temperaturas mais altas e uma redução alarmante nos índices de chuva. As árvores, que antes eram um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, estão agora vulneráveis a incêndios frequentes, muitas vezes iniciados por atividades humanas, mas que, dadas as condições atuais, parecem surgir de forma quase mágica. A “combustão espontânea” da floresta, embora seja um termo figurado, representa bem o que muitos cientistas têm alertado: a Amazônia pode estar caminhando para um ponto de não retorno.
O esquadrão de bombeiros à beira da estrada, atônito, representa a nossa impotência diante desse cenário. Eles estão ali, mas não sabem como agir. Afinal, como combater um incêndio que parece brotar da própria terra? No fundo, eles sabem que a solução não está apenas na água e nas mangueiras, mas nas mãos dos cientistas e na colaboração internacional para entender e mitigar as causas desse desastre ambiental.
A situação atual da Amazônia requer ação imediata e uma mobilização massiva da comunidade científica internacional. É imperativo colocar os institutos de pesquisa para trabalhar. Precisamos de soluções baseadas em ciência e tecnologia, e isso só será possível com a união de universidades e centros de pesquisa do Brasil e do mundo. Instituições com grande poder de pesquisa, como as universidades federais e estaduais do país, além de centros internacionais de excelência, devem ser envolvidas nesse esforço.
Os cientistas precisam investigar as mudanças climáticas que estão intensificando a seca na Amazônia e aumentar o monitoramento sobre o uso da terra. O desmatamento desenfreado, a conversão de áreas florestais em pastagens e a extração ilegal de madeira são fatores que tornam a floresta ainda mais vulnerável ao fogo. A presença de grandes áreas desmatadas cria uma espécie de “efeito dominó”, onde incêndios florestais se espalham com maior facilidade, devastando o que resta de mata nativa. E, no ritmo em que estamos, a Amazônia pode não resistir a mais dez verões severos como os que temos enfrentado. No Amazonas, o programa “COMPANHEIROS DAS AMÉRICAS”, em que o Amazonas é o estado irmão do Tennessee, as duas universidades estaduais poderiam começar uma colaboração, pois o know-how do estado americano, em barragens e plantações de várzeas, é um dos maiores do mundo.
Além da questão climática, há também a falta de fiscalização e políticas públicas efetivas que inibam a destruição da floresta. Sem controle, os incêndios — espontâneos ou não — continuarão a se proliferar. Um ponto crucial é a necessidade de criar mecanismos eficazes de prevenção de incêndios e educação ambiental para as populações locais e os produtores rurais.
As universidades brasileiras, com sua vasta capacidade de pesquisa, são um ativo inestimável nesse processo. Contudo, precisamos também de ajuda externa. As parcerias com universidades estrangeiras, especialmente aquelas especializadas em clima e biomas tropicais, podem trazer novas tecnologias e abordagens inovadoras para salvar a floresta. A cooperação internacional é essencial, porque a Amazônia não é só brasileira — ela é patrimônio da humanidade.
Se não agirmos agora, a floresta amazônica pode se transformar, em poucos anos, de um santuário exuberante em um deserto carbonizado. A situação pode até parecer absurda, como um esquadrão de bombeiros assistindo impotente à “combustão espontânea” da floresta, mas não podemos subestimar os sinais de alerta que a natureza nos envia. Se continuarmos negligenciando a Amazônia, ela realmente poderá começar a “pegar fogo do nada”, e nesse momento, não haverá: nem curupira, nem bombeiro, nem mangueira, nem ciência capaz de reverter o estrago.
A floresta, esse bebê abandonado, precisa de cuidados urgentes, e nós, como sociedade, devemos nos unir para impedir que o futuro da Amazônia seja um triste conto de cinzas.
E não me venham com a velha lenga-lenga de que o caboclo está tocando fogo para plantar ou fazer campo pra gado.
A floresta, antes conhecida por sua umidade constante e por abrigar uma biodiversidade incomparável, agora está se tornando mais seca a cada ano, com temperaturas mais altas e uma redução alarmante nos índices de chuva. As árvores, que antes eram um dos maiores sumidouros de carbono do planeta, estão agora vulneráveis a incêndios frequentes, muitas vezes iniciados por atividades humanas, mas que, dadas as condições atuais, parecem surgir de forma quase mágica. A “combustão espontânea” da floresta, embora seja um termo figurado, representa bem o que muitos cientistas têm alertado: a Amazônia pode estar caminhando para um ponto de não retorno.
O esquadrão de bombeiros à beira da estrada, atônito, representa a nossa impotência diante desse cenário. Eles estão ali, mas não sabem como agir. Afinal, como combater um incêndio que parece brotar da própria terra? No fundo, eles sabem que a solução não está apenas na água e nas mangueiras, mas nas mãos dos cientistas e na colaboração internacional para entender e mitigar as causas desse desastre ambiental.
A situação atual da Amazônia requer ação imediata e uma mobilização massiva da comunidade científica internacional. É imperativo colocar os institutos de pesquisa para trabalhar. Precisamos de soluções baseadas em ciência e tecnologia, e isso só será possível com a união de universidades e centros de pesquisa do Brasil e do mundo. Instituições com grande poder de pesquisa, como as universidades federais e estaduais do país, além de centros internacionais de excelência, devem ser envolvidas nesse esforço.
Os cientistas precisam investigar as mudanças climáticas que estão intensificando a seca na Amazônia e aumentar o monitoramento sobre o uso da terra. O desmatamento desenfreado, a conversão de áreas florestais em pastagens e a extração ilegal de madeira são fatores que tornam a floresta ainda mais vulnerável ao fogo. A presença de grandes áreas desmatadas cria uma espécie de “efeito dominó”, onde incêndios florestais se espalham com maior facilidade, devastando o que resta de mata nativa. E, no ritmo em que estamos, a Amazônia pode não resistir a mais dez verões severos como os que temos enfrentado. No Amazonas, o programa “COMPANHEIROS DAS AMÉRICAS”, em que o Amazonas é o estado irmão do Tennessee, as duas universidades estaduais poderiam começar uma colaboração, pois o know-how do estado americano, em barragens e plantações de várzeas, é um dos maiores do mundo.
Além da questão climática, há também a falta de fiscalização e políticas públicas efetivas que inibam a destruição da floresta. Sem controle, os incêndios — espontâneos ou não — continuarão a se proliferar. Um ponto crucial é a necessidade de criar mecanismos eficazes de prevenção de incêndios e educação ambiental para as populações locais e os produtores rurais.
As universidades brasileiras, com sua vasta capacidade de pesquisa, são um ativo inestimável nesse processo. Contudo, precisamos também de ajuda externa. As parcerias com universidades estrangeiras, especialmente aquelas especializadas em clima e biomas tropicais, podem trazer novas tecnologias e abordagens inovadoras para salvar a floresta. A cooperação internacional é essencial, porque a Amazônia não é só brasileira — ela é patrimônio da humanidade.
Se não agirmos agora, a floresta amazônica pode se transformar, em poucos anos, de um santuário exuberante em um deserto carbonizado. A situação pode até parecer absurda, como um esquadrão de bombeiros assistindo impotente à “combustão espontânea” da floresta, mas não podemos subestimar os sinais de alerta que a natureza nos envia. Se continuarmos negligenciando a Amazônia, ela realmente poderá começar a “pegar fogo do nada”, e nesse momento, não haverá: nem curupira, nem bombeiro, nem mangueira, nem ciência capaz de reverter o estrago.
A floresta, esse bebê abandonado, precisa de cuidados urgentes, e nós, como sociedade, devemos nos unir para impedir que o futuro da Amazônia seja um triste conto de cinzas.
Guerras sem paz
1.O Irão não sabe quando será atacado por Israel, em resposta aos 200 mísseis que lançou no início de Outubro e que poderiam ter causado milhares de mortos, não fosse a Cúpula de Ferro israelita. Uma coisa Teerão sabe: os americanos vão enviar uma bateria de mísseis antibalísticos THAAD, e, para abreviar razões, seguirão com cerca de uma centena de soldados americanos para operar o sistema. Por aqui já se adivinha que o ataque estará para breve. O sistema THAAD é composto por várias partes, incluindo um lançador, interceptores (mísseis), radar e uma unidade de controlo de combate. A bateria tem 6 lançadores, o que significa que 48 mísseis estão disponíveis para cada interceptação, e uma equipa muito experiente consegue recarregar em 30 minutos. Acrescentada mais esta camada defensiva à Cúpula, só falta a ordem final do primeiro-ministro israelita. Aqui há várias guerras.
2. A 21 dias das eleições presidenciais americanas, mantém-se tudo em aberto. Kamala continua com vantagem na intenção de voto a nível nacional, mas Trump está a consolidar a primeira posição em estados decisivos para o Colégio Eleitoral. Ao dia de hoje, Trump está em melhor situação do que estava em 2016 e em 2020. O ex-presidente foi à Califórnia fazer um comício gigante, só para irritar Kamala no seu próprio estado, tradicionalmente democrata. Há preocupação pelo mundo fora: um presidente em último mandato pode fazer (quase) tudo o que lhe passa pela cabeça, e a de Trump está em permanente curto-circuito. Se é que existe. Se é que tem alguma coisa lá dentro. Aqui não há paz.
2. A 21 dias das eleições presidenciais americanas, mantém-se tudo em aberto. Kamala continua com vantagem na intenção de voto a nível nacional, mas Trump está a consolidar a primeira posição em estados decisivos para o Colégio Eleitoral. Ao dia de hoje, Trump está em melhor situação do que estava em 2016 e em 2020. O ex-presidente foi à Califórnia fazer um comício gigante, só para irritar Kamala no seu próprio estado, tradicionalmente democrata. Há preocupação pelo mundo fora: um presidente em último mandato pode fazer (quase) tudo o que lhe passa pela cabeça, e a de Trump está em permanente curto-circuito. Se é que existe. Se é que tem alguma coisa lá dentro. Aqui não há paz.
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